O senador bolsonarista do dinheiro nas nádegas e as tentativas no Senado de abafar o indefensável

É lamentável, ainda que não cause surpresa, as tentativas de senadores para defender o colega Chico Rodrigues, mas sem tocar no ponto que realmente importa, seu flagrante policial com dinheiro entre as nádegas, que só pode ser dinheiro público roubado ou então o nobre parlamentar encontrou uma forma excêntrica demais de substituir o uso da carteira.

Na tentativa de abafar o caso sem tocar na situação de um político pego pela polícia metendo a mão em verbas de emergência destinadas a uma pandemia que já matou mais de 150 mil brasileiros, colegas seus fazem críticas à decisão de Luís Roberto Barroso da suspensão do mandato, alegando que isso fere a independência entre os poderes. De uma suja ladroagem, vejam só, faz-se um debate institucional.

Ora, parece claro que a decisão do ministro Barroso foi tomada porque se fosse depender do Senado não haveria nenhuma providência para conter os arroubos de Rodrigues. A classe política fez do Congresso Nacional um clube exclusivo, com Câmara e Senado defendendo seus integrantes mesmo quando são descobertas escandalosas barbaridades. Nas duas casas domina o mais baixo espírito corporativista, além de uma grave falta de empenho quanto aos problemas nacionais.

Foi por causa dessa constante prevaricação dos parlamentares que o STF avançou sobre os sérios problemas dos esquemas políticos por detrás das chamadas “fake news”, com os grupos montados para atacar adversários, espalhar calúnias e difamações e acossar as pessoas nas redes sociais. Como foi descoberto depois da abertura do inquérito no STF, tem inclusive lavagem de dinheiro neste esquema nefasto, que até deu sossego aos internautas decentes depois de prisões e a derrubada de páginas que promoviam absurdos nas redes sociais.

É o que ocorre com a suspensão do senador Chico Rodrigues, que não teria sido contido e estaria na ativa até agora se dependesse do Senado. Já existe uma sórdida maquinação entre senadores para esta denúncia ter o andamento de tantas outras, que são roladas com vagareza até que caiam no esquecimento. Mas será difícil fazer esta manipulação, não só pela desmoralização da imagem de uma instituição que já não vai nada bem perante a opinião pública, mas porque este é um caso em que as provas abundam.

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Playboy|1960

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Marguerite. © IShotMyself

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A entrevista de Simone de Beauvoir e outras histórias de Sebastião – IV

Se a vida do Sebastião estava boa, a do JB estava terrível. No dia 13 de dezembro, o Costa e Silva editou o AI-5. No dia 14, o JB soltou a mais antológica das capas de um jornal brasileiro em todos os tempos. Para eventuais curiosos, comparecer no site Jornal do Brasil Acervo Digital, digitar a data de 14/12/1968 e ler. Na redação do JB, na manhã do dia 14, as coisas estavam estranhamente calmas. Na hora do almoço, chegaram dezenas de caminhões do Exército, o batalhão invadiu, sob as ordens dum coronel, a redação. O coronel tinha uma lista em ordem alfabética e ia chamando um a um pelo nome. O sujeito se identificava e era imediatamente algemado. O primeiro da lista foi Alberto Dines. O segundo, Antônio Callado. Chamaram mais de trinta e todos foram presos. No dia 24 de dezembro, soltaram metade. No dia 31 de dezembro, soltaram a outra metade. Só Dines, provavelmente por ser judeu, e Callado, por alguma antipatia dum general, ficaram presos no Natal e no Réveillon. Só seriam libertados em meados de janeiro de 1969. O Callado saiu alguns dias antes do Dines. Os coronéis permaneceriam por muito tempo dentro da redação. Com seus lápis vermelhos, censuravam tudo o que não gostavam. Cada redator tinha que reescrever umas cinco vezes cada matéria. Algumas eram vetadas e nem com várias outras redações passavam. Até no caderno B a censura prévia corria solta. Nesta época, o Sebastião descobriu o Chico Buarque de Hollanda em Paris, fez uma reportagem e mandou. A matéria foi integralmente vetada por um coronel. O editor do caderno B, todo encagaçado, mandou um telex para a Sucursal de Paris avisando que Chico, Caetano, Gil e Geraldo Vandré estavam no index. Não era para mandar nada envolvendo o nome deles.  

Uma manhã, o Sebastião chegou para trabalhar no JB, pegou o Le Monde e leu na capa: a mais famosa galeria de arte de Paris iria trazer dezenas de quadros da mais recente produção de Salvador Dalí. Sebastião pensou logo nos cem dólares que ganharia. Horas depois, chegou o esperado telex: o editor do caderno B queria ampla reportagem e se possível uma entrevista exclusiva com o Dalí. O editor tinha ficado educado depois de vários esporros do Dines. As coisas, infelizmente, não iriam sair como o Sebastião imaginava.

Sebastião se apresentou na famosa galeria de arte e pediu uma credencial de imprensa para a vernissage. Negativo, credenciais de imprensa eram apenas para os cinco maiores críticos dos principais jornais de Paris. Nem o correspondente do The Times tinha conseguido uma. Não se dando por vencido, pediu um convite. Negaram de novo. Disseram que os convites eram exclusivos para nobres falidos, banqueiros, capitães de indústria e a alta burguesia de Paris, categorias em que o nosso valoroso repórter não se enquadrava. Os primeiros seriam convidados para dar um charme na vernissage, os demais para preencherem volumosos cheques pelos quadros que comprariam.

Entristecido e lamentando os cem dólares que deixaria de ganhar, Sebastião foi para o Instituto de Cinema sem ao menos almoçar. Na hora do recreio, enquanto mastigava um croissant, comentou com os colegas a lástima que tinha sido a sua manhã. Um cambojano, colega de turma do Sebastião, disse que não havia problema algum. Trabalhava nas horas vagas numa empresa de eventos que serviria o champagne e os canapés na mostra do Dalí. Como era coisa grande, estavam contratando extras. Prontificou-se a levar o Sebastião na manhã seguinte para fazer o contrato e tirar as medidas para o uniforme. Sebastião ergueu os braços para o céu e se lembrou da conferência do Ionesco.

Salvador Dalí adorava dar entrevistas. Homossexual confesso, estava no terceiro casamento. Com a segunda mulher, que era irmã da primeira, teve um filho. A terceira e última mulher era Gala, uma russa refugiada do comunismo, que se chamava, na verdade, Elena Ivanovna Diakonova, quinze anos mais velha que Salvador Dalí. As más línguas diziam que Dalí e Gala jamais tiveram uma relação sexual. As boas diziam que disputavam os mesmos garotos de programa. Quando Gala morreu, Dalí se encerrou no seu castelo em Figueres, sua cidadezinha natal, próxima a Barcelona, e só saiu para ir ao cemitério.

Não pela opção sexual, que isso não tem nada a ver com o caráter das pessoas, mas Dalí deixava muito a desejar sobre as atitudes que tomou na vida. Quem conta é Luís Buñuel, nas suas memórias. Filhos de famílias abastadas, o aragonês Buñuel, o catalão Dalí e o andaluz Lorca foram mandados pelos seus pais para um famoso Ginásio em Madri, dirigido por severos padres jesuítas, em regime de internato. Na primeira semana de aulas, ficaram amicíssimos e mexeram os pauzinhos para ficarem no mesmo dormitório. Na primeira noite, Buñuel, que era, na época, confessadamente homofóbico, descobriu que Dalí e Lorca tinham um caso. Começou a fazer um escândalo. Dalí se deitou na cama pôs o travesseiro no rosto e começou a chorar. Lorca, o mais centrado dos três, mandou Buñuel e Dalí pararem com a confusão. Se alguém ouvisse e contasse para os padres, seria expulsão na certa. Buñuel parou de gritar e Dalí de chorar. Mais calmos, os três confabularam baixinho a madrugada inteira. Chegaram a um acordo: Buñuel, depois da última aula do dia, sairia pra rua, o que era permitido pelos religiosos, e voltaria para o dormitório pouco antes das onze da noite, que era o horário estabelecido pela direção do ginásio para o retorno. Foi nessa época, perambulando pelas ruas de Madri, que Buñuel se viciaria em charutos, álcool e bordéis, não necessariamente nesta ordem, pelo resto da sua existência.

Os três deram certo na vida. Foram os principais expoentes da famosa Geração de 27 das artes espanholas. Buñuel como cineasta, Dalí como pintor e Lorca como poeta e dramaturgo. O primeiro filme de Buñuel chamava-se “Um Cão Andaluz”, roteiro a quatro mãos com Salvador Dalí, tido pela crítica como a película fundadora do cinema surrealista. Com o sucesso do filme, foi viver em Paris. Dalí foi atrás e Lorca continuou em Granada, cidade onde nasceu. Chegando em Paris, Dalí foi procurar Pablo Picasso. Disse, na apresentação, que tinha ido lhe visitar antes de ir ao Louvre. Picasso disse: “Fez bem em vir aqui antes!” Dalí lhe mostrou uns quadros e Picasso ficou vivamente impressionado com a arte do conterrâneo e lhe deu um empurrão na carreira, apresentando-o para as pessoas certas em Paris. Com a eclosão da Guerra Civil espanhola, Buñuel e Lorca tomaram o partido dos republicanos. Dalí, que se dizia comunista ou anarquista, conforme o interlocutor, ficou em cima do muro. Antes da guerra civil terminar, Lorca foi fuzilado pelas tropas de Franco, em Granada. As versões sobre a morte de Lorca variam: uma corrente defende que Lorca foi fuzilado por ser tido como anarquista ou comunista. Outros, dizem que não era verdade. Lorca nunca pegou em armas, era apenas um democrata contra a monarquia, e, eventualmente, escondeu um ou outro amigo anarquista ou comunista. Outra corrente afirma que Lorca foi fuzilado em razão da homossexualidade. Algumas pessoas negam. Os franquistas, pelo menos durante a guerra, não se importavam com isso, alguns soldados e oficiais de suas tropas eram gays. Uma terceira versão, com menos adeptos, sustenta que foi um crime passional. Um dos comandantes da falange de Franco em Granada teria se apaixonado por Lorca. Não correspondido, mandou fuzilar o poeta. No final da guerra, Dalí voltou à Espanha e virou garoto propaganda do franquismo, para desespero de André Breton, principal expoente do surrealismo. Com a invasão da França pelos nazistas, Buñuel fugiu para os Estados Unidos. Já era casado. Conseguiu um trabalho muito mal remunerado no MoMa (Museu de Arte Moderna de Nova Iorque). Quando ficou sabendo que Lorca havia sido fuzilado, Dalí não verteu uma lágrima e ainda disse: “Quem mandou se meter com os vermelhos!”

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Vai lá!

Bazar da Aldeia

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Casas da cidade. © Maringas Maciel

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Coisas das eleições – Parte III

1. Ver candidatos à vereador passeando e pedindo voto nas feiras e em locais públicos, sem máscaras, desobedecendo a lei só para estampar seus sorrisos;

2. Ver candidatos à prefeito nas propagandas nunca usarem máscaras como se não estivéssemos em plena pandemia;

3. Saber que a manipulação nas eleições é gigantesca e que o facebook e as redes sociais estão aí para eleger quem paga mais usando os dados dos usuários, sem que eles tenham conhecimento disto, com direcionamentos e outros truques e ferramentas que desconhecemos;

4. Descobrir que em 2016 Trump pagava 1 milhão por dia em impulsionamentos no facebook em plena campanha eleitoral e declarou 5,9 milhões de dólares em anúncios, enquanto Hilary gastou míseros 66 mil dólares;

5. Saber que a empresa Cambridge Analítica manipulou dezenas de campanhas eleitorais no mundo por meio de dados das redes sociais e das fake news, e que isto foi determinante para o Brexit (processo da saída do Reino Unido da União Europeia), mas no final ficou tudo por isto mesmo;

6. Ter pleno conhecimento de que o WhatsApp foi determinante para as campanhas presidenciais na América Latina e que meses antes das eleições eles já sabiam por meio de cenários futuros, quem seriam os eleitos;

7. Acompanhar transmissões ao vivo de candidatos e ter a certeza que eles não têm ideia do que realmente faz um vereador ou um prefeito;

8. Ver que boa parte de candidatos à reeleição, tanto prefeitos quanto vereadores veteranos, repetirem seus discursos eleitorais, eleição após eleição;

9. Sempre desconfiar das pesquisas eleitorais que volta e meia são impugnadas na justiça eleitoral e que são determinantes para o voto de enxame ou de rebanho, quando os eleitores se deixam influenciar diretamente por elas, o que é inadmissível numa democracia realmente paritária;

10. Desconfiar que grande parte do eleitorado votará pelas pesquisas eleitorais, no candidato à prefeito melhor colocado, para não ter que comparecer na votação do segundo turno;

11. Ter consciência de que, na prática, quem realmente manda são os grandes grupos econômicos, os bancos e as corporações internacionais, que estão destruindo as florestas, sem serem punidos por tudo isto;

12. Ter absoluta certeza de que o povo não manda nada ou quase nada e que as promessas de campanhas pouco se realizam, mas que mesmo assim nos iludimos coletivamente a cada eleição;

13. Saber que boa parte do mundo ocidental está passando por uma onda totalitária de extrema direita e que por isto as democracias e os direitos sociais estão sendo desidratados.

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Entrevista com Simone de Beuavoir e outras histórias do Sebastião – III

O editor do caderno B do Jornal do Brasil, que era meio fanho, cujo nome vamos deixar de lado, ficou morrendo de inveja do Sebastião, achava que seria ele o escolhido para o posto em Paris. Resolveu infernizar a vida do Sebastião. Ele ainda nem bem havia se instalado na Cidade Luz, quando chegou no telex da sucursal do JB em Paris uma pauta para o Sebastião. “Esperando Godot”, de Samuel Beckett, estrearia sua primeira montagem profissional no Brasil. Antes disso, tinham havido duas montagens, mas com amadores. Alfredo Mesquita, em São Paulo, e Luiz Carlos Maciel, em Porto Alegre, dirigiram a peça. A montagem profissional tinha como atores principais Cacilda Becker e Walmor Chagas, mulher e marido na vida real. Poucos dias depois da estreia, Cacilda teve um AVC em cena aberta. Levada às pressas para o hospital, depois de uma semana, não resistiu e faleceu. O editor do JB queria, simplesmente, uma entrevista exclusiva com o Beckett.

Samuel Beckett, jovenzinho, irlandês de nascimento, havia baixado em Paris para ser secretário de seu conterrâneo já famoso, James Joyce. Joyce manuscrevia seus livros e Beckett datilografava os originais. Bateu na máquina de escrever o “Dublinenses”, “Retrato do artista quando jovem”, “Ulisses” e “Finnegans Wake”. Quando Joyce morreu, Samuel se lançou em carreira solo, como dramaturgo e fez grande sucesso. Escrevia suas peças em francês e ele mesmo traduzia para o inglês. Era o pai do Teatro do Absurdo. Gozava de prestígio mundial. Mas tinha um detalhe: Beckett era o “Vampiro de Dublin”. Jamais havia dado uma entrevista na vida. Sebastião sabia disso, mas estava em busca dos seus primeiros cem dólares. Abriu a lista telefônica de Paris e procurou Beckett, S. Não achou. Foi até o Le Monde e lhe mandaram falar com o editor do caderno cultural. O editor deu risada. Beckett não tinha telefone e tinha horror a jornalistas. Era missão impossível. Em todo o caso, passou o endereço do Beckett. Era numa ruela em Montparnasse, três quadras depois do hotel xexelento onde o Sebastião morava. Ainda deu uma dica: Beckett saía de casa, todo dia, às sete da manhã para ir na padaria.

Como as aulas de cinema eram no período da tarde, Sebastião, antes das seis, estava na frente do predinho caindo aos pedaços, de três andares, que era o endereço do Samuel. Ficou esperando na porta. O porteiro, desconfiado, saiu e perguntou o que ele estava fazendo ali, tão cedo. Sebastião contou o que queria. O porteiro caiu na risada e disse “Monsieur Beckettê nunca deu uma entrevista. Volte para casa e durma mais um pouco”. Sebastião não deu importância, o porteiro voltou para o seu posto.

Exatamente às sete da manhã, um velhinho, com sobretudo preto, por cima do pijama de listras azuis, sandálias de couro e meias de lã bege, boina basca na cabeça e um cachecol seboso no pescoço, saiu pela porta do prédio e tomou o caminho da padaria. Era Beckett, Sebastião reconheceu pelas fotos que havia visto no Le Monde e resolveu esperar pela volta. Minutos depois, Beckett retorna pela rua, debaixo do braço uma baguette não embrulhada e na mão uma garrafa de leite. Sebastião se apresentou. Beckett, que estava de bom humor, olhou pro Sebastião, não disse nada e entrou no prédio. Por quase vinte longas manhãs a cena se repetiu. Num dia, o Beckett apenado com o Sebastião, que amanhecia ali no frio, quando voltava da padaria, olhou para o nosso intrépido repórter e lascou: “O senhor vai acabar pegando uma pneumonia. Hoje à noite vou jantar com um casal de amigos. Ele fala um pouco mais que eu. Ela fala pelos cotovelos. Esteja aqui às dezenove horas em ponto. Eu não vou esperar. Não traga gravador, só bloco de anotações e caneta. Guarde tudo o que ela vai falar na memória e terá uma boa matéria para seu jornal no Brasil.

Antes do horário marcado, Sebastião estava de plantão. Beckett desceu exatamente às dezenove e sem falar nada fez um sinal com a mão para que Sebastião o seguisse. Foram até um bistrô ali perto, Samuel pediu uma mesa para quatro e ficaram esperando, um olhando para a cara do outro. Nenhuma palavra de cada lado. Minutos depois, chegam Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Samuel Beckett ainda perguntou se não se importavam com a presença do jornalista brasileiro. João Paulo e Simone disseram que não. Durante o jantar, só Simone falava. Sartre soltava, de vez em quando, um oui. Beckett, entre uma garfada e outra no bouef bourguignon, fazia um sinal afirmativo com a cabeça. Sebastião, de orelhas em pé, escutava tudo e procurava guardar na memória cada palavra da Simone. Ficaram horas no bistrô, até que o garçom, com a educação típica dos garçons parisienses, não se importando com quem eram, disse que iria fechar e que fossem embora. Saíram e ficaram esperando o táxi que Sartre havia pedido para o gerente chamar. Com muita má vontade, o cara fez o favor. O táxi chegou e o Sebastião, por gentileza, acompanhou Beckett até o prédio dele. Na porta, Sebastião agradeceu com grande ênfase. Beckett nem respondeu e entrou no edifício. Apesar de estar a três quadras do hotel em que morava, Sebastião conseguiu outro táxi e foi para a sucursal do JB em Paris. Começou a escrever a matéria enquanto ainda se lembrava das falas de Simone de Beauvoir. Terminado o texto, foi pro telex e mandou a matéria para o Brasil.

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Manu Giovanini

Rodolfo Pajuaba

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Mural da História

8 de março|201

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Playboy|1960

1962|Marya Carter. Playboy Centerfold

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Chope

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A entrevista de Simone de Beauvoir e outras histórias do Sebastião – II

Depois do almoço, saímos do restaurante, fomos até a Praça Tiradentes e baixamos a Monsenhor Celso. Na XV, dobramos à esquerda e começamos a andar pelo calçadão. Curioso, não perguntei aonde o Sebastião estava indo. Quando chegamos na Confeitaria das Famílias, ele me convidou para entrar. Sentamos e eu pedi um canudo. O França pediu um canudo, uma bomba de chocolate, outra de creme, um madrilenho, um folhado de creme, outro de maçã, e mais uns dois doces. Para ajudar na ingestão, pediu 3 ou 4 Wimis, uma garrafinha de suco de laranja gaseificado, que era (não sei se ainda é) fabricada pelos Irmãos Cini. Perguntei se ele estava esperando alguém? Ele respondeu que não e começou a comilança. Ainda comentei que ele iria morrer de diabetes. Ele nem aí, continuou devorando. O bigode ficou todo branquinho de açúcar e na hora de pagar a conta constatei que o Sebastião gastava na sobremesa, dez, quinze vezes mais do que o preço do almoço.

De vez enquando, o Sebastião me convidava para o “roteiro gastronômico” e aproveitava para contar as suas aventuras, que eram muitas.

Começou a vida como repórter do Diário do Paraná, do Assis Chateaubriand. Foi lá que conheceu e ficou chapa do René. Como todos os outros jornais do Chatô, só pagavam vales, que eram quitados na tesouraria às sextas-feiras, menos quando algum dos diretores dos Diários Associados passava antes e limpava o caixa, o que quase sempre acontecia. Sebastião, para garantir algum troco, conseguiu um emprego de repórter na Rádio Colégio Estadual do Paraná, antigo nome da Rádio Educativa, que acumulava com o jornal.

Naquela época, o grande sucesso era o Jornal do Brasil. Depois da criação do caderno B, pelo Reynaldo Jardim, e das reformas efetuadas por Jânio de Freitas, o JB era o sonho de todo jornalista. Sebastião, que lia o dito todo dia na Biblioteca Pública, sonhava com o Jornal do Brasil e com cinema. Se o cinema era um sonho distante, o JB, no Rio de Janeiro, poderia ser alcançado.

Um dia, juntou as economias, botou os pertences numa mala de papelão e pegou um ônibus para o Rio. Alugou um quartinho numa pensão xexelenta perto do JB e se apresentou na portaria. Lá disseram que ele tinha que falar com o secretário de redação. Foi falar, nervoso, com o José Silveira – não confundir com o Joel do mesmo sobrenome. Joel era sergipano e já uma glória na imprensa brasileira. José era gaúcho e foi secretário de redação do JB por mais de vinte anos. Silveira foi com a cara do Sebastião e lhe deu uma pauta para ser cumprida até às cinco da tarde. França saiu e cumpriu a pauta antes do horário determinado. José Silveira leu, rasgou, colocou na lixeira e disse: “Volte amanhã”. Por dez, quinze longos dias, a história se repetiu. Já desesperado e com o dinheirinho acabando, recebeu de Silveira a incumbência de fazer uma reportagem sobre os Pés Sujos do Rio de Janeiro. Sebastião jogou de local, frequentava os mesmos desde que tinha chegado na cidade. Entregou o texto. José Silveira começou a ler. De repente, se empertigou na cadeira, puxou o escrito para mais perto dos olhos e, ao final da leitura, devolveu as laudas para o Sebastião e disse: “Senta ali e reescreve tirando os adjetivos e os advérbios; deixe só os sujeitos e substantivos”. Sebastião agradeceu e fez o que lhe foi mandado. Silveira leu de novo e disparou: “Sai amanhã na contracapa do primeiro caderno. Leve a carteira de trabalho no departamento de pessoal”.

Sebastião França foi subindo na hierarquia da redação. Começou na polícia, como todos iniciavam, e quando viu era copidesque do caderno B. O Paulo Francis, que na época, entre outros doze empregos, dirigia a revista Senhor, prestou atenção nos textos do Sebastião França. Um dia, chamou-o e lhe deu uma pauta. Na Senhor, desde os tempos do Nahum Sirotsky, só escrevia craque de seleção brasileira. Se Sebastião não era um Garrincha passava bem como um Bellini ou Zito. Começou a colaborar na Senhor e continuou no JB.

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O Brasil não é para principiantes

O Senado Romano teve alguns períodos de glórias e outros de profunda decadência.

Ensina-nos Polybius que até o Senado era controlado pelo povo, pois em primeiro lugar, estava obrigado, nos assuntos públicos, a considerar e a respeitar os desejos do povo; e não poderia colocar em execução a pena por ofensas contra a República, que são puníveis com a morte, a menos que o povo primeiro ratificasse os seus decretos.

No final do período Imperial romano o Senado era uma espécie de conselho de estado do Imperador, com características aristocráticas, havia duas sedes, uma em Roma e outra em Constantinopla.

E no Brasil? A inspiração da Roma imperial sempre esteve presente e permanece até os nossos dias.

Semana passada, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) foi flagrando com 30 mil reais escondidos na região glútea, segundo o dicionário Houaiss: na bunda, nas nádegas, na tanagura, na anca.

Os atuais senadores estão indignados com um ministro do Supremo Tribunal Federal que afastou por 90 (noventa) dias o indigitado senador, que parece que não sabia onde guardar os seus recursos abundantes.

Boa parte dos Senadores que também se elegeram como tribunos da probidade, como Catões da República, estão em defesa do colega, ex-líder do governo Bolsonaro que afirmou que “dará voadora em quem praticar corrupção em seu governo.” Gargalhadas.

Seu suplente? O próprio filho, que assumiu a vaga. Perfeito. Como sempre, tudo em família. Quanto ganha um Senador?

Percebe 33 mil reais por mês, moradia funcional ou R$5.500, 00 de auxílio moradia, pode nomear 11 funcionários com gasto total mensal de 82 mil reais por mês, despesas com saúde ilimitadas, mais a verba indenizatória de 15 mil reais, verba passagem aérea de 18 a 30 mil reais e subsídio de atividade parlamentar de 30 a 45 mil reais por mês.

Tudo somado dá, em média, 165 mil reais por mês.

Oito longos anos de mandato, viagens internacionais, restaurantes da alta gastronomia, paparicação, excelência para cá, excelência para lá, esquemas dos mais variados, tudo dentro da legalidade.

O senador paranaense Oriovisto capitaneia um projeto de emenda à Constituição (PEC) para limitar os poderes do Supremo.  Afinal, todos estão fartos das decisões monocráticas do STF. O episódio da soltura de André do Rap, por decisão monocrática de ministro da Corte Constitucional, potencializou o projeto de emenda constitucional. Se for aprovada a PEC, ela será analisada, quanto a sua constitucionalidade, pelo próprio Supremo.

A imprensa noticia que “os senadores estão indignados” com o afastamento determinado pelo Supremo Tribunal Federal, sem o bom e velho direito ao contraditório e a ampla defesa, sempre combinados com a afortunada prescrição.

Afinal, o afastamento maculou a independência dos poderes e a soberania do Senado.

No geral, em qualquer outro país, este personagem estaria preso, execrado e com seus bens bloqueados. Nenhuma autoridade pública se atreveria a criticar uma decisão judicial que afastasse um acusado pego em flagrante, com a boca na botija.

Voltando à Roma republicana na qual os senadores eram obedientes à vontade do povo, afirmou Polybius que se alguns cidadãos se opõem à política, que pelo menos fiquem neutros, mas não fiquem ao lado dos injustos. O maestro Tom Jobim, foi mais profundo: “O Brasil não é para principiantes”.

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Bolsonaro abraça a TV Brasil

Abraços são demonstrações de afeto, de alegria ou de força nos momentos de dor. Por vezes, naufragam oportunistas. Por outras são imorais, ilegais ou ambos. Há duas semanas, o caloroso abraço entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Supremo Dias Toffoli selou a reedição dos eternos conluios brasilienses, nos quais os participantes gargalham de quem ousa mexer no arranjo. Na terça-feira, dois outros abraços, desta vez enviados ao presidente durante o jogo Peru x Brasil, também foram simbólicos, escancarando a farsa de que ele teve algum dia a pretensão de extinguir o que nasceu para ser TV Lula e agora é TV Bolsonaro.

A armação para que a TV Brasil transmitisse a partida depois que a Globo se negou a pagar a fortuna exigida pelos peruanos continua sendo uma incógnita. Ninguém sabe quanto custou e, muito menos, quem pagou. Mas todos os 4% de telespectadores que deram ao canal a maior audiência de sua história – em alguns picos chegou a registrar 12% – ouviram o narrador André Marques mandar abraços para Bolsonaro e seu secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, e também para o presidente da CBF, Rogério Caboclo. Algo imoral, irregular, ilícito. Impossível de se admitir em uma TV dita pública.

Dois pedidos, um no Ministério Público Federal e outro no Tribunal de Contas da União, foram protocolados pelo deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) para que se investigue o uso da TV Brasil como promoter de Bolsonaro. Fala-se ainda em uma ação pública contra a utilização do canal para o oba-oba pró-presidente.

A Bolsonaro, para quem o Estado é puxadinho de sua casa e casamata para sua família, pouco importa se a publicidade é ilegal ou amoral. Entronizou Kassio Nunes Marques, seu escolhido para o STF, ao abraçar Toffoli, e abraçou de vez a mastodôntica TV Brasil, a mesma que ele jurava vender ou fechar por não “servir para nada” e “ter traço de audiência”.

Criada por Lula em 2007, a TV Brasil é uma sucessão de absurdos. É o ativo mais caro da EBC – seu custo supera em mais de 10 vezes o da Agência Brasil, principal canal de notícias do governo – e o que gera menos benefícios. A não ser para os seus 1.800 funcionários e, claro, para o presidente de plantão. Já consumiu mais de R$ 500 milhões ao ano nos tempos áureos, baixando para R$ 153 milhões no último ano do governo Michel Temer.

A ideia de acabar com a TV Brasil nunca foi levada à sério. Já nos primeiros dias de governo, Bolsonaro foi seduzido pelos militares a transformá-la em um canal assumidamente governista. Nada desse papo de TV pública. O melhor, diziam, era mantê-la ativa, reprogramá-la, enxugá-la.

Da boca para fora repetiam a mentirinha de que queriam criar algo semelhante à BBC, com participação privada. O mesmo blá-blá-blá da era Lula.

Diziam ainda que seria feita uma redução severa nos custos da emissora. Qual o quê. Em 2019, a TV Bolsonaro comeu R$ 138,3 milhões e de janeiro a setembro deste ano já engoliu mais de R$ 144,8 milhões. Até dezembro baterá facilmente os gastos de Temer. Vai precisar, portanto, de distribuir muitos abraços em troca de empurrões misteriosos como os da CBF.

Fábio Faria, ministro das Comunicações, chegou a acalentar o sonho de ampliar os horizontes da TV governamental, utilizando-a como ponta de lança para dar um trato na combalida imagem do Brasil no exterior. Seria uma versão global, uma TV Bolsonaro World que, para o bem do contribuinte brasileiro e do país, não saiu do papel.

Mais do que uma TV para chamar de sua – até porque a audiência dela continuará sendo traço sem os gols de Neymar -, Bolsonaro e seu time mexem na comunicação pública sem qualquer escrúpulo. No afã de derrubar a “arquiinimiga” Globo, distribuem verbas publicitárias sem respeitar critérios objetivos de audiência, privilegiam canais evangélicos e influenciadores digitais amigos.

O processo aberto no Supremo Tribunal Federal para investigar fake news e atos antidemocráticos determinou o recuo dos combatentes bolsonaristas que se utilizavam da publicidade imoral, financiada por fontes escusas. Ao mesmo tempo, exigiu mais dos que lidam com a oficialidade. Deles vem a multiplicação dos abraços que afogam o país. Todos os dias e em todos os sentidos.

Publicado em Fábio Campana - Política|cultura e o poder por trás dos panos | Deixar um comentário
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