Red Red Wine – UB40
Os contratos publicitários de Neymar estão em perigo. Por causa da acusação de estupro, a operadora de cartões Mastercard já procura se afastar do jogador, anunciando que suspendeu as ações de marketing com ele relativas à Copa América. A decisão do cancelamento veio antes do anúncio do corte do jogador, causado por um rompimento no ligamento do tornozelo direito. Claro que este providencial afastamento vai esquentar o escândalo, com muita gente colocando em dúvida a existência da tal lesão. E de fato o suposto ferimento livrou a comissão técnica da Seleção Brasileiro e o técnico Tite de assumir suas responsabilidades em relação à imagem do time do Brasil.
Já os produtos que têm a imagem relacionada ao jogador não podem fazer de conta que nada está acontecendo. Foi feio o estrago na carreira de Neymar. Sua chance de sair dessa com menores danos implica de qualquer forma em um final humilhante: ficará como um otário que caiu em uma armação completamente maluca. E nem de longe estou colocando em dúvida a versão da mulher que o acusa de estupro. Nunca estive entre os brasileiros que acreditam incondicionalmente em Neymar, como é o caso do presidente Jair Bolsonaro, que bem do jeitão dele, já antecipou o veredito sobre o que ocorreu entre o casal no hotel em Paris.
Bolsonaro podia então arrumar uma boca para o jogador em seu governo. Ele vai precisar. Seja qual for a conclusão desse caso, na Justiça ou num acordo de bastidores entre as partes, Neymar estará com a imagem bichada para a lucratividade dos contratos milionários da publicidade. O presidente pode encaixá-lo como ministro. Qualquer pasta serve, mesmo que todos saibam que a única coisa que Neymar sabe fazer é jogar futebol. Todo mundo já sabe também que neste governo não se exige qualificação profissional, de cima a baixo, a começar pelo chefe.
Não existe hora H para quem não se preocupou com todo o alfabeto que vem antes
Mas, afinal, o que quer uma mulher? Depois de 40 anos portando uma maravilhosa vagina, acho que finalmente descobri: uma mulher quer poder mudar de ideia.
Demorei a perder a virgindade, mas, antes disso, fui para a cama com alguns rapazes. Dormi na casa deles, em motéis bregas e em uma infinidade de pousadas vagabundas. Eu falava sacanagem, provocava, atiçava, massageava, pegava e, na hora H… Não existe hora H para quem não se preocupou com todo o alfabeto que vem antes. “Ah, mas eu achei que a gente ia transar.” Pois é, eu também, mas mudei de ideia.
Sono, fome, falta de romance, romance demais, falta de carinho, falta de empatia, falta de pegada, bafo, beijo desencaixado, beijo molengo, papo-furado, preguiça, medo, pouca idade, pouca vontade, vontade demais.
Nesses 20 anos de vida sexual, eu desisti tantas vezes de transar já estando “na cara do gol” —e que momento propício para um trocadilho futebolístico—que um antigo conhecido “brincava” comigo: “Você tem sorte que nunca nenhum deles ficou realmente puto e te machucou”. Sorte eu tenho de ter me distanciado de gente que fala uma coisa dessas.
Ao longo da vida, mudei de ideia quase tanto quanto tive ideias. Quem me conhece sabe que eu sou a campeã internacional de combinar viagem e não ir. De dar festa de aniversário e me arrepender (e largar todo mundo na sala e ir dormir). De vender ideias de roteiros e livros e achar tudo uma merda assim que consigo um contrato. De me obcecar em uma melhor amiga e semanas depois achar a pessoa insuportável.
Já troquei tantas vezes o pedido no restaurante, que tem garçom que ao me ver respira fundo e faz cara de “hoje eu peço demissão”. Antes de entender que o único trabalho possível para mim seria um inventado, troquei tanto de emprego e profissão que minha família me apontava como “essa não vai dar em nada”. Antes de entender que o único casamento possível pra mim seria um inventado, troquei tanto de namorado que as pessoas já perguntavam: “Quem é o homem da sua vida dessa semana?”.
Mudei seis vezes de obstetra quando estava grávida, cinco vezes de gastro quando estava com gastrite e quatro vezes de psiquiatra quando estava deprimida. E o que é isso, afinal? Histeria? Chatice? Mulher é tudo maluca? Não, meu anjo, é que a galera é ruim mesmo.
Talvez a gente nunca saiba se o tal jogador de futebol com boa índole (e devedor de R$ 69 milhões à Receita) cometeu violência sexual. Mas de uma coisa podemos ter certeza: ele (que cometeu vingança pornô) e boa parte do tribunal da internet acreditam que se uma mulher manda foto pelada, manda mensagens provocativas e aceita um convite para um quarto… ela não pode mais mudar de ideia. Se chegou até ali ajoelhada, agora ela vai ter que rezar. Se está no inferno, vai ter que abraçar o capeta. Percebam que, encarnando Deus ou Diabo, o homem sempre está em posição de poder.
E por falar nos machos: tadinhos! Não lidam bem com relacionamentos amorosos, temem a paternidade, não sabem o que fazer com mulheres espertas. E, abençoados pelas mamães e pelo patriarcado, mudam de ideia todos os dias. Não ligam, não aparecem, não respondem, não sentem, não querem mais. Porque é “do homem” ser instável, livre e errático. É charmoso e esperado. É misterioso e difícil. Nós, que na fantasia deles somos meros úteros passivos e dependentes de saltitantes espermas fanfarrões, temos mais é que, uma vez que escolhemos ter pernas que abrem, não mudar jamais de ideia.
Amy Winehouse – Monkey Man
Essa Damares – aquela do “menino deve vestir azul e menina, rosa” – escolhida pelo capitão-presidente para ministrar a Mulher, a Família e os Direitos Humanos no Brasil, é uma pessoa estranha. A começar pelo nome. Nasceu no Paraná, mas, aos seis anos, mudou-se para o Nordeste, dividindo-se entre a Bahia, Alagoas e Sergipe. Advogada e pastora evangélica, foi, durante algum tempo, assessora do então senador Magno Malta, outra figura folclórica – o que explica muita coisa. Na semana passada, sentiu-se mal e foi internada em um hospital de Brasília. Diagnóstico médico: pressão do cargo que ocupa.
O problema de Damares é que, cada vez que ela abre a boca, sai uma besteira. A mais recente: a sugestão para que a educação sexual nas escolas inclua a abstinência sexual. Segundo ela, o jovem, ao adiar a primeira relação sexual, evita doenças como o HIV…
Recentemente, Damares esteve em Buenos Aires e, em entrevista à BBC News Brasil, depois de anunciar estar à procura de um novo relacionamento afetivo, entrou na área dos desenhos animados exibidos no cinema e na TV
– Eu sou educadora e como educadora sempre questionei o excesso da exposição das crianças ao desenho animado. Por exemplo, Tio Patinhas, 40 anos atrás, eu era muito jovem e eu já questionava o Tio Patinhas com aquele consumo exagerado, do dinheiro pelo dinheiro, pela riqueza, né. Depois, teve uma época que eu fui estudar o Pica-Pau. Para mim, o Pica-Pau é um desenho, hoje, ele é bonzinho diante do que tem aí. Mas naquela época era um desenho agressivo, ele é um personagem violento. Ele é um personagem arrogante, é um personagem egoísta. Eu questionava a caracterização do Pica-Pau. E depois o Popeye e a Olivia e o Brutus, e como eles lutavam por aquela mulher. Ela era esticada, ela era um objeto e eu questionei tudo aquilo naquela época. Mas aí veio a Frozen, no momento em que falo da ideologia de gênero. Pra mim, é o desenho mais lindo que assisti nos últimos tempos. Assisti 50 vezes, eu canto a música, eu choro. A princesinha conquistou o mundo e tem menininhas de dois ou três anos que amam Frozen. Eu amo Frozen. Eu sou uma velha que chora com desenho animado…
Pobre Tio Patinhas, rico e ganancioso – consumista, desculpe-me, dona Damares, ele nunca foi nem será; pobre Pica-Pau, hoje regenerado; pobres Popeye, Brutus e Olívia, ela magrinha e tão esticada pelos dois primeiros… Felizmente, aí surgiu Frozen, que encantou dona Damares, ainda que a faça chorar… de emoção.
Sabe, ministra Damares, essas figurinhas citadas por v. exª. são apenas inocentes personagens da tela, do vídeo e dos quadrinhos. Não existem na vida real, nem mesmo a sua querida Frozen, dos Estúdios Disney. Foram criadas apenas para distrair a piazada (de todas as idades). Por isso, não lhe devem causar sofrimento. Olívia, por exemplo, ainda que raquítica e desajeitada, adorava ser disputada pelo mocinho Popeye e pelo vilão Brutus. A ganância e a usura do Trio Patinhas, a violência, a arrogância e o egoismo do Pica-Pau e as desavenças de Popeye e Brutus eram e ainda são pura ficção. Aí estava a graça ou a tristeza, que acabava na cena ou no quadrinho final.
Deve haver coisas mais sérias em vosso ministério para causar-lhe preocupação. Se não houver, dedique-se de corpo e alma à procura do desejado novo relacionamento amoroso. Muito provavelmente, é essa carência que lhe está fazendo mal.
caso alguma coisa me acontecer,
informem a família
foi assim, assim tinha que ser
tinha que ser dor e dor
esse processo de crescer
tinha que vir dobrado
esse medo de não ser
tinha que ser mistério
esse meu modo de desaparecer
um poema, por exemplo
caso alguma coisa me suceder,
vá que seja um indicio
quem sabe ainda não acabei de escrever
Cada vez mais vai se estabelecendo na imagem internacional de Jair Bolsonaro um sentimento de rejeição que pode ser uma complicação para amigos estrangeiros que não tiverem o cuidado de ficar longe dele. Até em Nova York ele já teve problemas para receber uma homenagem, sendo obrigado a seguir para Las Vegas, onde o evento teve que ser feito em um lugar fechado.
Bolsonaro pode ser um grave incômodo pelas ideias doidas e extremistas que representa e também por causa do que ele fala. Em viagem ao Chile, em março, sua conhecida admiração pelo sanguinário ditador Augusto Pinochet foi mais que uma pesada gafe. Mesmo a direita chilena quer se afastar do fantasma político de um criminoso que marcou a história chilena com uma crueldade que fez dele uma figura com pouquíssimos seguidores no país.
A visita de Bolsonaro criou problemas para seu anfitrião, o presidente chileno Sebastián Piñera, abrindo espaços para manifestações da oposição, que foi às ruas expressar repúdio à presença do presidente brasileiro. O presidente da Câmara dos Deputados, Iván Flores, e o do Senado, Jaime Quintana, ambos oposicionistas, recusaram participar de um almoço em homenagem a Bolsonaro no Palácio La Moneda, sede do governo chileno.
Com isso é possível imaginar a tensão do presidente da Argentina, Maurício Macri, que vai receber Bolsonaro nesta quinta-feira, prestes a enfrentar uma eleição difícil, que tem do outro lado uma forte chapa peronista com a ex-presidente Cristina Kirchner como candidata a vice de Alberto Fernández, que foi chefe de gabinete de Néstor Kirchner. Macri tenta a reeleição em um momento de profunda crise econômica na Argentina e precisa dos votos dos eleitores moderados. E logo agora vem a incômoda visita de Bolsonaro.
Bolsonaro já andou dando opinião sobre a eleição na Argentina, com pesadas críticas afirmando que a vitória da chapa de Cristina Kirchner levaria os argentinos à condição em que está hoje a Venezuela. É uma besteira sem tamanho o paralelo com a Venezuela, mas o mais grave é a inconveniente intromissão do presidente de um país estrangeiro em assuntos internos da Argentina. Isso acendeu os ânimos da oposição ao governo Macri. Estão previstas manifestações contra Bolsonaro em Buenos Aires, com a participação do lendário grupo Mães da Praça de Maio, composto de parentes de desaparecidos, que durante a ditadura militar ocupavam periodicamente uma praça da capital argentina em denúncia de abusos da ditadura militar.
Só falta Bolsonaro dar a mancada de fazer um elogio a algum dos ditadores que passaram pela Argentina, criminosos cruéis como Jorge Videla ou qualquer outro assassino do mesmo tipo. Provavelmente haverá alguma pergunta de um jornalista sobre este tema. E não é difícil que o inconveniente visitante cometa este deslize, já que é forte seu apreço por ditadores. Recentemente ele chegou a elogiar o ex-ditador do Paraguai, Alfredo Stroessner, que praticava até pedofilia. Mas mesmo que Bolsonaro se comporte de forma razoável, a Argentina prepara-se para uma quinta-feira bastante quente, em um dia que com certeza Maurício Macri gostaria de estar em outro país.
Alberto Díaz Gutiérrez, conhecido como Alberto Korda, (Havana, 14 de setembro de 1928 — Paris, 25 de maio de 2001) foi um fotógrafo cubano. Tornou-se internacionalmente famoso por sua fotografia de Che Guevara.
Korda começou a fotografar oferecendo seus serviços em festa de batismo, casamentos e festas. Tempos depois, abriu um estúdio em Havana onde passou a se dedicar à fotografia publicitária e de moda. Em certo tempo quando fazia fotografias de moda, Korda viu uma menina cubana fazendo uma saia improvisada de papel para vestir uma boneca; percebeu que a boneca era apenas um pedaço de madeira e sensibilizado, resolveu unir-se ao ideal revolucionário que prometia acabar com aquele tipo de infelicidade.
A sua fama aconteceu quase por acaso. A fotografia quase acidental de Che Guevara tornou-se uma das fotos mais reproduzidas de todos os tempos. Korda fez uma tomada vertical e outra horizontal. As duas fotos não ficaram tão famosas imediatamente. Foi preciso que um italiano de nome Giangiacomo Feltrinelli recortasse as laterais da tomada horizontal e espalhasse pôsteres de Che Guevara depois de sua morte, em 1967 nas selvas bolivianas. A partir daí a imagem correu mundo e tem sido fonte de inspiração para muitos artistas. Alberto Korda nunca recebeu qualquer tipo de remuneração pelas fotos e nunca empenhou-se em receber.
A foto A cena imortalizada existiu no dia 5 de março de 1960. Korda fotografava para o jornal cubano “Revolución”. Ao lado de várias autoridades cubanas, numa tribuna, Guevara participava de um ato de protesto contra a explosão de um barco que matara 136 pessoas. Foram apenas 45 segundos para o fotógrafo perceber que tinha imortalizado uma bela expressão.
Jamais preveria, no entanto, que se transformaria no autor do mais forte ícone dos movimentos de esquerda de todo o mundo. A imagem só se popularizou porque um artista plástico irlandês, Jim Fitzpatrick, criou uma estampa em monotipia baseada na foto e colocou-a em domínio público (no que hoje se chamaria de copyleft).
Rua São Francisco, 50. Na casa de Tia Tessália, em frente à Confeitaria Blumenau, ficava a sede do Teatro Margem, onde Manoel Carlos Karam morava com o irmão Luiz Antonio. Lá, todos os livros, todos os discos, toda a juventude. Entrando na mansão, Regina Bastos (com Betina na barriga), o cartunista que vos digita, Vera Prado, Karam e Roxane. Anos 70, anos de chumbo, viu só, Nena Inoue? © Beto Bruel
Nosso futuro está escrito nas estrelas”, disse Shakespeare, ou Brutus pela mão de Shakespeare. Também disse o contrário: que nosso destino vem, não do alto, mas das nossas entranhas, e quem somos nós para exigir que, além de ser Shakespeare, Shakespeare seja coerente? No Brasil de Bolsonaro, podemos escolher não só quem ou o que nos guiará, mas os detalhes da sua natureza. Para orientar-se e orientar a nação neste começo de governo, Bolsonaro escolheu as estrelas. Para assegurar-se de uma relação direta com as estrelas, escolheu, para começar, um astrólogo famoso. Se os astros falharem… não faltará um suprimento de estrelas saudosas de outra natureza, prontas para intervir.
O Paulo Guedes não usa estrelas nos ombros, nem – que se saiba – metafóricas, mas seus sonhos americanistas e seus delírios de mercado aberto, custe socialmente o que custar, devem fazer dele talvez o mais perigoso dos nossos guias. Comenta-se em Brasília que na volta dos Estados Unidos, onde ouviu a notícia de que a Petrobras não aumentaria o diesel, Guedes foi ao escritório de Bolsonaro, que trancou a porta. Durante duas horas, só se ouviu uma voz de dentro do escritório. Na saída, Bolsonaro suava e parecia trêmulo. Durante as duas horas, ele só ouvira reprimendas e ameaças do presidente. Acabara tendo de ouvir a pergunta humilhante: o senhor não sabe, seu Jair, no que nós nos metemos? Em que briga de cachorro grande?
A situação é essa. Estrelas graduadas, metidas com estrelas metafísicas, metidas com estrelas liberais, numa constelação em choque, ou várias constelações engalfinhadas num pega sideral, até que se definam. Quem vencerá? Não se sabe nem quem está na frente. Os militares têm as armas e o hábito, embora se digam regenerados e teimem em representar essa nova normalidade. O Olavo de Carvalho representa uma excentricidade de um só, o que não deixa de ser uma credencial política. Não sei se anda armado.