Outro Fiat Elba

No mesmo dia o deputado Flávio Bolsonaro teve depositados R$ 96 mil em sua conta bancária. O peculiar da operação: foram 48 depósitos de R$ 2 mil cada, em dinheiro, feitos no caixa automático, nos envelopes especiais. Outra peculiaridade: os depósitos ocorreram a pequenos intervalos, o suficiente para encerrar uma operação e iniciar outra.

O prático e racional seria depositar os R$ 96 mil em operação única. Havendo receio de segurança, o depositante poderia fazê-lo via cheque ou direto no caixa interno da agência. A explicação do deputado não faz honra aos votos recebidos nos mandatos para a assembleia legislativa do Rio e para o Senado: a agência bancária ficava longe de seu gabinete.

Só isso. Não vale a pena desconstruir a versão. Se existem, como na constituição dos EUA, as “verdades evidentes por si mesmas”, esta dos depósitos é a “estupidez evidente por si mesma”. De uma infantilidade que não é tocante porque deriva para o deboche e o cinismo. Fernando Collor caiu pelo Fiat Elba mal explicado. Como será agora?

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Os que têm ideias, os técnicos etc.

Para ideólogo, o que importa é a transformação da qual o mundo precisa

Nos anos 1960, para mim, não havia “técnicos”, só tecnocratas. Se um governo nomeasse um ministro por ele ser competente (com as credenciais de quem estudou e ponderou as questões-chave do seu ministério), todos gritaríamos contra o domínio da razão abstrata, que, pensávamos, indiferente ao sofrimento provocado, acabaria com a criatividade, as ideias, o desejo, a espontaneidade e a poesia.

Tínhamos algumas razões para desconfiar dos técnicos. Afinal, as duas guerras das quais éramos filhos foram guerras de expansão entre nações rivais ou guerras da ciência e da indústria militar contra o homem, por cima das nações? Qual a relação entre a vontade de conquista e a “necessidade” de usar as armas, uma vez que elas foram inventadas? Perguntávamos isso 20 anos antes de assistir a “O Exterminador do Futuro”.

De fato, éramos sobretudo neuróticos. Encarávamos os técnicos como substitutos dos pais no dia em que a gente pedia sorvete e eles respondiam que não havia dinheiro para sobremesa.

“Técnicos”, em suma, eram aqueles que tentavam nos explicar por que não dava para fazer o que a gente queria. Hoje, ele explicariam por que é necessária uma reforma previdenciária.

Nos os chamávamos de tecnocratas porque eles pareciam se servir de sua “técnica” e ciência para justificar seu poder.

Resumindo: nos anos 1960, a gente era sonhador e odiava os tecnocratas, que assassinavam nossos sonhos em nome da “realidade”.

Já nos próprios 1960, muitos sonhadores deixaram de ter apenas vontades, desejos e impulsos aparentemente generosos; eles começaram a ter ideias, de modo a poder contrapor uma visão do mundo à “realidade” invocada pelos tecnocratas.

Os sonhadores passaram assim a acreditar em ideias: eles se tornaram ideólogos. Ideólogo acredita na Bíblia e acha portanto que Darwin estava errado. Ou então ideólogo acredita em Marx e acha que o comunismo é inelutavelmente o fim da História. Dá na mesma: ideólogo é quem pensa a partir de sua ideologia, não a partir da realidade.

Como se forma um ideólogo? O ingrediente básico é a paranoia, que organiza o pensamento num sistema, dá sentido a tudo e, claro, designa os inimigos.

O sonhador podia ser inconstante e mutável como são os sonhos. No ideólogo, o que importa não são os quereres, mas é a transformação da qual “o mundo precisa”. O ideólogo tem certeza da necessidade de seu plano e do caminho para realizá-lo. E ele sempre tem razões “superiores” para menosprezar os custos de seu projeto: o bem de todos, os “princípios”, seu deus etc.

Ao longo dos anos 1980 (fim da Guerra Fria), não digo que a gente deixou de ser ideólogo, mas o fato é que, aos poucos, os tecnocratas voltaram a ser chamados de técnicos.

Ou seja, começamos a levar em conta os custos das ideias e a prestar atenção na realidade. Talvez esse seja um jeito de dizer que nos tornamos social-democratas. A virada não foi difícil, pois os que permaneceram ideólogos, em geral, levaram suas comunidades à falência.

Chegamos, aliás, nos 1990, a constatar que qualquer ideólogo é perigoso. É ótimo ter ideias sobre como levar sua vida, mas é péssimo acreditar que a sociedade inteira precise dessas ideias.

E hoje? A década na qual vivemos parece ter um novo carinho pelos ideólogos —e um novo desprezo pela competência dos técnicos.

No novo governo brasileiro, por exemplo, com a exceção da Fazenda, onde Guedes poderia não ser um ideólogo ultraliberal, mas um técnico (logo saberemos), vinga uma preferência pelos ideólogos: na Educação, no Itamaraty, no ministério misteriosamente dito da Mulher, Família e Direitos Humanos.

Como governantes, os que têm suas ideias (os ideólogos) são os mais apavorantes: a história mostra que eles não recuam diante de nada para a maior glória de seus pensamentos.

Os sonhadores também são péssimos para governar e se tornam ideólogos facilmente.

Restam os técnicos, que, como a gente receava, podem mesmo ser seduzidos por razões abstratas e perder de vista as exigências da vida concreta de todos em nome, sei lá, de um equilíbrio contável.

Conclusão? Gostaria que surgisse uma nova categoria: os empíricos, ou seja, os que pensam, a cada vez, a partir da realidade concreta, em toda sua complexidade.

Nota sobre a coluna passada. Agradeço aos leitores que me assinalaram que o seriado “Babylon Berlin” está disponível no Brasil, na Globoplay. Não percam!

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Pouluicéia Desvairada!

O Homem-Morcego foi às compras.
Em alguma calçada da Oscar Freire. © Lee Swain

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© Myskiciewicz

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O general e o problema

O único problema do senador Flávio é ser Bolsonaro” – palavras do vice presidente general Hamilton Mourão. Quem chegou agora diria “o general bebeu todas, fumou maria joana, viajou na maionese”. Quem está há algum tempo diz “o general podia ter evitado passar atestado de burrice”.

Ou o general é um gênio de tamanha penetração que diz a verdade travestida de estupidez: realmente o problema do senador Flávio é ser Bolsonaro. Ele avançaria no raciocínio para afirmar que o problema de todos os Bolsonaros é ser Bolsonaro? Esse general vai longe.

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Benett

© Benett – Plural

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Melhor não tê-los

Alguns filhos de presidentes confundem o porão do palácio com o da família

“Filhos… Filhos!/ Melhor não tê-los!/ Mas se não os temos/ Como sabê-los?/ […]/ Cocô está branco/ Cocô está preto/ Bebe amoníaco/ Comeu botão/ […]/ Filhos são o demo/ Melhor não tê-los/ […]/ Chupam gilete/ Bebem xampu/ Ateiam fogo/ No quarteirão […]”. 

Todo mundo conhece esses versos. São do “Poema Enjoadinho”, de Vinicius de Moraes, feito em Los Angeles, onde ele morava nos anos 40, para seus filhos Pedrinho e Susana. Anos depois, convencido de que era uma boa ter filhos, Vinicius foi em frente e teve mais três, Luciana, Georgiana e Maria. Eles não o chamavam de papai. Chamavam-no de Vinicius, o que infere uma relação amorosa, mas adulta, entre pai e filhos.

Não sei se se pode dizer o mesmo de Flávio, Eduardo e Carlos, filhos de Jair Bolsonaro. Pelo jeito com que eles se apresentaram a nós em adultos, dão a impressão de terem sido daquelas crianças que, no restaurante, se metiam por baixo das mesas, faziam guerra de azeitona e infernizavam o almoço dos outros clientes enquanto seu pai —era o fim de semana dele com os filhos— estava muito ocupado doutrinando o maître sobre anticomunismo. Ao descobrir que devia tê-los posto na linha, era tarde demais.

Filhos de presidentes deveriam ser discretos. As meninas de Juscelino, Jânio, Geisel, Itamar, Dilma e Temer eram mais do que isso —quase invisíveis. Os de Jango, Collor e o caçula de Temer eram crianças. E, dos filhos de outros presidentes, civis ou militares, sempre se soube mais do que se podia provar —porque eram competentes. Já os que confundiram os porões do palácio presidencial com o porão da família e acharam que iam se dar bem nem sempre saíram ilesos. Vide Lutero Vargas, Roseana Sarney, os filhos de Lula —os sobrenomes falam por si.

Para Bolsonaro, o alegre desembaraço de seus filhos tem uma vantagem. Com eles à solta para aprontar, ele não precisará de oposição. 

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Marielle surge no caso Queiroz para assombrar começo do governo Bolsonaro

Se há um tipo de assombração que refuta exorcismos ou visitas dos céticos de programas de TV é aquela que ocorre no ambiente da política.

Veja o caso do PT. O partido passou, com fracassos e sucessos, 13 anos no poder. Mas nunca livrou-se do espectro que o assassinato de Celso Daniel, prefeito de Santo André que iria coordenar o programa de governo do então presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.

Morto às vésperas da campanha, Daniel virou personagem central de nove entre dez teorias conspiratórias da política brasileira. Reviravoltas, mortes de testemunhas, tudo contribuiu para a aura de mistério do caso —cuja versão de queima de arquivo sempre foi tratada como verdade pelo hoje presidente Jair Bolsonaro.

Na campanha eleitoral, ele chegou a comparar a nebulosidade em torno do homem que o esfaqueou em Juiz de Fora com uma suposta trama petista de violência e sangue no ABC paulista.

É portanto irônico que a maior dor de cabeça dessa alvorada de governo, o imbróglio do primogênito do presidente, Flávio Bolsonaro, esteja se aproximando lentamente de um outro cadáver famoso: o da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), executada no ano passado no Rio.

Os pontos de ligação ainda são tênues, mas extremamente incômodos para o governo. Em resumo, o gabinete do senador eleito Flávio enquanto ele era deputado estadual no Rio empregou a mulher e a mãe de um ex-capitão da PM que é investigado por ligação com as temíveis milícias que assolam a capital fluminense.

O grupo a que o policial estava associado é, por sua vez, investigado por suspeita de operar em ações criminosas que eram alvo de denúncias de Marielle. Que a vereadora foi morta por milicianos, há poucas dúvidas. Se houver eventual ligação daquela gente com o gabinete do filho do presidente, aí a palavra a usar é escândalo.

Por evidente, não se está falando aqui de qualquer conexão entre o senador eleito e o crime, mas sim de uma realidade política. Também não é um novo caso Celso Daniel, claro, pela total desconexão entre o papel dos protagonistas e o enredo.

Mas é uma assombração, digamos, a fazer companhia à já atuante versão ainda encarnada que atende pelo nome de Fabrício Queiroz —o altamente enrolado ex-assessor de Flávio, já responsabilizado pelo senador eleito por quaisquer contratações indevidas.

Do ponto de vista de imagem, a coisa fica particularmente complicada porque Marielle virou um símbolo, dentro e fora do Brasil, de vítima de um país truculento e autoritário que não dá certo, que não protege suas minorias. Ela foi antagonista do que defende o clã Bolsonaro e seus partidários do PSL, alguns deles que inclusive vandalizaram uma placa em sua homenagem.

Se o caso está à porta de Jair Bolsonaro, a culpa é dele mesmo, que deixa um apoplético filho vereador participar de reuniões ministeriais e leva outro para a Suíça com status ministerial —o deputado Eduardo pode ter um convite para Davos, mas viajou como um igual ao lado de dois superministros e do chanceler na cabine reservada do Aerolula.

Enquanto o clã apenas se retroalimentava de práticas usuais do baixo clero, com uma personal trainer para cá, um assessor para lá, o tratamento dado a isso era algo leniente —um erro da imprensa e da classe política. Chegando ao grande palco, o cipoal de insinuações no Rio não será deixado de lado, por tenebroso que é e pelo potencial de impacto que tem.

Para Bolsonaro, a desgraça é que a hora de levantar um cordão sanitário já passou. Tudo indica que o presidente vai apenas dobrar a aposta enquanto as investigações correm, o que pode dar certo. Ou totalmente errado.

Com tudo isso, não parece um mero detalhe que o vice em exercício na Presidência, Hamilton Mourão, tenha feito uma pequena adequação em seu discurso sobre o caso. Antes, ele não interessava ao governo. Nesta terça (22), instado a falar sobre a questão das milícias, ele adicionou um “por enquanto” à avaliação.

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exposição-sára© Sára Saudková

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A gangorra do engodo

Fabrício Queiroz não é problema do governo. É assunto entre pai e filho” – Hamilton Mourão, o vice e presidente interino, sobre a traficância de dinheiro do assessor de Flávio Bolsonaro na assembléia legislativa do Rio – que respingou no presidente e na primeira-dama.

A menos que o governo Bolsonaro tenha restabelecido a monarquia no Brasil – há certos indícios na relação do presidente com seus filhos – definitivamente não é assunto entre pai e filho. O pai é presidente da República, o filho foi deputado e é senador.

A maracutaia ocorreu no gabinete do filho deputado, pelo assessor cujos limites e autonomia são desconhecidos – embora a prática repetida nos legislativos indique que tal autonomia é inexistente: tudo se faz sob controle e permissão do parlamentar e chefe.

Dinheiro do assessor caiu na conta da hoje primeira-dama. O assessor tinha relacionamento com o presidente. Ao atenuar e relativizar o problema, que é grave e atinge tanto os valores republicanos como os apregoados na campanha do presidente, o vice revela tosca manipulação dos fatos.

Veja-se. Primeiro, doura a pílula, salvando a cara do titular (com isso o general poderia ser um novo Itamar Franco). Segundo, que se lixa para a opinião pública, pois sabe que o chefe tem a tolerância dos recém-eleitos e a indulgência de seus fanáticos, obnubilados como os lulistas.

Quem se importa com isso, tirando a oposição de conveniência, a imprensa que cativa os leitores e os raríssimos pensantes e críticos? No restante temos a maioria dos conformistas, dos que sabem que sempre foi e sempre será assim. A gangorra do engodo continua no sobe-desce.

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Redemption Song

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Elas

© Divulgação

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Suspeitos de participar do assassinato de Marielle são presos em operação contra milícia

Há indícios de que 2 dos alvos de prisão comandem o Escritório do Crime, ramificação da organização, especializada em assassinatos por encomenda.

Uma operação do Ministério Público em parceria com a polícia do Rio de Janeiro prendeu ao menos 5 suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol) e do motorista Anderson Gomes. De acordo com o jornal O Globo, os suspeitos integram a milícia mais antiga e perigosa do estado.

Há indícios de que 2 dos alvos de prisão comandem o Escritório do Crime, ramificação da organização especializada em assassinatos por encomenda.Entre os presos está o major da Polícia Militar Ronald Paulo Alves Pereira, que integraria esse braço da milícia. Além dele, foi preso em uma casa em um condomínio de luxo Manuel de Brito Batista, o Cabelo.

Segundo o Ministério Público, essa milícia de Rio das Pedras explora o mercado imobiliário ilegal, com a regularização de bens. A denúncia argumenta que os integrantes do grupo são responsáveis por extorquir os moradores, cobrar taxas ilegais, falsificar documentos públicos, ocultar bens.

Os suspeitos também praticam outras atividades comuns de milícias para controle de território, como ligações irregulares de água, luz e serviços de TV a cabo, chamados de gatonet. Serviços como esses foram denunciados por Marielle e pelo deputado Marcelo Freixo, quando comandaram a CPI das Milícias. No fim do ano passado, o então secretário de Segurança Pública do Rio Richard Nunes afirmou Marielle e Anderson foram mortos por milicianos envolvidos com grilagem de terras. Nunes ressaltou que Marielle “estava lidando em determinada área do Rio controlada por milicianos” que atuam “muito em cima da posse de terra”.

“O que leva ao assassinato da vereadora e do motorista é essa percepção de que ela colocaria em risco naquelas áreas os interesses desses grupos criminosos”, disse o então secretário.

O Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), com o apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil, escalou 140 policiais para cumprir 13 mandados de prisão preventiva contra a milícia.

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Ué?

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Mural da História

DEFUNTO

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