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Hoje!

© Roberto José da Silva

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Gurus, charlatões e curandeiros

Volto de Goiás, onde revisitei o centro de João de Deus, em Abadiânia, e o sítio de Sri Prem Baba, em Alto Paraíso. Duas cidadelas espirituais, atingidas em níveis diferentes por um dos tradicionais adversários do espírito: a carne.

Na década dos 80, visitei o ashram de Rajneesh em Poona, na Índia. Faz anos, portanto, que me interesso pelo tema. Não tenho uma opinião formada, como os autores Joel Kramer e Diana Alstad, que escreveram o livro “The Guru Papers”, cujo subtítulo é: “máscaras de um poder autoritário”.

Eles afirmam que a relação entre guru e discípulos é uma espécie de deslocamento das estruturas sociais autoritárias para o âmbito das relações pessoais. Há algo, no entanto, que minha experiência individual leva a uma concordância com eles: religiões milenares não conseguiram alterar a fragilidade da natureza humana.

Mas isso não é uma grande novidade. O avanço da ciência e da tecnologia também não significou necessariamente um avanço ético. Kramer e Alstad tratam mais de gurus de origem oriental. No capítulo em que descrevem seu poder sexual sobre os discípulos, destacam duas condições que o favorecem: o celibato e a promiscuidade, no fundo uma ausência de vínculos que deixa o discípulo mais vulnerável. Alguns gurus de origem oriental vêm de sociedades mais rígidas. No Ocidente, tentam aplicar algumas de suas técnicas e rituais sob o argumento da liberação de impulsos reprimidos. Em muitos casos, a relação com a discípula é vista como uma espécie de uma graça que a distingue dos outros. Mas há também a tentação de formar haréns com as escolhidas.

No caso de Sri Prem Baba, esses elementos não estão presentes. Mesmo porque, apesar de formado na Índia, ele é brasileiro, oriundo de uma sociedade mais liberal. Ainda assim, ao me referir de passagem ao caso que teve com uma discípula, afirmei que era relativamente consensual. Isso porque o poder do guru é muito grande. Ao seguir um guru, somos convidados a nos render. Como lembram os autores, paixão significa abandono, deixar rolar: render-se, de uma certa forma, é um caminho para a paixão. O caso de João de Deus é diferente. Ele é famoso por curar. Quando o entrevistei, percebi alguns traços do rude garimpeiro e uma certa ignorância sobre as forças ou entidades que lhe comunicavam o poder de curar.

Muito possivelmente, a relação entre um paciente e o curandeiro não tem as características de rendição emocional entre guru e discípulo. Ora é uma necessidade de sobrevivência, ora a superação de um doença que impossibilita a vida plena, ou mesmo uma tentativa de contornar a condenação à morte pela medicina tradicional. Ironicamente, no caminho para Abadiânia, soube que na cidade próxima, Alexânia, um padre foi condenado por abuso sexual. O mesmo aconteceu em Anápolis, onde João de Deus mora.

O mais irônico ainda é constatar que a concentração de poder nas mãos do guru ou do curandeiro os deixa espetacularmente fragilizados diante da vida. No mundo político, as delações premiadas são validadas por provas. No universo espiritual, entretanto, basta a palavra do outro para desfechar uma onda de condenação. E isso vale inclusive para os campos onde o poder masculino se impõe: basta ver a comoção que o movimento feminista provocou no universo das artes nos EUA.

As religiões podem melhorar nossa vida porque ajudam a carregar o fardo da mortalidade. Mas os seres humanos, pelo menos foi meu aprendizado de vida, continuam frágeis e limitados como sempre foram. Por isso, com o olhar de hoje, vejo como charlatanismo a proposta de Che Guevara de criar um novo homem. Na verdade, somos e seremos muito menos importantes do que julgamos ser. Creio que morreria de tédio num mundo perfeito. Por isso, dispenso a crença na vida eterna e procuro me ajeitar com minha condição de simples mortal. O roteiro da minha viagem era o cinturão espiritual em torno de Brasília, uma espécie de contraponto à permissividade do universo político, onde a carne não chega ser um adversário considerável, no máximo uma distração na longa ordem do dia.

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Tempo

Fábio Campana e Ione Prado, no tempo do guaraná com rolha, em algum lugar do passado. © Myskiciewicz

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João Teixeira de Faria

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Ratinho Jr e a vacina oportuna

Um pequeno movimento, muito sutil por enquanto, foi feito pela assessoria do governador eleito Ratinho Jr, ao lançar a ideia de que as contas públicas do Paraná não estão lá com essa bola toda. A governadora Cida Borghetti anda dizendo que vai deixar R$ 5 bi em caixa e o próprio coordenador do Plano de Governo, Reinhold Stephanes, chefe da transição, afirmou que o Paraná tem as contas equilibradas.

O movimento sutil de negar o que foi dito, tem endereço certo, CPF e RG e no jargão da publicidade é chamado de “vacina”. No caso, mudar a janela cor-de-rosa-aberta-para-o-mundo em termos de finanças estaduais para evitar professores e servidores públicos na porta do Palácio Iguaçu e cobrando a reposição salarial que lhes foi tirado pelo ajuste fiscal estonteante feito nos anos Beto Richa.

E, depois, mas não menos importante, o governador que entra precisa de discurso efetivo, de anunciar obras e mais obras, e manter a esperança. E, se depois de meses, nada for feito, o governador precisa de outro discurso efetivo, o da herança maldita do caixa vazio.

Diante do cenário pantanoso, vacinar é preciso.

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Lucro

Bolsonaro governa o hospício chamado Brasil sem ter assumido oficialmente o cargo. Isso porque Michel Temer é um banana que se revelou ao assumir isso que está aí. Em meados do ano que vem já se terá ideia do que é o novo governo. Para o mais otimista dos que entendem um pouco do país, se a coisa ficar do mesmo jeito, já é lucro.

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Mural da História

18 de janeiro, 2009 – O Ex-tado do Paraná

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Confusos e distraídos

‘Tchau, Tasso’, disse eu ao Ciro

Uma amiga andou perdendo o sono por causa do Natal. Nada a ver com compras ou presentes. Mas porque, noites em seguida e até de manhã, o tec-tec de uma bolinha de pingue-pongue no andar de cima não a deixava dormir. Ele se perguntava como o casal seu vizinho conseguia jogar pingue-pongue a noite inteira e sair cedo para trabalhar. Mas o mistério acaba de se resolver. Ninguém estava jogando pingue-pongue. Era a gatinha do casal brincando com uma bola que subtraíra à árvore de Natal de seus donos. Essas bolas não são mais de vidro, mas de plástico, como as de pingue-pongue, e fazem o mesmo tec-tec.

Minha amiga atribuiu o equívoco à sua imaginação, que às vezes se mistura com a realidade a ponto de se confundirem. Ela é daquelas que fazem sinal para o metrô na estação, tentam abrir a roleta com a chave de casa e, ao volante, abaixam a cabeça ao entrar no túnel. Um dia, numa loja, esbarrou num manequim e pediu-lhe desculpas pensando que era o vendedor. Já lhe aconteceu de, ao tomar um ônibus, esquecer o filho no ponto e só se dar conta disso no ponto seguinte. E, fã de jazz, passou uma noite conversando comigo sobre o baterista Gene Krupa. Só que ela o chamava de Frank Capra, que, como se sabe, foi um diretor de cinema.

Eu próprio vivo dando foras. Há anos, fui apresentado num aeroporto ao cearense Ciro Gomes. Conversamos por alguns minutos e pedi licença: “Bem, tenho de tomar um avião. Tchau, Tasso” —e saí, confundindo Ciro com seu arqui-inimigo na política do Ceará, Tasso Jereissati.

Às vezes, a confusão é coletiva. Estava eu num botequim com o escritor baiano Marcos Santarrita quando entra um sujeito e me pergunta: “O senhor é o João Ubaldo Ribeiro?”. E eu: “Não. Eu sou o Rubem Fonseca”. Apontei para o Santarrita: “Ele é que é o João Ubaldo Ribeiro”. O homem nos abraçou, empolgado. Era fã do Zé Rubem e do João Ubaldo.

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Desbunde!

© Michael G. Magin

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Poluicéia Desvairada!

lixoO lixo mais bonito da cidade. © Lee Swain

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João da Grana – João de Deus, o médium goiano investigado por crimes sexuais, limpou as contas bancárias dois dias antes de sair a ordem de prisão preventiva: R$ 35 mi sumiram, como que dissolvidos no éter kardecista. Recebeu um espírito craque em esconder dinheiro. Tipo o do falecido deputado José Janene.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Com a tag | Deixar um comentário
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O retrato do Brasil hoje

Neste início de verão escaldante, o Brasil está assim:

1) Um médium de fama mundial, de nome João de Deus, com prisão decretada por abuso sexual
2) Um ativista italiano, Cesare Battisti, procurado pela polícia para ser extraditado
3) Um ex-motorista, com depósitos incompatíveis, que coloca o presidente eleito em apuros
4) Um general vice-presidente, chamado Mourão, esfregando as mãos
5) Um atentado na Catedral de Campinas, com seis mortos, que ninguém lembra mais
6) Um governo, Temer, com 5% de aprovação e 13 milhões de desempregados
7) Um ex-presidente preso e “puto da vida”, segundo o último visitante
8) Um time paranaense, o Atlético, coberto de glória e discutindo um “h”
9) Um povo que vai entrar em alfa no Natal e só acordar depois do Carnaval!

Publicado em Ruth Bolognese - Contraponto | Com a tag | Deixar um comentário
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O A1-5 nos seus cinquenta anos: muito além da memória

Nesta semana tivemos o aniversário do Ato Institucional nº 5, o famoso AI-5, baixado em 13 de dezembro de 1968, durante o governo do general Artur da Costa e Silva, segundo ditador depois do golpe de 1964, que sucedeu ao marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, líder do movimento militar que derrubou o presidente João Goulart e o primeiro militar a ocupar a presidência. O AI-5 vigorou até dezembro de 1978 e foi determinante na vida brasileira. Na sua origem, o ato institucional tem a marca da intolerância com a independência do Legislativo e a liberdade de expressão. Os pretextos foram um discurso do então deputado Márcio Moreira Alves e uma série de artigos do jornalista e deputado Hermano Alves, publicados no diário Correio da Manhã, já extinto. De saída, 11 parlamentares foram cassados no mesmo mês, entre eles os dois deputados. Uma semana antes do AI-5 o Correio da Manhã tivera sua sede explodida por um atentado terrorista.

Foi uma guinada à direita dentro do próprio regime, servindo como instrumento na luta interna entre os militares. A ditadura de 64 nunca teve a unidade política que se apregoa. Pode-se dizer que havia pelo menos dois setores, um deles mais liberal, que com o tempo conseguiu firmar o pé e concluir a abertura política. O presidente eleito Jair Bolsonaro já pegou este processo em andamento, mas na caserna fazia parte da extrema-direita que queria manter a ditadura, numa posição que historicamente mostrou-se totalmente equivocada. No confronto interno com o setor mais moderado, liderado pelo general Ernesto Geisel, esta extrema-direita militar até hoje exaltada por Bolsonaro usava até a violência contra oposicionistas, armava atentados terroristas e infiltrava provocadores em movimentos políticos para criar clima para o retrocesso político.

O decreto de Costa e Silva marca o triunfo da linha dura do movimento de 64 e lançaria o Brasil em um grau de violência política que envolveu censura à imprensa e às artes, cassações e fechamento do Congresso Nacional, prisões, tortura e assassinatos de oposicionistas, mesmo de pessoas com atividade política totalmente pacífica. Ultimamente anda em uso um discurso tosco de uma direita muito mal informada e de má-fé, que tenta impingir a versão de que a repressão da ditadura atingia somente a oposição política violenta e clandestina, com o objetivo de conter o avanço do comunismo. Isso é mentira e política de desinformação. Prisões, torturas e assassinatos atingiram bastante os setores democráticos da oposição, vitimando até mesmo políticos que se opunham absolutamente à luta armada e atividades violentas de grupos minoritários da esquerda. Um exemplo disso, já na finalização da abertura política, é o assassinato do jornalista Wladimir Herzog, que na época da sua morte apenas atuava profissionalmente numa emissora do estatal, a TV Cultura. A violência contra Herzog foi usada em um conflito interno entre a extrema-direita e o governo Geisel.

O AI-5 baixou a censura até sobre jornais conservadores que apoiaram o golpe contra João Goulart, como em O Estado de S. Paulo, um dos mais respeitados diários de então, com uma linha editorial totalmente anticomunista, que teve apreendida sua edição do dia, que trazia um editorial marcante da história do jornalismo brasileiro, “As instituições em frangalhos”. Foram alvos da censura também o semanário O Pasquim, além de Opinião e Movimento, este último tendo sido censurado desde o primeiro número que foi às bancas, sendo obrigado a apresentar aos censores do regime militar todo o material antes de ser publicado. Movimento viveu até uma situação especial, de ter apreendido seu número zero, feito para circular como propaganda informativa de lançamento do jornal.

Trabalhei em Movimento, de seu lançamento em julho de 1975, até o fechamento em novembro de 1981, já sem a censura, mas abalado financeiramente devido aos altos custos criados pela censura. Para ter um jornal impresso era preciso produzir material para pelo menos três. O Opinião também foi liquidado dessa forma. A entrada do AI-5 rebaixou o nível do jornalismo brasileiro de uma forma pesada. Isso pode ser constatado folheando, por exemplo, edições do Jornal do Brasil e Correio da Manhã, dois diários importantes da época, já extintos. O nível de texto e a qualidade política e cultural dos jornais vai num crescendo até o dia da edição do AI-5, quando essa qualidade é afetada drasticamente. Somem as charges e colunas de opinião, num efeito negativo que pode-se sentir em todo os materiais, da área política até a cultural. Os cadernos semanais de cultura, com textos de altíssimo nível, vão minguando até desaparecerem.

É preciso falar mais do desastre que foi a ditadura militar sobre o comportamento dos brasileiros, afetando negativamente a nossa cultura, com a pressão e o afastamento da vida pública dos melhores talentos e o favorecimento de corjas de cafajestes em todos os setores, em especial na área empresarial e financeira. O AI-5 criou até um paradoxo, lamentável para a qualidade da cultura e da imprensa, que foi a supervalorização da atividade militante e dos trabalhos marcadamente de agitação política, favorecendo demais na arte e na cultura os valores de esquerda. Quebrou-se toda uma linha evolutiva cultural, que do ponto onde estamos não dá mais para saber onde é que chegaria. Com o AI-5 essa linha evolutiva desmanchou-se numa terra arrasada. Parte da dramática condição nacional atual vem desse ato de 50 anos atrás, amenizado depois pela abertura política e finalmente com a instalação da democracia. No entanto, ficaram marcas sobre as quais nunca se chegou a uma compreensão plena. Daí a dificuldade até hoje de nos restabelecemos dos terríveis efeitos negativos.

Publicado em José Pires - Brasil Limpeza | Com a tag | Deixar um comentário
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