Os caras de pau

O presidente Michel Temer, essa coisa indescritível, sancionou ontem o reajuste dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), calculado por eles e aprovado pelo Congresso Nacional. Imediatamente o ministro Luiz Fux saiu de cima e implodiu a liminar que aprovou e tinha concedido a excrescência do auxílio-moradia para os magistrados há mais de quatro anos.

A cara de pau com que fizeram tudo isso, enquanto o país reza para que o próximo governo pelo menos não afunde mais o país no pântano em que está metido há muito tempo, é a prova de que é muito difícil ter confiança quando quem deveria fazer justiça pensa só no umbigo, no bolso e se acha pairando sobre os demais mortais – estes que pagam a conta e respeitam as chamadas instituições – mesmo porque, se bobearem, levam mais pancada na orelha.

Calcula-se que vai chegar a R$ 4 bilhões a conta dessa farra absurda, porque neste hospício chamado Brasil existe o tal efeito cascata, onde os beneficiados são aqueles que já naquele topo da pirâmide e com emprego capilés garantidos até ir para o beleléu. A sorte é que, ao contrário do que prevê a letra daquela música, aqui o morro não desce para cobrar a conta que paga desde o descobrimento.

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César Mata Pires, o Deus da Bahia

O empreiteiro César Mata Pires Filho, que se entregou neste domingo à Polícia Federal em Curitiba, por conta das denúncias da Operação Lava Jato, é filho de uma espécie de Deus na Bahia. Seu pai, falecido no ano passado de ataque cardíaco, genro do poderoso Antônio Carlos Magalhães (o ACM), transformou a OAS numa das mais importantes empreiteiras do país, rivalizando com a também baiana, Odebrecht.

A OAS tem uma ligação com Curitiba: foi a empresa, em sociedade com os construtores locais Irmãos Mauad que transformou o antigo quartel do CPOR na praça Oswaldo Cruz no Shopping Curitiba. Em troca do terreno e da construção, a OAS construiu o atual quartel ocupado pela Quinta Região, no Pinheirinho.

Segundo um levantamento do deputado paranaense Luiz Carlos Hauly, a OAS tinha grande influência em liberar recursos dos grandes fundos de pensão, como o Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica) e Petros (Petrobras), o que levou à realização de grandes obras em todo o país. A construção da sede da Petrobrás, a Torre Pituba, junto com a Odebrecht, que levou Cesar Mata Pires Filho à prisão, teria distribuído, segundo a Lava Jato, quase R$ 70 milhões aos PT. A obra, com custo inicial previsto em torno de R$ 360 milhões, passou para R$1 bilhão.

Discreto, César Mata Pires, pai, sempre cultivou um certo mistério em torno do seu nome e posição, principalmente na Bahia. Entre os executivos locais, era considerado um Deus dos grandes negócios e pela influência que tinha junto aos sucessivos Governos de Brasília. No pós Lava Jato, descobriu-se que mais do que a competência extraordinária para gerir uma grande empreiteira no Brasil, o pagamento de propinas era determinante para o sucesso.

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Bola Família

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Obras pela metade

Orson Welles jamais faria um filme que precisasse de bula

Um artista morre. Deixa um livro ou filme inacabado e seus amigos resolvem terminá-lo. Para isso, valem-se de anotações deixadas pelo falecido ou de conversas que teriam tido com ele. O resultado é quase sempre um fantasma de camisolão e olhinhos, e ninguém saberá a opinião do artista sobre o que fizeram em seu nome. É justo isso?

Para mim, não. F. Scott Fitzgerald morreu em 1940 pouco antes de terminar um romance, “O Último Magnata”. Seu amigo, o ensaísta Edmund Wilson, usou as anotações que Scott deixara sobre o desfecho e concluiu o livro —parabéns, mas ele não ficou à altura de Fitzgerald. Já o arquiteto catalão Antoni Gaudí morreu atropelado por um bonde em 1926, a meio caminho de completar sua obra-prima, a catedral A Sagrada Família, em Barcelona. Mas deixou instruções para que os discípulos a concluíssem. O que eles agora estão fazendo —e sabe-se lá o que sairá.

Orson Welles começou a rodar “O Outro Lado do Vento” em 1974. Teve mil contratempos e morreu em 1985 com o filme pela metade. Como a história trata de um diretor baseado no próprio Orson, criaram-se lendas: o filme seria o seu testamento, o maior de sua carreira, o maior do cinema. Pois, 40 e tal anos depois, seus amigos e fãs cotizaram-se para finalizá-lo, usando os trechos já filmados, filmando outros sugeridos pelo roteiro e —aí é que mora o perigo— baseando-se no que Peter Bogdanovich diz ter ouvido de Orson sobre o que queria fazer.

Ao som de fanfarras, “O Outro Lado do Vento” acaba de ser lançado pela Netflix. Pois quer saber? Pffttt. Não é o maior filme de Orson, muito menos do cinema, e nem Orson, por mais atrevido, faria um filme que exigisse bula para ser entendido.

Ao assisti-lo e lutar contra o rigor mortis a que ele induz, eu me perguntava: por que não se cotizaram e deram o dinheiro a Orson para que ele mesmo, em vida, terminasse o raio do filme?

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Vale a pena ver de novo

É sempre a lesma lerda. A ficção é confundida com a realidade e todo mundo se alvoroça. É o caso do livro ‘O Código Da Vinci’. Não li, já digo de cara. Mas a polêmica que está causando eu acompanho. O Vaticano rompeu o silêncio pra dizer “não leiam nem comprem ‘O Código Da Vinci’”. Pode? Um importante cardeal disse isso. E completou dizendo que o livro é um ‘castelo de mentiras’. Oras, mas ele leu! E tirou suas conclusões. Como pode querer impedir que milhões de pessoas leiam e acreditem ou não no que está escrito? O Vaticano pensa que as pessoas engolem tudo o que lêem. Que pura ilusão! As pessoas acreditam em tudo o que a Igreja Católica quer porque têm Fé. Só isso. Se a gente pensasse tudo, examinasse tudo, pesquisasse tudo… poderia descobrir que tudo é uma farsa. Ou não. Dogmas, dogmas, dogmas. Só isso. Acredite ou vai pro Inferno.

E pregação pesada em todas as ocasiões. Uma publicidade massificada e martelada diuturnamente. A Igreja quer que a gente acredite que um pedaço de pano manchado de sangue cobriu Cristo morto. E resistiu por dois milênios sem ser devorado por bactérias e fungos. Outro pano resistiria? Tudo bem. Acredita quem tem Fé. Agora querem desacreditar milhões de leitores de um livro de ficção! Ora, uma pessoa escreveu baseando-se em suas próprias crenças e pesquisas. Se o livro faz sucesso é por puro acaso. Mais um fenômeno editorial. O autor fez questão de dizer que escreveu ‘apenas um romance, uma história de ficção’. Quem faz da ficção uma realidade é o leitor. E o problema é dele. Se ele decide que depois de ler não vai mais acreditar na Igreja Católica, problema dele.

Mas, calma, logo vem outro livro ‘provando’ os milagres todos, a existência de Deus, e outro fenômeno editorial acontece. Bem disse o grande Valéry: a única realidade da ficção é a ficção

Rui Werneck de Capistrano, editor de ficção

(*) A lista de livros proibidos pela Igreja Católica foi criada em 1556 e só abolida em 1966. Incluía Sartre e Pascal, imagine.

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Tempo

Antonio Thadeu Wojciechoswski iniciando os trabalhos de uma grande peixada, em algum lugar do passado. © Anderson Tozato, o Língua.

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Posse

República dos Bananas

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Salve-se quem puder – O Congresso Nacional prepara seu Black Friday com projetos de lei de fim de legislatura para beneficiar parlamentares que não conseguiram se reeleger.

E há o mais pernicioso deles, o de alteração da lei das execuções penais, que beneficia políticos e parlamentares processados em crimes de corrupção, Lava Jato incluída.

Entre estes, com interesse na matéria, está Rodrigo Maia, presidente da Câmara, que negocia sua volta à função tendo como moeda de troca o agendamento da discussão.

Também beneficiário Michel Temer, com poder de sancionar a lei. O presidente, na falta de um salva-vidas de última hora, pode descer a rampa do Planalto direto para a prisão preventiva.

Um afago na nostalgia – O governo Bolsonaro já tem quatro ministros militares, três generais e um tenente-coronel. Com o presidente e o vice, outro general, serão seis milicos em postos-chaves. Tem muito general sobrando, na reserva.

Centrão e partidos não gostam que o presidente nomeie sem os consultar, minando o presidencialismo de coalizão. Por isso o ideal é que todos os ministros sejam militares. Eles e o primeiro escalão dos respectivos ministérios.

O messias Jair – e vice-versa – não foi eleito para restaurar o autoritarismo? Pode até não vir a ditadura com os militares de Bolsonaro. Mas os militares no governo dão sossego aos nostálgicos de 1964.

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Lula é denunciado pela Lava Jato sob acusação de lavagem de dinheiro

Ministério Público diz que ex-presidente recebeu doação de R$ 1 milhão por ajudar empresa na Guiné Equatorial

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi denunciado pela Operação Lava Jato nesta segunda-feira (26) sob acusação de lavagem de dinheiro. Segundo a denúncia da força-tarefa da Procuradoria da República em São Paulo, Lula usou sua influência para interferir em decisões do presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, que favoreceram negócios do grupo ARG naquele país. Em troca, a empresa doou R$ 1 milhão ao Instituto Lula, verba que teria sido repassada ao ex-presidente.

O Ministério Público Federal (MPF) também denunciou o controlador do grupo ARG, Rodolfo Giannetti Geo, sob acusação de tráfico de influência em transação comercial internacional e lavagem de dinheiro.

Para embasar a denúncia, os procuradores usaram emails encontrados no Instituto Lula, apreendidos na Operação Aletheia, 24ª fase da Operação Lava Jato, de março de 2016. Na ocasião, Lula foi conduzido coercivamente para prestar depoimento em São Paulo.

Também foi apreendido o registro da transferência de R$ 1 milhão da ARG para o Instituto Lula em 18 de junho de 2016. Para o MPF, a doação é, na verdade, um pagamento a Lula pela influência e, por isso, houve crime de lavagem de dinheiro.

O MPF afirma que, em setembro de 2011, o executivo da ARG pede a Lula que intervenha junto ao presidente da Guiné Equatorial para que o governo dele continuasse os negócios com o grupo, principalmente a construção de rodovias.

Em outubro daquele ano, o ex-ministro do Desenvolvimento do governo Lula, Miguel Jorge, escreveu para Clara Ant, diretora do Instituto Lula, afirmando que o ex-presidente gostaria de falar com Geo e que a empresa estava disposta a fazer uma doação “bastante importante” ao instituto.

Já em maio do ano seguinte, o empresário envia a Ant uma carta digitalizada do presidente da Guiné Equatorial a Lula e pede uma reunião com o petista para lhe entregar a original. Também diz que, quando voltar à Guiné Equatorial ainda naquele mês, queria levar uma resposta de Lula ao presidente.

O petista, então, escreve uma carta a Obiang, dizendo que Geo dirige a Arg, “empresa que já desde 2007 se familiarizou com a Guiné Equatorial, destacando-se na construção de estradas”. Lula também afirma na carta que a Guiné Equatorial poderia vir a fazer parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

A denúncia será analisada pela 2ª Vara Federal de São Paulo, especializada em crimes financeiros e lavagem de dinheiro. O caso foi desmembrado e enviado a São Paulo por decisão de Sergio Moro, então juiz responsável pela Lava Jato.

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Espetáculo

Ontem, no ensaio para o espetáculo de Natal do Palácio Avenida, enquanto o povão se enlevava com as músicas e o espetáculo visual, muitos moradores de rua, maltrapilhos e alguns alcoolizados, circulavam entre as pessoas pedindo esmolas e se dizendo famintos. Teve gente que achou que faziam parte do espetáculo, para acentuar o contraste.

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Está na moda…

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A que horas ele volta?

O retorno a Curitiba do ex-governador Beto Richa e a esposa Fernanda, que desfrutam de um cruzeiro no luxuoso MSC Seaview – transatlântico batizado por Sofia Loren em maior passado -, é uma incógnita. Poderia até ser nesta segunda-feira, como supunham alguns amigos. Nada confirmado por enquanto.

Oficialmente, o pacote prevê retorno no próximo dia 6 de dezembro, mas curitibanos que estão no mesmo navio não viram mais o casal desde que a viagem foi revelada neste Contraponto, o que também não é surpreendente num transatlântico com mais de 5 mil passageiros e classes diferentes.

É claro que não há nada de reprovável no tour turístico e na decisão do casal Richa relaxar entre as belas paisagens do Velho Continente.

Deve ser desconfortável para gente amiga como o empresário Jorge Atherino, o ex-chefe de gabinete, Deonilson Roldo e até o ex-companheiro de viagens, Maurício Fanini, ex-diretor da Fundepar, que permanecem em presos por suspeitas de desvios de verbas públicas. E justamente para, ao fim e ao cabo, garantir a eleição de… Beto Richa.

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As amargas, não

Já colecionei frases de mau humor. Mas é porque não conhecia direito Alvaro Moreyra

Há anos, e ponha anos nisso, colecionei frases amargas, mordazes, cruéis —de “mau humor”— sobre todos os assuntos. Era um jeito de rir da vida. Mas só porque, então, eu não conhecia direito Alvaro Moreyra. Foi um grande escritor, autor de “As Amargas, Não”. E está aí o mote: as amargas, não. Eis algumas de suas frases: “Que mau gosto, odiar! Que beleza, querer bem!”. “O céu é uma cidade de férias.” “A vida separa. A morte apenas ausenta.” “O mar não tem fim. O horizonte dá a ilusão do céu. O mar continua.” “Para que vender a alma ao diabo? Basta olhar o céu. O céu é grátis.” “Nunca um desejo me afligiu. A imaginação me deu tudo.” “Nascemos para a companhia. O amor é um canto coral.”

 “Em todos os tempos, os homens falaram mal do seu tempo. Foi até por isso que houve o Dilúvio, muito antes de Luís 15. Que adiantou?” “Está uma noite linda. Só para os vagabundos nascem noites assim.” “O que falta ao mar é a calma. Mas, mesmo nervoso, que grande mestre!”. “Quanta mulher-sabiá! E quanto homem-mangueira!”. “Como o Brasil é longe!”. “Sou o mais jovem dos meus filhos.”

“Não nasci para chefe. Chefe manda. Eu peço. Peço que não me mandem.” “Só os pobres sabem desejar…”. “Principiamos poetas. Acabamos documentos.” “Ainda é muito manhã. Não li nenhum jornal. Estou inocente.” “Sábado, muita gente vai para fora. Eu, em geral, vou para dentro.” “Sou maníaco por burros; bem entendido, burros substantivos”. [E, quando lhe perguntavam o que fazia para não envelhecer]: “Faço isto: ponho o passado no presente”.

“Vejo que os cegos andam sempre sorrindo. Desconfio que os surdos são mais felizes…”. “Falar é despedir-se. Estas palavras não voltarão.” “Com uma coisa nunca me conformei: Tu és pó e ao pó voltarás. Pó, não. Tu és luz e à luz voltarás.” “Estou com a ideia de passar uns dias no hospício. Sempre preferi os doidos sinceros.”

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Absolut

© Reuters

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Deputado do PSOL pede anulação das diretrizes homologadas pelo MEC

As normas preveem que 20% da carga horária do ensino médio seja ofertada na modalidade à distância

O deputado estadual Carlos Gianazzi (PSOL-SP) entrou na quinta (22) com uma representação no Ministério Público Federal de SP pedindo a anulação das diretrizes homologadas pelo MEC (Ministério da Educação)

QUADRO NEGRO 

As normas preveem que 20% da carga horária do ensino médio seja ofertada na modalidade à distância, chegando a 30% para as turmas do período noturno. “É um absurdo”, diz ele.

Publicado em Mônica Bergamo - Folha de São Paulo | Com a tag | Deixar um comentário
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