Palpites desencontrados

Bolsonaro ainda não chegou a um acordo com o presidente eleito

Um hotel de São Paulo anuncia uma novidade: um robô —aliás, uma robô, chamada Rebeca— que ficará rodando pelo saguão fazendo o papel de concièrge. Ela está equipada para responder a perguntas dos hóspedes sobre os serviços básicos, como horários de refeições, senhas do wi-fi, atrações na vizinhança etc. E parece que “fala”. Mas o importante é que dá as respostas certas. O que Rebeca falar você poderá escrever.

Não seria mal que o presidente eleito Jair Bolsonaro tivesse uma robô como Rebeca para dizer o que o seu governo pretende mesmo fazer. Evitaria os palpites desencontrados cometidos por seus homens de confiança. Exemplos. É verdade que, contrariando o que prometeu, o governo vai ressuscitar a CPMF? É para cortar 25 mil cargos de confiança mesmo só havendo 23 mil? Haverá um trailer da reforma da Previdência este ano ou tudo ficará para o ano que vem? E é para fechar o Supremo Tribunal Federal com um soldado e um cabo, ou quem falou isso é caso para psiquiatra?

É para fundir mesmo o Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente ou recuar pela grita no exterior ou porque até o pessoal do agro começou a achar que era uma falsa boa ideia? É para se meter na questão entre israelenses e palestinos mudando a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém e enfurecer os árabes, com quem o Brasil tem vasto comércio, ou fazer de conta que não falou nada e voltar atrás? É para cortar o cabelo todo dia ou basta uma vez por semana?

É para deixar político dar palpite na economia ou cada um que fique na sua esperando ordem para falar? É para apoiar a liberdade dos jornais ou ameaçar os que o desagradarem e barrá-los em suas coletivas?

Por enquanto, Rebeca, a robô, não tem vontade própria. Só fala o que lhe foi ensinado por seu programador. Já o programador de Bolsonaro —ele próprio— ainda não chegou a um acordo com o presidente eleito.

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O Consumidor e o empréstimo consignado

Um consumidor às vésperas da concessão da aposentadoria do INSS recebeu, em três dias, quinze ligações no telefone celular, oito mensagens de texto, e sua esposa quatro ligações, todas feitas por instituições financeiras oferecendo-lhe empréstimo consignado.

Certamente, alguém repassou, indevidamente, os dados do consumidor às financeiras que lhe ofereceram o “crédito barato”. Afinal, quais os direitos do consumidor no empréstimo consignado?

Por exemplo, ele tem direito às seguintes informações: valor total financiado, isto é o valor que recebeu e o valor total que deverá pagar; a taxa mensal e anual de juros, o valor para quitar o empréstimo antes do vencimento, total ou parcial, e o desconto proporcional dos juros.

Tem o direito de receber o contrato que assinou, seja na forma digital ou física. Tem garantido o sigilo cadastral das informações cadastrais que forneceu à instituição financeira.

Aliás, o consumidor nunca deve assinar o contrato em branco, para preencherem depois. Pode fazer a portabilidade de crédito, isto é, oferecer o contrato para outro banco, com taxas mais atrativas, com a redução do valor mensal ou das parcelas.

Alguns aposentados “emprestam” para seus filhos ou netos o consignado de suas aposentadorias, com a promessa de que eles paguem, mas isto pode não ocorrer.

Atenção com eventuais fraudes no empréstimo consignado, pois quando o consumidor percebe estão lhe descontando valores que não contratou, neste caso o INSS e a instituição financeira devem ser imediatamente informados e tomadas as medidas penais cabíveis.

Em caso de irregularidades não resolvidas pelas instituições financeiras, o consumidor pode reclamar junto ao Banco Central (www.bcb.gov.br) e informar o protocolo de atendimento.

A margem consignável é no máximo de 30%(trinta por cento) e 5% (cinco por cento) com cartão de crédito consignado. As taxas dos juros dos consignados, normalmente, são menores que outros produtos financeiros.

Contudo, devemos lembrar que os juros praticados no Brasil são os mais altos do mundo, o que garante aos bancos brasileiros lucros bilionários às custas de uma economia rentista e da ciranda financeira.

O ideal é que o consumidor poupe e não contraia empréstimos. Contudo, se optar por financiar algum bem ou serviço ele deve analisar muito bem os custos envolvidos e o prazo de pagamento, e finalmente, deve buscar as melhores taxas praticadas no mercado. Consumidor exija seus direitos e em caso de dúvida consulte um(a) advogado(a) da sua confiança.

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Bolsonaro queria mesmo era fuzilar FHC

A tentativa de constranger o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com a publicação de uma foto dele refastelado num sofá não faz parte do Bolsonaro Paz e Amor atual. Postada no Twitter do presidente eleito, a foto foi entendida como uma provocação a FHC, que mostrava a capa de um livro sobre Zhao Ziyang, ex-líder comunista deposto da liderança do Partido Comunista da China em 1989. Seria uma insinuação de que Fernando Henrique seria comunista.

FHC reagiu: “Só faltava essa. Cruz, credo!

No passado, Bolsonaro manifestou-se, com todas as letras, a favor do fuzilamento de FHC. Uma entrevista dele no programa Jô Soares, confirmando a intenção, circula há anos pela Internet .

E o curioso é que Bolsonaro queria fuzilar FHC por privatizar a Vale do Rio Doce e as telecomunicações. Exatamente o que seu ministro da Fazenda, Paulo Guedes, se prepara para fazer, incluindo subsidiárias da Petrobras, mas com exceção, lógico, da Vale do Rio Doce, que já “élvis”.

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Fraga

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Ideias

A absoluta maioria dos nativos ainda vive a ressaca cívica das eleições antecedida pela longa temporada de escândalos. Política passou a ser sinônimo de desvios, corrupção. O cidadão normal, comum, está enfarado de tudo isso. E foi às urnas para mostrar que quer mudanças reais no sistema, no comportamento ético e nas instituições.

Vimos um espetáculo deplorável. O uso não raro inescrupuloso dos meios para se chegar ao fim, a apropriação do Estado, a ditadura do pensamento único e a consequente patrulha, práticas recorrentes entre os regimes fascistas, foram a tônica. Os dois candidatos à Presidência da República que saíram do primeiro turno mostraram, direta ou indiretamente, que são experts nesses hábitos. E tentam convencer o distinto público do contrário.

A democracia está em risco? É preciso desmistificar essa tese. O Brasil assistiu a uma explosão democrática, ao menos desde 2013. O processo de impeachment foi feito à base de milhões de pessoas nas ruas, goste-se ou não de seu resultado. Não há dúvidas em dizer que vivemos um tempo de exuberância, ainda que de profundo mal-estar na democracia. O sistema é hoje mais barulhento e o debate público mais polarizado. Há dezenas de milhões de pessoas falando sem parar, nas redes sociais. Três décadas atrás havia uma elite de milhares de pessoas com o monopólio da palavra. O barulho, a estridência e a permanente sensação de instabilidade são o novo normal da democracia. Quem quiser lidar com ela, vai ter que se acostumar.

Mesmo diante da barbárie que a disputa eleitoral se tornou, com esfaqueamento de candidato de um lado e de eleitor de outro, intolerância absoluta e agressividade nas alturas, é difícil crer em um Jair Bolsonaro como um manso pregador da paz. Assim como sempre foi absolutamente inverossímil a postura de democrata bonzinho de Fernando Haddad, tendo por trás dele o PT em fúria. Não basta mudar as cores e a logotipia.

Mas a democracia sobrevive e se aperfeiçoa, apesar de tudo. Mesmo que ao longo da campanha Bolsonaro tenha sido um ativista da violência, o PT, ainda antes de ter Haddad como preposto de Lula, não deixou por menos. Os dois candidatos fizeram juras à democracia, mas não tiveram qualquer escrúpulo de incluir em seus programas de governo a convocação de uma Constituinte, popular ou de notáveis. Muito menos demonstraram respeito pelas instituições, em especial a Justiça. Bolsonaro falou em retirar poderes do Supremo ampliando o número de excelências com assento no STF. E o PT, que há meses tenta desacreditar o Judiciário interna e externamente, incluiu a própria Venezuela no programa, criando exuberâncias como comissões populares de controle da Justiça e, óbvio, da mídia.

Mesmo assim, a democracia está aí, as instituições funcionam plenamente e de resto é esperar para ver o que vai acontecer de hoje em diante. Todo cuidado é pouco.

Ideias|Novembro 2018|#205|

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A constituição e a garrucha – Jair Bolsonaro brandiu a Constituição, ontem no Congresso, no evento comemorativo dos 30 anos de promulgação. Disse amar a Carta. Palavras, nada mais, quem ama nem sempre é fiel.

Lembrei dos faroestes, em que o pistoleiro fantasiado de religioso carregava a Bíblia – e dentro desta, no recorte preciso, escondida uma Derringer, a garrucha da época.

Do jeito que a armada bolsonária gosta de armas, que luta para liberar geral, quem garante que o Capitão não levava uma pistola escondida na Constituição?

A eleição do bundão – Falta uma palavra de Jair Bolsonaro, quem sabe de Magno Malta, futuro ministro da Família (sim, igual a secretaria que nosso Beto Richa criou para a primeira-dama).

O concurso de Miss Bumbum 2018 terminou em barraco, com a representante paulista arrancando e só mais tarde, bem mais tarde, devolvendo a faixa para a vencedora, a bunduda de Rondônia. O motivo? A vencedora teria bunda de plástico, siliconada. E a gente aqui pensando que bunda grande vinha da herança africana e do consumo de feijão!

Bolsonaro/Malta no lance? Sim. Porque os dois falam de tudo sobre moral e bons costumes, e as coisas que evocam símbolo ou adereços sexuais estão na categoria, vide o kit gay. Além disso, os dois, paladinos da família, evangélicos até a capa da Bíblia, não devem gostar de muito sexo e esses bumbuns avantajados o que fazem senão avivar a gula sexual?

Não nos esqueçamos: presidente e filhos nos alertaram das fraudes em urnas eletrônicas. Pode também ter fraude nas bundas silicônicas. Daí que falta um TSE da bunda. Tipo apertar bem as bundas dessas candidatas: se voltarem ao lugar em um segundo, tem silicone no pedaço. Um aparte: onde está escrito que bunda há de ser natural?

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Mural da História

9 de março, 2010.

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Mural da História

14 de julho, 2010 

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Não se deve torcer contra o piloto do avião no qual se viaja

Quarenta dias depois de ter sido internado de emergência no hospital Sírio-libanês com apendicite supurada, caminhando para septicemia, completei no domingo (4) os 42 quilômetros da Maratona de Nova York.

Mais do que uma maratona, Nova York é uma ode à vitória, à superação, à resiliência. Você coloca o seu nome na camiseta, e a cidade vai gritando o seu nome pelos 42 quilômetros da prova.

Aquelas 52 mil pessoas que participam da corrida formam um rio caudaloso de vontade humana. Todas unidas, andando na mesma direção, embora os EUA que se esparramam pelas ruas de Nova York sejam hoje um país dividido e o mundo que corre ali, com gente de 143 países, seja também um mundo dividido.

Mas, sob o céu azul de Manhattan, estavam todos unidos em torno da superação e da vitória. Uma torrente humana unida na admiração pelo sujeito vindo das montanhas da Etiópia paupérrima que fará a prova em pouco mais de duas horas e na admiração pelo maratonista de elite Fredison Costa, agricultor baiano que fará a maratona no pelotão da frente em duas horas e algo sem o patrocínio que merece apesar de ter ganho várias vezes a maratona da Disney.

O que move aquela multidão é o exemplo dramático e belo de paraplégicos que farão os 42 km nas suas cadeiras movidos pela força dos seus braços e o grito incessante de “go, go, go” do público que acompanha a corrida.

“Naizan! Go Naizan!”, vou ouvindo.

O que move aquela multidão é ver o exemplo dramático e belo de soldados americanos mutilados pela guerra que farão os 42 km em oito horas, quando a noite já tiver caído, sem a Lua, mas com aquela multidão teimosa e solidária a incentivá-los.

E é bom lembrar que estamos nos EUA que nesta terça (6) se engalfinharão em eleições ao Congresso que podem tirar de Donald Trump a maioria na Câmara —para equilibrar a nação e o mundo.

O mundo não precisa pensar igual. Ele só precisa pensar. O mundo não precisa sentir igual, ele só precisa sentir.

Como diz a própria palavra, corredor é dor. A partir do km 30, os ossos batem, o fantasma da câimbra ronda. E a gente se pergunta: por que diabos estamos indo? Mas vamos.

E é disto, meu país e meu mundo, que precisamos hoje: união. Nos estados desunidos da América, nas nações desunidas da ONU.

Essa ética é atávica no esporte. Ele mostra que, apesar de diferentes, somos de carne e osso. E que, a partir do km 30, o osso vai bater em ricos e pobres, héteros e gays, brancos e pretos. Afinal, todos nascemos com apêndice, cóccix, ciático e fêmur.

O que o Brasil precisa agora é união. União não é desistir das convicções, mas pensar acima delas. É isso que faz a raça humana avançar. A união que nasce depois das guerras, o perdão que surge depois do imperdoável.

A pomba da paz não pode ser um urubu secando o dia a dia da nação. Não se deve torcer contra o piloto do avião no qual se viaja.

Nova York, você me ensinou uma lição longa e dolorosa, seis horas que durarão para sempre. Minha vida que neste ano fez 60 passou toda diante de mim.

E não me escapou o fato de que tenho algo em comum com todas aquelas pessoas: todos morreremos. Portanto, é melhor deixar algo maior que nós. O esporte é um chamamento à grandeza: aceitar o insuportável e seguir.

E compreender, finalmente, cá com meus botões, o que disse meu Hemingway amado: a raça humana pode até ser destruída, mas jamais será vencida. Go, Brasil, go!

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Tchans!

labloom_096. © IShotMySelf

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Fraga

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Moro força a barra – O juiz Sérgio Moro distribui nota justificando aos juízes federais sua saída da magistratura para entrar no governo Bolsonaro. A nota vale pelo extrínseco, sua mera existência, não pelo intrínseco, seu conteúdo. Importa o fato de o juiz ter sentido a necessidade de emiti-la. Só isso mostra o mau estar causado na classe pela atitude – o descrédito que traz para os resultados da operação Lava Jato e o que esta representou.

Quanto ao conteúdo, a nota é pífia, indigente e inconsistente nas premissas. 1) No ministério o juiz estará melhor capacitado e aparelhado para combater a corrupção. Primeiro, um novo messianismo, quem sabe haurido de Lula ou do novo Messias, o de ser o homem providencial, único capacitado para a missão. Se o juiz acredita nisso, é caso clínico, como de resto o dos outros messias.

2) Moro se diz inspirado pelo juiz Giovanni Falcone, da Itália, que deixou a judicatura para trabalhar no ministério da Justiça. O juiz Moro faz ridículo ao professor Moro, que leciona direito processual penal na UFPR. No sistema da Itália, Falcone era juiz de instrução, competente para a investigação, que trabalha com apoio da, e orientando a, polícia criminal no preparo do processo para julgamento. Juízes de instrução não julgam.

Juízes brasileiros, de outro sistema, não atuam na investigação e produção da prova. Eles julgam. O juiz Moro forçou a barra. ‘Forçar a barra’ é cacoete do magistrado da Lava Jato, dizem os petistas. Da nota do juiz Sérgio Moro se extrai que (1) não era necessária e (2) foi pobre, até ridícula, na argumentação. Parece coisa de criança que faz peraltice e inventa explicação sem pé-nem-cabeça para escapar das palmadas da mãe.

Sérgio Moro joga ao lixo seu papel histórico em troca do enganador prato de lentilhas oferecido por Jair Bolsonaro, cujas ideias – se é que assim podemos chamá-las – nem de longe estão daquilo que tínhamos como seus valores, profissionais e cívicos como magistrado. Hoje se compara a Giovanni Falcone. Não, seu modelo é outro: Wilson Witzel, o ex-juiz federal eleito governador do Rio, que propõe snipers contra o crime.

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Sebos no meu caminho

Em todas as cidades que visito, saio em busca dos sebos de livros, que, às vezes, vêm até mim.

Já escrevi isto aqui. Em todas as cidades que visito, a trabalho ou por prazer, saio em busca dos sebos de livros. Às vezes, não preciso procurar —segundo Heloisa Seixas, eles é que surgem no meu caminho, como se mudassem de rua para me encontrar. Ou, então, é o cheiro das velhas encadernações que parece me atrair e guiar. O fato é que conheço sebos em São Paulo, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Salvador e Belo Horizonte, cidades a que me convidam com mais frequência.

Em Belo Horizonte, há cinco anos, descobri um sebo no famoso Edifício Malleta. Não no 1º andar, onde há pelo menos dez sebos e é impossível perdê-los. Mas no 6º andar, em meio a dezenas de salas de escritórios caretas. A plaquinha na porta dizia: Assumpção Livreiros. Era bem ao meu gosto: bagunçado, quase um depósito e, certamente, com várias gerações de ácaros. Seu proprietário, professor Renato —“Nada de professor. Apenas Renato”, ele corrigiu—, era um homem magrinho, pequenino, acima de oitenta e, sem dúvida, íntimo de cada um daqueles milhares de livros.

Nas vezes em que estive lá, à procura dos títulos mais díspares, sempre anteriores a 1930, ele conhecia muitos, possuía alguns, falava-me de outros de que eu não sabia e me instruía sobre onde encontrá-los. Era um professor. Para mim, virou cláusula pétrea: sempre que em Belo Horizonte, ia visitar professor Renato. Fiz isso de novo há algumas semanas. Mas, desta vez, não o encontrei. Morrera havia poucos dias, atropelado.

Na verdade, não o conheci direito. Não sei se tinha saúde, se era feliz e se o sebo era um hobby ou um meio de vida. Só sei que, tanto quanto a pessoa, lamento a perda do que havia em sua cabeça —décadas de convívio com os livros e com o conhecimento.

Imagino que, pelo Brasil, morra todo dia alguém como professor Renato. E temo que não esteja havendo reposições suficientes.

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O otimismo de Ratinho e a realidade

O alegre governador eleito, Ratinho Jr, tem dois encontros marcados: o primeiro, com governadora Cida Borghetti amanhã, para tratar da transição e tudo deve ficar dentro da normalidade.

O segundo será, depois da posse, no dia 02 de Janeiro quando abrir a chave do cofre e se deparar com algumas moedinhas deixadas lá no fundo. A receita, ou seja, o dinheiro para sustentar o Estado, permanece o mesmo de 2014 e Ratinho Jr terá que se virar nos 30 pra empatar as contas.

Com dados do Confaz – Conselho Nacional de Política Fazendária e consultorias independentes, a Folha de São Paulo mostra que os novos governadores tem uma dura tarefa pela frente e o Paraná, apesar de não figurar na lista dos inadimplentes, também não nada em dinheiro, muito pelo contrário. Depois da campanha otimista que fez, sugerindo obras estruturais, escolas por todo o Estado e saúde de primeira linha, Ratinho Jr depende do Governo Federal, da reforma Tributária, do crescimento da economia, da produção agropecuária e de centenas de outras variáveis para garantir o pagamento em dia do funcionalismo e a manutenção básica da máquina pública.

É chegada a hora da onça beber água. Muita água.

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Muda, Brasil!

Mingau quente se come pelas beiradas e o capitão Jair Messias Bolsonaro, que chegou ao topo do poder com 63 anos de idade, sabe muito bem disso ! (o que deve ter aprendido das malandragens da política em seus quase 30 anos de vida parlamentar não foi pouco)

A 1º de janeiro assumirá a presidência da República consciente do tiroteio que vai enfrentar. Já deve saber identificar todas as velhas e novas trincheiras de onde,  mal conhecido o resultado das urnas,  começaram a disparar  suas metralhadoras contra ele de modo implacável.

A briga promete ser boa ! Bolsonaro revela grande habilidade política: já antes do pleito, desarmou a armadilha que o senador eleito de seu partido, o Major Olímpio, pretendeu armar contra ele no mais influente estado da Federação, São Paulo.

Olímpio pretendeu levá-lo a apoiar o braço petista ao governo do estado, Márcio França. Bolsonaro resistiu e ajudou a eleger João Dória, ganhando assim um aliado de peso na política e na economia! Dória é também um liberal, afinado com Paulo Guedes!

Entre as poucas trincheiras já armadas para combater o novo governo, a mais insidiosa é aquela que reúne a turma do voto nulo, voto em branco, do ele não/ele nunca que  demonstra disposição para seguir em frente abraçadinha com esquerdóides e esquerdopatas no bom combate ao presidente “torturador”, “estuprador”, “homofóbico”.

MAIS QUE UMA TROCA  DE GOVERNO

É espantoso observar que ainda não entenderam, provavelmente por mero atavismo, o que de fato aconteceu neste 28 de outubro de 2018. Imaginam que foi uma simples troca de governo, quando na verdade foi muito mais que isto!

Tanto o mercado financeiro quanto o setor empresarial entenderam de bate pronto, tanto que a Bovespa, em SP, já bateu o recorde dos recordes de altas e as empresas não param de anunciar novos – e vigorosos – investimentos. O mais recente anúncio foi da Siemens: quatro bilhões em cinco anos ….

Outro que com certeza entendeu foi o Juiz Sérgio Moro, que não hesitou um só instante em aceitar o convite de JB para ocupar um super-ministério de combate à corrupção, abandonando imediatamente uma já longa carreira vitalícia na magistratura.

Não iria perder a chance de ouro que lhe foi aberta para ajudar no esforço de combate à corrupção e ao crime organizado !

FATO INÉDITO

Na verdade, nada menos de  57.797.464 de brasileiros decidiram, neste histórico 28 de outubro de 2018, tirar da frente o socialismo corrupto e a sócio-democracia idem e colocar em seu lugar o liberalismo econômico.

E é espantoso que tenhamos alcançado essa proeza, inédita na vida republicana, pela via eleitoral e pacífica, ao  preço de apenas uma facada…

O liberalismo econômico só foi implantado no Chile em 1973 ao custo de um golpe militar violentíssimo que iria matar seguramente mais de 100 mil pessoas.

E vejam como são as coisas: até hoje, no Chile, os economistas e lideranças políticas admitem, constrangidas, que a proeminência socioeconômica  que o país tem alcançado  nesses quase 50 anos que o separam de Pinochet ainda é devida àquela adesão de quase duas  décadas ao liberalismo da escola de Chicago.

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