Palindromia, aqui me tens de regresso

Não é difícil fazer palíndromos. Você faz a metade e tá pronto (Fraga)

Nesse Brasil que teima em ser lindo e trigueiro apesar de você, Bolsonazi, ainda há quem se divirta em andar para trás. A diversão é com palíndromos, aquelas palavras e frases em que faz mais sentido ler nos dois sentidos. Eco vê você. E nessa direção – compulsiva pros adictos e temporariamente compulsória pro país – eles conseguem um prazer inenarrável. Que vou narrar.

Me refiro aos habilidosos palindromistas pra lá e pra cá no Twitter. O punhado com menos de 70 autores soa grupelho (oh, lê, purga-os). Que já foram mais reduzidos e mais dispersos. Agora instalados em suas arrobas sabor rã, costumam se desafiar num evento semanal, pra ver quem anda melhor ou mais longe para os lados. Não é um clube fechado: quem tiver essa doença incurável que venga! Vai que contribua para que um dia haja um clube nacional.

Palíndromo de @liamg11t, empate no 1º lugar no #DesafioPalindromo10

Se o #DesafioPalíndromo fosse concorrência fácil, se chamaria #PífioPalíndromo. A seleção natural talvez seja mais branda na natureza que nessa jungle vocabular. E embora nenhum desafiante ou desafiado seja predador, a defesa do território palindrômico não é feita sem reviravoltas. Aja, naja! Oroboro!

Com participantes de instintos afiados, aos domingos o ranger de sílabas ressoa numa clareira retroativa, em meio ao cerrado matraquear do Twitter. Porém, em vez de carnificina, a disputa equivale a uma oficina. Claro, expectativas semanais são dilaceradas, o ego foge, mas nada que uma ida a um dicionário não restaure.

 

Palíndromo de @MMartelar, empate no 1º lugar no #DesafioPalindromo10

Por conta desse torneio feito de avanços e recuos para dizer a mesmíssima coisa, novos palindromistas surgem e veteranos retornam à arena do palavreado. Às 4as feiras, há um frisson no anúncio temático. Só dá raper: preparados? Os palindromistas se viram e reviram também no sono.

Como será o próximo enfrentamento? Que palavras esdrúxulas ou raras serão usadas? Quantos vão aderir? Que abordagens originais veremos? Quem vai ter mais polegares pra cima? À liça à la siri, a danada, nada disso importa. Na palindromia, competitiva ou não, prevalece a mania do vaivém: o prazer de antes de tudo vencer a si próprio. Depois é que vem a ânsia de tentar superar talentos admiráveis. Na verdade, a palavra adversário nem entra nessa nossa batalha.

Palíndromo de @PauloBrombal, 3º lugar no #DesafioPalindromo10

E ao contrário dos palindromistas, os selvagens bozonaristas e os obtusos negacionistas nunca terão esse gozo. Reaças e conservadores não podem fazer palíndromos: andam para trás mas não sabem andar para a frente. Ato idiota!

Você adora e cria palíndromos? Adora mas não é um criador de palíndromos? Isso é um convite. Por interesse ou curiosidade, acesse aqui e conheça a saga do #DesafioPalíndromo10 sobre Infância. (Aliás, o leitor notou? No texto de hoje, piscando pra você em negrito, há palíndromos soltos em todos os parágrafos. Vale https://www.editorapatua.com.br/produto/190486/a-dual-lauda-de-paulo-brombalreler)

PSIT
Pro eventual leitor atraído por palíndromos, 3 ótimas dicas de leitura:
1) O Palindromista é o livro do insuperável Ricardo Cambraia, que há anos acompanha e comenta a realidade brasileira. Disponível
aqui.

2) A Dual Lauda, livro do incomparável Paulo Brombal, recheado de belíssimos e inacreidtáveis poemas palindrômicos. Disponível aqui.

3) Arara Rara, a grandiosa antologia organizada e editada pelo imbatível Fábio Aristimunho Vargas. Em 2 volumes, 49 autores e ensaio sobre palindromia, algo inédito no Brasil. Terá lançamento dia 12/6/21 às 15h, na Evil Live #3: Sagra, Vargas, no canal www.youtube.com/anteoinospito. (Detalhes mais adiante, aqui mesmo no Cáustico)

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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