Parte do eleitorado de Lula jamais contestará suas decisões

Aprovação da ozonioterapia é estelionato eleitoral

A notícia da aprovação da ozonioterapia como tratamento complementar de saúde teve gosto de déjà-vu. Uma volta a 2020, quando Jair Bolsonaro montou um gabinete anticiência paralelo, demonizava as vacinas, e oferecia cloroquina até às emas do Palácio da Alvorada.

Mas, ao contrário do que houve na pandemia, quando a população estava ligada em todas as ações do abestado que comandava o país, a comoção pelo negacionismo de Lula tem sido pífia. Sim, negacionismo. O presidente ignorou a recomendação de entidades médicas, da Anvisa e da ministra da Saúde, Nísia Trindade.

Os eleitores de Lula poderiam facilmente tratar o assunto como estelionato eleitoral, uma vez que o então candidato teve o “fim do obscurantismo científico” como um dos pilares de sua campanha. O presidente ignora o fato de que a ozonioterapia é um procedimento considerado experimental. Ao que parece, gás no fiofó dos outros é refresco.

Mas Lula tem sorte. Uma parte significativa de seu eleitorado jamais contestará qualquer decisão de painho, por mais absurda que seja. Outra parte abandonou os jornais, os sites, o Twitter e segue exausta pela distopia dos últimos anos e alheia ao que é feito no novo governo. É compreensível, mas não aceitável, deixar de fiscalizar um novo presidente apenas porque ele não é medíocre, incompetente, um terraplanista político, como seu antecessor. Lula tem sorte de a sociedade estar anestesiada, ainda sob efeito da ressaca do golpismo.

Se o pessoal estivesse ligado, teria sido uma gritaria a não nomeação de uma mulher para o STF —o que pode se repetir quando Rosa Weber se aposentar—, a defesa da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, a fritura em banho-maria da ministra Marina Silva, os afagos a ditadores de esquerda. Sem falar de todas as declarações equivocadas, desconectadas do espírito do tempo.

Lula tem sorte, mas precisa também de juízo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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