Para Paulo e Bruno

A vida é uma jornada de surpresas. Nem todas agradáveis ou felizes. Que o diga o meu amigo Paulo Roberto Ferreira Motta, procurador do Estado, professor universitário, ex-colega de escritório e atual companheiro no Blog do Zé Beto e no Solda Cáustico. Há alguns meses, Paulo perdeu, de supetão, o irmão Carlos Eduardo; na semana passada, a esposa Raquel, na flor dos 45 anos, que ele foi buscar no sul das Minas Gerais.

É preciso ser forte para aguentar baques dessa dimensão, ter fé e acreditar que a vida não acaba com a morte. Estamos aqui só de passagem. Ao morrer, passamos a outra dimensão, onde continuaremos a nossa caminhada. Pelo menos é assim que nos ensinam os espiritualistas e não temos porque duvidar. É parte do desenvolvimento humano. E, com certeza, sofre mais quem fica do que quem vai. A ausência dói. E como dói!

Paulo e Raquel formavam um belo casal. Ambos advogados e professores, tinham uma bonita vida acadêmica. E uma vida familiar não menos airosa, apesar dos eventuais percalços, comuns nessas ocasiões. Havia, por certo, diferença de gênios; afinal ele é gaúcho e ela era mineira. O mineiro, como é sabido, mescla o conservadorismo com a rebeldia, o tradicional com o revolucionário. Já o gaúcho é tido como irreverente e guerreiro. Mas, como o mineiro, é tradicionalista e hospitaleiro, sem a desconfiança inicial do mineiro. Ambos, porém, amam como poucos as suas terras e as suas histórias. Quer dizer: no fundo, não são tão diferentes assim.

No caso de Paulo e Raquel qualquer eventual divergência deixou de existir com a chegada do pequeno Bruno, atualmente com sete anos.

Mais um motivo para lamentar a falta de Raquel. Embora tivesse tido sempre a saúde frágil, ela foi muito cedo. E isso entristeceu todos nós. Especialmente Paulo Roberto e Bruno.

Em tais momentos, Rubem Alves recorria a uma chama que trazia sempre guardada e que queimava sem parar, uma chama que se chamava “amor”. Porque, segundo ele, “o amor não aceita a perda das coisas amadas”. Ou seja, “tudo o que é amado, o coração quer que que seja eterno”. Por isso, a gente precisa acreditar que, de alguma forma, as coisas amadas não estão perdidas. “Estão só guardadas” – garantia Rubem. Raquel está só guardada. Ou “encantada”, como preferia Guimarães Rosa.

Segue em frente, estimado amigo Paulo. O Bruninho precisa de você. E nós também.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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