Pelado, mão no bolso

© Myskiciewicz

A Associação Britânica de Naturismo vai ao extremo da coerência e implanta a ginástica naturista. Três coisas fiquem claras desde já: 1 – a associação abrange os naturistas da Grã Bretanha, a saber, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte; 2 – os naturistas são adeptos do nudismo – não sei por que não falam em ‘nudistas’, como manda o figurino; 3 – como os naturistas são necessariamente gregários, a ginástica é prática coletiva.

Ao leitor pode parecer redundante, especular sobre a ginástica naturista. Pois lamento informar que até a decisão da BAN (sigla em inglês), os adeptos do naturismo, se faziam ginástica naturista, o faziam sozinhos, no recôndito do lar, ou no máximo com um parceiro, ginasta ou instrutor. A razão: os naturistas são criaturas acomodadas, despojam-se da roupa e curtem a natureza, vento a favor, nus como vieram ao mundo, sem a chatice do cordão umbilical.

A BAN me leva a especular que os naturistas britânicos agregaram praticantes sarados, tão amigos da nudez quanto do corpo, esse binômio até hoje em que preponderam modelos, atrizes e periguetes. Afora isso, a BAN superou impedimento, até diria constrangimento, à ginástica naturista: o corpo em si. Sim, uma coisa é ficar pelado em grupo, muitos gostam sem ser associados à BAN. Outra coisa é agitar-se pelado, como exige qualquer ginástica.

Sim, qualquer ginástica, desde a musculação com aparelhos até o pilates, passando pelo step e pela ioga (um dia narro minha experiência, vestido, na modalidade), os detalhes anatômicos exibidos no nudismo são protegidos por malhas, calções, agasalhos, top (o sutiã da academia). No naturismo isso poderia oferecer problemas, agora resolvidos pela BAN, como o sutiã especial e os tênis. Para a badalhoca, como os lusitanos referem o órgão viril, nada.

Respeito todos os gostos, desde comer fígado até andar pelado. E encaro o amor pelo nudismo com simpatia, pois ao fim e ao cabo ele traduz amor à natureza, que acabará no dia em que voltarmos a andar de tangas, no retorno à barbárie. Admiro os nudistas, porque sua devoção à nudez vai além da vaidade do corpo perfeito, sarado. Mas isso de ficar sacudindo as indecências na academia não funciona nem vestido.

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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