Servidores de todos os bairros, desuni-vos.
Quem não leu, lamento, perdeu um grande momento: a entrevista de Rafael Greca sobre a resistência a seu pacote de bondades, entrevado na câmara dos vereadores. Parecia outro homem. Melhor, parecia um homem público na mais pura e vera acepção, ousaria aqui a resgatar e atribuir-lhe o mérito que Jânio Quadros negava a Paulo Maluf, o de ser “um varão de Plutarco”. Vale a pena ler o livro, e não me meto a fazer resenhas no blog, que tem gente melhor neste espaço virtual que faz isso.
Não era Rafael, era Greca. Sereno, coerente, linear nas ideias e nas palavras, assertivo quanto aos problemas que tenta resolver. Li duas vezes e pensei: entrevista dada por escrito, revista por três assessores, o político, o de imprensa e o de relações públicas – mais uma das tias, dando um chega-pra-lá em Minha Margarita. Insisto, não era esse o Rafael com quem convivemos desde seus tenros vinte anos, quando estreou como campeão da reforma da Catedral Metropolitano, terçando cores e frisos com padres e arquitetos.
Sou meio influenciável, até ingênuo, fácil de ser levado na conversa e meio que vacilei a pensar que, afinal, o prefeito estava certo. Então tudo voltou ao pastel, aquilo não era Greca, era Rafael. Com ele e seu mestre de ocasião Roberto Requião não tem erro, é aquela coisa de toco na enchente, vão indo bem até certo ponto e dali em diante começam a enroscar no que vem pela frente. Aconteceu com o prefeito, no caso nosso velho Rafael de tantos motejos e gracejos, quando logo no dia seguinte voltou a falar sobre a resistência a seu pacote.
Nosso Rafael começa por criticar o viés ‘ideológico’ de sua oposição na câmara. Concordo, ele é daqueles que no geral falam antes de pensar, vítima de uma incontinência estética de maravilhar-se com a forma e desdenhar o efeito, ou pior, de confundir a forma com o efeito, o que em seu caso dá no mesmo, qual seja, em nada. Um perigo quando um político saca a ideologia no jogo parlamentar e democrático. Ou não sabe o que é ideologia ou, pior, sabe o que é ideologia, que para nosso consumo é a essência da vida política.
Não ousaria dizer que Rafael é marxista de última hora e de conveniência, pois Marx definiu ideologia como a consciência das relações de domínio entre as classes sociais. Não, isso não é Rafael, chama-lo de marxista seria o mesmo que defini-lo como faquir. Seria então um fascista de outra margem, que repudia qualquer oposição, a meio caminho do totalitarista que sonha a sociedade como uma horta de repolhos, todas as cabeças iguais? Também não, isso ainda não é Rafael. Então, qual Rafael briga com a câmara?
Quem ainda não percebeu pode chispar daqui. É o velho Rafael de sempre, mimado, vaidoso, orgulhoso, impérvio às contrariedades e às críticas, o afilhado preferido da madrinha. Querem a prova? Dou-lhes, está na antepenúltima entrevista, aquela em que lançou o terror sobre os servidores em greve e políticos da oposição: não aprovado seu pacote, não haverá salários até dezembro. Quem faz isso? O menino que é dono do campo, da bola e das camisas; ou ele faz gol, é juiz e capitão do time ou encerra o jogo, todo mundo para fora.