Perguntas para Gal

Tenho indagações relevantes a fazer ao robô que está circulando em Guarulhos

Começou a circular pelo aeroporto de Guarulhos um robô instalado pela Gol para responder a perguntas de passageiros de primeira viagem e que se sentem perdidos na barafunda dos balcões.

Gostei da ideia. Eu próprio, que vivo entrando e saindo de aviões –só na ponte aérea, já foram mais de mil voos desde 1978–, às vezes me atrapalho. O robô, pelo que vi numa revista de bordo, é uma engenhoca de plástico, com forma humanoide: “olhos” piscantes, bracinhos sarados e um pescoço calibre Delfim Netto. Desliza graciosamente sobre rodinhas, é do gênero feminino –seu nome é Gal– e, segundo seus programadores, está preparado para responder a até 50 perguntas. Mas, pela rapidez com que é capaz de “aprender”, esse número pode chegar ao infinito.

Bem, se Gal tem essa capacidade toda, não posso perder a chance de interrogá-la em minha próxima passagem por Guarulhos. Mas não sobre trivialidades como números de voos ou portões de embarque –para isso existem os painéis. Tenho indagações mais relevantes, que vivo submetendo aos especialistas e nenhum deles me esclarece. Eis algumas.

A primeira: “Deus existe?”. Não vale fazer como um computador dos anos 50, que, quando lhe mandaram essa pergunta, respondeu: “Agora existe”. Era um computador primitivo, que ainda funcionava com cartões e movido a válvula. Mas já se achava tão avançado que se enxergava como Deus. Pois o que quero saber é se Ele, o Próprio, o Dito Cujo, existe mesmo –coisa que talvez só um robô de última geração como Gal possa responder.

Outras perguntas seriam: “Qual é o terceiro milagre de Fátima?”; “Quanto estará o dólar no fim do ano?”; “O Flamengo será campeão mundial de clubes no Catar?”; “Onde está o tal do Queiroz?”; “Bolsonaro será impichado antes de soltar um decreto-lei nos obrigando a usar a cueca por cima das calças?”. Etc. etc.

Se a Gal não souber responder, não tem importância. Eu amo igual.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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