O que há para ouvir

The Best Of – Quatro Oásis e uma Moringa – LP Orfeeu/Epa. Os maiores sucessos da dupla que encantou a juventude da década de 30 em todo o mundo. Este quarteto, que na verdade nunca passou de um trio apoiado num só elemento que adotava pseudônimo nas gravações, misturava jazz com batida de maracujá, ragtime com miado de gato e samba com presunto acebolado durante os demorados ensaios num velho galpão abandonado à própria sorte pelo proprietário, um disc-jockey aposentado por invalidez (perdeu a voz num jogo de pôquer). Neste vinil podemos relembrar a nostálgica “Canjica impiedosa”, em solo de pente com papel de seda; a tradicional “Bolo de sardinha dá dor na barriga da perna”, toda executada em prancha de surf. As composições de Serzedello Fortunatto retratam uma época de ouro para os plantadores de manjerona com escoliose lombar (convecção à esquerda). Um lançamento de primeira água, reproduzindo os sons que eram a coqueluche de qualquer convescote.

35 Hits Internacionais -Diversos – Lp Top Top/Hic. Acetato vendendo a febre dos hits internacionais, incluindo Come on, baby; Let ‘s go, baby; Go on, baby e a já tão consumida She’s my baby. O que ninguém entendeu ainda é como as gravadoras conseguem espremer 35 musiquinhas tão medíocres num disquinho desses, a ponto de vazar quatro ou cinco pelo controle de agudos. De brinde, um compacto simples com 18 sucessos do passado, o que prova que saudade não tem idade nem vergonha na cara.

Solução para a Farofa – Farinha na frigideira – Lp Oboé/Riscado. Finalmente lançado no Brasil este disco tão importante para a música escandinava. Quatro brasileiros radicados em Santa Catarina que conseguem ressuscitar a viola de 32 cordas (duas fininhas e três quase arrebentando), o pandeiro sem armação, privilégio de tão poucos músicos nordestinos, e a retangularidade da clave de sol em dias de chuva. Praticamente em início de carreira, os componentes do Farinha na Frigideira não conseguem executar coisa alguma em nenhuma faixa deste enfadonho lp, que nunca deveria ter sido lançado. Uma idiotice chamada “Resfolegando à beira da piscina “ é capaz de levar qualquer animal de estimação à loucura total, até mesmo a perda da estima. “Tatu-canastra” gravada originalmente em latim arcaico, não passa de um plágio descarado de “Pelo telefone”, do saudoso Donga.

Farrapo Humano – Língua com Ervilhas – Lp Wenha/oba. Banda de rock pauleira que defende a consoante gutural explosiva, terceira letra do alfabeto. Único grupo do Brasil que possui a gaponga, um instrumento feito de osso de peixe-boi, preso por uma linha à ponta do caniço, para se bater na água imitando a queda de um fruto, a fim de atrair o peixe. A melhor faixa é sem dúvida a explosiva “Bignoniáceas’; inteiramente gargaçalada com curare e pisco da Bolívia, contando ainda com a participação de Gardingo, músico de classe nobre, entre os visigodos. A olho nu é quase impossível distinguir melodia e letra, porque a paréctase (adjunção de elementos fônicos intermédios, para tornar eufônica uma palavra) é muito mal executada pelo organista que, em geral, nunca comparece às gravações. O sentido das canções tem relação direta com o assunto principal da frase. Elepê que deixa muito a desejar, em se tratando de tão bem trabalhado (todo em paetês, com diamantes escorrendo pela lapela, quase atingindo o chão) e que teve como produtor o pajé da tribo. Mas vale a pena (branca) ouvir.

South Soul– James Badfoot – Lp Bobo. Cantor americano que nunca conseguiu fazer sucesso em parte alguma. Antigamente gravava com Bob Bobber e Bob Topper, dos Bob Brothers. Esteve envolvido em casos de gravação pirata e foi preso em alto mar, passando dois meses e cinco dias ouvindo o primeiro disco da dupla Sonny & Cher, além de ser obrigado a pagar a fiança de 400 cruzeiros, dos bem antigos. Não altera nem inova, o moço. É um dos ídolos do movimento Black Rio, o que não quer dizer absolutamente nada.

Prof. Thimpor – Jornal Raposa, 1980.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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