Queridos 120 mil

Não sou nem quero ser influencer de ninguém. Estou mais para um influenciável aberto a novidades e oportunidades, perplexo com o melhor e o pior que vejo nas redes

Não é só um número, são pessoas de carne, nervos e sentimentos, como eu, como você, que me seguem no Instagram/Facebook. É muita gente, muita responsabilidade. Agradeço a confiança e prometo ser mais útil do que fútil.

Fotos e vídeos vão além da vaidade vã, são um pretexto para o texto, o conteúdo, a palavra escrita, a experiência viva, a oportunidade de conectar com pessoas que acreditam em você, que gostam de seu trabalho e que lhe animam e ensinam. Uma pessoa pública num espaço público vale pelo que pensa, faz e diz, pelo que produz, pelos frutos de seu trabalho, e, sim, a poesia também pode ser útil, para os que souberem ler.

Como o pessoal das redes gosta de “confessionais”, é bom não se iludir com os eventuais brilhos remotos, o presencial, a pessoa física, não é melhor nem pior do que ninguém. Pode ser simpático, agradável e bem-humorado, mas também chato, repetitivo, exagerado, distraído, dramático, ultrassensível para o bem e para o mal, de uma tristeza difusa e misteriosa, mergulhado nas suas profundezas, e não o recomendaria para quem “adoraria passar uma tarde tomando chope e batendo papo com você”, como convidam tantas mensagens carinhosas de seguidores: há dias em que nem eu me aguento, amigos.

Não dá para ser leve o tempo todo, as responsabilidades, as perdas e as memórias dolorosas pesam. É uma doce ironia lembrar que em 1978 escrevi o verso “livre, leve e solto” de “Dancin’Days” rsrs… Se ganhasse um centavo por cada vez que foi repetido, pelos melhores e piores motivos, estaria rico rsrs… Hoje acredito que alguns dias, horas de leveza, já são raros e preciosos.

Um pouco de autoajuda, que também gostam. Como era baixinho e nem bonito nem rico, mas inteligente o bastante para perceber isto e usar outros dons, tudo que consegui na vida foi no sorriso e na simpatia, na gentileza; no grito, na raiva e na fúria, só fiz merda, criei rancores e ressentimentos, e, depois, uma certa vergonha de mim mesmo. As palavras que mais tenho dito são “obrigado” e “desculpe”, tenho tentado ser “humilde com os humildes e altivo com os poderosos” como mandava meu pai.

Quero me sentir útil à sociedade, não estar na vida a passeio. Mas não sou nem quero ser influencer de ninguém. Estou mais para um influenciável aberto a novidades e oportunidades, perplexo com o melhor e o pior que vejo nas redes.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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