Doutor em ciências ocultas e letras apagadas

Ozires Estrela tem diploma de Harvard psicografado por ele mesmo

Enquanto o Sol entra em conjunção com Plutão na casa da Mãe Joana e a Lua vai para a casa do Carvalho, lá na casa da astróloga ZelmaZaphyra e do paranormal Ozires Estrela começa mais um dia normal.

Durante o café da manhã, Zelma estava passando leite condensado numa fatia de pão enquanto lia seu horóscopo, escrito por ela mesma, no site da revista Urucubaca Moderna. Notou um erro de revisão, ficou muito injuriada e deixou cair a fatia de pão.

“Merda! O meu pão caiu no chão!”

Ozires perguntou: “Caiu com o lado do leite condensado para baixo ou para cima?”.

“Você não é vidente?”, gritou Zelma. “Adivinha!”

“Foi com o lado do leite condensado para cima”, arriscou Ozires.

“Errrrroooou!”, gritou Zelma. E continuou a tripudiar: “Ozires, acho que você deveria rasgar aquele seu diploma de doutor em ciências ocultas em Harvard, aquele que você mesmo psicografou e mandou emoldurar. Você tem que adotar métodos mais científicos. Já ouviu falar da Lei de Murphy? O enunciado fundamental dessa lei é: ‘Se algo pode dar errado, dará’.”

“Então o pão caiu com o lado do leite condensado para baixo?”, Ozires perguntou.

“É óbvio, ô idiota! E agora o tapete está todo cagado.”

“Zelma, depois eu limpo o tapete com o poder da minha mente. Mas, mudando de assunto, sei que você não leva fé nas minhas previsões, mas hoje eu tive um sonho premonitório: sonhei que em breve o Supremo Tribunal Federal vai ser composto por um ministro católico, um ministro evangélico, um judeu ortodoxo, um fundamentalista islâmico, um satanista e seis olavistas.”

“Mas não vai ter nenhum umbandista?”

“Nesse meu sonho o presidente disse que umbanda é coisa de preto e pobre.”

“E o que você tá rabiscando aí no guardanapo?”

“Acho que psicografei um desenho do René Magritte. Mas não sei o que quer dizer isso. Não entendo nada de francês. Meu pai achava que estudar francês era coisa de viado.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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