Foucault e a bicicleta de Kubiak – Que nem você e a esperta diretoria do Furacão, sou cliente do doutor César Kubiak, aquilo de uma visita a cada quatro meses, consultas de uma hora, sendo vinte minutos as memórias que o bom doutor recusa passar ao papel. Sempre a bateria de exames, a coisa que nos deixa em suspenso e a mulher à espreita – a minha sempre confere se o seguro de vida está em ordem.

Desta vez o médico pediu o exame que me pejo de dizer o nome, abjeta humilhação para oriundi com pretensões galantes, tipo o advogado rico e chique que recita Baudelaire para empregadinhas do comércio. Entre os exames o temível (atenção: temível, porque terrível é o de cima) PSA, para conferir o risco daquela doença do caranguejo. Brincadeirinha, o exame: colher sangue na veia, que faço desde criancinha.

Difícil o preparatório do exame, o questionário que a atendente recita aos berros, ouvido por todos na sala de espera. Agora cauteloso, peguei pela internet. As perguntas, umas vinte, sobre as últimas 48 horas: andou de bicicleta, montou cavalo, fez ginástica, moveu a geladeira, subiu escada, transou, etc? Ou se fez justiça com as próprias mãos, o 5 contra 1 que juramos ter cessado na adolescência de garotas ariscas.

Fechou o questionário, pode fazer o exame. Lá em baixo, letras miúdas: “se fez prostatectomia, esqueça as recomendações”. Estou na categoria, dizer prostatectomizado para mim é tão difícil quanto era para o presidente Castello Branso falar aeronáutica (sempre saía areonáutica). Essa o doutor me paga. Fiquei 48 horas de jejum, tanto da bicicleta quanto da éguinha Pocotó. Por que Foucault? Só para sacanear o doutor.

Os outros – Fernando Haddad reclama que João Dória impediu o PSDB de dar-lhe apoio no segundo turno. Ciro Gomes reclamou que o PT impediu o PSB de dar-lhe apoio no primeiro turno. Como ensina o saudoso Sartre, “o inferno são os outros”.

Borrasca – Previsão do tempo: “borrascas”. Na televisão portuguesa, sem dúvida. Aqui o brasileiro sairia sem lenço e sem documento. Pior, deixaria o guarda-chuva em casa.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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