Na mão direita

Galileu, sob ameaça de tortura, teve que se desdizer e afirmar que a Terra não se movia em torno do Sol. Calado, dizia a seus botões: “mas que se move se move”. Digo aqui, sob risco de tortura, que o messias brasileiro não é nazista. E aos meus botões confesso: apenas porque não é de esquerda.

A grande, fundamental, seminal e definitiva questão brasileira: o nazismo foi de direita ou de esquerda. Para quem? Evidente que para você, eu e cinquenta milhões de brasileiros matando cachorro a berro ela não diz nada. O nazismo está lá atrás, quase oitenta anos, e dele restaram preconceitos, neonazistas e comportamentos nazistas – aqui no visível e radical genocídio praticado todos os dias na África e na Ásia, sem sequer a pausa do purgatório em campos de concentração.

Direita e esquerda perderam o sentido depois da queda do Muro de Berlim, de Rússia e China neocapitalistas. Os dois apedeutas brasileiros que, na falta do que dizer e do que fazer, resgatam a distinção nem sabem de onde ela se origina. Mas os apedeutas, à sua maneira tosca e pedrês, pensam que sabem – com eles é essa dificuldade, pensar e saber. Ao jogar o nazismo para a esquerda ele cai no colo da oposição ao Messias da classe média furibunda e imediatista.

Ou seja, Lula, Gleisi, Dirceu et peterva são nazistas. Temos que reconhecer que a oposição cuspiu para o alto ao acusar nosso Messias de nazi-fascista. Melhor ficar fora dessa briga de macacos, que combatem com tiros de merda. Só cabe aqui a ponderação, digamos, etnológica: no Brasil, esquerda e direita só definem a mão que empunha o papel higiênico. Eis a fonte do pensamento bolsoignárico: os messio-ignáricos usam a mão direita. Esquerda, só nas bundas e mãos nazistas.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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