A minha não pede: dou porque quero. Ah, me poupe! Bateu fundo a febre amarela do protecionismo moral, religioso, vivencial. O mosquito-vetor zumbe no seu ouvido dia e noite. Antes era só à noite, no escuro do quarto, que um reles pernilongo sugava o seu sangue. Agora o mosquito ataca em pleno dia. Pode se olhar no espelho. Seu rosto amarelo pálido denuncia a falta de caráter certo, de religião certa, de time certo, de saúde certa, de voto certo, de caminho certo, de filme certo, de livro certo, de moral certa, de conduta certa, de ginástica certa, de sexo certo, de comida certa. O que é certo é sempre ditado por outro, claro. Está tudo errado na sua vida. Não tem mais salvação se não for pela minha mão.
Cada um se acha um Cristo e, para você ir a Deus, só pelas mãos certas dele. Todo mundo quer ser Cristo, menos na hora da crucificação. Eu só quis ajudar! Preceitos morais são espalhados às mancheias sobre o mundo. Os livros de auto-ajuda corroeram de tal modo nosso pobre mundo que qualquer um agora é profeta… para a vida dos outros. Damos de dedo até nos médicos que nos atendem. Ei, não é assim que se ausculta um coração, doutor! Me dê o estetoscópio que eu grudo nas suas costas e peço: diga 33! Garanto que tenho um remédio para o senhor, doutor!
*É auxiliar de serviços gerais e especializados em todas as marcas.