Exploração das formas mutantes – vertentes

Comprei quarenta créditos pro arquétipo e me joguei. Bem municiado, me sentia um cidadão a todo pano, a qualquer prova, a olhos vistos. Na quarta casa do zodíaco, tive a sorte de encontrar um arrecife bem junto à praia. Chamei aroeira de pimenta-do-peru sem a menor cerimônia e exigi a suspensão das atividades beligerantes como resultado de uma convenção. Em suma, pedi armistício. Deduzi que uma hipótese poderia fluir do completo isolamento e fiquei atento.

Minha familiaridade com a literatura contemporânea dificultava o culto do absurdo em si. Uma coisa assim apolínea, derivada do próprio deus da luz, das artes e da adivinhação. Apolo em dó maior. A beleza clássica esbarrando na fantástica luz do pôr-do-sol. Mas, era tarde. Anoitecia sem que nada pudesse impedir. Cansado de perambular, deixei de lado qualidades como seriedade, comedimento, disciplina e equilíbrio. Já havia esquecido as contradições do arrecife e entrei no bar.

O primeiro gole de cerveja bem gelada desembaçou o realismo eletricamente iluminado do dia que finava. O que parecia tragédia shakespeariana tornou-se teatro de marionetes. O que mastigava vocábulos de pedra abriu-se em puro Ionesco. A mão afagava o copo e as lembranças mais cálidas de um certo Verão. O impasse de mágica aconteceu.

*Rui Werneck de Capistrano é assim mesmo – não adianta.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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