A inteligência artificial é burra

A máquina faz coisas por conta própria, mas quem paga a conta é você

Deu nos jornais. Descobriu-se que “assistentes virtuais”, como Alexa, da Amazon, e Siri, da Apple —sistemas eletrônicos domésticos programados para executar certas tarefas ao comando de voz do usuário—, estão tomando decisões por conta própria como se fossem as donas da casa. E essas decisões não se limitam a acender ou apagar luzes, botar essa ou aquela música para tocar e responder a perguntas simples como “Alexa, quem subiu hoje na Bolsa e a quantas andam minhas ações preferenciais da Petrobras depois das declarações insanas do Bolsonaro?”.

Parece que Alexa ou Siri, uma delas, andou fazendo encomendas à revelia da dona, como comprar pratos, caçarolas e demais artigos de casa. Não por acaso, uma compra igual à que ela fizera um mês antes. Como a pessoa fazia certas compras todo mês, a máquina deduziu que tal regularidade também se aplicava ao enxoval do apartamento e pediu tudo de novo. Comprou-lhe também uma passagem na Ponte Aérea para um voo que a moça não ia fazer, mas, por coincidência, fizera um mês antes. O resultado foi uma despesa no cartão que ela não esperava. E há outros casos do gênero.

Este é o problema da inteligência artificial: é burra. Como aprende a executar tarefas por repetição, a chamada IA acha que os seres humanos, por fazerem algo duas vezes, também têm de continuar fazendo-as e ao mesmo intervalo. Imagine se, por ter ido ao dentista duas vezes naquele mês, o sujeito terá de fazer isto de 15 em 15 dias para sempre.

E há os agentes alienígenas. Ouvi dizer que, há dias, o Kindle de uma leitora do DF foi invadido por cerca de mil formigas vermelhas. Elas entraram nele, acionaram alguma coisa lá dentro e, talvez por serem fãs de ficção científica, encomendaram um ebook de Isaac Asimov.

Ainda não uso Kindle, mas, se um dia tiver um, espero que, em matéria de ficção científica, minhas formigas prefiram Robert Heinlein.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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