Sempre medíocre, sempre Ricardo Barros

DE VEZ em quando aparece um instituto de pesquisas do Paraná para quebrar nossa placidez bovina e cretina. Ontem saiu a pesquisa eleitoral das três vias: Lula 44%, Bolsonaro 24 e mixaria %, Ciro 14 e merreca %. Uma chatice. A gente aqui vive bem com a pesquisa que dá 200% para reeleger o governador Ratinho Júnior. Por que 200%? Ora, simples, o próprio governador explica. Primeiro, ele não é inimigo ou adversário nem de Lula nem de Bolsonaro. Muito pelo contrário (só o governador merece a glória de antepor um advérbio ao valor absoluto, como esse muito pelo contrário). Ratinho fará um repasse equitativo de suas urnas: 100% para Lula e 100% para Bolsonaro.

Fosse o governador homem de leituras, recomendaria a ele o Se, do inglês Rudyard Kipling, na tradução de Guilherme de Almeida, melhor que o próprio original. Kipling ensina que o homem de verdade, entre outras virtudes, deve ser fiel aos amigos, com a ressalva de que nunca os deve abandonar, sejam bons, sejam maus; deve se defender desses amigos, mas jamais deixar de lhes ser de “alguma utilidade” (Deus é minha testemunha do quando é impossível seguir o conselho. Kipling não conheceu os políticos brasileiros, mestres no inverter a utilidade). Nosso grande estrategista sabe que se elege coligado com os dois e governa coligado com qualquer deles.

Não foi o jovem governador quem inventou a jogada. Foi o pai, porque é jogada de dono de empresas de comunicação, que não pode criticar o anunciante, nem mesmo no noticiário. O anunciante está acima do leitor-consumidor, credor da verdade. A estratégia reforça-se quando o anunciante tem o poder de detonar a concessão da empresa de comunicação. Então, essa ciranda, essa gangorra de Lula sobe, Bolsonaro desce, Ciro arranha no barranco, que acabe nas fronteiras do Paraná com estados politizados. Nós paranaenses estamos na nossa, nunca elegemos o melhor, mas conseguimos escapar do pior. É a glória do Paraná, sempre apagado, sempre medíocre, sempre Ricardo Barros.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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