Sessenta anos de um sonho

Nabibe Chede discursa na inauguração da TV Paranaense – Foto de Synval Stochero

Hoje é dia de festa. Se não for, deveria ser. Nesta quinta-feira, 29 de outubro de 2020, a TV Paranaense, Canal 12, agora denominada RPC, a primeira emissora de televisão do Paraná, está completando 60 anos de vida.

Quem sintoniza hoje a televisora, toda certinha e formosa, líder de audiência, capitã da Rede Paranaense de Comunicação e afiliada da poderosa Rede Globo de Televisão, não imagina a dificuldade que foi colocá-la de pé. Ou, por outra, tornar realidade o sonho de Nagibe Chede.

O dr.Nagibe, como era conhecido, era homem do rádio. Vindo dos Campos Gerais de Palmeira, conduzia em Curitiba a Rádio Emissora Paranaense e a Rádio Curitibana. Era também radioamador. Mas acalentava um sonho: trazer para o Paraná a TV, um invento que reunia som e imagem. Ela fora inaugurada no Brasil por Assis Chateaubriand e dava o que falar em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Brasília. Em viagem aos EUA, conheceu o “bicho” de perto e o entusiasmo aumentou. Havia apenas um problema: não sabia como fazê-lo. Aliás, aqui no Paraná ninguém sabia.

Foi então que o palmeirense Nagibe atirou no escuro e acertou o alvo. Convocou o seu pessoal de rádio, a partir do dedicado e curioso Renato Mazânek, buscou em Juiz de Fora o engenheiro eletrônico Olavo Bastos Freire e pôs a turma para aprender fazendo. Em uma quitinete do último andar do Edifício Tijucas, ainda em construção na Rua Cândido Lopes, no centro da cidade, em meio a um emaranhado de cabos, fios, telas, câmaras e refletores, microfones e mesas de controle, um bando de neófitos dava asas à imaginação. Sem nenhuma escola ou experiência, valia-se apenas do entusiasmo geral e da criatividade de cada um. No local, introduziu-se (como coube só Deus sabe!) três câmeras Dage enormes, cada uma dotada de três lentes; improvisou-se uma central de controle de vídeo (switch), com monitores para as câmeras; construiu-se uma mesa de som; instalou-se uma cabine de locução, dois projetores profissionais Bell-Howell para filmes de 16mm, um projetor de slides de 35mm e um sistema multiplex de espelhos para o acoplamento dos três projetores numa só câmara. Ah, sim, e ainda existia um transmissor de 250 watts. Coisa de louco! Tudo isso é contado, com detalhes, pelo próprio Mazânek no belo livrinho “Ao Vivo e Sem Cores”, editado em 2004.

Por isso, em vez de rememorar a fantástica aventura, cabe-me aqui homenagear o grupo de destemidos pioneiros, que tornaram realidade o sonho maluco de Nagibe Chede e cujos nomes deveriam constar de uma placa de bronze instalada no hall de entrada da RPC, antes que se evaporem no tempo. A lista é extensa, mas precisa ficar gravada na memória dos telespectadores para todo o sempre. Além de Renato Mazânek e de Olavo Bastos, Elon Garcia, Tônia Maria, Romualdo Ousaluk, Jamur Júnior, Flávio Menghini, Azor Silva, Meire Nogueira, Alcides Vasconcellos, Silas de Paula, Morais Fernandes, Patrícia Fabiani,  Maurício Fruet, Willy Gonzer, Moacyr Gouveia, Abílio Bastos, Enrico Beraldo, João Schreiben, Eunice Mazola, Rosemari Naumes, Kar-Maia, Miriam Kehr, Arlete Soares, Osires Haddad, Charles Clemente Chen Wu, Mauro de Alencar, Israel Correia, Denísio Belotti, Hélcio José Gonçalves, Fritz Bassfeld, Alceu Nascimento, Manoel Soares, José Carlos Baraúna, Haroldo Lopes, Enéas Faria, Valêncio Xavier, Rafael Iatauro, Antonio Moris Cury, Wilson Brustolim, Aírton Cordeiro, Miguel Kassis, Fernando Cordeiro, Nelson Silva, Ariovaldo Hass, Antonio John, Swami Soeiro, Nelson Santos, Luiz Gastão Schwind, Mauro Nogueira, Zeno José Otto, Nilson Müller, Jean Françoise Dibignes, Martins Rebelato, Edgard Assini, Delmar Mafei, Claiton Foggiatto, Paulo de Avelar, Ivo Ferro, João Carlos Bueno, José Louro. Com o tempo, outros nomes foram chegando, como Archimedes Macedo, Frank de Holanda, Roberto Menghini, Witenberg e Ulderico Amêndola, Mário Bittencourt, Tônio Luna, os irmãos Borges, Átila e Ayrton; Idelson Santos, Dino Almeida, Carlos Marassi, Roberto Bostelmann, Osni Bermudes, J.J. de Arruda Neto, Filomena Gebran, Ângela Vasconcellos, Danuzia e Acidália Cintra, Regina Kolbert e o pessoal da primeira novela da televisão paranaense: Sinval Martins, Maria Aparecida, Lala Schneider, Rubens Rollo, Cordeiro Júnior e Cícero Gomes.

Gente da melhor qualidade, a maioria hoje em atividade no plano celestial, mas que deixou aqui os seus nomes esculpidos na história da arte, da cultura e da comunicação paranaenses. E a quem Curitiba, o Paraná e o Brasil devem reverenciar sempre, com gratidão e saudade.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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