Na escultura de Leonardo da Vinci ou de quem quer que seja, Jesus olha para Maria, Maria olha para o filho. Os dois estão sorrindo. Nada mais raro na iconografia religiosa do século 15 do que uma Virgem Maria e um Menino Jesus sorrindo. Os dois sorrindo um para o outro, então, beirava o escândalo. Que cumplicidade era aquela entre mãe e filho que não incluía o resto do mundo, que era um pacto só deles, um carinhoso trato fechado? E sorrindo por que, se aquela história acabava tão mal, com tanto sofrimento e sangue?
Se nada mais na escultura pode ser atribuído, sem discussão, a Leonardo da Vinci, os sorrisos não deixam dúvidas. O sorriso de Maria é precursor dos outros sorrisos intrigantes espalhados por Da Vinci pela sua obra, culminando no famoso sorriso da Monalisa, exposto no Louvre atrás de camadas de japoneses. Para os 500 anos da morte de Da Vinci, o Louvre prepara uma exposição para este ano que também conterá controvérsias, como um desenho caricato da Monalisa chamada Mona Vanna, ou Mona Vaidosa, que pode ou não pode ser uma autogozação do próprio Da Vinci.
Os sorrisos do Da Vinci são frequentemente chamados de “enigmáticos”. Talvez porque não tenham “mensagens” a serem procuradas, ou código a serem decifrados, além do prazer da grande arte. Se bem que já ouvi atribuírem o plácido sorriso da Monalisa a um desconforto gástrico.