Tom Wolfe, adeus

Tom Wolfe, jornalista literário e autor de ‘A Fogueira das Vaidades’, morre aos 87 

O escritor e jornalista Tom Wolfe, um dos grandes nomes do jornalismo literário americano, morreu nesta segunda-feira (14) em um hospital de Nova York. A informação foi confirmada ao jornal britânico The Guardian por sua agente literária, Lynn Nesbit. De acordo com ela, ele estava internado com uma infecção. Ele morava na cidade desde 1962.

Com outros repórteres do período, ele ajudou a consolidar a reportagem que adotava técnicas literárias em concepção.

Wolfe é autor de clássicos como “A Fogueira das Vaidades” e “Radical Chique”. Este último, uma reportagem sobre a relação das elites nova-iorquinas com os black ​panthers.

Em uma expressão mais contemporânea, a reportagem seria um retrato da esquerda festiva nova-iorquina. Wolfe descrevia um jantar, na casa do maestro Leonard Bernstein, para arrecadar fundos para os ativistas negros.

Esta reportagem foi publicada no Brasil dentro do livro “Radical Chique e o Novo Jornalismo”, lançado pela Companhia das Letras.

Num ensaio incluído nessa edição, Wolfe tentava sistematizar o que a geração de jornalistas literários americanos havia criado —explicando o que, afinal, havia de novo naquele gênero.

Esse ensaio, de 1973, foi o responsável por criar o termo novo jornalismo.

A novidade era a aplicação de técnicas de escrita estabelecidas pelo realismo literário, por nomes como Balzac e Gustave Flaubert, às narrativas de não ficção. Por isso, o grupo que incluía ainda Truman Capote e Gay Talese adotava ferramentas como a construção de diálogos e a descrição minuciosa de cenas e ambientes.

É curioso o elogio que Wolfe faz do realismo —cuja chegada à literatura ele compara à invenção da eletricidade—, porque o novo jornalismo floresce num momento em que, dentro da ficção, o gênero estava em baixa.

Já “A Fogueira” foi publicado no Brasil pela Rocco, mas está fora de catálogo. O último lançado aqui foi “O Reino da Fala”, de 2016.

Wolfe nasceu na Virginia, em 1931, e saiu da faculdade de direito para a reportagem, no Springfield Union, de Massachusetts. Foi para Nova York, em 1962, trabalhar no The New York Herald Tribune e nunca mais deixou a cidade. Ele vivia com sua mulher, Sheila, e tinha dois filhos.​

Não era difícil reconhecer sua silhueta. Alto, olhos azuis, rosto de criança —e sempre desfilando seus ternos claros, como um dândi. Uma vez,, pediram ao autor que descrevesse seu estilo. E ele disse que era “neo-pretensioso”.

Sua escrita, disse certa vez, era feita o tom bege do jornalês que encontrou quando começou a trabalhar. “Os leitores choravam de tédio sem entender por quê. Quando chegavam àquele tom de bege pálido, isso inconscientemente os alertava de que ali estava de novo aquele chato bem conhecido, ‘o jornalista’, a cabeça prosaica, o espírito fleumático, a personalidade apagada, e não havia como se livrar do pálido anãozinho, senão parando de ler”, escreveu em “O Novo Jornalismo”.

Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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