Tratamento adequado é cadeia

Chocado contra o que se diz e se pretende fazer contra Jair Bolsonaro, Arthur Lira, presidente da câmara dos deputados, sugere “tratamento adequado” aos ex-presidentes da República. Para Lira, os ex-presidentes merecem respeito como “instituições”. Típico de Arthur Lira, o pior exemplo que pode existir de uma instituição, a câmara dos deputados. O tratamento que os ex-presidentes recebem é resultado daquilo que fizeram quando presidentes. Os supostos maus tratos aos ex-presidentes representam a reversão cidadã daquilo que fizeram no poder. Há exceções, como se costuma dizer de Lula, cujos maus tratos foram inéditos e exagerados pela conduta do judiciário e militares.

Aponte-se mau tratamento a FHC, Itamar Franco, Dilma ou a outros que o mereceram, como José Sarney e Michel Temer? Ou a qualquer dos ditadores, que com mortes, torturas e infâmias no currículo morreram no conforto do leito, sob os cuidados da família e o respeito do povo iludido? Se Lira fosse honesto, diríamos que pensava em Floriano Peixoto, que deixou o poder e recolheu-se ao esquecimento nas Alagoas – jamais maltratado. Ou no outro conterrâneo, Fernando Collor, para quem todo mau tratamento é merecido, como demonstrou o próprio irmão Pedro, sua vítima predileta. Lira preocupa-se com Jair Bolsonaro, um aliado cujos malfeitos podem respingar no piedoso crítico dos humores brasílicos.

Alguma vez Jair Bolsonaro preocupou-se com os brasileiros? Ele não fez isso sequer para doar milho a preço de custo para seu gado. Lira preocupado com os ex-presidentes? Piada sobre a qual paira a tragédia cívica de ninguém no Brasil extrair a desfaçatez cínica e a impunidade de quem fala – e do porquê fala. Pior que qualquer mau tratamento dado a ex-presidentes é o mau tratamento que Lira dá à coisa pública. Mas nisso tanto os supostos maltratados estão livres, convenientemente livres, porque Jair Bolsonaro funciona hoje como o conhecido boi de piranha, o bode expiatório que os protege da exposição de seus crimes contra o Brasil.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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