Últimas opções de fuga do país

Até mesmo Krypton e o castelo de Drácula seriam melhores que o Brasil de Bolsonaro

Leitores aderiram à ideia desta coluna de que os ares fétidos dos anos Bolsonaro justificavam sair do Brasil para algum lugar distante, mesmo que imaginário. Muitos escreveram dizendo para onde teriam ido se pudessem. Pois aqui vai minha última lista de opções, esta composta de lugares terríveis e que, apesar de tudo, me pareciam mais habitáveis do que o país sob Bolsonaro.

Há quem ache romântico o País das Maravilhas, aquele a que Alice chega ao cair num buraco sem fundo. Romântico? Seus habitantes são de uma lógica cruel e ele é governado por uma rainha de maus bofes cujo exército de cartas de baralho está sempre pronto a cortar cabeças. E a faulkneriana Yoknapathawpha, no Sul dos EUA? Parece mágico e exótico, não? Mas é infestado de racistas e estupradores, alguns armados com espigas de milho.

Uma boa escolha seria Spindleruv Mlýn, aldeia entre as montanhas na região de Hradec Kralové, hoje República Tcheca, com um imponente castelo no alto do morro. Pois nada se pode fazer lá sem a permissão do Castelo —Castelo este que domina a região e cuja burocracia kafkiana torna impossível até entrar nele para se conseguir uma autorização. Outro castelo, este mais acolhedor, fica em Bistriz, nos Montes Cárpatos, na Hungria. Seu proprietário, o conde Drácula, é famoso pela sua maneira de receber hóspedes. Pois qualquer desses lugares seria melhor do que o Brasil de Bolsonaro.

E Krypton, o planeta a ponto de explodir? Antes lá do que aqui. E a ilha de Noble, em algum ermo da África, mais conhecida como a ilha do Dr. Moreau? Moreau foi um cientista inglês do século 19 que, à custa de torturas e tratamentos inimagináveis, transformou animais selvagens em seres humanos. Bolsonaro pode ter sido uma de suas experiências falhadas.

Mas, agora, para que sair do Brasil? Bolsonaro é que cogita se esconder na Terra do Nunca. E nunca mais voltar.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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