#diariodobolso: quem quiser picanha e leite condensado que entre pro Exército, talkei?

Diário, andam falando muito sobre fome esses dias, porque parece que tem 33 milhões de brasileiros com esse problema aí.

Mas falar sobre isso adianta? Não adianta. Então não vamos ficar martelando nesse assunto, talkei? A gente não pode ser negativo. Falar num problema só aumenta ele. Por exemplo, se alguém faz rachadinha, você muda quem investiga o bagulho e pronto. Se tem problema de desmatamento, você muda quem mede esse treco e tá resolvido.

Por isso, no tocante à fome, no primeiro dia do meu governo já acabei com o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), um treco criado pelo Itamar Franco há trinta anos.

Pô, eu vou querer um monte de sociólogo, padre e comunonutricionista falando no meu ouvido que o povo precisa comer? Quem quiser picanha e leite condensado que entre pro Exército, talkei?

Só que em maio de 2019, uma comissão parlamentar ressuscitou o Consea. Mas eu não entreguei os pontos. No mês seguinte vetei a volta dessa porcaria. E o Congresso apoiou o meu veto: 299 a 162. Goleada!

Em 2019, também fechei os 27 armazéns da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e acabei com os estoques de regulação. Imagine só, Diário, que o governo estocava alimentos pra estabilizar preços. O pessoal do agro gostava disso? Claro que não. Então acabei com a brincadeira.

O que importa é o Mercado, não o mercadinho da esquina, talkei?

Também tirei dinheiro do Pronaf (Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e enterrei o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), que comprava produtos sem agrotóxico pra alimentação escolar. No tempo do Barbudo, chegaram a gastar quase R$ 1 bilhão nessa bobagem.

O Brasil saiu do mapa da fome em 2014. Mas, pelas contas de um pessoal aí, voltou em 2018. E agora tão dizendo que mais da metade dos brasileiros está em insegurança alimentar.

Pô, quem tem insegurança alimentar sou eu, que nem posso comer um camarão sem mastigar que já entupo as tripas.

#diariodobolso

PS: Olha, Diário, quem quiser fazer alguma coisa contra a fome que vá no site da Ação pela Cidadania, aquele treco do Betinho, e doe um trocado. Porque, se depender de mim, o brasileiro vai ter barriga tanquinho.

José Roberto Torero

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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