Um golpe nos empresários golpistas

Alexandre de Moraes acertou na mosca ao mandar a PF investigar os empresários bolsonaristas. Mas ainda há gente que diz que as mensagens do grupo foram truncadas

Não chegam a surpreender os nomes dos oito donos de empresas atingidos pela operação de busca e apreensão da Polícia Federal, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes. Lá estão figurinhas bolsonaristas carimbadas como Luciano Hang, das lojas Havan, Afrânio Barreira Filho, dos restaurantes Coco Bambu, e José Koury, dono do Barra World Shopping. Também integram a lista José Isaac Peres, da Multiplan, dona do Barra Shopping, Ivan Wrobel, da W3 Engenharia, Meyer Joseph Nigri, da Tecnisa, Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii, e Luiz André Tissot, da Sierra Móveis.

Todos participam de um grupo de WhatsApp batizado de “Empresários & Política”, que no fim do mês passado dedicou-se a uma conspiração aberta contra a cada vez mais provável eleição do ex-presidente Lula. As conversas virtuais de ostensivo teor golpista foram reveladas pelo jornalista Guilherme Amado, no site Metrópoles.  Segundo a reprodução, José Koury afirma que preferia “um golpe à volta do PT”. “Um milhão de vezes.” Raymundo, da marca de surfe Mormaii, entrou na onda e disse que “golpe” foi o Supremo ter agido fora da Constituição e mandar “soltar o presidiário”, referindo-se a Lula. Já André Tissot afirmou que o golpe deveria ter ocorrido no início do governo Bolsonaro, em 2109, que assim ganharia mais 10 anos de mandato.

Tudo isso foi dito às claras, com apoio e palmas dos demais envolvidos. O grupo de empresários vai muito além da simples oposição ao ex-presidente Lula e ao PT. Os conspiradores mandam às favas todos os escrúpulos e pregam o golpe e a virada de mesa. Eles investem contra a Constituição e a Democracia sem nenhum pudor. E, procurados pelo repórter do Metropóles, não desmentiram o teor das mensagens. No entanto, mostraram-se espantados com a ação da PF e a decisão do ministro Moraes de investigá-los. Em São Paulo, o ex-capitão Bolsonaro solidarizou-se com o grupo e perguntou se ação policial era “proporcional” e “razoável”.

No mesmo tom de Bolsonaro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, divulgou nota destacando que não foi consultado pessoalmente pelo STF e o procedimento adotado não foi usual. Disse também que Alexandre de Moraes estaria incorrendo em “ativismo político”. É estranho, para não não dizer espantoso. O STF manda investigar uma conspiração antidemocrática e a PGR se diz atropelada. Confirma-se que o Brasil, nestes dias sombrios de ameaça autoritária, tem uma Procuradoria-Geral da República contrária à preservação do Estado Democrático de Direito.

Mesmo com o apoio de Aras e Bolsonaro, os empresários não tiveram a ousadia de criticar a decisão do STF. Reagiram com bastante prudência. No máximo, argumentam que as mensagens no WhatsApp foram publicadas fora de contexto. Joseph Nigri, da Tecnisa, segundo o advogado, “rechaçou qualquer envolvimento com associação criminosa ou práticas que visam à abdicação do Estado Democrático ou preconizam golpe de Estado”. Luciano Hang negou que tenha defendido golpe ou atacado o STF agora. E Ivan Wrobel, da W3, chegou a dizer que tem “um histórico de vida completamente ligado à liberdade”. Conta que em 1968, quando aluno do IME, foi convidado a se retirar da instituição por ter se manifestado contra o AI-5.

Ligado aos empresários da Barra da Tijuca, o jornalista Carlos Magnavita,  em artigo sob o título “Um linchamento injusto” no site Diário do Rio, sustenta que “toda esta pirâmide invertida de indignação tem como base frases e rompantes pinçados aleatoriamente em conversas de um grupo de bate papo informal, sem estar atrelado a nenhuma instituição do rito golpista”. Segundo ele, “seria a mesma coisa que pinçar frase de uma roda de bar de jornalistas e levar a sério impropérios que são ditos”.

Tarefa difícil a do Magnavita (que é dono da versão virtual do Correio da Manhã): sair em defesa do grupo de empresários que prefere o golpe a ver Lula voltar ao Palácio do Planalto. “Um milhão de vezes.” Nem os próprios investigados pela PF tiveram tamanha desfaçatez. Sabem que não houve manipulação dos textos pelo site Metrópoles. As mensagens e reações de apoio estão publicadas na íntegra. Portanto, Moraes fez o que se espera dos ministros do Supremo. Instituição máxima do Poder Judiciário, o STF é o guardião da Constituição. Se há conspiração contra a Democracia, cabe investigá-la.

Os celulares apreendidos na operação da PF podem trazer informações relevantes. Comenta-se que esse mesmo grupo de empresários estaria por trás do financiamento de atos contra as urnas eletrônicas, o TSE e o STF. Ou seja, a PF pode desvendar algo bem mais robusto do que as mensagens no zap. Os golpistas que se cuidem. Não ficarão impunes. Golpes nunca mais.

Octavio Costa

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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