Um DC-3

A União Democrática Nacional (UDN) foi o grande partido da direita no Brasil. Teve em Carlos Lacerda seu grande líder e profeta. Jornalista de origem comunista, deputado e governador pelo Rio, então Distrito Federal. Lacerda esteve entre os mentores do golpe de 1964 e acabou sendo vitimado por ele quando a direita militar decidiu fechar o regime, desconfiada dos civis que tentavam reabri-lo, entre eles Lacerda, que cometeu a imprudência de formar aliança com os ex-presidentes Kubitschek e Goulart, dois cassados pelos militares. Lacerda criava adoradores e imitadores, seduzidos por sua inteligência e cultura superiores e acima de tudo pela presença de espírito nos debates e entrevistas. A UDN ficou conhecida como o partido dos bacharéis, advogados e juristas famosos, os chamados “lacerdinhas”, na maioria porque replicavam o líder maior nas palavras e atitudes.

A UDN fazia barulho, mas quem controlava o poderes eram os partidos antagônicos, Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e Partido Social Democrático (PSD), os dois com criação induzida por Getúlio Vargas para eleger-se no retorno ao poder nos anos 1950. Os adversários pegaram no ponto nevrálgico da UDN: seus bacharéis discursadores e palavrosos, aos quais deu o apelido fatal: DC-3. O DC-3 era o avião de passageiros na época, adaptado de modelo desenvolvido nos EUA durante a II Guerra Mundial, utilizado em rotas menores nos EUA. O avião, logo que chegou no Brasil, teve suas duas características identificadas pelos brasileiros: “ronca muito e voa baixo”, que grudaram como o apelido desabonador dos udenistas, que muito falavam e nada faziam. O bolsonarismo é um udenismo sem leituras, mas com igual ódio e espírito golpista. A César o que foi de César: os udenistas sabiam pensar e escrever.

Joice Hasselmann, a pontagrossense que se redescobriu linda depois de se arrepender de ser bolsonarista, entrou em fase de autoestima; perdeu 22 quilos e entrou numa espécie de only fans light para homens velhos, sonhadores, cansados e saudosos da virilidade perdida. Há tempo vem divulgando fotos em biquíni, em colants de ginástica – e que nosso coração seja forte quando avançar no erotismo. Joyce volta às redes com críticas ao prato em que comeu. Mas presta serviço cívico, como ontem com as fotos de Micheque na loja Prada, em Orlando. Deslumbrante, sedutora, afiada como no tempo em que dividia bancada com Augusto Nunes, Joyce acrescenta a bulímia à vaidade e celebra sua beleza: “Estou um avião”. Udenista pós datada, sem a “mais mínima sombra de dúvida” (expressão ao gosto de Roberto Requião) Joyce é um avião, um DC-3: ronca muito e voa baixo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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