Governe, Lula!

Companheiro presidente:
Agora que V. Exª. já recuperou o prestígio do Brasil internacionalmente e propiciou à vossa Janja conhecer boa parte do mundo, em apenas cinco meses, da Argentina ao Japão, passando pelo Uruguai, pelos EUA, pela China, pelos Emirados Árabes, por Portugal, pela Espanha, França, Inglaterra e arredores, está na hora de recolher o aerolula ao hangar e fincar âncora no Brasil.

É também hora de começar (ou recomeçar) a governar, prezado Luiz Inácio. Temos aqui uma penca de problemas à espera de solução. Não precisa ir busca-los lá fora. V. Exª. começou bem, mas, de repente, passou a patinar. E o tão aguardado Lula 3 está começando a parecer o Lula2. V. Exª. prometeu, na campanha, unir o Brasil, esquecer velhas desavenças, arredar intrigas e discórdias e seguir avante, sem revanches, governando para todos os brasileiros, para fazer calar de vez os detratores. No entanto, está tendo certas recaídas, como essa história de reestatizar a Eletrobrás e outras empresas e serviços privatizados. Não é hora disso, companheiro. Há coisas mais importantes pela frente.

O governo fez bem em mexer na composição dos preços dos derivados de petróleo. Não sei se retirou-se oficialmente do grupo das commodities; se não retirou-se, deve retirar-se. Foi uma besteira cometida pelo Temer. Afinal, somos autossuficientes na produção do óleo, não precisamos ficar atrelados a outros produtores, que agem de maneira político-econômica a seu bel prazer, pouco se importando com as consequência de suas atitudes. Pois, se fez bem em relação ao preço dos combustíveis, o governo de V; Exª. está deixando (muito) a desejar em outros setores da administração.

Uma das características do velho Lula era a habilidade política, a facilidade de converter adversários e cooptar adeptos. Era um “sedutor” pela própria natureza. Prova é que o ex-ministro-chefe da Casa Civil e coordenador da campanha à reeleição de Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira, recusou o convite para uma conversa. “Não quis correr o risco de virar a casaca”, segundo a revista Veja.

Não obstante, V. Exª. não consegue montar uma base de apoio no Congresso, que vem lhe impondo seguidas derrotas. Tudo bem, V. Exª. já esteve lá e sabe, como disse então, que o parlamento é composto de “500 picaretas”. Talvez não seja tudo isso, mas está perto. Só que o governo precisa do Congresso, feliz ou infelizmente. Precisa também do apoio da Faria Lima e do MST – e não está tendo nem de uma nem de outro. Todo mundo está tirando proveito da insegurança e falta de ação do governo.

Foi farta a distribuição de ministérios e benesses, mas a coisa não tem andado. Partidos como MDB, PSD e União Brasil, cada um com três ministérios, votam repetidamente contra o governo. Falta diálogo, há turbulência desnecessária, falta liderança. E, sobretudo, falta presidente, constantemente ausente do país. Com isso, o deputado Arthur Lira tem assumido o protagonismo. E até o aliado Rodrigo Pacheco, do Senado, tem distribuído críticas ao governo. Isso não é bom. Nem para o governo nem para o país. Agora, para complicar ainda mais a coisa, começa a haver divergência e disputa entre os ministros. Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, não se acerta com Rui Costa, da Casa Civil. E Marina Silva, do Meio Ambiente, um dos símbolos do governo Lula, passa por um processo de desgaste, no embate entre o Ibama e a Petrobras.

Vamos lá, companheiro presidente. Assuma o comando, ponha ordem na casa e caminhe para frente. Chega de retrocesso. Como também chega de discursos vazios, populistas, sem nenhum resultado. Comece pela reforma tributária, imprescindível para o Brasil e para o povo brasileiro. Mas não venha com nova falsa reforma, mera mudança de nomenclatura dos tributos, que, em vez de serem reduzidos, prestam-se tão só para aumentar a arrecadação. Que tal abolir o injusto desconto previdenciário de aposentados e pensionistas? Não há razão de ele existir. Particularmente num país de minguados salários e de tantas necessidades.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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