Wado atravessa o Atlântico Negro e a Pimba pede passagem

Neste sábado o alagoano se apresenta em Curitiba. Foto Divulgação

Neste sábado Wado se apresenta em Curitiba, no Era só o que Faltava. A música festiva do terceiro mundo refaz a ponte que liga a África e as Américas. Wado é o Comandante da caravela lançada pela Pimba – o selo-provocação de Leonel Pereda e Ronaldo Bastos. E o Atlântico assim o fez | Essa é a morte da raça | A inevitável hibridez É lindo que assim se faça | Foi fruto do atlântico | Culpa do atlântico Em branco e preto | Negro, pardo, parto | No mar azul Atlântico Negro vai renascer.

Atlântico Negro, o mais novo trabalho do catarinense-alagoano Wado, dá continuidade à sua aproximação com a música da periferia iniciada desde seu primeiro trabalho, “O  Manifesto da Arte Periférica” (2000), e acentuada em seu último disco, “Terceiro Mundo Festivo” (2008). Inspirado no conceito de trocas culturais do sociólogo Paul Gilroy, o álbum traz onze músicas – sendo oito inéditas – e mergulha  no universo histórico, mítico e rítmico do entrelaçamento cultural e musical urdido entre a África e às Américas: um movimento  iniciado  desde os navios negreiros, e  que segue  em curso até hoje,  através de estilos como  o samba, o afoxé, o funk e o reggaeton.

Surpresas boas aguardam os ouvidos curiosos que nesta rota encontrarão sotaques de além-mar, referências literárias e muito da cultura popular. Navegam  pelo Atlântico Negro artistas de  outras  marés  como Curumin (SP), Rômulo Fróes (SP) e o guitarrista, cantor e principal compositor do grupo Mopho, João Paulo (AL).

Manifesto, afeto,  festa,  melancolia, bravura, fragilidade e poesia.  Afoxé, funk, samba. Wado diversifica nos temas, na sonoridade, nas parcerias – com Alvinho Cabral, Beto Brito, Dinho Zampier, Eduardo Bahia e Fernando Coelho –, bem como na escolha do repertório de outros navegantes como Maria do Carmo Barbosa, de “Boa Tarde Povo”, e MC Gil do Andaraí, do “Rap Guerra do Iraque”. Fã assumido do escritor Mia Couto, Wado conseguiu efetivar uma parceria importante, que se torna simbólica em sua carreira de compositor: duas de suas músicas foram feitas com a colaboração do escritor moçambicano que conta histórias de seu povo utilizando palavras híbridas de dialetos tribais e o português (língua oficial de Moçambique). “Estrada” e “Hercílio Luz” foram criadas utilizando trechos dos livros de Mia, que ao ouvir as composições não teve dúvida em assinar embaixo a parceria.

Com produção assinada por Pedro Ivo Euzébio, a realização do disco foi também uma oportunidade de reunir profissionais do eixo  Rio  – São Paulo e Alagoas. Beto Machado, que já trabalhou com grandes nomes da música brasileira, como Jorge Ben, Ultramen e Los Hermanos, mixou cinco músicas do disco. A outra metade ficou a cargo de Kassin – músico e produtor, do trio Kassin+Moreno+Domenico e de muitas viagens mais – e Daniel Carvalho,  um dos grandes engenheiros de som  da atual cena carioca.

Curiosamente, foi a primeira vez que Wado conseguiu levar sua música ao interior de Alagoas, graças ao Projeto Pixinguinha. A Funarte este ano teve novo foco, optando por promover a regionalização do mercado cultural, através da escolha de dois grupos musicais de cada estado, para produzir seus próprios espetáculos e gravarem cada um seu CD.

Apesar de morar em Alagoas, Wado mantém uma agenda constante de shows pelo Brasil: já esteve no Tim Festival, Goiânia Noise, Rec Beat e representou  o Brasil na Popkomm em Berlim e no Ano do Brasil na França, entre muitas outras jornadas. Wado teve também músicas de sua autoria gravadas por Zeca Baleiro, Marcos Valle e Maria Alcina.

Wado agora assina com a Pimba – o novo selo de Leonel Pereda e Ronaldo Bastos – uma parceria para lançamento nacional e internacional do CD Atlântico Negro.

Pimba é o peteleco para fazer a bola rolar. Pimba é humor, galhardia e improviso. É a cara do moleque que acabou de fazer uma travessura; o rato que tirou o queijo da ratoeira; o momento em que o sapo captura um inseto em pleno voo. Pimba é um passe de mágica – e pode ser que o que saia da cartola não seja um coelho, e sim um elefante-zebra, um pavão-macaco, uma menina com um porrete ou apenas um radinho de pilha. É o anão de jardim que sai da imobilidade a que foi condenado pela argila, para mandar tudo pr’aquele lugar… Beber na fonte para fazer.

Serviço: Nome do evento: Wado. Breve descrição: O músico alagoano Wado apresenta músicas de seu último albúm, Atlântico Negro. Gênero – Música Brasileira Contemporânea. Data – 03-09-2011. Horário – 00h. Local com endereço – Era Só o que Faltava – Av República Argentina,1334. Valor do ingresso/mensalidade/inscrição- 15

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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