Zé da Silva

Minha cueca amarela sumiu. Acho que um dos encostos gostou e levou. Um dia pensei nisso por uns trinta segundos. Mais seria dar poder à coisa. Ele deve estar desfilando por aí, querendo encostar em outro, porque sabe que aqui não, violão.

Sou sambado na vida e durante o tempo em que achei que era povoado por este tipo – que é de gente viva e crava os olhos na nossa nuca, aprendi que, se você deixar, ah!, vai para o buraco enquanto eles fazem festa. Não vesti uma camisa listrada, mas tomei muita parati e quase comi farinha misturada com pó de vidro e sal de fruta para ver se me livrava.

O peso só aumentou. Mas isso começou a mudar no dia que ouvi junco verde dizer que flutuaria sobre os espinhos. Foi o que aconteceu! Mas não fiquei esperando, fiz o que tinha de fazer. A cueca nunca apareceu. Ouço gente falar dos próprios encostos e conto mais ou menos essa história, mesmo porque, acho, a gente é o principal encosto da gente mesmo – e claro que tem muito espírito de porco querendo se encostar. Por quê? Ora, a vidinha que levam é uma merda e não podem ver quem tem luz própria.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Roberto José da Silva - Blog do Zé Beto e marcada com a tag , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.