My name is Bradneck — John Bradneck

De repente, a árvore genealógica da família recebe uma lufada de vento contrária. Curva-se e os frutos maduros balançam. Primeiro, o vento vinha da Alemanha — sujeito a rajadas mais ou menos fortes, dependendo das conjunturas políticas e sociais de épocas passadas. Aí, o vento vira e vem da Irlanda! Traz litros e litros de cerveja e aquela literatura infernal de Joyce, Beckett e companhia. Aliás, me respeite — posso ser meio parente de um desses grandes escritores, tá?

Você não está entendendo nada? Nem eu. Acontece que minha família, por parte dos Werneck, agora tem um livrão-documento de 2010. São mais de 600 páginas ressuscitando a genealogia dos Werneck no Brasil.

Meu nome é Rui Werneck de Capistrano, como poucos sabem. Nasci e cresci em Curitiba. Já havia pesquisado um pouco a origem dos sobrenomes e só o Werneck tem destaque. O Capistrano é misterioso.

Pois bem, agora com o livrão, pensei que ia desvendar alguma coisa. Ele é bem intencionado, bem documentado, bem feito. Vai ao mais longínquo patriarca. Aí começa o vento contrário. Minha mãe era descendente de alemães: Müller (pronuncia-se Mêla). Meu pai — Werneck de Capistrano — casou com minha mãe e nós, os seis filhos, sempre pensávamos que o Werneck também era alemão. Isso porque avós maternos, tios e tias maternos falavam alemão. Os paternos não, mas não estavam próximos.

Logo nas primeiras páginas do livro, o autor Nelson V. Pamplona, casado com uma Werneck, desmente a origem alemã dos Werneck do Brasil. Tem lá na Alemanha, mas é outra vertente.

Documentos provam que John Bradneck, originário da Irlanda (ou Inglaterra), foi o fundador da nossa família no Brasil. O nome foi mudando de Bradneck para Berneque e finalmente Werneck. Coisa de algumas gerações, enrolação de língua e tramóias do patriarca. Aí, o autor vai da raiz aos mais recentes frutos. Só que, acredite, quando chega no último capítulo, intitulado Os Werneck da Aquidaban de Curitiba, quando eu ia entrar em cena — cai o pano! Ou, o fruto!

Explico rapidinho. Aquidaban foi uma sociedade fundada pelos Werneck. Funcionava legal com torneios de xadrez, saraus, bailes, festas em geral. Ficava no casarão ali da Rua Aquidaban, hoje Emiliano Perneta, esquina da Visconde do Rio Branco — em Curitiba.

Meu bisavô era engenheiro telegrafista e veio de Florianópolis pra Morretes durante a construção da ferrovia Curitiba – Litoral (RVPSC – Rede de Viação Paraná Santa Catarina). Meu pai dizia pra nós que era Restaurante Vendeu Pastel Sem Carne. Ou, Rita Viu Paulo Sem Calça. Em Morretes nasceu meu avô, que depois veio pra Curitiba.

Até aqui, tudo bem. Só que quando o autor cita meu avô, não colocou o nome do meu pai — Arion —como filho! Meu avô casou duas vezes e teve oito filhos. Meu pai não aparece. A partir daí, claro, eu não apareço, nem meus irmãos, nem nossos filhos! Netos, muito menos. É de endoidar! Um livro grande (veja a foto), com milhares de Werneck. Acaba bem na hora do melhor — pra mim!

Imagino que o autor teve um trabalhão dos diabos pra pesquisar, juntar documentos, escrever, revisar — e fazer a edição por conta própria! Mas… Você ficaria contente se isso acontecesse com sua árvore genealógica? Podada em plena primavera? E a gente morando tão pertinho — o autor em Santa Catarina e nós em Curitiba!

Claro que nunca vai sair uma segunda edição. Nem eu vou escrever o que falta. Acho que é mais fácil mudar meu nome pra Bradneck — John Bradneck. E começar tudo de novo. Lá na Irlanda.

*Rui Werneck de Capistrano John Bradneck

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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