O general Etchegoyen e a covardia

Militar da reserva emergiu das sombras para afrontar Lula

Setores das Forças Armadas, certamente frustrados com o fracasso do atentado no domingo infame, encontraram um porta-voz para mandar recados em tom de ameaça ao presidente Lula. Trata-se do general da reserva Sérgio Etchegoyen, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do golpista Michel Temer.

Etchegoyen emergiu das sombras, onde atua com desenvoltura, e reapareceu num programa de entrevistas para afrontar Lula. Disse que o presidente praticou “ato de profunda covardia” ao manifestar a desconfiança de que militares tenham sido coniventes com a invasão e depredação do Palácio do Planalto.

As investigações mostram que Lula está coberto de razão em suas suspeitas. A estrutura militar da Presidência era um valhacouto de contaminação golpista que só agora começa a ser depurado.

Volto ao general tagarela. Em 2014, ainda militar da ativa, também usou a palavra “covardia” para referir-se aos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Ele não gostou de ver os nomes dos generais Leo e Ciro Etchegoyen, respectivamente seu pai e seu tio, na lista de autores de graves violações de direitos humanos durante a ditadura.

O general tem um entendimento muito peculiar do que seja covardia. Difícil saber se por má-fé ou por ignorância. Como se sabe, covardia é usar de violência e brutalidade contra alguém indefeso, dominado, mais fraco. Exatamente como fizeram agentes da ditadura com prisioneiros sob custódia do Estado. A ditadura perseguiu, torturou, estuprou, assassinou e desapareceu com os corpos de opositores. Mais de 200 não foram encontrados até hoje.

Covardia, senhor Etchegoyen, foi o que aconteceu na Casa da Morte, em Petrópolis. Covardia, senhor Etchegoyen, foi deixar faltar oxigênio nas enfermarias de Manaus e estimular a imunidade de rebanho durante a pandemia. Covardia é valer-se dos instrumentos da democracia para apregoar o golpe contra a República. Covardes!

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Não haverá mais polacos?

Foto de João Urban

Tenho para mim, que é sempre tempo de homenagear os polacos, esta gente que conosco construiu boa parte da mais recente história paranaense. Amo os polacos e tenho por eles uma empatia que, como dizia minha saudosa Helena Kolody (uma “quase-polaca”…), se perde “na trevosa noite dos tempos”. Foi com eles, os polacos, que a família, recém-chegada do Norte pioneiro, migrantes de cara encardida e modos bugres, aprendemos a fazer as compotas de pepino, além do chucrute em folhas de parreira que embora não seja uma iguaria tipicamente polaca, eles dominavam à perfeição.

Nas discórdias, comuns nas vilas proletárias de então, nos xingavam – “negrada!”; nós, de nosso lado, cuspíamos o insulto escabroso – “polacada azeda!” No fundo, e na superfície, em tudo éramos iguais. E a nostalgia bate espessa a cada vez que, por um motivo ou outro – agora, foi uma comovente exposição no Museu Paranaense, chamada Raízes do Paraná -, me vejo às voltas com eles, os polacos. Misturou-se nossa vida de tal modo à deles que, por vezes, me sinto um polaco inteiro…

Por certo não é índio, nem bugre, o sentimento em que me flagro, com freqüência, a chorar pitangas e amoras. Também me vem deles, dos polacos, e sinto isso quase como uma matéria táctil, o incurável lirismo que já me integrou o perfil e o jeito – irreversivelmente. Não para menos, leitor: ao tempo em que, crianças, ainda existiam os filhos de legítimos polacos vindos da velha Polska, me criei com eles, rolando nas brigas infames no chão de terra da Visconde de Nácar; ao lado deles estudei nas escolas públicas; com eles, o jogo do bafo das balas Zéquinha.

Além, claro, do privilégio de conviver, da adolescência até o último dia de sua breve vida, com, dos polacos, o mais insigne – o poeta Paulo Leminski. A quem eu chamava de “Pablo”, como a seu irmão, outro polaco inolvidável, que, sendo Pedro, passou a se chamar “Piotr”, entre os íntimos. Com ambos revirei as noites cachorras da Curitiba daquele tempo e pusemos, mais de uma vez, nossa vida ao avesso, não é mesmo Jaime Lechinski? Ou me desminta aí poeta Thadeu Wojciechowski! E juntos compusemos sonetos, canções, haicais. E nos passeios e escaladas ao Marumbi, melhor do que nós ou a memória de nós, que o digam mochilas, violões, estrelas…

Olho lá longe, e em meio à lembrança de meus mortos queridos, o que vejo lá é mais que um quadro de Andersen invadido pelo entardecer de Curitiba. Na memória antiga, vislumbro, como a uma fotografia, a velha “ômama”, lenço na cabeça, sentadinha numa solitária cadeira posta no quintal, o avental sobreposto ao comprido vestido até os pés – estes, por sua vez, enfiados nas meias e nos chinelos. À volta dela, muito eretos, rindo, sujinhos, as franjas cor de milho, quatro ou cinco polaquinhos – endiabrados. Olhar lá atrás, assim, é quase uma lágrima. (Ao Thadeu Wojciechowski)

Texto publicado como posfácio do livro “A Banda Polaca”, de Dante Mendonça

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© Jan Saudek

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A crer em Torres e Valdemar, Brasília teve “chuva” de minutas golpistas

Anderson Torres, o ex-secretário de Segurança do Distrito Federal preso sob acusação de ter se omitido diante dos atos extremistas de 8 de janeiro, irá falar à polícia na próxima segunda-feira. Sobre o principal assunto do depoimento, a origem da “minuta do golpe” encontrada em sua casa, o ex-secretário — como antecipa Juliana Dal Piva em sua coluna de hoje— dirá aos investigadores que não se recorda de como o papel foi parar em seu armário, já que a todo momento chegavam a ele documentos de teor semelhante.

Em entrevista dada hoje à rádio CBN, Valdemar Costa Neto declarou coisa parecida: “Vários documentos [como o encontrado na casa de Torres] circularam”, disse o presidente do PL. “Vinha proposta de todo lugar (…) Tinha gente que preparava isso e mandava pra gente, advogado, advogada”. Perguntado se a partir dessas “propostas”, Valdemar, a exemplo de Torres, também teria formulado uma minuta golpista que mantinha dentro de casa, o dirigente do partido de Jair Bolsonaro negou a hipótese singelamente: “Não, eu tinha o cuidado de por tudo no moedor”

A crer no que dizem Torres e Valdemar, a capital federal do país foi acometida nos últimos meses por uma chuva de minutas golpistas para as quais, surpreendentemente, ninguém dava bola — a reação dos destinatários variava apenas entre guardar as propostas inconstitucionais no armário ou livrar-se delas lançando-as no triturador de papeis. Evidentemente, a fala de Valdemar não passou de uma tentativa de minimizar as acusações que pesam sobre o ex-secretário e não o coloca na mesma situação que ele. No caso de Torres, especialistas já arriscam dizer que a prevaricação é o crime menos grave ao qual terá de responder.

Alguns dos outros são tentativa de golpe de estado, abolição violenta do estado democrático de direito e associação criminosa. Mas, para além dos desdobramentos políticos e criminais que a investigação sobre Torres possa produzir — incluindo a entrada do ex-presidente Jair Bolsonaro no inquérito— a performance do ex-secretário nos atos extremistas de 8 de janeiro já transformou Brasília.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, planeja entregar na próxima segunda-feira ao presidente Lula um pacote de sugestões de medidas para “federalizar” a segurança da capital federal. A ideia do pacote é evitar que, numa situação de emergência, Brasília — e principalmente a sua área central, onde ficam o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal — fique “refém” dos comandos de um governo local. Entre as propostas em estudo que o ministro planeja enviar ao presidente está a de tornar obrigatória a aprovação, pelo Senado, do nome do indicado, pelo governo do DF, para o cargo de secretário de Segurança.

Significa que, se o governo não quer correr o risco de enfrentar um novo 8 de janeiro, menos ainda quer se arriscar a ter na linha de frente outro Anderson Torres. Dino afirma que nenhuma das sugestões do pacote, que devem incluir ainda a formação de uma guarda nacional permanente para proteger a capital, irá ferir a autonomia da administração do DF. Bom que seja assim — basta de coisas estranhas descendo do céu de Brasília

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Inflação de estragos, deflação de terroristas

Você conhece a inflação, claro: é a realidade do Brasil, o aumento dos preços e do custo de vida, o dinheiro fica mais curto a cada dia.

Existe o oposto, a deflação, que você não conhece e ninguém explica. É a baixa, quando a atividade econômica se retrai ou quando o governo interfere para conter o aumento dos preços e do custo de vida, como Bolsonaro fez ao demitir meia dúzia de presidentes de Petrobras para baixar o preço dos combustíveis.

Não entendo desses artigos, a não ser como vítima incauta e copiador do Google. Assim pela rama penso que descobri a diferença. Por exemplo, quando o governo aumenta o valor dos prejuízos do terrorismo em Brasília, é inflação. Quando o governo reduz todos os dias o número de terroristas a serem processados, é deflação.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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Elas

Scarlet Rivera, Donna Shea, violinista americana. Ela é mais conhecida por seu trabalho com Bob Dylan, em particular em seu álbum de 1976 Desire e como parte do Rolling Thunder Revue. © Reuters

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Dez anos do KeyNews

Da capo: origens O Key San criou o blog para mim em fevereiro de 2013, mas só comecei a fazer postagens intensivamente a partir de março. Inicialmente a ideia para o nome era KANEWS, isto é, notícias do Canil do Key. Mas este nome já estava ocupado, e a ideia ficou reduzida para Keynews, notícias do Key. Primeira condição: nada de interação, tem muita gente circulando nesses meios internéticos e que comenta tudo o que lê – eu investiria muito tempo em responder às observações.

Além do mais, a intenção era apenas postar coisas e recomendar aos conhecidos durante conversas:    “- tá lá no blog, se te interessar”. Essa linha foi mantida ao longo desses dez anos: as postagens são basicamente minhas pesquisas para aulas sobre Arquitetura no Brasil e no Paraná – são as mais procuradas, segundo informações do WordPress. Mas também reflexões inevitáveis para um leitor costumaz de gibi e apreciador de velhas revistas. Uns poucos cartuns fotográficos “que ninguém quer publicar”, crônicas publicadas em jornais que não chegam a Curitiba y otras cositas mas. Claro, indignações relacionadas ao patrimônio cultural e à cidade: desde a administração Ney Braga, nos anos cinquenta, nada do que acontece em Curitiba me passa despercebido. Reconheço que tivemos alguns bons prefeitos – ainda gosto da cidade, apesar de tudo o que se diz e faz contra ela, e não vejo razão alguma para deixar de protestar, como forma pessoal de participação. Corte de árvores – principalmente araucárias -, “verticalização e adensamento”, carrismo, maloqueirismo, vandalismo, obrigatoriedade de celular, estão entre meus alvos principais. EVIDENTE que não tenho a menor consideração pelo que é politicamente correto, invenção americanosa para entortar e regredir os rumos da civilização, levando para os tribunais o que é atribuição das salas de aula.

Explicação

TODOS esses troços digitais – computador, celular – são uma chatice. Não sei se cheguei ao planeta muito tarde – e já não tenho paciência para transformações obrigatórias – ou muito cedo, antes dessa parafernália ser coisa que se possa assimilar sem estourar os bagos.

Reconheço – como se quem produz essas coisas precisasse disso – que, em alguns aspectos, o digital foi fantástico – é só pensar, por exemplo, na fotografia: o percurso antigo (desde ter uma câmera cara e filmes, o moroso processamento até a imagem impressa) e o atual, no qual até mesmo se prescinde – aliás imprudentemente – do impresso.Da mesma forma, um texto – ainda faço os meus manuscritamente, para não me irritar com o Word, único programa que conheço razoavelmente – da machina dactylographica até o impresso num jornal, revista ou livro, não há comparação possível. Quem já viu um incunábulo ou teve o privilégio de visitar a Biblioteca Laurenziana, pode avaliar ao quanto de bom e de ruim chegamos.

Isso é para explicar porque este blog tem um visual tão simples – podem chamar de simplório, se assim lhes apraz – considerados os recursos disponíveis. Falta paciência para digerir os atalhos existentes, mesmo com os tutoriais – chatos, pernósticos e longuíssimos, feitos para piazada que, como bem disse o Ziraldo, em vez de chocalho, ganhou mouse no berço.

Desempenho

Apesar dos esforços e minuciosas estatísticas do WordPress, não tenho muita paciência para me preocupar com frequências e falta delas no blog. Mas sei que oscilam – não entendo nem me incomodo muito com elas – entre um mínimo de 10 e 30 diárias, com exceções que podem chegar ao absurdo, como quando defendi a Ponte Preta e, em três dias, tive VINTE MIL visualizações. ÛRRA! Mas também não é raro chegar perto das 100 diárias.

2014|21.581 – 2015|19.418 – 2016|17.320 – 2017|35.586 – 2018|16.698 – 2019|10.939 – 2020| 10.233 –  2012|7.253|- 2022 – 6.114

Mais importante que esses números, foi a qualidade dos contatos que o blog me proporcionou, gente que usou minhas postagens em trabalhos, acadêmicos ou não, e me procurou para aprofundar no assunto. Ou brasileiros e não – brasileiros que tomaram conhecimento de itens da cultura paranaense/brasileira por esse caminho. Alguns amigos deram origem a postagens, e algumas postagens deram origem a amizades… As 355 postagens feitas até agora, me são bastante satisfatórias.

Colegas

Não tenho paciência para navegações internéticas, a não ser para procurar músicas. Mas reconheço que tem uns sites que não apenas frequento como também recomendo:

htpps://jhbdesign.com.br

https://cartunistasolda.com.br

https://palavradobo.blogspot.com

https://bit.ly/cartoons_strips_illustrations_etc

https://circulandoporcuritiba.blogspot.com

Por que não falo de política

Minha avó era mais proverbial que a Tia Zulmira do Stanislaw Ponte Preta: tinha tantos ditos que desconfiávamos que havia uma produção própria. Mas o importante é que sempre apareciam oportunamente e sempre “matavam a cobra”, encerrando o assunto.

(Confira nos arquivos de abril de 2022)

E um dos provérbios que mais me aproveitam, era enunciado com nojo: “a única coisa que se ganha ao pisar na merda, é o sapato sujo”. Preciso como um tiro de fuzil com mira telescópica…

Selfie: eu e a musa

INTER ARMA SILENT MUSAE   (apud dicionário do Paulo Rónai) Por mim, esse antigo aforismo greco-romano (civilizações guerreiras, portanto) tinha que ser invertido:

NA PRESENÇA DAS MUSAS, SILENCIEM AS ARMAS!

https://keyimaguirejunior.wordpress.com

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Deprimido na Flórida, Bolsonaro sente falta de padarias brasileiras

Jair Bolsonaro segue na Florida, o estado cujo símbolo é a laranja. Segundo ele, é uma homenagem a todos os fiéis funcionários-fantasmas que ajudaram, doando uma parte de seu salário, que a família conquistasse tantas casas próprias.

Só que Jair está deprimido. Já é o quarto golpe que ele tenta e nem com a ajuda do Viagra e das bombas penianas do Exército ele alcança o êxtase.

Já bateu nele a saudade das padarias brasileiras, onde podia gastar quase 10 mil reais para comprar um pãozinho. Tentou matar a saudade do Brasil comprando 8,9 mil reais de sorvete mas por causa do dólar só deu pra uma casquinha.

Segundo as padarias brasileiras, o sentimento é recíproco: elas também sentem muita falta dele. Seu único consolo é que Anderson Torres mandou uma mensagem dizendo que está esquentando um lugar para ele na Papuda.

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Modos relativos do comportamento humano

1. Um homem mergulha de cabeça num rio sem saber a profundidade. Bate a cabeça no fundo e morre. Cinco anos depois, sua alma, vagando por aí, não mergulha nem em copo d’água.

2. Um menino de onze anos, em férias na fazenda do avô, cai do cavalo e fica com defeito na perna. Dez anos depois ele não é aceito nas corridas Jockey Club. Porém, por seu bom pedigree, vai para a reprodução e se sai muito bem.

3. A mãe força sua filha de dez anos a tocar piano, aprender balé, comer jiló, fazer inglês, freqüentar academia de ginástica, usar aparelho nos dentes, aprender a nadar, ir às aulas de pintura, estudar boas maneiras e tirar dez em todas as matérias. Com dezoito anos, a moça sai de casa e vai se virar como dançarina em casas noturnas.

4. Um homem vai a uma loja comprar um par de sapatos novos. A vendedora, cheia de sorrisos, diz que só tem dois números abaixo do par escolhido. Sempre sorrindo, sugere que o homem experimente. Aquela forma é mais larga e o número 38 serve em quem calça até 43. O homem vai preso três dias depois, sob acusação de esganar o filho que pediu um par de patins no Natal.

5. Um homem compra um carro 0 km e ele apresenta defeito. Leva na concessionária e nada é resolvido. Quatro meses depois, ele compra uma harpa e vai cantar nos shoppings durante as festas de fim de ano.

6. Uma mulher é abandonada pelo marido. Ele não deixa nem bilhete de despedida. Cheia de tristeza, com o coração partido e dívidas enormes, ela resolve se recolher e fabricar bombons de chocolate recheados com morangos. Fica muito rica e aparece na reportagem de capa da revista Unhas&Dentes dizendo que é feliz com seu novo amor: uma bombona de 20 litros de água mineral.

*Rui Werneck de Capistrano, insisto, é autor do famoso romancélere Nem bobo nem nada, com 150 capítulos.

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Entendeapiadaedevolveumamelhoraindassexual

Reforço a importância de novos termos sexuais em português

Acho que o Brasil não precisa desses nomes em inglês que dão ares de internacionalidade e modernidade a pilantragens sexuais que já estão no mercado desde que Adão culpou Eva por ter perdido a cabeça. Daqui a pouco vão inventar que o primeiro homem criado por Deus era shedrivesmecrazyssexual.

Ghosting, que é quando o parceiro ou a parceira desaparece sem fazer você se arrumar toda para levar um pé na bunda comendo empanadas caríssimas, e stashing, que é quando você é tudo na vida da pessoa desde que esteja sempre pelada e não queira conhecer os amigos mais íntimos e os parentes mais próximos do consorte, são expressões que farão sujeitos péssimos acreditarem que têm grife e passaporte internacional. Deveríamos chamá-los do que são, e em bom português: “covardesgraçados” e “quando tô de quatro é fácil, quero ver me amar na festinha infantil da sua sobrinha”.

Primeiro eu achei que estava velha demais para levar a sério os termos demissexual e sapiossexual. A saber, pessoas que só transam a partir de um envolvimento emocional ou psicológico e que precisam que o parceiro ou a parceira seja minimamente inteligente. Bem, eu preciso dessas coisas todas desde que comecei minha luta para convencer rapazes de que valho a pena –apesar de a minha mãe ter me dito, no meu aniversário de 34 anos, que para o tanto que sou difícil eu teria que ser bem mais gostosa.

Mas a real é que, embora eu seja uma late majority (só entro na moda depois que fica muito chato não entrar e não saber o que é late majority), já entendi que o Brasil adora e precisa desses termos, e as revistas e redes sociais estão amando essa febre de “sou alguma coisa óbvia sexual” para explicar gostos meio óbvios sexuais. Então gostaria de reforçar a importância de criá-los em português, pois estamos justamente no Instagram escrevendo decolonial e não decoloniality.

Entendeapiadaedevolveumamelhoraindassexual;

Nãotemmaisidadeprafazerviagemsemconfortossexual;

Assisteafilmefrancêssemreclamareaindacomentadepoisssexual;

Nãoalagabanheiropratomarumsimplesbanhinhossexual;

Chupamesmosuadasemnojinhossexual;

Nãoestáeternamenteperdidoprofissionalmentessexual;

Nãoseincomodacomosucessodamulherssexual;

Nãoécasadocomamãeoucomopaioucomaexmulherssexual;

Nãoéinfluencerssexual

Temtesãoemcorpodemulherquetrabalhahorasnocomputadorssexual;

Nãotratacachorrocomofilhossexual;

Nãoassistebigbrotherbrasilssexual;

Nãotemtatuagemdepalhaçossexual;

Nãopintaocabelodeacajussexual;

Nãotemharmonizaçãofacialssexual;

Chorounapossedolulanahoradarampassexual;

Nãoéprogressistazinhofakedepinheirosmaspuxatapetedemulherssexual;

Nãoficaviolentinhocomportasdearmárioquandotáfrustradinhossexual.

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© Jan Saudek

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Sonhos

Tem uma história antiga que se refere a um desses monumentos da humanidade, não lembro se era sobre Matchu Pitchu ou a Esfinge de Gizé; alguma coisa gigantesca e enigmática.  Quando os exploradores europeus chegaram lá, séculos atrás, perguntaram às tribos que moravam perto: “O que é aquilo?”.  Os nativos olharam com uma cara de quem estava vendo a tal coisa pela primeira vez e responderam: “Pois é, que coisa estranha aquilo, o que será?”.  Era um resíduo cultural dos antepassados deles, eles a viam diariamente quando iam levar os camelos para beber água ou coisa parecida, e não tinham parado para imaginar o que era.

Assim somos nós com grande parte das coisas importantes da nossa vida.  Por exemplo, digamos que amanhã desembarque na Terra uma frota de espaçonaves cheias de psicólogos alienígenas que falem português (tá bom, vá lá, que falem inglês, que é mais disseminado).  E que eles nos perguntem: “O que é o sonho?  Lá no nosso planeta, quem dorme apaga.  Aqui, vocês dormem e ficam pensando maluquices, como quem tomou LSD.  Que diabo é isso?”  Não saberíamos responder.  Temos 258 teorias para explicar o sonho, o que equivale a não ter nenhuma.

A teoria mais recente é do dr. Rodolfo Llinás, um neurologista e fisiologista da New York University. Diz ele: “O sonho não é um estado mental paralelo, mas é a consciência propriamente dita, na ausência de estímulos fornecidos pelos sentidos”. Em seu livro “I of the Vortex: from Neurons to Self” (M.I.T., 2001) ele diz que quando as pessoas estão despertas a mente compara automaticamente essas imagens do sonho com o que vê, ouve e sente – os sonhos são corrigidos pelos sentidos.  Ou seja: se entendi bem, a mente está o tempo inteiro processando situações, inventando-as, manipulando imagens, fazendo associações de idéias, mas o que ela faz é constantemente interferido pelos sentidos, pelo fato de que estamos acordados, cercados de outras pessoas que nos dizem coisas, nos mandam fazer isso ou aquilo.  Somos forçados a pensar socialmente, pensar em conjunto, e isto cria um superego de obrigações e compromissos coletivos.

A loucura poderia ser algum desarranjo em que o “input” sensorial deixa de prevalecer sobre o caldeirão borbulhante da mente-em-si. Experiências com LSD seriam um modo artificial de produzir algo semelhante.  Quando dormimos, a mente consegue trabalhar em paz, de acordo com suas próprias regras, sem ter que ficar dialogando com o mundo material.  Já foram feitas experiências em que voluntários num laboratório foram impedidos de dormir.  Depois de 3 ou 4 dias eles começam a sonhar acordados.  O sistema sensorial afrouxa, enfraquece – e a mente crua toma conta.

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Chaney Gunn. © Zishy

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