Abre as asas sobre nós, mas…

Alguns, entre eles pessoas quase bacanas, gente até talentosa e meio de boa vontade, sujeitos relativamente sãos em outros assuntos, expõem com despudor suas justificativas para regimes de força de diversos matizes.

Ao serem questionados, explicam, do alto de suas soberbas, fatalmente começando com a palavra “mas”:  – “lá tem saúde para todos” – “lá não há fome”- “fez a economia crescer”, – “respeitam os mais velhos” – “não há tanta corrupção” – “todo mundo estuda” – “lá a gasolina é quase de graça”. Isso tudo e mais os inúmeros etecéteras que vocês possam imaginar.

Mas (olhe mais um “mas” aí, gente!), gosto de pensar na liberdade como um princípio absoluto, sem mas. Liberdade, uma herança de Deus, ou, para os agnósticos, uma lei da natureza. A falta de liberdade é pior, bem pior, mas muito pior mesmo que qualquer desgraceira humana do passado, do presente ou ainda a inventar.

Por isso, ultimamente, ando inclinado a dispensar aqueles que acreditam saber resolver meus problemas melhor do que eu. A humanidade lutando há milênios por mais liberdade para o povo e menos poder na mão do Estado, mas, por incrível que pareça, tem quem lute para continuar preso.

Mas, como sou tolerante, sugiro, que seja opcional. Quem quiser que se apresente em uma repartição, assine papéis, abdique de seus direitos e deixe que o governo “cuide” da sua vida. Mas, porém, entretanto… do jeito que tem cuidado até hoje.

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Mark Twain e a ironia das descobertas marítimas

Os mares da Terra já eram suficientemente navegados para que Cristóvão Colombo, em 1492, reclamasse o pioneirismo quanto à travessia do Atlântico. Os livros escolares estão cheios de aventuras do intrépido conquistador, atribuindo-lhe, inclusive o injusto título de “poedeira de ovo em pé do ano”. As marolas históricas são tão desencontradas que qualquer cidadão menos avisado embarca numa onda de engulhos e mal-estar. Aceita um Engov? Não, obrigado. Estou só olhando!

Com o vasto e proceloso Atlântico pela frente, Colombo animava a tripulação quanto ao sucesso da empreitada. Porém, depois de quatro dias no mar, a agulha da bússola ficou doida. Colombo acalmou a tripulação dizendo que isso era devido à Estrela Polar. Ele e o mundo desconheciam as variações magnéticas. Inadvertidamente, a frota de três caravelas foi descobrir o Novo Mundo. No dia 12 de outubro de 1492, ele rebatizou de São Salvador uma ilha que os indígenas chamavam de Guanahami. Quando já estava no fim dos seus dias, Colombo ainda acreditava que as ilhas descobertas ficavam na costa oriental da Ásia! Acredita? Não, obrigado. Estou só olhando!

Nem morto Colombo parou de viajar. Morreu em 1506, em Valhadolid, Espanha. Foi sepultado num mosteiro de Sevilha. Quando, 30 anos depois, seus feitos foram reconhecidos, foi trasladado para a República Dominicana. No século XVIII, um descendente dele o levou para Havana. Diz-se que foi novamente levado para Sevilha, mas em 1877 descobriram uma urna sob a Catedral de Santo Domingo com a inscrição C.C.A. Como já imperava a fome por dinheiro, pegaram as cinzas da urna e fizeram dois medalhões para vender em 1973. Não obtiveram preço algum. Compra? Não, obrigado. Estou só olhando!

Sobre se Colombo foi mesmo o primeiro a navegar tão longe no Atlântico, Mark Twain disse: “As investigações de muitos comentadores já tornaram esse tema suficientemente obscuro e é provável que, se prosseguirem, em breve nada saibamos sobre o assunto.” Sabe-se que, um ano depois da morte de Colombo, deram o nome de América ao continente por ele descoberto. Homenagem a Américo Vespúcio, um mercador italiano bem obscuro. Valeu? Não, obrigado. Estou só olhando!

*Rui Werneck de Capistrano é descobridor dos sete bares

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nosocômiosLá, o inferno são sempre os outros. E os outros, acham o contrário, evidentemente.

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Agrippino Grieco – parte I

Agrippino (com dois pês mesmo) Grieco nasceu em Paraíba do Sul (Rio de Janeiro), em 1888 e morreu na capital carioca, em 1973. Funcionário público na Estrada de Ferro Central do Brasil, ficou famoso como poeta, contista e principalmente crítico literário. Deixou a Central do Brasil para ser professor de história da literatura na Faculdade de Letras da antiga Universidade do Brasil. Faturava, ainda, muitos trocados, realizando conferências pagas em todo o país. Naqueles tempos, com o rádio incipiente e sem televisão, inúmeros intelectuais viviam disso e reuniam, principalmente nas pequenas e médias cidades, numerosas plateias. Mas Aggripino notabilizou-se mesmo como crítico literário, o mais importante da história do Brasil, ao lado de Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde).

Caso o autor objeto de suas críticas não servisse para lamber os pés de Machado de Assis ou lustrar os sapatos de Lima Barreto, Grieco era implacável e o escritor apanhava mais do que boneco de Judas na sexta-feira da paixão. Em suas críticas, publicadas sempre aos domingos, n´O Jornal, era mordaz como o Célio Heitor Guimarães, ferino como o Rogério Distéfano e cáustico como o Luiz Antonio Solda. Quando um livro era objeto de sua crítica semanal, o autor se escondia debaixo da cama à espera das chuvas e trovoadas que invariavelmente vinham.

Devotava verdadeiro horror aos parnasianos, brindando o mais famoso deles, o curitibano Emílio de Menezes, com variados impropérios. Certa feita, não contente com o que já havia escrito sobre o mesmo, saiu-se com essa: “Estripando vaidades: Emílio de Menezes num Olimpo de Opereta”.

Outros autores, inferiores ao nosso Emílio, não tinham sorte melhor: “Ele é uma glória literária no Brasil, mas glória no Brasil é ainda a melhor maneira de ser ignorado pelo resto do mundo”, “Panatenia (tatuagem) da imbecilidade”, “Inútil como um tenor resfriado”, “Mais mentiroso que epitáfio de cemitério”, “Era um camelo no Saara das ideias”, “Cobriram-no de adjetivos poéticos, mas ele queria apenas um substantivo prosaico: dinheiro”, “Estava presente em espírito. Ou seja, ausência total”, “Tem um estilo mais engomado que irmã de caridade”, “No dia em que tiver uma ideia, morrerá de apoplexia fulminante”, “Trata-se de um Clóvis Bevilácqua de emergência”, “É um livro raro, mais raro, no entanto, era quem o procurasse”, “A obra é ilustrada, o autor não”, “O livro deveria ser encadernado em pele de jumento, por coerência quanto ao conteúdo”, “Aquele médico deixou de clinicar para escrever um romance. Lucraram os doentes e perdeu a literatura”, “Começou a aprender italiano depois de ter traduzido Dante”.

Grieco não batia apenas em literatos e, volta e meia, se metia na política: “Era um deputado conservador; seu único programa era conservar sua cadeira na Câmara”, “Direita e esquerda são complementares e permanentes. Vitória integral da direita traz congelamento e esclerose. Êxito completo da esquerda traz anarquia e o caos”. “Era um pêndulo, oscilando entre a ignorância e a má fé”, “Insultavam-se mutuamente, e ambos tinham razão”, “Apesar de homem culto, ninguém como ele botou mais solecismos no papel. Era deputado, mas devia ser o taquígrafo da Câmara”.

Até com Ruy Barbosa tinha lá suas diferenças. Reza a lenda urbana que na Conferência de Haia, Ruy, ao dirigir-se à Assembleia das Nações, perguntou em que língua do mundo gostariam que ele discursasse. Foi a glória de Ruy no Brasil, os botocudos de todos os gêneros acreditaram na esparrela. Agrippino Grieco colocou os “pingos nos ís” e explicou aos seus leitores que a referida Assembleia funcionava com dois idiomas oficiais, o francês e o inglês, e que Ruy, que depois da mentira contada acima passou a ser referido pela imprensa e pelo povo como “O Águia de Haia”, apenas havia perguntado em qual dos dois idiomas deveria discursar, recebendo do presidente a resposta de que “em francês ou inglês, o senhor escolhe!”.

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A vida da bailarina

© Alberto Melo Viana

No mundo somos muitas as almas e diversas – diria o nunca assaz louvado Conselheiro Acácio, com suas certezas vulgarmente conclusivas, e melancólicas. Ao embalo dessas fugacidades, fico sabendo que o melhor do acervo fotográfico da para mim imortal amiga e “ballerina” Rita Pavão (1953-2006), está agora sob a guarda oficial do Teatro Guaíra. 

Painéis assinados, entre outros, por Alberto Viana, Júlio Covello, Karin van der Broock, Luciana Petrelli, mágicos e oficiantes do que os jornalistas d’antanho chamavam de “a arte do clic”, foram inteligentemente doados, ao museu de nosso mais importante teatro, por Reginaldo Fernandes, ele próprio um contumaz do ofício. E dos perfis de Rita Pavão.

Rita era singular. Nosso derradeiro encontro foi no centro nervoso da city, às três da tarde. Me agarrou a pele do braço com força, numa urgência carente e aturdida, mais que o burburinho das três da tarde no centro da cidade. Contudo, leitor e leitoras, não desviemos: excitação, sim, mas criativa, cheia de sonhos, planos, delírios. Queria dançar o mundo a bailarina Rita Pavão.

Pedi a ela menos atropelo e ela me respondeu então com novas urgências, desta feita, pessoais. Nós nos amávamos de um modo esquivo e apaixonado. Fez, em 92, de meu livro de estréia, Bolero’s Bar, um bailado cheio de graça e liturgia pagã. Pôs no palco, do artista quando jovem, este vosso escriba inteiro: dos vômitos públicos, que lavaram a Cruz Machado, ao amor clandestino por entre a neblina fria; da solidão do pardal molhado de domingo ao cão íntimo que vos destroça a segunda-feira em dez.

Bailaram, no Sesc da Esquina, Rita e suas ninfas, o texto em off; a música, puro cristal. Na platéia, inflei, no escuro. Bebíamos muito um tempo; bebíamos pesado. Era o jeito que a nossa mocidade mais moça encontrara para não sucumbir ao alagadiço da Curitiba congelada no tempo, ainda cartorial, ainda ameaçadora. Rita Pavão, o lábio vermelho tinto, em cima do salto, reinventava, por exemplo, numa surpreendente saia godê, em tecnicolor reinventava pela cidade o cinema americano. Rita, eu sinto muita saudade de você, desde que você se atrapalhou com a janela do edifício e apagou, de puro pânico, o coração. Que, a rigor, não era seu, mas principalmente nosso, feito um quasar – dançarino; e barroco. O anel que tu me destes era vidro e se quebrou… Você quis rasgar o peito à unha, Rita, quando imaginou a fera maior que você. Talvez não fosse.

É por isso, por seus medos – que continuam sendo os de todos nós – que eu sinto muita saudade de você. Acho que não precisava ser assim nem desse jeito. Você errou de estratégia; e de estação. E virou fotografia.

21|06|2009

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Requiescat in pace

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Cultura híbrida: cultura viva

O problema da apropriação cultural é justamente o conceito

Semana passada surgiu mais uma polêmica nas redes sociais: usar o boné do MST, mas não fazer parte do movimento, é apropriação cultural, logo, esvazia o sentido da luta do MST. A apropriação cultural seria um problema porque não haveria consciência política quando um grupo dominante usa símbolos de um grupo dominado: o uso é desinteressado, apenas estético, mera moda.

Ora, mas a política não é o centro gravitacional da vida da maioria das pessoas. Ainda bem. Caso contrário, seria uma sociedade paranoica. Imagine pensar em navios negreiros sempre que comemos feijoada ou ouvimos Cartola. Exigir que a política perpasse todas as práticas do dia a dia é polícia do pensamento, moralização punitiva do cotidiano, ou seja, um puritanismo laico.

Outro problema é ignorar como a difusão proporcionada pela indústria cultural dá visibilidade a produtos simbólicos de grupos sociais marginalizados e, assim, pode ser usada para valorizá-los. Do jazz ao hip hop, do samba ao funk carioca, o que vimos ao longo da história foi o aumento do consumo desses estilos musicais seguir pari passu à diminuição do preconceito. Claro que ainda há preconceito, mas é um fato histórico que o samba era mal visto nos anos 30 e, hoje, é enaltecido.

Por fim, alguns fundamentos dessa noção de apropriação cultural vêm de teorias europeias ultrapassadas (como as da Escola de Frankfurt), de uma formação cultural bastante diferente da nossa, na qual as delimitações entre erudito e popular, nacional e estrangeiro, são bem mais rígidas. Seria melhor olharmos para novos aportes teóricos de pesquisadores latino-americanos.

Ao analisar diversos casos de hibridismos culturais na América Latina, o antropólogo argentino Néstor García Canclini conclui: “O artesanato migra do campo para a cidade; os filmes e canções que narram acontecimentos de um povo são intercambiados com outros. Assim, as culturas perdem a relação exclusiva com seu território, mas ganham em comunicação e conhecimento”.

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O mundo como vontade, representação e espanto

A edição é de 1960 — achei num sebo. O livro é O pensamento vivo de Schopenhauer, com introdução de Thomas Mann. Calma, não vou tagarelar sobre a obra máxima do filósofo. Vou falar dos leitores primeiros que brindam os seguintes com riscos, estrelinhas, interrogações, exclamações, frases sublinhadas e outros rabiscos.

Rabiscar um livro, pra quê? Mostrar muque? Concordar com o autor? Ombrear com o autor? Desafiar o autor? Imagino que, se você tem uma mulher e gosta dela, deveria pegar uma caneta e assinalar as partes que mais gosta! Ah, gosto do cotovelo — sublinho! Ah, a patela é ótima! Três exclamações! E vai por aí.

Neste caso, o livro mostra que passou por mais de um leitor, pois são várias cores de caneta. Caneta, ainda por cima! Por que não lápis, pra ser fácil de apagar? O que mais me chamou a atenção é que a frase sublinhada com mais força não é do Schopenhauer. Ele extraiu de uma carta de um tal Howitt publicada num jornal em 1855. Pra falar dos conflitos entre seres vivos, a carta cita o caso da formiga-buldogue — da Austrália. Se uma viva é cortada em duas, a metade anterior pega a própria cauda com os ferrões e a cauda se defende com o aguilhão. Agarram-se com toda força e o combate chega a durar meia hora.

O mais engraçado é que outros autores de livros sobre os nossos eternos conflitos também já citaram esse caso e dizem que tiraram do livro O mundo como vontade e representação, do Schopenhauer.

Outra história incrível é o dos Ichneumonidas, que preferem ficar no anonimato porque a mãe deles põe ovos dentro das larvas de outros insetos e seus filhotes, quando eclodem, comem as lavras vivas.  Rabiscar um livro seria pôr ovos próprios no corpo dele Tudo em nome da sobrevivência.

Daniel Pennac, em Como um romance, traça os Direitos Imprescritíveis do Leitor:
1.  O direito de não ler
2.  O direito de pular páginas
3.  O direito de não terminar um livro
4.  O direito de reler
5.  O direito de ler qualquer coisa
6.  O direito ao bovarismo
7.  O direito de ler em qualquer lugar
8.  O direito de ler uma frase aqui e outra ali
9.  O direito de ler em voz alta
10.  O direito de calar

Eu aprovo todos. Por sorte não tem o direito de riscar o livro pra fazer muque. Que acho uma bobeira sem tamanho.

*Rui Werneck de Capistrano é autor de Nem bobo nem nada, romancélere de 150 capítulos

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Janelas e fugas

Venho, há tempos, formatando um conceito e um paralelo mais elaborados dessa associação. Janelas e fugas têm a ver com projeções, com anseios, distrações; Têm a ver com viagens e com as estações e suas escolhas: de onde partir? Onde aportar?

De um lado, o presente confunde-se e carrega seu passado. Do outro, emerge do enquadramento da paisagem o vislumbre de um futuro alcançável pelos passos e sinalizações que se apresentam e que presenteiam pela soma evolutiva galgada até ali.

Janelas inspiram e arrancam suspiros entranhados na alma da gente; Discretas ou indiscretas, são humanamente sinceras em seus murmurinhos, lamentos e cochichos. Também assoviam canções, que não têm letra, nem sempre fazem sentido, mas que carregam o vento dos ares de uma familiaridade incompreendida e inesquecível. Porque é cercada de mistérios e de oportunidades para a mente vasculhar, tecer descobertas ou alçar voos criativos, com coração acelerado e convidativo. Janelas transportam e libertam emoções aprisionadas por receios, incertezas, inseguranças e cômodas inconsciências.

A paisagem que corre veloz do lado de fora sempre me convida a brincar de se perguntar: se eu parasse o veículo neste ponto aleatório da estrada, que cabe na ponta e na distância do dedo, e me embrenhasse na paisagem retratada neste restrito instante, que destinos se descortinariam de tal impulso arbitrário? Quanta vida e informações se agregariam, quantas apropriações e pertencimentos derivariam do que parece ser um gesto impensado, tolo, inconsequente ou até mesmo descabido?

Janelas escondem e revelam uma vida que, lá fora, passa de bicicleta, em carros de bebês, carrinhos de catar papel ou conduzindo animais de estimação. Ela só passa, isolada ou repartida, ao tempo e à percepção dos olhares curiosos e encantados que a observam. Simplesmente passa. E as janelas captam, congelam, armazenam com suavidade esses registros.

Se fechar meus olhos, posso imaginar que, depois da moldura da janela do Casarão, o passado ainda está vivo e que, à surdina, rende homenagens a esse presente-futuro que o vinga e lhe cura algumas feridas. Outras permanecem e repartem missões e responsabilidades. Tudo se resume em ser semente em um solo fértil de resgates, aprendizados e de evolução.

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#ForaBozo!

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Flagrantes da vida real

RádioCaos: Samuel Ferrari Lago e Rodrigo Barros del Rei: se não for divertido não tem graça. © Maringas Maciel

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Padrelladas

Diário da gripezinha

Um cheiro de pterodátilos invade a casa. Preciso saber onde esses bichinhos se escondem. Se me distraio, mordem a mobília, meus tapetes, meus ais. Pela manhã fingem que não foram eles, mas o pinheiro do Bakun não ia tombar por si. Caminho pela sala cheia de cisco, da batalha travada contra essas imensas aves. Seriam, talvez, corujas, mas piavam feito pterodátilos e para mim eram pteros, talvez não necessariamente dátilos, e faziam algazarra de alegrias, como se a batalha estivesse ganha.

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Filmes estalando de novos

Mesmo produzidos há décadas, eles têm uma gramática básica que nos faz vê-los sem estranhamento

“O Poderoso Chefão”, filme de 1972 de Francis Ford Coppola, fez 50 anos. Cinquentinha! É incrível, e mais ainda porque, visto hoje —e pela primeira vez para muitos—, seu impacto, ritmo e gramática parecem não trair esse meio século. Em contraste, nós que o vimos no lançamento sabemos como era, em 1972, assistir a filmes de 50 anos antes, de 1922. Por mais fabulosos, e mesmo que de Murnau, Abel Gance ou Erich von Stroheim, só tinham direito à telinha de 16 mm dos cineclubes ou à sessão de meia-noite num cinema de arte. Eram quase uma expedição à pré-história.

Os clássicos dos anos 30, vistos hoje, também costumam acusar idade. Os 30 foram uma década instável para o cinema, de muitas adaptações técnicas —ao som, ao Technicolor de três cores, à montagem mais dinâmica. Mas, dos anos 40 para cá, os filmes dominaram uma sintaxe básica que faz com que, exceto pelos cigarros e chapéus, possamos vê-los sem estranhamento.

De 1942, por exemplo, são “Casablanca”, de Michael Curtiz, “Contrastes Humanos”, o maior filme de Preston Sturges, e “O Fogo Sagrado”, de George Cukor. De 1952, “Cantando na Chuva”, de Gene Kelly e Stanley Donen, “Assim Estava Escrito”, de Vincente Minnelli, “Matar ou Morrer”, de Fred Zinnemann, “Scaramouche”, de George Sidney, “Desejos Proibidos”, de Max Ophuls.

De 1962, “O Milagre de Ana Sullivan”, de Arthur Penn, “Sob o Domínio do Mal”, de John Frankenheimer, “Lolita”, de Stanley Kubrick, “Lawrence da Arábia”, de David Lean, “Aquele que Sabe Viver”, de Dino Risi, “Boccaccio ’70”, de Fellini, Visconti e De Sica.

E 1972 não se limita a “O Poderoso Chefão”. Muitos filmes daquele ano continuam estalando de novos até hoje: “Cabaré”, de Bob Fosse, “Gritos e Sussurros”, de Ingmar Bergman, “Tudo que Você Sempre Quis Saber sobre Sexo…”, de Woody Allen, “Estado de Sítio”, de Costa-Gavras, “Avanti!”, de Billy Wilder. E ponha estalando nisso.

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Perder-me, dissolver todos os tecidos da pele, refazer-me. Em um segundo, passo do sonho ao concreto, deixo as cicatrizes mais profundas, abro outras, sangro por todas as frestas, desapareço.

Um dia paisagem, sol, plano. Uma vida toda.

Num instante, o céu muda, o vento sopra.

Prenúncio de tempestade.

Caí no abismo sem fim, percebi a veia dilatada do meu pulso, os olhos cheios de silêncio e lágrimas.

Percorri as pausas das linhas das mãos, abri as janelas, escancarei todas as dores e revirei as palavras − dissecando letra por letra as últimas escritas − as que revelam, as que maltratam, as que fazem acontecer a cisão.

Encontrar, um dia, quiçá, as flores abertas no jardim, sentir novamente o cheiro dos jasmins à noite, parar o horizonte e ver nos seus olhos a intensidade da certeza, o meu reflexo na sua pele interminável, o porto-miragem compassado às batidas do coração.

Em um dia, por uma vida inteira.

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