A milícia bolsonarista nas ruas

Falta ao PT falar a língua das redes sociais, aquela que o bolsonarismo domina há tempos

As fake news foram parar nas ruas. Um meme, que primeiro apareceu nas redes sociais, chegou a várias cidades do país em forma de outdoors e de painéis. Com fotos de Lula e de Bolsonaro, o material compara supostas pautas e relaciona o candidato do PT a temas como ideologia de gênero, censura, aborto e ditadura, enquanto o presidente seria o candidato pró-vida, armas, liberdade e valores cristãos.

Não precisa ter dois neurônios para ver a similaridade das peças e constatar que a ação foi orquestrada por apoiadores do presidente. A tese é defendida pelo grupo Prerrogativas, que reúne advogados e juristas e pretende levar o caso ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Se a campanha oficial apenas começou, imagina a baixaria que vem por aí.

Bolsonaro conseguiu o que queria. Um guarda em cada esquina. Gente armada que atira em opositores e gente com dinheiro para financiar peças publicitárias que pretendem causar pânico na população. Em poucos anos, o bolsonarismo se firmou como ideologia e se transformou numa seita, cheia de fanáticos, que apela ao terror e à mentira.

Tais recursos não são novidade em eleição. Basta olhar para 2014. A campanha de Dilma, chefiada por João Santana, atual marqueteiro de Ciro Gomes, aterrorizou os eleitores com um rosário de mentiras sobre Marina Silva. Um jogo sujo, mas jogado pelos titulares. A diferença agora é que a torcida tem usado as mesmas táticas.

Carluxo fez escola. A milícia digital criada pelo bolsonarismo passou os últimos quatro anos infernizando adversários políticos, críticos, jornalistas, inundou o zap da tia Neide com mentiras. As narrativas fantasiosas criadas pelo presidente são replicadas pela militância ad infinitum. Agora, entendeu que precisa ir além desse território que eles dominam com maestria para conquistar os votos que precisam para reeleger Bolsonaro. Nas ruas, escolas, nos clubes, nas ruas, com outdoors e carros de som. E do outro lado? Do outro lado tem o Janones.

André Janones, deputado federal por Minas, até ontem desconhecido pela maioria das pessoas, fez mais pela campanha de Lula em uma semana do que o próprio partido fez desde que perdeu a eleição em 2018. A presença dele nas redes sociais tem sido constante e sua postura é de combate. Janones apontou o óbvio sobre a necessidade de Lula falar a língua do povo, conselho já dado por Mano Brown e que deixou as lideranças petistas irritadas. Mas falta ao PT falar também a língua das redes sociais, aquela que o bolsonarismo domina há tempos.

Lula pode estar na dianteira em todas as pesquisas eleitorais, mas para consolidar essa posição ainda precisa estar na mesma página que Bolsonaro para combater as táticas de guerrilha usadas pelas milícias bolsonaristas, a das redes e a das ruas.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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