Arquivo da categoria: Almir Feijó

Nós que nos amávamos tanto

Quase todos meus relacionamentos amorosos acabam primeiro nos sonhos. Picasso desmontava suas mulheres em cubos. Eu as vejo vagando no plano onírico, já distantes de mim, de malinha na mão, como quem está partindo e não vai voltar mais. Elas … Continue lendo

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Roda mundo, roda gigante

Você está certa. Vistas daqui, da janela deste quarto de hospital, as pessoas lá embaixo parecem bonecos de neve. Vagas estrelas sem brilho, você comparou certa vez – personagens de uma abstração sobre o silêncio e a incomunicabilidade. E Nova … Continue lendo

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Desproporções

Há uma sequência em ‘Amarcord’, o grande painel memorialista de Fellini, em que “Titta” – alter ego do diretor – leva os amigos para acompanhar a chegada de um navio ao porto da cidade e, como eram todos crianças, o … Continue lendo

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Mais do que posso eu suportar

Escutava música com o corpo despachado na rede. Não estava só. Era protegida por seus soldados – seu exército mal assombrado; uma infantaria com mais de dois mil anjos e demônios prontos para qualquer guerra, desde que perdida. Ouvia Amy … Continue lendo

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Os cães

Ouço a campainha. Desde cedo estou ouvindo a campainha. O telefone toca, gente bate na porta, os cães ladram: movimento. Tudo coisa da minha cabeça. Nunca é ninguém. E os cães morreram há décadas. Quem me olha assim – aquela … Continue lendo

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Olhos da cor fúcsia

Inspirou longamente, com tanta força como jamais fizera. Então, num movimento melodramático, saltou no oceano. Estava gelado, percebeu nas primeiras braçadas. Selvagem, quase sacrílego. À medida em que mergulhava, libertava-se de todos os vínculos. Achou-se uma imensidade: a água era … Continue lendo

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Eu vi o tempo brincando

Não adianta, os mortos jamais nos abandonarão. Estamos condenados a conviver com eles todos os dias, na memória e nos sonhos, até que nós próprios partamos – por bala, susto ou vício – para o inevitável destino de gregos e … Continue lendo

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Maria, Maria

Em breve, quando me chamar, quem sabe, a morte, o último cheiro vou levar desta vida será o da açucena. Uma moça estará tomando banho. Olharei por um buraco de fechadura e voltarei no tempo para ser menino de novo. … Continue lendo

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Algodão doce

Todas as noites, antes de me deitar, eu fico nua e passo uma folha de alfazema pelo corpo. Separo o dedal, as agulhas, os fios e o cetim e começo a remendar os vestidos que vou usar para você. É … Continue lendo

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La Pietá

Esta semana, quando saí de casa para caminhar no Parque Bariguí, a rua onde moro – no coração do Jardim Champagnat, em Curitiba – estava congestionada. Um corpo está estendido no chão. Ao lado dele, danificada, uma pequena moto, dessas … Continue lendo

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O mistério de Tannhauser

Você bem que poderia aparecer, assim do nada, e sentar-se à minha frente. Olhar-me nos olhos você poderia. Esse olhar oblíquo. É nostalgia? – perguntaria. Faria isto tão docemente que fugir eu não conseguiria. Você poderia fazer o que nenhuma … Continue lendo

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Maria, Maria

Em breve, quando me chamar, quem sabe, a morte, o último cheiro vou levar desta vida será o da açucena. Uma moça estará tomando banho. Olharei por um buraco de fechadura e voltarei no tempo para ser menino de novo. … Continue lendo

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A Louca

Lembra daquela mulher que costumava passear pelas estrelas, bastando deitar-se e fechar os olhos? Sou eu. Estou de volta de uma daquelas viagens. Foi a mais demorada de todas. A Via Láctea tinha tantos planetas, tantos sóis, que meus olhos … Continue lendo

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Onde nascem os ETs

Agora você põe esta mordaça na minha boca. Mas um dia, quando sussurrei Eu te amo, minha paixão, meu tudo, você levantou o copo de uísque como numa comemoração e disse Grita, fala bem alto, é pra todo mundo ouvir. … Continue lendo

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Os amantes

Ele a conduzira até a luz branca, aquele estágio da iluminação a partir do qual pessoas, patrimônio, valores morais, tudo, vira poeira. Abriu portas inteiramente novas para ela. Mais do que qualquer homem. Mais do que todas as mulheres com … Continue lendo

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