Felizes com a pandemia, sequelados com a vacina

Se Jair Bolsonaro desapareceu, Pazuello já apresentou sintomas completamente distintos. O general especialista em logística, que a Advocacia-Geral da União notificou ter sabido da falta de oxigênio em Manaus com 10 dias de antecedência, apareceu subitamente de ombreiras, peito inflado e falando grosso

Procura-se o presidente da República, Jair Bolsonaro. O pouco excelentíssimo senhor chefe de estado do Brasil está completamente sumido, mudo, catatônico, sem sinal da internet e sem sinais vitais públicos desde o exato instante em que o governador de São Paulo, João Doria, deu início à vacinação dos voluntários paulistas com a Coronavac, imediatamente após a aprovação da Anvisa. 

Durante a transmissão do parecer técnico da agência de vigilância sanitária, que aprovou o uso emergencial das vacinas do Butantan e da Fiocruz, foi incensada a necessidade de monitorar eventuais reações adversas que pudessem acontecer aos vacinados, embora sem nenhuma evidência contundente. Nenhum profissional da instituição, no entanto, alertou para a ocorrência de efeitos colaterais esquisitos e potencialmente graves das vacinas em autoridades máximas do país.

Enquanto não havia vacina, Jair Bolsonaro estava perfeitamente saudável, ativo, falante, passeando de jet-ski, lancha, nadando em mar aberto, fazendo aglomerações sem máscaras, integrando carreatas pelo país e realizando turnês de cloroquina pelo Brasil. Desde a recusa das emas, Jair não parecia tão afetado. Esquisitíssimo. 

Sobretudo, porque presidente e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, são dois ferrenhos defensores do combate à Covid-19 com a alegria. “Quem é feliz não pega Covid”, é o lema dos comandantes do país que já soma mais de 8 milhões de infectados ‒ número, inclusive, que inclui a dupla. Deve ter faltado felicidade ali em algum momento. Mas, primeiro, a alegria; depois, a cloroquina. A chegada da vacina parece não ter feito bem à alegria e à cloroquina de ambos. 

Se Jair Bolsonaro desapareceu, Pazuello já apresentou sintomas completamente distintos. O general especialista em logística, que a Advocacia-Geral da União notificou ter sabido da falta de oxigênio em Manaus com 10 dias de antecedência, apareceu subitamente de ombreiras, peito inflado e falando grosso. 

Os efeitos colaterais mais evidentes no ministro da Saúde foram a raiva e a confusão mental. Em um discurso de lógica prejudicada e tom agressivo, Pazuello espumava palavras em um delírio de quartel, ao mesmo tempo em que manifestava o terceiro sintoma adverso: o de especialista em logística jornalística. Não havia pergunta de repórter que o ministro militar não pudesse consertar, aprimorar, orientar a melhor técnica, qual um professor universitário.

Se por um acaso do destino o ministro da Saúde porventura deixar o cargo por algum motivo, sabe-se lá qual ‒ apenas uma hipótese remota, imagina ‒, o trabalhador brasileiro que dá vida ao mascote “Canarinho Pistola”, da Seleção Brasileira de Butebol, que ponha as barbas de molho. Poucas vezes uma atuação enfurecida convenceu tanto crítica e público. Memorável. 

Pazuello já tem futuro, se assim desejar. Falta, agora, descobrir o do presidente Jair Bolsonaro, assim que ele aparecer.

Marina Andrade

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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