Mural da História

comida-muita (1)

2 de agosto, 2013

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Que país é esse?

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Carta aberta para o… Reino Unido!

Irritantes isolacionistas da Pérfida Albion

Olha, o plebiscito não foi tranquilo e não foi favorável, seus insulares insolentes! Separar da União Europeia, assim sem mais nem menos? Quem é que vai ficar com a casa na praia? O que vai ser das crianças?

Quem é que cuida do cachorro?

Até que vocês têm uns troços maneiros – Shakespeare, Dr Who, Douglas Adams – mas só isso não basta, you bastards! Vocês não têm sequer gastronomia, cazzo! Nem vinho vocês sabem fazer, stupid white people!

Deixa eu esfregar umas verdades nessa sua fuça insular:

  1. O que vocês chamam de “comida” é só batata boiando na água ou encharcada em poça de óleo.
  2. O que vocês chamam de “bebida” é só água quente, uma coisa que o resto do mundo usa pra tomar banho (exceto a França).
  3. O que vocês chamam de “clima” é só umidade doentia combinada a frieza insuportável. E estamos falando de um dia agradável…
  4. O que vocês chamavam de “O Império Onde o Sol Nunca se Põe” é só o “O Império Onde o Sol Não Bate”.

Nós, cosmopolitas cidadãos do mundo, acreditamos que nacionalismo é coisa de republiqueta bananeira. Nesses lugares é que o povo sai berrando “Os gringos vão tomar nosso petróleo! Vamos saquear tudo antes e dividir com o Marcelo Odebrecht! O último a meter a mão é mulher do Frei Betto!”

Mas isso é assunto deprimente para outra hora.

Retomemos.

O mundo, Reino Unido, fica melhor sem bandeiras e sem fronteiras. Vocês se borram de medo dos sírios, eu sei, mas é nessas horas que é preciso mostrar a superioridade moral do iluminismo frente ao obscurantismo. Raivosos deuses tribais são reduzidos à sua ridícula insignificância quando a gente esfrega o humanismo na cara deles, percebe?

Enfim, agora a Inês-brasil é morta.

Vamos fazer o seguinte: tudo ok, desde que vocês dividam com o mundo o Monty Python, o Sex Pistols, o Keith Richards, a Mary Shelley e o Martin Amis. Em troca, podem guardar pra consumo interno o Mr Bean, o Oasis, o Bono, o Ian McEwan e a Jane Austen. As Spice Girls a gente racha.

God save the Queen! She will need all the help, by the way.

– Aran

Agora também especialista em relações exteriores. Se até o Serra pode, por que não eu?  A ilustração ao lado é do JB, de Glasgow, na Escócia (que em breve sai do Reino Unido para se juntar à União Européia, vai vendo…)

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Atoba não é a tocha!

© Roberto José da Silva

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Vida rouca

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Há golpe

No sábado, dia 25, a senadora Rose de Freitas, líder do governo de Michel Temer no Senado, disse o seguinte: “Na minha tese, não teve esse negócio de pedalada, nada disso. O que teve foi um país paralisado, sem direção e sem base nenhuma para administrar.”

Na segunda-feira, dia 27, a perícia do corpo técnico do Senado informou que Dilma Rousseff não deixou suas digitais nas “pedaladas fiscais” que formam a espinha dorsal do processo de impeachment. Ela delinquiu ao assinar três decretos que descumpriam a meta fiscal vigente à época em que foram assinados. Juridicamente, é o que basta para que seja condenada por crime de responsabilidade. (Depois a meta foi alterada, mas essa é outra história.)

Paralisia, falta de rumo e incapacidade administrativa podem ser motivos para se desejar a deposição de um governo e milhões de pessoas foram para a rua pedindo isso, mas são insuficientes para instruir um processo de impedimento. Como diria o presidente Temer: não “está no livrinho”.

Se uma coisa tem o nome de julgamento, ela precisa guardar alguma semelhança com um julgamento, mesmo que a decisão venha a ser política.

Durante a ditadura, parlamentares perdiam seus mandatos em sessões durante as quais, em tese, era “ouvido” o Conselho de Segurança Nacional. Nelas, cada ministro votava. Ninguém foi absolvido, mas o conselho era “ouvido”. Tamanha teatralidade teve seu melhor momento quando o major-meirinho que lia o prontuário das vítimas anunciou:

– Simão da Cunha, mineiro, bacharel…

Foi interrompido pelo general Orlando Geisel, chefe do Estado Maior das Forças Armadas:

… Basta!

Bastou, e o major passou à próxima vítima.

Dilma Rousseff é ré num processo que respeita regras legais, mas se a convicção prévia dos senadores já está definida na “tese” da líder do governo, o que rola em Brasília não é um julgamento. É uma versão legal e ritualizada do “basta” de Orlando Geisel.

O constrangimento provocado pelo resultado da analise técnica das pedaladas aumenta quando se sabe que a maioria do atual governo na comissão de senadores passou a rolo compressor em cima do pedido de perícia, feito por José Eduardo Cardozo, advogado de Dilma. Ela só aconteceu porque Cardozo recorreu ao Supremo Tribunal Federal e o ministro Ricardo Lewandowski deu-lhe razão.

Desde o início do processo de impeachment estava entendido que a peça acusatória não viria com a artilharia do petrolão e de outros escândalos da presidente afastada. Haveria uma só bala, de prata, contábil. No caso dos três decretos assinados pela presidente, houve crime. Isso é o que basta para um impedimento, mas deve-se admitir que esse critério derrubaria todos os governantes, de Michel Temer a Tomé de Sousa.

Os partidários da presidente sustentam que o seu impedimento é um golpe. Não é, porque vem sendo obedecida a Constituição e todo o processo está sob a vigilância do Supremo Tribunal Federal.

Pelas características que adquiriu, o julgamento de Dilma Rousseff vai noutra direção. Não é um golpe à luz da lei, mas nele há um golpe no sentido vocabular. O verbete de golpe no dicionário Houaiss tem dezenas de definições, inclusive esta: “ato pelo qual a pessoa, utilizando-se de práticas ardilosas, obtém proveitos indevidos, estratagema, ardil, trama”.

Elio Gaspari – Folha de S.Paulo

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Corrupção

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Coca Cola

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Panorama visto da Ilha do Desterro

Fuga para o Egito, Ferdinand Demetz, 1902.

Ontem eu e meu irmão Cid passamos a tarde caminhando pelas ruas centrais de Floripa.

Cadê o Cine Ritz que estava aqui? Não está mais aqui. Nele assisti a estreia – barulhenta e escandalosa na época – de Rock around the clock (quem não estava lá não sabe do que se trata e nem adianta explicar aqui), filme em cujas projeções foram quebradas inúmeras poltronas nos cinemas Brasil afora.

E o Cine São José, no outro lado da quadra? Era a sala elegante, cheirosa, com menininhas em flor disparando sedução. O tempo levou. É agora uma coisa chamada Igreja Livre em Jesus. Ainda guarda o mesmo perfil de fachada, mas está visivelmente decadente.

Fugimos dali como se nos ameaçasse algum buraco negro e vamos em direção da igreja matriz para ver a escultura em madeira da Fuga para o Egito, do austríaco Ferdinand Demetz. Vale a pena. O pé da Virgem e o rosto de São José já justificariam a visita.

O diabo é que há barulheira em frente da igreja. Homens e mulheres vestindo camisetas vermelhas. Uniformes. Aliás, todos uniformes. Uns 350 manifestantes. Comeram o mesmo sanduíche e tomaram o mesmo refrigerante. Uns parecem cansados, outros olham para os lados como se estivessem procurando novidades. Um deles urra ao microfone. Bandeiras são agitadas.

Eu e meu irmão fugimos dali como quem foge de um pesadelo ou para o Egito.

Ele resume:

– É um protesto para defender a Dilma e criticar todas as medidas do governo Dilma.

Ah, agora entendi.

Não o sumiço dos cinemas, não a fuga para o Egito, mas o balanço neurastênico da presidente quando fala – num pezinho, noutro pezinho, pra lá, pra cá – as frases que começam e não terminam, os atropelos com a lógica e a linguagem.

É duro sobreviver no século XXI tendo o século XX diante de nossos olhos.

Vamos ver o que nos aguarda no dia 15, domingo. Em que século estaremos?

Roberto Gomes

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Investigado diz ter bancado R$ 32 mil em loft para Gleisi

Gleisi Hoffmann – © Lula Marques

A Operação Custo Brasil indica que o advogado Guilherme de Salles Gonçalves, suposto repassador de propinas para o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento/Governo Lula e Comunicações/Governo Dilma), bancou R$ 32 mil referentes a custos de um loft alugado em Brasília para uso da senadora Gleisi Hoffmann durante a campanha de 2010.

Gonçalves, preso pela Polícia Federal domingo, 26, no Aeroporto Internacional de São Paulo em Guarulhos/Cumbica, quando chegou de uma viagem a Portugal, teria usado seu escritório em Curitiba para bancar despesas de caráter eleitoral da petista.

Gleisi é alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal. Ela detém foro privilegiado perante a Corte.

Nesta segunda, 27, Gonçalves foi ouvido em audiência de custódia pelo juiz Paulo Bueno de Azevedo, da 6.ª Vara Federal Criminal, que deflagrou a Custo Brasil.

Além do advogado tiveram a prisão decretada outros dez alvos da operação que investiga o esquema Consist, entre eles Paulo Bernardo.

O esquema Consist é um suposto desvio de R$ 100 milhões a partir de empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento, na gestão do marido de Gleisi.

Parte daquele montante, em torno de R$ 7 milhões, teria sido repassada para o escritório de Gonçalves, ligado ao PT – do escritório teria saído a propina para Paulo Bernardo, no mesmo valor.

Em agosto de 2015, a Operação Pixuleco II, desdobramento da Lava Jato, fez buscas no escritório e apreendeu documentos que indicam o elo de Gonçalves e campanhas eleitorais do partido e de Gleisi em 2010.

Nesta segunda-feira, 27, após o depoimento de Gonçalves, a defesa do ex-ministro pediu reconsideração da ordem de prisão preventiva. O juiz federal assinalou que a audiência ‘não tem por objetivo produção de prova, conforme esclarecido a todos os investigados’.

Mesmo assim, o próprio Guilherme Gonçalves ‘decidiu falar sobre uma série de questões referentes ao caso concreto, negando basicamente as suspeitas e indícios que recaem sobre ele’.

O juiz anotou que ainda não foram apresentadas provas documentais, como, por exemplo, uma perícia que demonstraria que os valores da Consist ficaram com o advogado.

“Contudo, o próprio investigado Guilherme, em dado momento, parece ter admitido que, às vezes, o Fundo Consist pagava algumas despesas para ‘PB’, que seria Paulo Bernardo”, assinalou o juiz na ata da audiência de custódia. “Na sua alegação, isto não seria algo ilícito, porém prática comum de seu escritório, que seria especializado em questões eleitorais.” Continue lendo

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“O ser humano é muito estranho”

© Roberto José da Silva

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Eles

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Em Brasília…

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Defluxos

Carlos Castelo – República dos Bananas

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Partido dos Arrependidos

BRASÍLIA – O Reino Unido ainda não deixou a União Europeia, mas milhares de britânicos que votaram a favor do rompimento já estão arrependidos. A queda abrupta da libra e a ameaça de caos econômico criaram um clima de ressaca no país. Os jornais estão cheios de depoimentos de eleitores envergonhados. Muitos torcem por um novo plebiscito, na esperança de corrigir o próprio voto.

A maioria dos arrependidos diz que queria protestar contra o sistema político, mas não refletiu sobre o dia seguinte. “Foi estupidez da minha parte. Pedi desculpas à minha mulher e aos meus dois filhos”, contou o pesquisador Adrian Cook ao jornal “The Guardian”, que apoiava a permanência na União Europeia.

O tabloide “The Sun”, que fez campanha pelo rompimento, trocou a euforia pelo ar de contrição. O colunista Kelvin MacKenzie se comparou a um cliente que compra um produto e se arrepende ao sair da loja. “É um sentimento de ‘cuidado com o que você deseja’. Para ser sincero, estou com medo do que vem pela frente”, escreveu.

O noticiário pós-plebiscito não está nada bom para os vencedores. Em apenas quatro dias, eles assistiram ao desmanche do governo, ao rebaixamento do país pelas agências de risco e, mais grave, à multiplicação dos ataques a imigrantes. Parece que os grupos racistas estavam apenas esperando um sinal verde, o voto contra a Europa, para sair das trevas.

O clima de remorso político não é exclusividade britânica. No Brasil, a rejeição a Dilma Rousseff foi turbinada por milhões de eleitores que acreditaram em lendas eleitoreiras como a redução das contas de luz.

Agora o Partido dos Arrependidos ganha a adesão de defensores do impeachment que sonharam com o fim da corrupção e acordaram num país governado pelo PMDB. No domingo (26) à noite, enquanto muitos dormiam ou assistiam à final da Copa América, Michel Temer recebia o réu Eduardo Cunha no Palácio do Jaburu. Não devem ter conversado sobre futebol.

Bernardo Mello Franco|Folha de São Paulo

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