Portfólio

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Ilustração para a coluna Carta de Vinhos, de Luiz Carlos Zanoni, O Ex-tado do Paraná

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Ele

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Faça propaganda e não reclame

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Tempo

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Caríssimo bandleader, veja que foto curiosa: Vera Dias, eu  e Oscar Bettio, emoldurando dois modelos meio-sem-graça. Quer dizer: os modelos parecem pessoas comuns e o redator, a produtora e o diretor de arte parecem coisa de anúncio. A locação foi na piscina do Eduardo Zimmerman (o pintor de envelopes). Para um anúncio do Velho Bamerindus. A Vera deve saber qual era o produto. Beijocas, Retta Rettamozo. Foto de Gustavo Rayel 

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Orlando Pedroso

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Natal nas Estrelas

Estou em Nova York e acabo de assistir a “O Despertar da Força”, sétimo episódio de “Star Wars”, num dos cinemas populares da rua 42 (salas grandes, pipoca e nachos fartos e plateia barulhenta, que adora se expressar).

Não sei por que alguns críticos afirmam que o episódio é o melhor da série. A atuação é dificilmente sofrível (essa é uma tradição, em “Star Wars”); a história é a mesma da primeira trilogia; a direção chega a ser careta. Ninguém pensou em correr um risco, por mínimo que fosse: serviram exatamente o que a gente parece pedir desde o começo, sempre o mesmo prato.

E a plateia aprovou: quando apareceram os veteranos do filme de 1977 (a princesa Leia, Han Solo, Luke Skywalker), todos aplaudiram.

O que é esse prazer da continuidade, que nos torna especialmente bom público para trilogias, sequelas, prequelas e, hoje, seriados de televisão com temporadas sucessivas? Ou mesmo para novelas que duram meses?

Não é o caso de acusar os produtores hollywoodianos ou a televisão: no século 19, os fiéis de Alexandre Dumas, que o liam no jornal, em folhetim, esperavam não só o capítulo do dia seguinte, mas também o romance seguinte, com o que aconteceria, por exemplo, “Vinte Anos Depois”.

O mesmo vale para as aventuras de Sherlock Holmes, para os piratas de Emilio Salgari, para Hercule Poirot, Perry Mason etc. É uma moda recente? Nem tanto. Talvez Homero seja o nome genérico dos que recitavam os mesmos cordéis 27 séculos atrás, pelo Mediterrâneo afora. E, sei lá, “Orlando Furioso” (1516), de Ariosto, era a sequela de “Orlando Innamorato” (1483-95), de Boiardo.

Não é de hoje: a gente sempre gostou de uma história que tenha a permanência e a consistência de uma espécie de realidade paralela. Tudo bem, essa aventura terminou, mas é como quando apagamos nossa telinha: a programação continua, os heróis e vilões estão num mundo que tem vida própria e que sobrevive à nossa eventual distração. Um dia desses, não é que os heróis voltarão, é que nós daremos uma espiadela num outro trecho da vida deles (a qual nunca parou).

As ficções são mais que um amontoado de casos e histórias: elas são outras dimensões do mundo. E os romances, a tela da TV e a do cinema são frestas, janelas e portas entre essas dimensões. Servem para enxergar o que acontece lá; e, às vezes, servem também para transitarmos de uma dimensão à outra.

Curiosidade: para onde vão os personagens de um seriado entre uma temporada e outra?

Enfim, no mundo de “Star Wars”, existe uma diversidade infinita de espécies que convivem nas galáxias, mas há só uma luta que importa: entre o lado escuro e o lado luminoso da Força, que competem pelas almas de todos.

Deus e o demônio se enfrentam por nós e pelo controle do mundo. Nós às vezes temos coragem, outras vezes, não. É que a Força funciona como a Graça: ela ajuda os que realmente acreditam nela. Sempre vai ser assim.

Não pare de acreditar, viu?

O Natal é como a Força; para que aconteça, é preciso acreditar nele.

O Natal é também como “Guerra nas Estrelas”: uma história que volta (no caso, a cada ano) marginalmente diferente, mas com os mesmos bons sentimentos (um pouco melados e estereotipados), o mesmo cenário (luzinhas, árvores, vermelho e verde),e com a mesma trilha, mas que, por isso mesmo, não para de fazer sucesso.

Domingo, na esquina da Mercer com Prince, a uma quadra da entrada da “delicatessen” de Dean and Deluca, um saxofonista negro tocava insistentemente “Noite Feliz”. Eu o reconheci e me lembrei dele de outros Natais. Deixei US$ 1 no prato, que estava surpreendentemente vazio: a performance pagaria melhor se a temperatura não fosse quase de primavera –o frio nos torna mais generosos, contrariamente à regra (errada) de que, no frio, ninguém enfia a mão no bolso (que é de acesso difícil, por baixo do sobretudo).

O pessoal do Salvation Army, tocando seu sino na frente do terminal de ônibus da Port Authority, tampouco parece muito convincente sem o frio. Ando pelas ruas e tento encontrar, pelo cheiro, um quiosque de castanhas assadas; acho que, sem o frio, o pessoal ficou em casa; talvez amanhã as castanhas apareçam.

Em compensação, o cheiro da maconha é onipresente. Parece que o Papai Noel aderiu à descriminalização.

Feliz Natal e paz na terra aos homens de boa vontade. E aos de má vontade também.

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Contardo Calligaris – Folha de São Paulo

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A cura

Deu na “New Yorker”.

O doutor Paul Muizelaar, neurocirurgião-chefe da Universidade da Califórnia, em Davis, percebeu que pacientes acometidos por infecções violentas apresentavam redução no tamanho de seus tumores cerebrais.

Estimulado pela invasão bacteriana, o sistema imunológico reconheceria as células cancerígenas como inimigas, o que não é comum acontecer, combatendo-as.

Sem testes prévios em animais, Muizelaar sugeriu a Patrick Egan, um homem desenganado de 56 anos, que ele servisse de cobaia num tratamento que vai de encontro a tudo o que prega a assepsia da medicina moderna.

Egan permitiu que o médico abrisse sua caixa craniana, retirasse o que fosse possível do glioblastoma -um cancro em forma de borboleta que se alastra pelo cérebro- e, antes de fechar, pasmem, mergulhasse o osso do tampo numa solução infectada com Enterobacter aerogenes, uma bactéria fecal do intestino.

Depois da intervenção, o enfermo entrou em coma e passou semanas entre a vida e a morte. Ao fim de um mês, no entanto, áreas da cabeça afetadas pelo tumor haviam dado lugar a uma infecção gravíssima, mas com chances de ser tratada.

As descobertas de Muizelaar me fizeram pensar no glioblastoma que se apoderou do sistema nervoso brasileiro e na sua possível cura.

O tumor formado pelos 400 partidos que ocupam o Congresso com o objetivo de garantir o caixa dois de campanha e se locupletar com o superfaturamento das obras públicas comprometeu as funções básicas do hospedeiro.

Atingimos o estado crítico.

A Justiça investiu contra o tumor silencioso provocando uma infecção ruidosa. As investigações nos afundaram num caldo de coliformes fecais impregnado de Youssefs, Paulos Robertos, Duques, Cerverós e Delcídios.

A cada nome surgiram outros nomes, que deram em mais nomes, numa progressão que englobou tanto o hemisfério esquerdo quanto o direito da central de comandos.

Eleita para servir de antídoto para os males da velha política, a esquerda acabou contaminada, valendo-se do mesmo discurso coronelista do feijão no prato do povo, enquanto negociava caro a sua permanência no poder.

A oposição apoiou a eleição da superbactéria Eduardobacter Cunhenes para a presidência da Câmara a fim de atingir o governo. Agora, não há antibiótico de última geração que dê conta da peste.

Conhecedora profunda das veias abertas da República, Eduardobacter Cunhenes continuará atuante, pelo menos até a volta do recesso parlamentar, ou coma, de fim de ano.

O país se divide entre aqueles que veem o impeachment como solução e os que o encaram como golpe

Sou contrária ao impeachment porque creio que ele livrará o PT da responsabilidade sobre a crise atual. Só atravessando a fase aguda da infecção, com todos os envolvidos presentes, ganharemos imunidade contra o populismo de esquerda e o oportunismo de direita.

O problema é saber se o paciente resistirá a três anos com taxas altas de inflação, deflação, depressão e rebaixamentos.

Se sobrevivermos, o Brasil terá trocado o câncer de hoje por uma infecção tratável.

É hora de acender as velas.

Feliz 2018.

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Fernanda Torres – Folha de São Paulo

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Horóscopo

Sou Jesus, não o menino. Me deram esse nome e carreguei a cruz. Estou velho, descendo a ladeira. No dia em que foram me mostrar o Jesus, não vi. Ele estava envolto num pano roxo. Deixei pra lá. Fui cuidar da vida. Fiz o quarto ano primário. No primeiro dia de aula levei um cascudo da professora. Só porque enfiei a mão na cara de um panaca que tirou sarro de mim por causa do óculos quadradão. Quatro olhos é o caralho! O nariz dele parecia um chafariz de sangue. Gostei. Nunca matei ninguém. Mas quase. Não sou revoltado. Sou humano. Não tenho os dentes principais da mastigação. Um açougueiro me tirou quando era adolescente. Não quis tratar. Vivo de bicos. Não tenho profissão. Às vezes sobra uma graninha para a cerva. Às vezes como pão com banha. Perdi os parentes. Acho que, na verdade, eles me perderam. Um dia me deram uma escopeta para pregar alguém numa porta. Contaram que num livro um escritor famoso descreveu isso. A grana era boa, mas eu não quis. Sou da paz. Mas não me encham muito o saco. Gosto de arma branca, mas também nunca furei ou estripei. Olho para elas e vejo poder. Delas, não meu. Sou Jesus. Crucificado desde o nascimento. A ressurreição não vem. Essa lorota é para quem não vive a realidade. Acredito, sim, que eles sabem o que fazem. A maioria é escrota e não tem alma e coração

Zé da Silva

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Rio de Janeiro

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O filho de Dona Elza…

Eduardo-Cunha

Foto de Diácono Joyce

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Cabeça de jabuti

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Foto de Ricardo Silva

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Tempo

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Lina Faria, fazendo, Dez Anos de Beto Batata, em algum lugar do passado. Foto de Dóris Teixeira

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A eles, amém

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Foto de Roberto José da Silva

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Flagrantes da vida real

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Dois irmãos e um tio. Maringas Maciel, Toni Maciel e Jefferson Maciel. Foto de Maringas Maciel

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Um erro, uma gafe

Joaquim Levy vai passar um bom Natal. Corrigir uma gafe sempre traz alívio. Muito educado e contido, como mostrou durante todo o ano de situações estressantes –o inverso do antecessor, Guido Mantega, grosseiro e irritadiço–, Levy não é dado a gafes, mas cometeu uma das grandes.

Dilma Rousseff vai passar um Natal menos ruim do que poderia prever há um mês. Graças ao alívio de Levy. Seu ar eufórico dos últimos dias comprova o reconhecimento (enfim?) do erro, tão grave, de convidar Levy à gafe de aceitar uma missão para ele impossível.

Poucos estão propensos a passar um Natal distenso de verdade, ainda que por um ou dois dias, ao final do exaustivo colar de apreensões e ansiedades que o erro de Dilma e a gafe de Levy, enquanto unidos, nos induziram dia a dia. Não foram, no entanto, os únicos autores desse encadeamento gerador de pesares, mas não de iras. Aécio Neves trouxe, difundiu e incentivou o componente odiento, de esgares, de ameaças destruidoras, de passagem da política de pessoas furiosas para a fúria sem política contra pessoas.

Aécio fez o envenenamento do ambiente, mas quem disso mais soube se aproveitar, por diferença de competências para os respectivos fins, não foi Aécio. Foi Eduardo Cunha. Uma prova de que foram no mínimo paralelos, quando não enlaçados por projetos de resultados semelhantes, é que o PSDB de Aécio e Cunha encerram um ano e começam outro de volta à aliança fraterna, domesticamente íntimos, a planejarem juntos os ardis convenientes a um e ao outro.

Ainda assim, apesar de Dilma e Levy, com ou sem Dilma e Barbosa, a economia brasileira se arranjará mais depressa, até por si mesma, do que o pântano da política se deixará drenar.

Eduardo Cunha recorre à Comissão de Constituição e Justiça. Eduardo Cunha foi ao Supremo em busca de alguma brecha, senão de uma artimanha em que o presidente Ricardo Lewandowski não caiu. Eduardo Cunha tem a Mesa da Câmara preparada para anular a sessão do Conselho de Ética que autorizou o processo de sua cassação.

Tudo isso em vão, até onde se pode perceber. No Ministério Público há a convicção de que Eduardo Cunha, mesmo que se salve dos R$ 5 milhões, das contas suíças e de tudo mais, vai sucumbir com as adulterações em medidas provisórias. São negócios que fraudaram a própria legislação.

O TAL

Em obediência a uma orientação da numerologia, Delcídio Amaral prometeu-se um Natal ainda mais feliz do que todos os seus dias, com a simples providência de inserção de “do” entre seus nomes. Delcídio do Amaral receberá de um feliz Natal apenas a rima. Paupérrima. Como convém a um Natal de cadeia. Mas pode orgulhar-se de um feito: é a presença mais surpreendente, dentre todos os laçados pela Lava Jato. Nem o Ministério Público está isento de tamanha surpresa.

O PRESENTE

Filhos, pais e amigos são suficientes para tornar suave um Natal que não deveria sê-lo. Aproveite isso que eles lhe dão como o melhor dos presentes.

janio de fretitas

Janio de Freitas – Folha de São Paulo

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