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Os Três Estarolas

Bárbara Kirchner, o cartunista que vos digita e Vera Solda. © Maringas Maciel

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21 anos de resistência e luta

O golpe de 1964, que derrubou o presidente João Goulart, interrompeu um dos períodos mais ricos, democráticos e participativos da nossa República. Convocados pelos grandes grupos econômicos e pelos principais meios de comunicação, os chefes militares, com o apoio direto do governo dos Estados Unidos, rasgaram a Constituição e submeteram o Brasil à mais longa e terrível noite de sua história. Foram 21 anos de opressão e resistência. Nunca o povo brasileiro passou por provas tão duras. Nunca foi tão exigido. Nunca lutou com tamanha bravura.

Retrocessos nos direitos dos trabalhadores, brutal concentração de renda, agravamento das desigualdades sociais, aumento dos desequilíbrios regionais. O Brasil, que já era um país profundamente injusto, tornou-se ainda mais desigual durante a ditadura. Os ricos ficaram mais ricos. Os pobres ficaram mais pobres.

O povo e suas principais lideranças foram alvos de implacável perseguição: sindicatos sob intervenção, entidades estudantis fechadas, militares constitucionalistas expulsos das Forças Armadas, partidos políticos extintos, artistas e intelectuais amordaçados, imprensa sob censura ou autocensura, Legislativo e Judiciário castrados, fim do voto direto para presidente e governadores, manifestações dissolvidas a golpe de cassetete ou a bala.

Para tentar calar o povo, os donos do poder montaram um gigantesco aparelho repressivo, que não se detinha diante de nada: 200 mil cidadãos foram presos por motivos políticos, 500 mil submetidos a investigações. Cerca de dez mil brasileiras e brasileiros tiveram de se exilar. Milhares padeceram nos centros de tortura. Mais de 400 foram assassinados ou estão desaparecidos.

Mas o povo brasileiro não se dobrou. Jamais renunciou a lutar por seus direitos. Resistiu de todas as maneiras. Dentro das prisões e nas ruas. Nos sindicatos e nas escolas. Nas igrejas e nos bairros.

Em condições extremamente difíceis, ele encontrou ou criou brechas para seguir batalhando. Nas passeatas estudantis. Na resistência cultural. Na imprensa alternativa. Na luta armada. Na denúncia dos crimes do regime. No voto e no Parlamento. Na luta pela anistia. Nas grandes greves dos trabalhadores. Na reação aos atentados terroristas promovidos pelos órgãos da repressão. Na formidável campanha das Diretas-Já.

Quantos mártires não se sacrificaram então por um país mais justo? Quantos patriotas, desafiando enormes sofrimentos, não mantiveram acesa a chama da luta pela liberdade e pela justiça social? Quantos não teimaram em sonhar em meio àqueles anos de chumbo e de pesadelo? Nunca serão esquecidos.

Desse terrível período, nosso povo saiu mais forte, mais maduro e mais determinado. Aprendeu a duras penas que a democracia é uma conquista extraordinária, que pertence a cada brasileira e brasileiro, que tem de ser cultivada, respeitada e fortalecida por todos nós.

Ditadura, nunca mais.

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© Jan Saudek

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O cebolão do Mito

De advogado novo, Bolsonaro promete ao TCU devolver os presentes da Arábia Saudita. Apenas os masculinos. O advogado anterior defendeu Fabrício Queiroz e o escondeu – sem saber, segundo ele – em sua casa. A devolução é para discutir no TCU o direito de Bolsonaro de ficar com os presentes. O relator do caso no TCU deu a pista, que é questionada em recurso do ministério público do tribunal. Com decisão favorável, o Mito exigirá a propriedade das joias de R$ 16 milhões.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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Meu chifre é o poder

Ver se esborrachar quem fez mal a você no passado sempre tem sabor doce

Discordo dos que dizem que o hit “Shakira: BZRP Music Sessions Vol. 53” é uma vingança da cantora. A vingança é autodestrutiva. Transforma um saco de vacilos numa prioridade, em uma busca por retaliação que consome tudo o que existe. E mesmo quando o objetivo é atingido, todo mundo sai perdendo. Porque a vingança não reverte o dano causado e cede uma imensa quantidade de tempo e energia a quem definitivamente não merecia o esforço.

Impossível não lembrar de Hamlet, protagonista da tragédia homônima de Shakespeare, que perde tudo para vingar seu pai. Morre a mãe dele, morre o amor verdadeiro dele, morre ele próprio e o reino de sua família é invadido pelo inimigo. Traduzindo para a linguagem contemporânea dos memes: parabéns, Hamlet, você foi cirúrgico, mas infelizmente o paciente não resistiu.

Não quero ser moralista em relação à vingança. É um sentimento humano. Assistir quem te feriu no passado se esborrachar na vida tem um sabor mais doce do que geleia de morango. Mas existem outras sensações ainda mais saborosas: estar no topo das paradas, faturar 30 milhões de euros (162 milhões de reais) com o lançamento de uma música, quebrar catorze recordes mundiais no Guinness Book, receber o carinho de milhões de fãs no mundo inteiro, inspirar outras mulheres a transformar sua dor em arte.

Também discordo dos que dizem que o hit da Shakira é uma indireta para seu ex-marido. A letra é bem direta, na real. Mas, discordando agora de mim mesma, a música talvez seja uma vingança indireta. A vingança indireta nada mais é do que uma demonstração de poder, pela exposição de sua própria vulnerabilidade. Ao priorizar a si mesma, Shakira escreve sua própria história, cujo fim não é um destino trágico e sim uma mulher cantando, dançando e faturando.

E como essa coluna visa entregar à suas leitoras um conhecimento que ultrapasse os limites da cultura pop, segue a lembrança de que, na Antiguidade, especialmente nas civilizações matrilineares e pré-patriarcais, o corno era um símbolo de poder e força, que foi deturpado pela associação ao demônio e à humilhação de ter sido traído.

Mas nada é mais poderoso nessa história do que a lição que ela propaga em escala mundial: em um relacionamento afetivo, a melhor saída é sempre por baixo, porque é a única que possibilita a volta por cima.

Publicado em Manuela Cantuária - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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1973|2023

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2010

Lina Faria e Maristela Garcia, Bar do Alemão, no bota-fora de Orlando Pedroso, depois da Oficina Liberdade e Arte de Desenhar, na Gibiteca de Curitiba. Foto de El Flinststone Pedroso. Stop e ademã!

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Playboy|1980

1981|Kelly Tough. Playboy Centerfold

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Vale a pena ver de novo

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O outono e o haicai

“Novo outono/ só no porta-retrato/ não mudo de ano.” Ainda ontem, nos escondidos, nos muquinfos ou nas mesas dos bares a céu aberto, brincávamos de haicais nas costas dos guardanapos. Na Curitiba de ainda ontem, na Curitiba de meado dos oitenta (não é mesmo Josely Vianna Baptista, musa e música?) vivíamos uma disponibilidade de dar inveja aos clochards franceses. E deitávamos haicais aos papéis a esmo.

Num hoje folclórico réveillon, acho que em Praia Grande, litoral paulista, depois de um porre colossal, Paulo Leminski acordou, no dia primeiro do ano, numa ressaca de matar o padre. Zonzo saiu à varanda da casa para experimentar o travo e o trago do primeiro cigarro.

No chão de tábuas, a visão assustadora: dezenas de gordas formigas arrastavam uma cigarra morta. O poeta, que era exímio, e sacava o revólver com a agilidade de um caubói de faroeste, mesmo batido pela noite excessiva, não teve dúvida, e anotou alto e bom som: “Fim de farra/formigas mascam/ restos de cigarra”. Exagero, João Virmond Suplicy?
Numa viagem com Alice Ruiz a Nova Prata, RS, – Estrela Leminski só uma menininha a bem menos de um metro do chão -, a atravessar montanhas no carro de uns amigos fomos assistir ao assombroso espetáculo de uma cachoeira no coração da serra. Leminski não havia mais. Entre sacolejos e geladas brisas gaúchas, a tarde de outono arrebentava o céu de azuis.

Ao longo do caminho, o espetáculo, raro, aqui e ali, de pinheiros amontoados, quase colados uns aos outros. Alguém evocou que era assim na origem de tudo, quando do surgimento das florestas de pinheiros. Lembramos, de imediato: em Curitiba isso não existia mais sequer para amostra, e nos veio a nostalgia das coisas primeiras. “Pinheiros juntos/ontem era o começo/do começo do mundo.” Assinei embaixo, gravando o haicai de memória e viva voz.

Ou, de novo, o velho Pablo de guerra, bêbado e feliz, a urrar, nove da noite, ao telefone, desde o Pilarzinho. Lembro, nítido, a data: janeiro de 1987. Vindo da rua aonde fora comprar cigarro, retornava o poeta à casa, em estado epifânico. “Achei, Bueno, achei. Olha: ‘Entre os meninos de bicicleta/o primeiro vaga-lume/ de 1987’. Rima rara, Bueno: bicicleta com oitenta e sete…”

Em janeiro, necessário explicar, costumava aparecer, segundo Leminski, o primeiro vaga-lume que, também segundo ele, autenticava o verão. Os vaga-lumes aos bandos, viriam, mas não já, só em fevereiro… Indispensável flagrar o primeiro, porque único, irrepetível. E este só poderia ser colhido nas redes de um haicai. Aí, de novo, o outono, hermano Solda e demais hermanos! Cadê um haicai novo que fale ainda outra vez dos céus azuis de Curitiba e nos conte microestórias do tamanho da China?

Talvez em Marduk, Helena Kolody confabule com Paulo Leminski para amanhã, bem de manhã, em homenagem ao recém-aniversário da cidade, um haicai ainda molhado de estrelas.

2007 – O Estado do Paraná

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O Gênio de Pau Grande

© Cássio Loredano

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Hemorroidas ardem doem aftas idem

Nazista vai a bar em Unai (MG).

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Musas

Isabella Rossellini, ou, Isabela Fiorella Elettra Giovanna Rossellini. © Getty Images

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