Anne Frank

Helen Mirren conta a história de Anne Frank com base no diário da jovem no documentário que traz também a saga de cinco sobreviventes do Holocausto. Imperdível!

Publicado em Sem categoria | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Publicado em Sem categoria | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

O “Monstro do Maracanã” e o “Pantera Negra” – III parte

Bauer, espumando ódio, desligou o telefone e perguntou na portaria do Hotel se o restaurante ainda estava aberto. Recebeu como resposta que já estava fechado, mas o bar não, poderia pedir um sande (sanduíche no português de Portugal). Bauer foi até o bar e sentou. O garçom, também branco e português, lhe perguntou: “O que vamos comer?”. Bauer, ainda com raiva, pensou: “Quem vai comer sou eu, você vai servir!”. Mudou de ideia e resolveu ser educado com o garçom, que, afinal de contas, não tinha nenhuma culpa da imbecilidade do presidente do São Paulo. “O que é possível fazer de comida agora?”. O garçom, sempre solícito, respondeu: “Um prego”. Bauer pediu para que explicasse o que era um prego. O garçom foi rápido: “É um pão com bife”. Bauer pediu dois e que colocassem uma fatia de queijo e um ovo dentro de cada um. O garçom: “Ora pois, pois, será uma bela combinação! O que o senhor vai beber? Com esse calor sugiro uma cerveja estupidamente gelada, recebemos hoje um carregamento da Sagres”. Bauer assentou com a cabeça.

Enquanto esperava pelos pregos, a estupidez do presidente do São Paulo não lhe saía da cabeça. “Como ele só vi Pelé, e o sujeito disse que eu estou bêbado. Vou é me embriagar com essa tal de Sagres”. Cinco minutos depois, o garçom chega com os dois pregos. Bauer pede mais uma cerveja e enquanto o garçom ia buscar notou que o cozinheiro, branco e português também, estava no balcão, olhando para ele, que era o único frequentador do bar naquela hora.

O garçom e o cozinheiro, na falta do que fazer, iniciam uma conversa. Falavam de futebol e Bauer começou a prestar atenção no diálogo. O garçom era adepto (torcedor) do Benfica e o cozinheiro do “O Belenenses” (é assim a grafia do terceiro time de Lisboa). “Domingo, vamos ganhar, o Benfica está desgastado fisicamente, jogando pela Copa de Campeões da Europa, e está se borrando de medo do Barcelona e de seus húngaros; além disso, tem um brasileiro chamado Evaristo que faz “golos” em todos os “prélios”. O nosso “mister” Otto Glória vai preparar bem a ‘equipa’”. “Tais louco, o gajo! No estádio da Luz, tua equipa não tem nenhuma chance. O tal Otto Glória, que por sinal já passou pelo meu Benfica, ‘não faz o pé do Béla Gutmann’. O judeu-húngaro é o melhor ‘mister’ do mundo”, por ande andou sempre foi campeão”.

Quando ouviu o nome de Béla Gutmann, Bauer iluminou o rosto, abriu um sorriso e gritou alto: “É ele!” O garçom e o cozinheiro não entenderam nada e Bauer pediu para assinar a nota da despesa. Antes das oito da manhã, estava na frente da sala da senhora telefonista.

“A senhora telefonista tem a lista telefônica de Lisboa?” “É claro que sim, temos o ‘catálogo’ da última edição. O Hotel assina o catálogo de Lisboa e do Porto, estamos sempre atualizados”. “Pode emprestar?”. “É evidente”. Bauer procura e acha o número do Sport Lisboa e Benfica e o anota num papel. A senhora telefonista, antes que Bauer lhe pedisse alguma coisa, pegou o número e disse: “Para Lisboa é bem mais fácil. Antes do meio dia, o senhor vai conseguir falar”. Bateram os ponteiros das doze da manhã e a ligação ainda não tinha sido completada. Bauer ficou preocupado, às quatro da tarde (horário local), a Ferroviária sairia do hotel para o aeroporto. Perguntou qual era o horário em Lisboa e a senhora telefonista informou: “Em Lisboa, dez da manhã”. A preocupação de Bauer aumentou. “Só falta a ligação chegar na hora em que Béla Guttmann estiver almoçando. Aí, depois estarei num avião e não vou conseguir falar com ele”. A uma da tarde, a senhora telefonista avisou que a ligação estava completada.

Bauer pegou o telefone e foi atendido pela telefonista do Benfica. Pediu para falar com Guttmann, que ainda estava no Estádio da Luz. Assim que foi avisado que Bauer estava ao telefone, Guttmann pensou: “O que será que ele quer?” Mas foi correndo atender a ligação. Conversaram uns bons vinte minutos e, ao final, Guttmann agradeceu e desejou sorte ao antigo jogador e amigo de longa data. Ficou pensando: “Bauer é um querido amigo e um sujeito de uma honestidade ímpar. Não iria ligar de Lourenço Marques se não fosse assim tão importante. É duro acreditar que joga quase tanto como Pelé, mas é melhor eu tomar as providências”. Foi falar pessoalmente com o presidente do Benfica.

“O senhor Bauer é um gajo de confiança?”. Guttmann respondeu que era um sujeito seríssimo e da mais absoluta confiança. “Então, temos que tomar urgentemente as medidas que a questão impõe!”. O presidente do Benfica pediu uma ligação para o presidente da filial do Benfica em Lourenço Marques. Quatro horas depois, os presidentes do Benficão e do Benfiquinha conversavam ao telefone.

“Se conheço o tal Eusébio? É evidente que sim, ele sempre nos enche de golos; no último jogo, fez quatro, mas o árbitro anulou um, perdemos de 3×1”. “Ainda não está em Lisboa porque o Sporting não paga o que a mãe quer para autorizar o ‘puto’ (os ‘piás’; no português de Portugal são chamados carinhosamente de putos) a viajar”. “Entendi, procurar a mãe e pagar até 500.000 escudos”. “Não é muito dinheiro, meio milhão?”. “Se o senhor diz que não é, nem se discute mais isso”. “Amanhã cedo, vou no Mafalala e descubro a casa. Entrego o dinheiro e levo a ‘negra’ ao Juiz de menores para assinar a autorização da viagem”. “O juiz é benfiquista de coração, vai manter sigilo absoluto. Quando os leões ficarem sabendo, o puto já estará em Lisboa, no Estádio da Luz”. “Vou ao aeroporto com ele e pego o primeiro avião para Lisboa. A missão será cumprida”.

Missão cumprida, e por 250.000 escudos. Foi a quantia que Anissabeni pediu. Com o dinheiro iria comprar uma casa decente no Mafalala e sair do barraco onde morava a família. Ainda sobrava um troco para comprar mais comida para os filhos até o resto do ano. Foram ao Juiz de Menores e o benfiquista autorizou na hora. Antes de irem ao aeroporto, a mãe fez muitas recomendações a Eusébio. Obedecer ao “mister” e aos dirigentes do Benfica, não se meter em confusões, não andar com más companhias, nas folgas voltar no horário marcado, não mentir, não chorar de saudades, vencer na vida para tirar a família da miséria em que viviam, mandar, de vez em quando, um dinheirinho para ela e os irmãos e irmãs. Eusébio não esqueceu de nenhum dos conselhos da mãe, principalmente do último. Todo mês, Anissabeni ia ao Banco de Portugal, em Lourenço Marques, buscar os muitos escudos que Eusébio lhe mandava de Lisboa.

Publicado em Paulo Roberto Ferreira Motta | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Tina

Tina Modotti.  © Edward Weston

Publicado em Geral | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Flagrantes da vida real

Egberto Gismonti, trabalhando. © Maringas Maciel

Publicado em Flagrantes da vida real | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Tempo – 4 de janeiro|2018

Publicado em prof. thimpor | Com a tag , , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Playboy|1980

1980|Sandy Cagle. Playboy Centerfold

Publicado em Playboy - Anos 80 | Com a tag , , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

“Monstro do Maracanã” e o “Pantera Negra” – II parte

José Carlos Bauer, o Bauer “solamente”, era meio campista do São Paulo (onde foi campeão com o treinador judeu-húngaro Béla Guttmann) e esteve na seleção brasileira na Copa de 1950. Jogou tanto que Nelson Rodrigues só se referia a ele como “O Monstro do Maracanã”. Formava o meio de campo com outro fora de série chamado Danilo Alvim (“O Príncipe”, mais uma vez nas palavras de Nelson Rodrigues, “Irmão do Maracanã” como o denomina, corretamente, o Solda, eis que o nome oficial é Estádio Jornalista Mário (Rodrigues) Filho. Eram os dois que alimentavam o trio atacante Zizinho, Ademir Menezes (que tinha ódio quando era chamado de Ademir “de” Menezes) e Jair Rosa Pinto (que tinha pavor de ser chamado de Jair “da” Rosa Pinto). Depois da Copa de 1954, onde também foi titularíssimo, Bauer recebeu uma proposta irrecusável do Botafogo. Ficou em dúvida, havia praticamente nascido dentro do São Paulo. Foi falar com Béla Guttmann, que lhe disse: “Aceite, você não é mais menino, vão lhe pagar bem mais do que você ganha e com os 15% você dá de entrada numa casa própria”.

Naquele tempo, vigorava a lei do passe, o clube que detinha o “passe” era o “dono” do jogador. Quando negociado o passe entre os clubes, o jogador tinha direito a 15% sobre o valor da transação, a ser pago pelo clube que o “vendia”. Bauer não se arrependeu e ficou agradecido a Béla Guttmann pelo resto da vida.

Voltando para o Brasil, Bauer continuou exibindo o seu grande futebol. Em 1958, não foi à Copa da Suécia. Sofrendo de várias lesões, havia deixado de ser jogador naquele ano e passou a treinar vários times do interior de São Paulo, jamais recebendo uma chance nos grandes clubes. O campeonato paulista – naquela época, de calendário muito mais folgado, não havia Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores – começava em final de abril, início de maio, e os grandes clubes aproveitavam os primeiros meses do ano para rendosas excursões pelo mundo. O Santos, por Pelé, e o Botafogo, por Garrincha, jogavam dezenas de partidas em todo o planeta Terra. Bauer treinava a Ferroviária de Araraquara e ela, metida a besta, resolveu excursionar pelo Exterior também. Como na Europa ninguém sabia quem era a Ferroviária, restou a África. O primeiro jogo foi contra o Sporting de Lourenço Marques.

No domingo, o estádio municipal de Lourenço Marques estava lotado. A Ferroviária entrou em campo com seu vistoso uniforme cor de vinho tinto. O Sporting local adentrou com calções brancos, mas imundos, e camisas de listras horizontais em verde e branco completamente desbotadas. As botas (chuteiras) dos locais estavam rasgadas e furadas. Na verdade, quando os uniformes não tinham mais serventia no Sporting de Lisboa eram encaminhados à Lourenço Marques. Cada vez que um mulato escuro e alto tocava na bola a torcida local ia ao delírio e gritava Eusébio. Bauer ficou curioso, mas por pouco tempo. Eusébio começou a empilhar gols. Bauer ficou maravilhado com o que viu naquela tarde.

Chegando ao hotel se dirigiu à recepção e perguntou como fazia para conseguir uma ligação telefônica para o Brasil. O atendente, português e branco, abriu um sorriso e respondeu: “Meu senhor, hoje não vais fazer nada. É domingo, o dia de folga da senhora telefonista. Amanhã, depois das oito, procure a senhora telefonista na sala ao lado do banheiro das damas”. Bauer mal conseguiu dormir. As oito em ponto, procurou a senhora telefonista, também portuguesa e branca, e pediu uma ligação telefônica para o Brasil, dizendo que era para São Paulo e lhe passou um número. A senhora telefonista o olhou de cima abaixo e disparou: “Meu senhor, o que está a me pedir é quase impossível. Estamos numa colônia, na África. Para conseguir o que o senhor me pede é muito difícil, quase impossível, repito! Tenho que chamar a telefônica local para que ela, pelo rádio de ondas curtas, faça contato com a telefônica em Lisboa. De Lisboa, também pelas ondas curtas, devem contactar o Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro tem que comunicar a telefônica de São Paulo e daí ela chama o número que o senhor está a solicitar”. Demora, se tudo tiver sucesso, umas doze horas”. Bauer não se deu por vencido e disse: “A senhora telefonista disse, por duas vezes, que é quase impossível, mas não falou que é impossível. Eu espero as doze horas”.

Sentindo firmeza no interlocutor, a senhora telefonista se rendeu: “O senhor procure um sofá bem confortável e fique a esperar até as oito da noite. Bauer obedeceu. Quase dez da noite, a senhora telefonista: “Senhor Bauer, São Paulo na linha’.

“Boa tarde. Sala da presidência do São Paulo Futebol Clube! Com quem deseja falar?”. Bauer não acreditou, tinha dado sorte, eram dez da noite em Moçambique, mas cinco da tarde em São Paulo. Ofegante, se identificou e pediu para falar com o presidente. “Bauer? É claro que eu falo com ele. Foi um dos maiores jogadores que tivemos. É uma honra”. Bauer começou a falar rapidamente e as frequentes interrupções do presidente do tricolor paulista começaram a lhe irritar. “De onde mesmo você está falando Bauer?”, “Lourenço o que?”, “Fica no interior da Bahia?”, “Sergipe?”, “Ah, Moçambique”, “Mas onde fica esse raio de Moçambique?”, “África?! O que você está fazendo na África?”, “Ferroviária, a de Araraquara?”, “Tão bom quanto Pelé?”, “Difícil de acreditar!”, “Na África e joga quase como Pelé. E você quer que eu acredite nisso”, “Quer que eu mande alguém para Lourenço não sei das quantas?” “Você ficou louco, Bauer!” “Pelo jeito, passou e beber e está de porre na África!” “Boa tarde, Bauer, passe bem!”.

Publicado em Paulo Roberto Ferreira Motta | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Publicado em Comédia da vida privada | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

O “Monstro do Maracanã” e o “Pantera Negra” – I parte

A Copa dos Campeões da Europa (hoje, Champions League), na temporada de 1960-1961, prometia. Os jornais de toda a Espanha, se os sorteios permitissem, sonhavam com uma final entre Barcelona e Real Madrid. Infelizmente, as previsões foram frustradas. Após a primeira eliminatória, onde os dois gigantes espanhóis passaram fácil, as bolinhas saíram da cumbuca e apontaram Real Madrid x Barcelona; jogo de ida no Santiago Bernabéu e o da volta no Camp Nou.

No primeiro, Real Madrid e Barcelona empataram em dois a dois. Mateos, no minuto inicial do jogo, abriu o placar para os merengues. Luisito Suárez (o maior artilheiro da seleção espanhola) empatou para os catalães. Gento, quase no final do primeiro tempo, colocou o Real na frente. Aos 43 do segundo tempo, pênalti para o Barcelona, que Suárez converteu. 95.000 merengues ficaram preocupados e 5.000 catalães ficaram detidos no estádio por horas a fio. Quando Suárez empatou, abriram faixas desejando a morte de Franco e a Independência da Catalunha. A polícia baixou o cacete sem dó nem piedade. Mais de 1.000 torcedores do Barcelona ficaram feridos. Por sorte, nenhum morreu.

Na semana seguinte, as equipes voltaram a se enfrentar no Camp Nou. O Real Madrid estava com Kopa machucado e o brasileiro Canário foi o ponta direita. No Barcelona, o lesionado era Kocsis. Vergés entrou no lugar do húngaro. O Real Madrid atacou com Canário, Del Sol, Di Stéfano, Puskas e Gento. O Barcelona com Vergés (que do meio de campo foi deslocado para a ponta), Luisito Suárez, Evaristo Macedo, Kubala e Czibor. Vergés abriu o placar para Barça ainda no primeiro tempo. O Real passou o segundo tempo inteiro atacando e o Barcelona defendendo o placar. Num contra-ataque, aos 38 do segundo tempo, Kubala lança Evaristo, que passa pela zaga como um míssil e decreta os dois a zero. 100.000 catalães explodem e o Camp Nou se enche de faixas com “Morra Franco” e “Independência para a Catalunha”. Aos 44, Canário desconta, mas os 5.000 merengues não tiveram tempo para comemorar. Logo depois do gol, o árbitro encerrou a partida.

O Barça havia eliminado o pentacampeão Real Madrid. A polícia, reforçada por contingentes que vieram de toda a Espanha, atônita, não sabia como prender ou baixar o pau em 100.000 barcelonistas alucinados que berravam em catalão (o que era terminantemente proibido na ditadura de Franco, dava cana longa e pesada) “Franc fill de puta” e “Catalunya lliuere”. Telefonam para o Chefe da Polícia em Madrid, que pediu para aguardarem na linha enquanto, em outro telefone, tentaria falar com o ditador. Cinco minutos de espera e veio a ordem: “Deixem sair do Estádio e comemorarem nas ruas. Não batam em ninguém. Barcelona tem centenas de repórteres de toda a Europa cobrindo o jogo e as imagens e fotos certamente trarão um incômodo para o generalíssimo Franco”.

No mesmo dia, o Benfica de Béla Guttmann elimina o campeão húngaro Ujpesti Dozsa, mesmo perdendo o jogo por 2 x 1. Havia goleado o time da Hungria no Estádio da Luz por 6 a 2. Na fase seguinte, o Barcelona elimina o Spartak da Tchecoslováquia e o Benfica o AGF da Dinamarca. Depois, os “blau grená” passam pelo Rapid de Viena e os “encarnados” se classificam em cima do Hamburgo da Alemanha. Barcelona e Benfica se qualificam para a final que seria disputada no Estádio de Berna, na neutra Suíça, lá mesmo onde Puskas & Cia perderam a final contra a Alemanha. Seria a segunda batalha de Berna.

Para os leitores que não se ligam em futebol, mas estão lendo as presentes linhas, vou dizer o que muitos estão cansados de saber: Portugal tem três grandes clubes, extremamente rivalizados entre eles. Em Lisboa, o Sport Lisboa e Benfica (os Águias) e o Sporting Clube de Portugal (os Leões). O terceiro, mas não menos importante, é o Futebol Clube do Porto (os Dragões). Nos tempos das colônias africanas, cada um deles possuía uma filial em cada capital colonial.

Na então Lourenço Marques (depois da independência passou a ser denominada de Maputo), capital da Província Ultramarina de Moçambique, o ferroviário branco, mas nascido na África, precisamente em Angola, chamado Laurindo Ferreira, conheceu Anissabeni Elisa da Silva, negra moçambicana. Casaram e como o salário que Laurindo recebia era pouco, foram morar num barraco no famoso, pela pobreza, bairro de Mafalala. Tiveram muitos filhos e ao quarto deram o nome de Eusébio da Silva Ferreira. Quando Eusébio tinha 8 anos de idade, Laurindo morreu de tétano e Anissabeni foi à luta trabalhando como diarista das ricas famílias brancas portuguesas que viviam “à tripla forra” em Lourenço Marques. Acordava cedo, servia o café da manhã à filharada e os mandava para a escola para poder trabalhar tranquila e ganhar o pão nosso de cada dia com o suor do seu rosto. Os filhos, disciplinados, iam para o colégio, menos Eusébio, que fugia das aulas e passava o dia inteiro jogando futebol nas ruas esburacadas de Mafalala com bolas feitas de meias velhas. Torcia para o Benfica de Lisboa, cujos jogos escutava no rádio de um vizinho.

Aos 15 anos, fez um teste na filial do Benfica em Lourenço Marques. Foi plenamente aprovado pelo técnico, que lhe mandou ao exame médico. O facultativo o reprovou, alegando que era muito magro e os joelhos não aguentariam as partidas de futebol. Inconformado, procurou a filial do Sporting, onde foi aprovado pelo técnico e dessa vez também pelo médico. Nascido Águia virou Leão, mas seria por pouco tempo. Logo deixaria as divisões de base para se tornar o grande craque da “equipa” principal do Sporting de Lourenço Marques.

Publicado em Paulo Roberto Ferreira Motta | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Um pacto pela Amazônia

Algo que andou mais rápido nesta transição de governo é a política ambiental. Com a ida de Lula ao Egito para a COP27, o Brasil deverá retomar seu protagonismo, comprometendo-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, naturalmente, proteger a Amazônia.

Isso significa, potencialmente, abrir novas frentes para a diplomacia brasileira. Uma delas é a articulação dos países amazônicos; outra é uma aliança dos detentores de grandes florestas: Brasil, Indonésia e Congo.

Consequências positivas podem surgir dessa guinada brasileira: investimentos estrangeiros em projetos sustentáveis mais recursos para infraestrutura, inibidos pela política de destruição de Bolsonaro.

Construção de base parlamentar, visita de Lula aos outros Poderes — tudo isso tem nos trazido uma sensação de normalidade.

No entanto, cada vez que falo em normalidade no Brasil, sempre fico com um pé atrás. A realidade alternativa está correndo solta. Lady Gaga representando o Tribunal de Haia pode chegar a qualquer momento e anular a eleição. A cantora do Abba Agnetha Fältskog tornou-se juíza na Suécia e também contesta o processo eleitoral. Por essas e outras razões, o general Benjamin Arrola prepara-se para dar o golpe de Estado que muitos esperam.

Embora pareça de outro planeta, o movimento da extrema direita é muito capilarizado no Brasil. De norte a sul, bloquearam estradas e, em alguns pontos, entraram em confronto com a polícia. Pessoas se ajoelham diante dos quartéis e rezam como se estivessem no famoso Muro das Lamentações.

É nesse quadro que começa um novo governo. Deixando para adiante o delicado tema econômico, preocupa-me agora a proteção da Amazônia.

Essa imensa região brasileira talvez tenha mudado um pouco se levarmos em conta 2004, data em que se iniciou um processo bem-sucedido de combate ao desmatamento. Há muitos grupos armados, e essa realidade ficou evidente após o assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira no Vale do Javari.

Além dos traficantes, desmatadores e garimpeiros, há radicalização em alguns setores que não querem a exploração sustentável, porque têm uma visão mais imediatista. Quem viaja por algumas áreas vê muitas bandeiras do Brasil e gente se dizendo disposta a lutar por uma visão de arrancar rapidamente os recursos da floresta.

Diante dessa nova realidade, talvez não baste, para proteger a Amazônia, uma aliança política entre o governo e atores locais. Será preciso algo mais para retirar milhares de garimpeiros das terras ianomâmis.

Apesar de todas as críticas que possam recair sobre mim, sempre defendi que a proteção da Amazônia depende também de um diálogo com as Forças Armadas. Essa aproximação deveria ser tentada com toda a boa vontade do mundo.

Há muitas desconfianças que podem ser desfeitas com o diálogo. Observo, no recente texto do general Villas Bôas, que ele teme o que chama de “relativização da soberania nacional” na Amazônia. Talvez seja esse o primeiro nó a desatar. É possível dar todas as garantias de que a exploração sustentável não abdica um milímetro da soberania nacional.

Um bom exemplo para iniciar a discussão é o Fundo Amazônia, que Bolsonaro sabotou e agora foi reabilitado pelo Supremo. Alemanha e Noruega não investem dinheiro na Amazônia com a pretensão de ditar políticas, mas a partir de uma visão consensual de que é preciso proteger a floresta, desenvolver projetos sustentáveis. Uma parte desse dinheiro pode ser destinada a fortalecer o combate às queimadas, sobretudo pelos estados amazônicos mais atingidos por elas.

Conheço relativamente bem a presença das Forças Armadas na região. Visitei destacametos remotos fronteiriços e sou testemunha de seu sacrifício pelo país.

Baixada a bola, quem sabe não se possa conversar e encontrar uma convergência nacional em algo tão importante para nós?

Publicado em Fernando Gabeira - O Globo | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Quaxquáx!

Publicado em Flagrantes da vida real | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Duas aposentadorias e mais: Bolsonaro tem direito a verba vitalícia ao sair

Assim que deixar o cargo de presidente do Brasil, Jair Bolsonaro não precisará se preocupar com dinheiro e até terá ao seu dispor servidores nomeados pela Presidência da República. Tudo de forma vitalícia. As informações são do Notícias Uol.

É o que garante a lei 7474, aprovada em 1986, durante o governo de José Sarney, e que posteriormente foi alterada e regulamentada nos governos de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula.

Essa lei estabelece que os ex-presidentes podem contar com o serviço de quatro servidores, para segurança e apoio pessoal, além de ter dois motoristas à disposição junto a veículos oficiais da União.

Os quatro servidores serão indicados pelo próprio Bolsonaro para ocupar cargos de comissão. Em média, o custo à União com salários desses servidores é de R$ 56 mil por mês, mas todos também possuem direito a gastos com diárias de hotel, passagens de avião, combustível e seguros.

Duas aposentadorias

Os benefícios com assessores ao seu dispor de forma vitalícia são referentes a ser um ex-presidente da república, mas Bolsonaro também poderá receber duas aposentadorias relacionadas ao período em que foi parlamentar e militar.

Por ser capitão reformado do Exército, Bolsonaro recebe R$ 11.945,49 brutos por mês.

Porém, o atual presidente já tem direito a outra aposentadoria, pela Câmara dos Deputados, de cerca de R$ 30 mil —que ainda não havia sido pedida.

Porém, o próprio Bolsonaro já admitiu, em entrevista ao Antagonista no dia 19 de outubro, que deve requisitar a aposentadoria parlamentar para ter um total de R$ 42 mil brutos, mensais, quando sair da presidência.

“Eu tenho uma aposentadoria do Exército, mais ou menos 12 mil por mês, que é proporcional. Tenho também a da Câmara dos Deputados, que não pedi, para evitar me criticarem. Hoje em dia vale aproximadamente R$ 30 mil por mês. Seriam R$ 42 mil bruto por mês. Isso que eu levaria pra casa. Para mim está excepcional esse montante”, afirmou Bolsonaro.

Mais salário? Sim, pelo PL

De forma não oficial, outra quantia em dinheiro mensal que Bolsonaro poderá receber a partir do dia 1º de janeiro deve ser dada pelo Partido Liberal (PL), que pretende colocá-lo como presidente de honra.

A expectativa é que o anúncio aconteça na próxima semana e, caso confirmado, Bolsonaro receberá um salário do partido, mas a origem do dinheiro ainda não foi definida —se será por doações ou pelo fundo partidário.

Segundo a cúpula do PL, o partido deverá se manter como oposição ao governo Lula e pretende aproveitar o capital político de Bolsonaro após os 58 milhões de votos recebidos no 2º turno das eleições.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, acertou com Bolsonaro que o partido bancará as despesas do presidente da República a partir de 2023, quando ele deixará o Palácio do Planalto.

Segundo apurou o colunista Igor Gadelha, do Metrópoles, ao assumir um cargo no PL, a sigla pagará um salário mensal, aluguel de uma casa e de um escritório em Brasília.

Blog do Valente

Publicado em Sem categoria | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Publicado em Flagrantes da vida real | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

PRF pede para Wikipedia excluir página em que diretor é chamado de bolsonarista

Setor de inteligência da corporação contesta informações e pede identificação dos usuários que editaram na plataforma

A Polícia Rodoviária Federal enviou um ofício ao Wikipédia em que pede a exclusão da página sobre o diretor-geral da corporação, Silvinei Vasques (foto), e a identificação dos usuários que editaram as informações na plataforma.

Segundo a PRF, a página traz informações falsas que foram incluídas apenas para prejudicar a imagem da corporação e do diretor. Silvinei Vasques é descrito na página como “bolsonarista”.

A corporação contesta, entre outras coisas, um trecho que afirma que, durante sua gestão, a PRF se envolveu em polêmicas, como o caso de Genivaldo de Jesus Santos, morto por asfixia após uma abordagem da PRF em Umbaúba, em maio deste ano.

Também cita um os processo disciplinar abertos contra Silvinei Vasques por agredir um frentista em Goiás, além de contestar a informação de que a PRF foi omissa contra bloqueios ilegais nas rodovias após as eleições.

“A publicação sobre o servidor [Silvinei], que indiretamente atenta contra instituição pública, mediante atitude abusiva e de alcance maléfico, claramente merece ser rechaçada”, afirmou a Diretoria de Inteligência no ofício.

“Saliente-se que o conteúdo tem o viés nitidamente político e a inserção de informações pejorativas sobre o dirigente da Instituição ultrapassa os limites do exercício regular do direito de informar.”

Publicado em Antagonista | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter