Livre-se! (informações de cocheira sobre nossa ração cultural diária)

Cicuta sem Gelo, de José Parmênides de Eléia; Editora Priori; oitocentas e tantas páginas, uma mais enfadonha que a outra.

O autor não é, seguramente, pela Ética Tomista. Esta, baseada na finalidade metafísica, supõe que todos os seres têm um fim prefixado. Neste livro, José Parmênides contraria toda uma filosofia iniciada em “Raios Catódicos”, polêmico e fundamental para a carreira do volúvel mineiro, que, aos 97 anos, é considerado um dos baluartes do “orelhismo”, movimento banido da Semana de 22 por não ter pé nem cabeça.

Na página 346, Parmênides nega tudo o que disse antes ao propor que “para se chegar a um determinado fim, é preciso passar pela metade, assim, um outro fim foi atingido, não o fim final, mas o fim começo” ou “o cume da escolástica é muito mais alto do que se imagina”.

Se os orelhistas atuais não estivessem tão euforicamente encurralados, teriam em Parmênides um colaborador de grande vulto, principalmente depois que, encarado pela intelectualidade pós-guerra, ele virou o rosto e escreveu “Moldando Baquelite”, oferecido às duas irmãs numa dedicatória simples e fulminante: “À Dulcinéia e à Rutinéia, sem as quais eu não continuaria na boléia”. Parmênides sempre teve na baderna uma arma contra a imensa seriedade peculiar de seus contemporâneos.

Olhar os lírios da estante, para ele, sempre foi uma discussão linguística, mas “Cicuta Sem Gelo” dificilmente será aquilo que todos esperam de um livro de Parmênides, contraditório do começo ao fim, em todas as páginas.

A mais cara das contradições, que deve custar ao autor o esquecimento por muito tempo, está na tonalidade discursiva, demonstrando talento e habilidade ao folhear o palavreado, mas deixando para trás o motivo inicial do livro, isto é, a finalidade dialética pura de encontrar a verdade. E ela estava debaixo do tapete.

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Baxo

Antonio César Marchesini. Nascido para matar em 1950, até hoje não matou ninguém. Também conhecido por “cometa”, nunca conseguiu parar em nenhum emprego. Passou pela F.B.A & Levy, Castelo Branco, Proeme, J.W. Thompson, Umuarama, Londrina, Curitiba, Cornélio Procópio e Assaí. Formado pelo CEPA (Centro de Estudos de Propaganda Aplicada) no Mackenzie, em 1970, de onde tirou a ideia de virar publicitário.

Dedicou sua vida ao surfe e outros esportes radicais, como forma de desenvolver habilidades no marketing político e de produtos. Hoje, com idade suficiente, tem certeza absoluta de que o insucesso na carreira deve-se ao fato de ninguém querer comprar o seu silêncio.

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a mentira é a melhor amiga das artes
nela, gelatinosa, as glosas seculares
minúcias de paisagens inexistentes
um coração onde cabe um milhão diferentes
dondoca de agora, amanhã de coturno
segue sempre os passos de um antigo perjuro
a arte imita a arte que imita tudo
e é profunda, é verdade, bem no fundo
mas somos piores que os pintores de florença
ridículos comparados aos poetas de provença
michelângelo cagaria em cima de nossas estátuas
bethoven se limparia com as nossas pautas
que é a nossa dança diante de um delírio índio?
que é um soco nosso perto de um clay vindo?
por que, se finda é a arte, continuar mentindo?
repetir o que se repetiu de novo se repetindo?

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Playboy|1970

1973|Miki Garcia. Playboy Centerfold

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A médica Nise Yamaguchi, oncologista conhecida na pandemia por fazer parte do “gabinete paralelo” e como ferrenha defensora da cloroquina do governo de Jair Bolsonaro para tratar da pandemia da Covid-19, anunciou que vai se filiar ao PTB nesta segunda-feira e concorrer a uma vaga no Senado por São Paulo.

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Mural da História

18 de agosto|2010

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Semiótica da fala picotada

Os telefones estão horríveis. Às vezes, é como se estivéssemos falando com uma galinha goga

No começo, achei que o problema era só meu —a ligação que começava a picotar assim que eu ou a outra pessoa dissesse “Alô”. Um dos dois parecia estar falando em código sem que o outro conhecesse a chave. Como sou um dos últimos protossauros que usam telefone fixo, atribuía-me logo a culpa e saía pelo apartamento em busca de um lugar melhor para falar. Às vezes funcionava, quase sempre não. Até que fui informado de que essa conexão meia-bomba não se limitava às relações entre um celular e um fixo. Dava-se também entre dois potentes celulares.

É claro que o interlocutor que está falando picotado só fica sabendo disso quando o outro o informa —porque, aos próprios ouvidos, sua dicção é digna de um locutor da antiga BBC. Ao ouvir o outro dizer que não está entendendo, ele apenas fala mais alto e pergunta “Está entendendo agora?”, frase esta que também sai picotada e é incompreensível. Dá-se o mesmo quando a voz picotada é a do outro e ele nos pergunta a mesma coisa.

Não se pode saber, mas imagino haver casos em que os dois falem picotado ao mesmo tempo e a frase “Está entendendo agora?”, pronunciada pelos dois lados, seja desentendida por ambos.

Um amigo meu, chegado à vida rural, campestre e pastoril, comparou o som de um telefonema picotado ao de uma galinha goga [pronuncia-se gôga] —quando seu cacarejo dispara e ela corre desesperada pelo terreiro, com o gogó subindo e descendo sem controle. Já outro amigo, perito em semiótica, me explicou que a ligação picotada é como falar somente com as consoantes. Mas o que se pode fazer facilmente na linguagem escrita —qualquer um entenderá COPACABANA ao ler CPCBN— é impraticável na linguagem oral. Ao ouvir alguém dizer do outro lado ​CPCBN, será como se estivéssemos conversando com a dita galinha goga.

Tudo bem. Nunca é tarde para aprender mais uma língua.

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Ensaio

Anaterra Viana.  © Jorge Bispo

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Nicole Ross. © Zishy

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Tempo

Hora do lanche, que hora tão feliz, na Múltipla Propaganda, década de 1980: Fui Wa, César Bond e o cartunista que vos digita. © João Urban

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Andrew-Kaiser© Andrew Kaiser

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Dia de chuva

Uma chuva se aproxima, ensaia um sopro de ar refrescante também de dentro para fora. Já é possível ouvir seus sinais, como na “Anunciação” do pernambucano Alceu Valença. Que venha suave, sem causar estragos, conflitos desnecessários, e que purifique, limpe o acúmulo de poeira e as fuligens para exibir somente as emanações e cores da própria natureza.

Os dias nublados penetram na alma da gente como uma injeção de introspecção, para renovar ideias e, como consequência direta dessa imersão, sacudir e reanimar o ser. Não sei quem primeiro saiu rotulando-os de tristes e macambúzios. Desconhece sua intimidade e determinou um mal-estar desembestado, sem graça e sem noção. Dias nublados são esclarecedores, clamam pausas, impõem descanso, sossego… Pedem por calma, por colo e aconchego, transmissores de uma boa dose de segurança emocional e de proteção para a criança interior, que engatinha ainda na consciência de si e sente medo.

As nuvens por sobre as nossas cabeças se manifestam reveladoras e explodem em cores e significados atrás da cortina dos olhos, num mergulho vazio de pensamentos, mas carregado de sentidos. A mensagem é bombeada à mente por uma intuição que grita compreensão e, quando as energias se alinham, de novo: anunciação!

Em dias de chuva, os olhos enxergam melhor quando estão fechados. Retêm e arquivam nas gavetas da memória só o que não pode ser esquecido e que precisa ser constantemente revisitado. O ar, intoxicado de coisas concretas e descartáveis, se banha agora ao fluxo dessa purificação.

Mas bem no dia em que chove, eu sinto saudades. De tudo e de qualquer coisa aleatoriamente, observando a água escorrer pelo vidro e riscar a silhueta distraída de outra pessoa, que, espelhada, observa e acompanha o mesmo caminho molhado na janela. A cena em particular paralisa o vento e a respiração para eternizar toda a ternura contida em uma única gota d’água compartilhada. Até desaparecer e restarem apenas as duas imagens, encarando-se!

É como se aquela atmosfera lacrimosa martelasse com mais força as recordações que insistem em conversar com nossos silêncios. Nos dias assim, a alma anseia por um abraço, daqueles que aproximam os corpos comprimidos sob o abrigo de guarda-chuvas de afetos, entendimentos e cumplicidades. Não é saudade triste, é reconhecedora.

Que essa chuva prometida caia com suavidade em seu devido e precioso tempo. Driblo a ansiedade, fazendo contas dessa espera: subtraio as sombras das expectativas, com adições de afeto e progressões de paciência em elevada potência. Divido os períodos e projeto chances reais de que essas equações resultem em um gráfico cheio de pontos convergentes, encontros de linhas e as tão elásticas e humanas margens dos erros  sorridente, patética e perfeitamente perdoáveis.

É tanto carinho embutido nos passos dessa perseguida convergência, que arranca suspiros e interrompe a respiração. Se na métrica das almas tudo vale a pena, como dizia Pessoa, há uma vastidão de percursos por explorar. Um brilho no raio de cada olhar, um dia de cada vez, entre os segredos no galgar da caminhada. O espírito, inundado da magia, está inebriado desse frescor.

Clareia e o ar ganha uma nova paleta de cores e de esperanças. A natureza não cansa de nos distrair e de magnetizar. A inspiração da cena resgata seu propósito essencial, faça chuva ou sol: das livres e espontâneas entregas.

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Quarantined Contestant 5. © Zishy

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