Mural da História – 2021 – S.O.S. FAS

Há muitos meses vejo a mesma cena. Hoje, fui tomado pela irritação. Na ponte sobre o Rio Barigui, na fronteira do Seminário (Nossa Senhora Aparecida) com o Campo Comprido (Eduardo Sprada), a partir das 17 horas, conforme testemunho de um comerciante local (sim, desci do carro e entrei no estabelecimento em busca de informações, aproveitei para comprar algum alimento para doação no próprio local), aproximadamente 6 indigentes começam a se juntar e dividir uma garrafa de cachaça, com certeza obtida com os recursos arrecadados pela mendicância durante o dia.

Só dois ou três usam máscara. Alguns em idade avançada. A garrafa passa de boca em boca, o que, convenhamos é um brutal risco em tempos pandêmicos. São todos extremamente vulneráveis, esquálidos, sujos e vestidos com trapos. Não tomam banho há meses e estão cabeludos e barbudos. Acabado o álcool, dormem por ali mesmo e saem muito cedo para mendigar. São, conforme depoimento do comerciante, mansos e pacíficos. Desde que ali chegaram nunca agrediram ninguém, quer com gestos ou palavras.

O mesmo comerciante disse que já ligou para FAS – Fundação de Ação Social da Prefeitura Municipal de Curitiba, mais de 10 vezes. Sempre dizem que vão lá, mas nunca foram. Fica aqui consignado o S.O.S. Como a FAS é municipal, aproveito o ensejo para desejar melhoras ao burgomestre, que se recupere prontamente e não fiquem sequelas.

1960|2023

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Mural da História – 1980

DEBENDOX-dois

Eu estava saindo do Jornal do Estado, junto com Reynaldo Jardim e Tiago Recchia asumiu o posto.

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Lições de um ano violento

O ano que acaba foi muito violento. Outros também foram, mas nem tanto. O ataque sangrento do Hamas e as consequências dele assombram os últimos meses de 2023.

Depois de tudo o que vi e li, estupros, execuções covardes, corpos infantis sendo resgatados dos escombros, escolas e hospitais bombardeados, cheguei a escrever que perdi minha fé no ser humano. Ao longo dos dias, ajudado por algumas leituras, concluí que minha fé no ser humano era apenas uma ilusão, o tipo de ilusão que talvez valha a pena manter com a ressalva de que estamos conscientes dela.

Num texto de John Gray sobre os astecas, constato uma nova maneira de ver a violência. Para eles havia um caos subjacente, e a violência do Estado refletia a violência do cosmo e dos deuses. Matavam gente em larga escala, em sacrifícios ritualescos. Foi como se percebessem que não podiam abrir mão da violência e decidiram santificá-la. Segundo Gray, conferiam um lugar central para os impulsos, algo que o pensamento moderno nega.

Os astecas não se chocavam se seus governantes se comportassem com a arbitrariedade de um deus. Para eles, os seres humanos estavam fadados a viver num mundo em que os governantes eram seus inimigos, mas asseguravam um tipo de ordem que, sem eles, não seria possível.

Tudo isso ficou nos tempos remotos. Mas a violência reaparece sempre com nova roupagem. Os guerrilheiros tâmeis no Sri Lanka inventaram o homem-bomba, mais tarde encontrado no Líbano. Era uma violência destinada a construir um novo mundo. Terroristas árabes detonam suas bombas com a esperança de encontrar dezenas de virgens no além.

O pensamento ocidental, segundo Gray, formula saídas ilusórias como a tese de Thomas Hobbes segundo a qual os humanos temem a morte violenta e fazem um contrato para instaurar um governante de poderes ilimitados que exija obediência. Para Gray é uma visão enganadora, porque os humanos em Hobbes são fantasiados para inventar a solução de um problema que não conseguem resolver: conciliar os imperativos da paz com as exigências de suas paixões.

Durante algum tempo cheguei a pensar que a paz era o horizonte da humanidade. Uma ilusão estimulada pelo fato de as grandes potências, nos últimos anos, não fazerem guerra entre si. Mas temem o poder de destruição de um conflito atômico e fazem inúmeras guerras por procuração: armam, treinam aliados, invadem e bombardeiam outros países.

Hoje é dia de refletir sobre o Natal. Mas o Natal não pode ser comemorado em Belém, onde Jesus nasceu. É a guerra. Esse próprio momento de solidariedade e respeito ao próximo que o cristianismo nos oferece pode ser visto de outras maneiras.

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Estakanovistas

VOCÊS são estakanovistas, disse à moça e ao rapaz bibliotecários que vieram organizar a barafunda aqui de casa. Falei com maldade, não expliquei, era para espicaçar a curiosidade dos dois. É que como leitor tenho um certo preconceito contra bibliotecários, o de achar que não passam do título dos livros, o suficiente para catalogar e devolver à estante (burrice minha de achar que bibliotecário tem tempo e pachorra para bisbilhotar livros). Na hora ficaram quietos. No intervalo do cafezinho vieram compenetrados falar comigo: “não sei se agradecemos o elogio ou lamentamos o xingamento”. Claro que foram à Wikipedia – como também fui para puxar a foto de Alexei Stakhanov, o herói da União Soviética de Stálin, que superava ao quadruplo as cotas individuais de produção de carvão.

O mérito não foi procurar nos livros, milhares de trabalhos escolares são obra da inteligência quase artificial da Wikipedia. O bacana está no especular entre elogio ou xingamento, sacada dos dois. É que de um lado Stakhanov foi celebrado pela produção e de outro criticado por exceder os limites desta. Para os comunistas igualitaristas da época, ao exceder suas cotas Stakhanov estabelecia um padrão de desigualdade, quebrando o princípio do marxismo clássico. De minha parte vejo meus bibliotecários como estakanovistas do padrão estalinista: combinei pagamento em parcelas no limite estimado de quatro meses de trabalho. Pois não há de ver que em mês e meio os dois concluíram o serviço? Bem que os trotskystas diziam que o estalinismo era um capitalismo ao avesso. 

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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Que país foi este?

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Mural da História – 2017

Pryscila Vieira, na exposião “Solda vê TV”, Café Parangolé. © VeraSolda

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Um que eu tenho

01. Life Is A Journey
02. A Rock And A Hard Place
03. Um Lar Longe De Casa
04. Mi Deh Yah
05. What a World
06. Focus
07. Better Days
08. The Best
09. Are You Ready
10. Jamaica
11. Tell The world
12. John Jones
13. Feelin Blue
14. Working For The Man

Mi Deh Yah, Clinton Fearon. Boogie Brown Productions|1606 SW 104th Street #239| Seattle WA 98146 USA. Para ouvir de bermuda e chinelão.

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Benett- Chargista da Folha de S.Paulo e editor do Plural.

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Fala, loucura!

Com a voz, a Loucura. Neste libelo do teólogo Erasmo de Rotterdam (1469-1536), quem fala é a Loucura. Sempre vista apenas como uma doença ou como uma característica negativa e indesejada, aqui ela é personificada na forma mais encantadora. E, já que ninguém mais lhe dá crédito por tudo o que faz pela humanidade, ela tece elogios a si mesma. O que seria da raça dos homens se a insanidade não os impulsionasse na direção do casamento?

Seria suportável a vida, com suas desilusões e desventuras, se a Loucura não suprisse as pessoas de um ímpeto irracional e incoerente? Não é mérito da Loucura haver no mundo laços de amizade que nos liguem a seres imperfeitos e defeituosos? Nas entrelinhas de Elogios da Loucura, o humanista Erasmo critica todos osracionalistas e escolásticos ortodoxos que punham o homem a serviço da razão (e não o contrário) e estende um véu de compaixão por sobre a natureza humana.

Pois a Loucura está em toda parte, e todos se identificarão com algum tipo de loucos contemplados pelo autor. Afinal, como ele próprio diz: “Está escrito no primeiro capítulo de Eclesiastes: O número de loucos é infinito. Ora, esse número infinito compreende todos os homens, com exceção de uns poucos, e duvido que alguma vez se tenha visto esses poucos”. 

Portanto, amigo, se você está rasgando merda ou comendo dinheiro (e vice-versa), fique tranquilo. Nem tudo está perdido. Coleção L&PM Pocket, Volume 278, 2007, tradução de Paulo Neves. Quem procurar, acha.

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Pra não esquecer

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Mural da História – 2014

Ligia livro solda livraria“Solda”, na Livraria da Vila, no Shopping Cidade Jardim, São Paulo.© Ligia Kempfer

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Duas ou três coisas que eu sei dele

Me lembro que o Mercer me surpreendeu quando disse repentinamente “Kurt Vonnegut”. Ponho aspas porque é uma frase do Mercer. Tem somente o sujeito, nome e sobrenome, mas apenas o sujeito. O verbo e o complemento o Mercer deixou ocultos. Ele não precisava de uma frase inteira para dizer certas coisas.

Me lembro do Mercer bom em verbos. Quando fomos juntos à praia sem sair de Curitiba (ver LeitE QuentE nº 4, “A cidade sem mar”), ele fez o prefácio. “Curitibano não vai à praia, curitibano desce.” E escreveu um ensaio sobre o verbo descer. O verbo ele transformou em sujeito, no caso um sujeito curitibano.

Me lembro que o Mercer lidava muito bem não só com as letras, mas também com os números. No baile dos 50 anos, me lembro, ele tinha 20 e poucos.

25|2|2006

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O dilema petista

Lula ainda não definiu a estratégia do PT para as eleições municipais

O PT debate se deve ou não usar as solenidades do 8 de janeiro para começar sua campanha eleitoral para a eleição municipal do ano que vem. Uma das ideias é aproveitar a lembrança da tentativa de golpe, com a depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, para reutilizar o discurso da ameaça à democracia.

O sentimento majoritário é de que a legenda e seus aliados devem trabalhar, de novo, o medo do risco de um eventual golpe de Estado pelos herdeiros políticos de Jair Bolsonaro para dissuadir o voto em prefeitos e vereadores bolsonaristas no ano que vem.

A questão é que prefeito e vereador não têm força política, nem instrumentos de Estado para dar um golpe.

Uma parte do partido, porém, é contra o uso do fantasma de um golpe e tem dois arguementos. O primeiro é batido: tratar do risco-Bolsonaro significa dar a ele legitimidade e importância política.

O segundo é que nas eleições municipais o eleitor está preocupado com questões menos teóricas e mais práticas, como posto de saúde, buraco na rua e poda de árvores. Dar pouca relevância a esses temas, pode enfrequecer os candidatos locais do PT ou seus aliados.

Lula ainda não decidiu. Mas, segundo seus interlocutores, está inclinado a optar por nacionalizar o discurso.

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