Podolatria

PERCA dois segundos durante o filme em que a mocinha – linda, seminua, sensual – aparece descalça. Não tem erro: sempre a sola dos pés sujos.Seja quem for, pode ser a Anne Hathaway, uma das beldades inglesas ou italianas, não falo das francesas porque estas não mostram os pés. E a mais recente, de Margot Robbie, a emblemática Barbie. Desde que assisto filmes, e não só os despudorados em que a nudez integra a trama dramática, enrosco naqueles pés sujos. Perdoem a lembrança, maldito seja quem mal pensar de mim, mas resgato, em honrosa exceção, as atrizes pornôs, cuja exposição ao chuveiro deixa-lhes os pés também alvos e pristinos. Alguém dirá, por que essa assinatura com pés limpos? Explico: é fetichismo agravado pela obsessão da limpeza.

Sim, confesso, mea maxima culpa, sou podólatra, incurável e irreversível. Mas só para pés femininos, limpos e grandes, 37/38 no mínimo, emoldurados pelas artes pedicuras. Na Receita de Mulher, Vinicius exalta a poesia dos pés. De minha parte, avanço pela metafísica: os pés sujos são da sujeita intrínseca do pé ou da sujeira extrínseca do estúdio? Nosso mestre Solda, cujo fetiche opera no equador feminino, sempre reproduz fotos autorais de Jan Saudek com as mulheres de pés sujos. Está certo que Saudek investe no sensualismo escatológico, tanto dos personagens quanto dos ambientes. Mas aceitar pés sujos em mulheres nada calipígias em poses grotescas como as de Saudek é, como sempre digo, somar o insulto à injúria. 

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Mural da História – 2022

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Falta confiança

O governo vai buscar lideranças do Congresso para garantir o empenho das emendas parlamentares até o meio do ano, como propuseram deputados e senadores na Lei de Diretrizes Orçamentárias. A contrapartida seria o calendário para liberação dos recursos não constar na LDO.

Parlamentares já sinalizaram que vão resistir ao acordo, baseado exclusivamente na confiança. Eles temem que o governo privilegie aliados na liberação das emendas em ano de eleições municipais, como mostrou o Bastidor.

O responsável pelas negociações, além dos líderes do governo e do PT no Congresso, será o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), tratado com desconfiança por deputados e senadores, que o acusam de não cumprir acordos.

As conversas entre o governo e as lideranças do Congresso se darão a partir da segunda-feira (8), após evento que marca um ano dos ataques às sedes dos Três Poderes.

Deputados do Centrão querem discutir outros vetos do presidente Lula na LDO. Havia um acordo para a manutenção de ao menos dois trechos do texto – que tratam do Minha Casa Minha Vida e do Fundeb (Fundo Nacional da Educação Básica) – e a ideia é que o governo recue.

Parlamentares da base com quem o Bastidor conversou disseram que há espaço para acordo, mas a tendência hoje é de derrubada dos vetos.

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Sem jornal impresso, mas com graça

Quando a edição impressa da “Gazeta do Povo” deixou de circular, lamentei aqui, Não propriamente o fim da “Gazeta”, mas o fim da imprensa, do jornal escrito. E, embora eu esteja me expressando on-line, por graça e benevolência do nosso Zé Beto – ele próprio formado e criado na imprensa de papel, ao som da rotativa e o cheiro da tinta de impressão –, ouso afirmar, parafraseando Monteiro Lobato, que uma cidade sem jornal é uma cidade sem alma.

Em Curitiba, só nos últimos tempos, já perdemos “A Tarde”, “O Dia”, “Diário da Tarde”, “Diário do Paraná”, “Correio do Paraná”, “Correio de Notícias”, “O Estado do Paraná”… Logo – podem crer – perderemos a “Tribuna do Paraná”, o “Jornal do Estado” (agora, “Bem Paraná”) e o “Indústria e Comércio”. E estaremos todos nós, leitores, cada vez mais órfãos, porque um jornal não é apenas um veículo de comunicação; é o escrivão da história de um povo, da civilização. No Brasil, a imprensa escrita confunde-se com a história do país, tem tudo a ver com a formação de nossa gente, de nossa cultura, de nosso desenvolvimento. Quando morre, ainda que aos poucos, é motivo de enorme tristeza.

O homo sapiens demorou milênios para dominar a escrita, isto é, a utilização de sinais gráficos para exprimir as suas ideias. No limiar do século XXI, está fazendo o possível para livrar-se dela. Começou com a publicidade e avançou com a televisão, onde a síntese é obrigatória, ainda que com prejuízo do entendimento. Agora, vive o avanço da comunicação on-line. O que o futuro nos reserva, só Deus sabe. Talvez nem Ele.

Não por acaso, lembrei-me de Ciro Pellicano. E repassei os olhos no saboroso livrinho que ele escreveu e que me fora presenteado, algum tempo atrás, por uma boa amiga: “A Última Coisa que Pretendo Fazer na Vida é Morrer” (Ed. Códex, 2003). Ciro é (ou foi) publicitário. E, como tal, tendo exercitado, durante anos a fio, o “fascinante ofício da síntese”, de repente já não conseguia escrever uma carta com mais de cinco linhas nem manter uma conversação que excedesse trinta segundos. Voltou correndo para o papel e ao exercício das letrinhas.

Escrita e fala, por não serem mais exercidas, acabarão inevitavelmente esquecidas.

Enquanto isso não acontece, aproveitemos o tempo que nos resta e os veículos de comunicação ainda existentes e à nossa disposição.

Ciro desfila na publicação, por escrito, uma coleção de citação de “frases essencialmente supérfluas (ou superfluamente essenciais)”, revividas por ele com competência e bom-humor e recomendadas aos leitores de bom-gosto. Como homenagem ao autor, tomo a liberdade de extrair do livro alguns exemplares esparsos. São a prova de que, mesmo com os smartphones, o whatsapp, a necessidade de síntese e o fim dos jornais impressos, a inteligência pode continuar existindo:

  • “O homo sapiens surgiu na África. Mas, assim que ficou um pouquinho mais sapiens, emigrou para a Europa”.
  • “Consumo conspícuo é você comprar um dicionário só para saber o que a palavra significa”.
  • “Ponto facultativo: Sinal ortográfico de uso não obrigatório”.
  • “Nasci com um dom, mas era só um sino da igreja marcando uma da manhã”.
  • “Era uma família de estrutura tão baixa que, em vez de árvore genealógica, tinha um arbusto”.
  • “Os homens são de Marte, as mulheres são de Vênus. E os milhões de idiotas que compraram o livro são aqui da Terra mesmo”.
  • “A televisão costuma exigir só 25% do coeficiente de inteligência dos telespectadores, cifra que na maioria dos casos representa 100% do que eles possuem”.
  • “Superior hierárquico: Um ser inferior”.
  • “Casamento: Instituto jurídico pelo qual duas pessoas decidem dividir o leito até o momento de dividir os demais bens”.
  • “Diga não aos poderosos, mas tome o cuidado de não ser ouvido”.
  • “O poder só sobe à cabeça quando encontra o local vazio”.
  • “Como já destruiu a sua, o alcoólatra bebe sempre à saúde dos outros”.
  • “Avó: Uma mãe que o fogo baixo do tempo tornou mais saborosa”.
  • “Toda vez que ouço falar de alguém que tenha morrido por falência múltipla dos órgãos, fico sem saber se a expressão se refere ao doente ou ao sistema de saúde”.
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Siladas

A morte pediu-me uma audiência. Como eu estava com a agenda lotada, pedi para um poema meu recebê-la em meu lugar, até a hora que o nosso fatal encontro fosse disponibilizado de parte a parte por afinal ser necessário e obrigatório. Desde esse dia, então, que a morte não devolveu meu poema mais triste, mas ergueu bandeira branca e parece-me que não quer me ver nem morto, muito menos pintado para escambo.

Silas Correa Leite|Silas e suas “siladas”

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Elas

talita-do-monteTalita do Monte.  © Albert Piauhy

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Eustórgia Alborga

Eustórgia Alborga foi casada durante quinze anos com um ser extraterrestre, até o dia em que o marido alienígena chegou em casa mais cedo e se desmanchou na sala, estragando o tapete. Eustórgia declarou aos jornais que desconhecia a procedência do cônjuge, embora achasse realmente estranho quando ele, embriagado, levitasse em frente à máquina de lavar. Eustórgia pretende começar vida nova, mas não sabe o que fazer com o tapete estragado.

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Meu tipo inesquecível

Lauren Bacall – Betty Joan Perske – 16 de setembro de 1924 — Nova Iorque, 12 de agosto de 2014.   © Time

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Resenhazinha

Em Busca do Tempo Perdido. A la recherche du temps perdu. Paris, Gallimard, 1922, 1600 páginas. Um rapaz asmático sofre de insônia porque a mãe não lhe dá um beijinho de boa-noite. No dia seguinte (pág. 486 vol. I), come um bolo e escreve um livro. Nessa noite (pág.1344, vol.VI) tem um ataque de asma porque a namorada (ou namorado?) se recusa a dar-lhe uns beijinhos. Tudo termina num baile (vol. VII) onde estão todos muito velhinhos.

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Aviso aos navegantes

Fechado pra balanço.

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A origem da picuinha entre Lula e RCN, segundo Haddad

Ministro da Fazenda “explicou” em entrevista porque o presidente da República teria partido para o confronto com o presidente do Banco Central e defendeu reduzir duração do mandato na autarquia.

De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o mal humor de Lula com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, começou no primeiro encontro entre os dois ainda em dezembro de 2022. Perguntado sobre o impacto das ameaças de aumentar a meta de inflação por Lula, Haddad defendeu o chefe, apontou para uma “divergência técnica” sobre o início dos cortes na Selic e tentou explicar a picuinha do petista.

Assisti ao primeiro encontro (entre Lula e RCN), em dezembro de 2022, e não foi um bom encontro, mas não quero entrar em detalhes. Já o segundo foi muito bom. A relação institucional da Fazenda com o BC nunca teve problemas. E a do Planalto passou a não ter”, disse em entrevista a O Globo.

O ministro também tentou minimizar o fato de que a posição dos indicados por Lula ao Banco Central em nada foi diferente da do próprio Roberto Campos Neto em nenhuma das quatro reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) em que participaram.

A transição foi atípica e delicada. E foi a primeira vez que um presidente do Banco Central foi indicado pelo governo anterior“, disse, para depois defender a redução do mandato para o presidente da autoridade monetária. “Diria que um ano do mandato presidencial seguinte pode funcionar melhor do que dois anos, porque as decisões de política monetária têm efeito até 18 meses à frente. E há risco de um presidente indicado pelo governo anterior interferir na gestão do seguinte”.

Haddad só esqueceu que o motivo de haver um mandato que se estenda pelos primeiros anos do mandato da Presidência da República é justamente evitar a interferência indevida na gestão da política de combate à inflação.

Além disso, o ministro também tenta esconder que o fato de Gabriel Galípolo e Ailton Aquino e o desafeto do petista sempre estarem do mesmo lado nas decisões sobre o futuro da Selic pode indicar que a tal “divergência técnica” talvez não fosse tão técnica.

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Elas

© Jan Saudek

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Fraga

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

Quando foi anunciado, “Estranha Forma de Vida” vinha sempre acompanhado da seguinte descrição: “É a resposta de Pedro Almodóvar a ‘O Segredo de Brokeback Mountain‘”. Nos idos dos anos 2000, o cineasta espanhol teve a oportunidade de dirigir o longa, mas recusou. A ideia de um faroeste com um romance entre dois cowboys permaneceu na cabeça de Almodóvar, que explora o mesmo conceito neste média-metragem, seu primeiro filme em inglês e com elenco de Hollywood.

Ethan Hawke, Pedro Pascal, José Condessa, Jason Fernández, Manu Ríos, Pedro Casablanc, George Steane, Sara Sálamo, Oihana Cueto, Daniela Medina

 Western / Romance – Diretor: Pedro Almodóvar- Duração: 31 minutos – Ano de Lançamento: 2023 – País de Origem: Espanha / França -Idioma do Áudio: Inglês / Espanhol IMDB: http://www.imdb.com/title/tt13055264

Mais uma experiência do que um conto em si, “Estranha Forma de Vida” foi concebido também de forma estranha por ser uma colaboração de Almodóvar com a grife Yves Saint Laurent, que agora busca atuar no ramo de produções cinematográficas. O toque é perceptível, ainda que não necessariamente relevante, e acaba transformando a obra em algo mais parecido com um comercial com pretensões cinematográficas do que um filme com pretensões comerciais.

Ainda assim, o que há de Almodóvar é encantador. O longa acompanha o reencontro do cowboy Silva (Pedro Pascal) com o xerife Jake (Ethan Hawke) após 25 anos separados. Quando jovem, a dupla trabalhou junta como caçadores de recompensas, e, no calor da juventude, frequentemente confundiam amor, trabalho e festa, mas sempre focando um no outro. Com o passar dos anos, os amantes se distanciaram, apesar do sonho antigo de terem um rancho e viverem juntos. A idade não caiu bem a Jake, que tornou-se um adulto reprimido por suas próprias noções de vida, enquanto Silva permanece tão sanguíneo quanto sempre fora. Quando um caso extremamente pessoal aparece para Jake investigar, seu caminho cruza com o de Silva, e o ex-casal precisa finalmente confrontar quem eram no passado e quem se tornaram no presente.

O contraste entre Jake e Silva fica claro desde o minuto inicial. O primeiro, um xerife que veste preto, sempre com a insígnia alinhada com a lapela do blazer e o cabelo domado com gel. O segundo é um banho de cor em um deserto bege, vestindo jaqueta verde e roupas vermelhas por baixo com cabelo desgrenhado. Inicialmente é de se espantar como eles podem ter sido um casal, de tão diferentes que são até mesmo em sua intimidade.

Em entrevista exibida junto ao filme nos cinemas, Almodóvar explica suas intenções com “Estranha Forma de Vida”: explorar como as pessoas deixam que seus desejos e impulsos sejam reprimidos a ponto de tentarem se ver completamente diferentes de quem realmente são. Vem daí o próprio título do filme, referência ao clássico fado português interpretado por Caetano Veloso em falsete, como uma mulher. O olhar sensível e feminino é realmente um atributo de Almodóvar que faz falta aos homens, e analisa a masculinidade do casal protagonista da forma mais tenra possível — enquanto Silva mostra e fala o que seu parceiro quer tanto disfarçar e omitir, Jake parece sempre imerso em sua opressão a si mesmo.

Ainda assim, apesar de Almodóvar considerar que o formato do média-metragem lhe garante maior liberdade para contar histórias sem precisar alongá-las à longa duração, “Estranha Forma de Vida” é breve demais, deixando por desejar um desfecho que de fato satisfaça a expectativa criada ao redor do romance proibido de Jake e Silva. Parece, então, que o que ocorreu com o média-metragem foi o contrário do que Almodóvar descreve sobre o formato longo, como se uma história maior tivesse sido contada pela metade para caber em uma experiência mais breve. Quem assiste sai sedento por mais, cabendo facilmente o triplo da duração no filme, o que evidencia o viés comercial e experimental do filme se sobressaindo sobre a visão artística de Almodóvar.

Julio Bardini

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