Brasil teria evitado pelo menos 5.000 mortes com oferta inicial da Pfizer, diz pesquisador

O Brasil teria evitado pelo menos 5.000 mortes nos últimos meses caso o governo Jair Bolsonaro tivesse aceitado a oferta de vacinas da Pfizer em agosto do ano passado.

É o que aponta cálculo feito a pedido da Folha pelo epidemiologista Pedro Hallal, professor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

Ele tomou como base as informações prestadas pelo gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, à CPI da Covid nesta quinta-feira (13).

Segundo o representante do laboratório, a Pfizer fez oferta ao Brasil no meio do ano passado que previa o envio de 70 milhões de doses, das quais 4,5 milhões seriam entregues ao país de dezembro a março —1,5 milhão em 2020 e 3 milhões no primeiro trimestre de 2021.

Equipe Ultrajano

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“As provas do mensalão de Bolsonaro”

A Crusoé rastreou o dinheiro do Bolsolão, usado por Jair Bolsonaro para comprar apoio no Congresso Nacional, exatamente como fez o lulismo no mensalão e no petrolão.

A reportagem, que escancara os métodos corruptos do bolsonarismo, detalhando os repasses a seus intermediários e agentes, diz:

“Recursos enviados para a base eleitoral do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho, foram parar em empresas de um irmão dele e de um amigo íntimo da família. 

Outra parte da fortuna federal distribuída a aliados teve como destino a concessionária de um prefeito amigo do presidente Jair Bolsonaro – os recursos que chegaram à empresa haviam sido destinados por correligionários do prefeito. 

No interior de Goiás, uma cidade minúscula agraciada por um senador do Acre (sim, do Acre!) com 20 milhões de reais – dos quais 14 milhões já constam como pagos – desconhece a chegada do dinheiro. 

Em outra frente, milhões de reais foram repassados pela Codevasf, sob a assinatura de um conhecido operador do Progressistas, homem de Ciro Nogueira, a uma consultoria cujo dono aparece metido nos desvios de dinheiro do governo de Sérgio Cabral.”

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Musas

meu-tipo-inesquecível--eva-greenEva Green, Isabelle, em “Os Sonhadores”, Bernardo Bertolluci, 2004,  1h56min, The Dreamers. 

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A CPI dos cagões

Em complemento ao texto por mim assinado aqui ontem, devo registrar, por justiça, que o ex-ministro Eduardo Pazuello, que fugiu do depoimento à CPI da Pandemia, no Senado Federal, não é o único cagão no procedimento. O ilustre presidente da Comissão, senador Omar Aziz, também é.

Com o propósito de proteger o antigo chefe, o capitão-presidente, o ex-secretário da Secom Fábio Wajngarten disse e desdisse, caiu em contradição, escondeu fatos e mentiu desavergonhadamente em seu depoimento de quarta-feira na mesma CPI. O relator Renan Calheiros pediu a prisão do depoente, na forma da lei. O presidente Aziz, no entanto, ainda que reconhecesse a falta de verdade de Wajngarten, não deferiu o pedido, sob a alegação de que não era “carcereiro” e que não seria capaz de medida de tamanha envergadura. Quer dizer, acovardou-se. Ou, no popular, cagou-se.

As comissões de inquérito são previstas no art. 58, § 3º, da Constituição Federal, com regulamentação na Lei 1.579/52. E as CPIs têm poder de investigação e decisão de autoridades judiciais.

Ademais, como ensinaria o nosso jurista Cláudio Henrique de Castro, pessoas investigadas ou acusadas em Comissão Parlamentar de Inquérito podem mentir ou manter-se em silêncio, em face da regra de não obrigatoriedade de produção de provas contra si mesmo. No entanto, uma testemunha, como Wajngarten, não tem essa prerrogativa. Se mentir, poderá ser enquadrada no artigo 342 do Código Penal, que estipula o crime de falso testemunho. A prisão seria preventiva, com o encaminhamento do preso à autoridade policial. No caso de Fábio Wajngarten, entretanto, a prisão seria em flagrante, por ocorrer no momento em que o delito estava sendo cometido.

Se o senador Omar Aziz não é capaz de decretar a prisão de depoente que presta falso testemunho e, assim, cumprir a lei, por que diabo aceitou presidir a Comissão Parlamentar de Inquérito?!

Parece que o vírus do cagaço está se espalhando.

Ou o senador amazonense teria outros motivos para a negativa da prisão? Talvez certa ojeriza ao tema prisão. Quem tem memória, há de se lembrar que a esposa de Aziz, a deputada Nejmi Aziz (PSD), e os irmãos do senador foram presos, em 2019, por acusação de desvio de verbas públicas da saúde na maior operação da história da Polícia Federal no Amazonas.

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

Cinebiografia de Carlos Marighella, ex-deputado, poeta e guerrilheiro brasileiro que foi assassinado pela ditadura militar em 1969. Adaptação do livro “Marighella – O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo”, de Mário Magalhães. A direção é do ator Wagner Moura, que faz sua estreia como diretor.

2h35min. Drama, Biografia, Histórico Direção: Wagner Moura. Roteiro Felipe Braga, Wagner Moura. Elenco: Seu Jorge, Adriana Esteves, Bruno Gagliasso.

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O 13 de maio

Entre 1500 e 1867 os navios negreiros embarcaram na África cerca de 12,5 milhões de cativos, desse total 10,5 chegaram vivos à América, estima-se que 1,8 milhão morreram na travessia. Ao Brasil vieram 5,8 milhão de escravos.

A abolição da escravatura ainda não é plena.

Um estudo no qual foram analisadas 174 novelas produzidas entre 1964 e 1997 pela Globo e Tupi revelou que os negros e mulatos sempre foram retratados de forma submissa e preconceituosa, isso reforçou o imaginário racista brasileiro e estereotipou o negro brasileiro.

O livro se transformou em filme: A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira do estudioso Joel Zito Araújo.

O estereótipo novelesco reforçou e estabeleceu padrões tidos como naturais, normais e aceitáveis. Nesse sentido banalizou-se a violência contra as mulheres negras, os assassinatos nas periferias.

A exclusão social em larga escala somada ao racismo estrutural gera violência e criminalidade e o resultado é que em 2019 dos quase oitocentos mil encarcerados no Brasil, cerca de 66,7% são negros.

Os negros lideram as vítimas de homicídios, em 2019, foram 74,4%. A intervenção policial faz 4,2 vítimas a cada 100 mil habitantes negros.

O crime de injúria racial possui elementos referentes a raça, cor, etnia, religião e tem crescido no Brasil, de 2018 a 2019, subiu cerca de 23,4%.

Um negro é assassinado no Brasil a cada 23 minutos. As mulheres negras têm 2,2 vezes mais chances de serem mortas do que as brancas, a violência contra as mulheres só aumenta no Brasil.

A população negra ganha menos e é a que mais sofre com o desemprego e a que mais é vítima da pandemia. Pertencer a uma religião afro-brasileira ainda é um desafio, cerca de 59% dos crimes de intolerância são praticados contra candomblecistas e umbandistas.

O 13 de maio é todo o dia, acabar com o racismo estrutural no Brasil e sua negação hipócrita ainda não é uma política de estado.

Quatro séculos de escravidão não se resolvem no passe de mágica, mas somente com políticas sociais inclusivas e, essencialmente, com educação em larga escala, pública e de alta qualidade.

Fontes:

GOMES, Laurentino. Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares. V. I. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2019. Continue lendo

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Com atenções na CPI, Câmara pode ‘ passar boiada’ no licenciamento ambiental

Aproveitando que os holofotes estão sobre a CPI da Pandemia, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), pautou, ontem, quarta (12), passar uma “boiada”: um projeto de lei que dispensa uma série de atividades econômicas de obterem licença ambiental. Ou seja, poluição e degradação com cegueira deliberada por parte do Estado.

Não só isso. O substitutivo do deputado Neri Geller (PP-MT) ao projeto de lei 3.729/2004 incentiva uma corrida para ver quem protege menos o meio ambiente, uma vez que um estado pode oferecer menos critérios que outro. E prevê licença autodeclaratória para projetos que não estejam qualificados como de significativo potencial de impacto, minoria dos casos no país. O que inclui desde barragens de resíduos, como as da Vale, passando por obras em estradas até ampliação de hidrelétricas. Basta que os responsáveis deem sua própria palavra como garantia de que tudo está sob controle.

“Considerando o seu conteúdo extremado e desequilibrado, o projeto de lei, se aprovado, resultará na proliferação de tragédias como as ocorridas em Mariana e Brumadinho (MG), no total descontrole de todas as formas de poluição, com graves prejuízos à saúde e à qualidade de vida da sociedade, no colapso hídrico e na destruição da Amazônia e de outros biomas”, afirma nota divulgada pelo Observatório do Clima, SOS Mata Atlântica, Greenpeace, Instituto Socioambiental, entre outras organizações ambientalistas.

“Se, com a legislação atualmente em vigor, todos os empreendimentos com potencial impacto socioambiental necessitam garantir a sustentabilidade de sua instalação e operação, o projeto em questão pode ser classificado como a ‘Lei da não licença e do autolicenciamento’ “, diz a nota.

Leonardo Sakamoto

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“O anti-bolsonarismo deu um salto”

O Datafolha de hoje é igual ao de agosto de 2018, exceto pelo repúdio a Bolsonaro

“É como se a conjuntura política entrasse num túnel do tempo, recuando até agosto de 2018”, diz Josias de Souza.

“Naquela ocasião, Lula prevaleceria sobre Bolsonaro no segundo turno por 52% a 32%. Hoje, informa o Datafolha, o líder petista amealharia 55%, contra os mesmos 32% atribuídos a Bolsonaro. No primeiro turno, Lula prevalece hoje sobre Bolsonaro por 41% a 23%. Em 2018, o placar era de 39% a 22%.”

O que mudou de lá para cá?

“Decorridos dois anos e quatro meses de um mandato em que o capitão se dedicou a governar para um terço dos brasileiros, o anti-bolsonarismo deu um salto. Mais da metade dos eleitores (54%) declara que jamais votaria em Bolsonaro. Em agosto de 2018, esse índice era 15 pontos percentuais mais baixo: 39%.”

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© Jan Saudek

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Bolsonaro de aviso prévio

Se o Brasil fosse um país normal e aqui as coisas corressem nos conformes, o ex-capitão Jair Messias Bolsonaro já deveria estar procurando emprego porque o gato da presidência começa a subir no telhado (*). Depois dos depoimentos na CPI da Pandemia dos ex-ministros da Saúde Henrique Mandetta e Nelson Teich, do atual, Marcelo Queiroga, e do presidente da Anvisa, nem precisa mais ser ouvido o general Eduardo Puzzuello, aquele que, como se sabe, foi testado positivo para o vírus do cagaço, como revelou o site Sensacionalista.

Mandetta confirmou que Bolsonaro desprezou a ciência no combate à pandemia; adotou um discurso negacionista, ajudando a espalhar a Covid-19; e ignorou a recomendação expressa e escrita do Ministério para evitar o colapso de saúde e gravíssimas consequências à saúde da população, incluindo a negativa da aquisição de vacinas. Além da insistência de s. exª. em dar mau exemplo, participando de aglomerações públicas e não usar máscara.

Nelson Teich, que ocupou a cadeira de ministro durante apenas 29 dias, confirmou que encerrou o expediente por falta de autonomia de trabalho e por divergências com Jair Messias quanto ao uso da cloroquina, além da existência de palpiteiros externos.

O depoimento do atual ministro da Saúde Marcelo Queiroga foi um exercício de contorcionismo de quem não quer desagradar o presidente, mas sabe que as ações presidenciais não merecem crédito nem respeito, e a solução está nos ditames científicos, na vacinação em massa e nos cuidados elementares com o isolamento social, higiene e uso de máscaras. O depoimento de Queiroga foi duramente criticado pelo presidente da CPI, por haver se esquivado de responder perguntas incômodas e de dar a opinião pessoal sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento precoce, defendido por Bolsonaro.

Por outro lado, surpreendeu positivamente o testemunho de Antônio Barra Torres, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que, apesar da conhecida amizade com o presidente, foi de uma sinceridade inesperada ao criticar o uso de cloroquina, medicamento ineficaz contra a Covid-19, ainda que tenha sido pressionado para dizer o contrário. Criticou o negacionismo de Bolsonaro e disse que declarações dele sobre as vacinas vão contra tudo o que a a agência preconiza. Confirmou também a tentativa de alteração da bula do remédio para torná-lo indicado no tratamento da pandemia. O depoimento de Torres causou profundo constrangimento no Palácio do Planalto.

O general Eduardo Pazzuello, o penúltimo ministro da Saúde de Bolsonaro fugiu de depor na CPI, alegando que tivera contato com dois auxiliares que testaram positivo para o coronavírus, embora fosse flagrado passeando, dias antes, em shopping de Manaus, sem máscara e feliz da vida. Sua presença na CPI seria de fundamental importância, posto ter sido o principal cúmplice do capitão-presidente na confusa e criminosa gestão de combate à pandemia. Incompetente e submisso, com ele a pandemia avançou, as mortes quadriplicaram, o atendimento hospitalar virou um caos, vacinas foram rejeitadas, faltaram leitos, medicamentos, respiradores e até oxigênio; houve desinteligência com os governadores e com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde; criou-se um estúpido atrito com a China, fornecedora dos insumos para a fabricação das vacinas no Brasil; a orientação para a vacinação foi um desastre, com inúmeros cronogramas do Programa Nacional de Imunização… A atuação de Pazuello contaminou a imagem do presidente e, como general da ativa, começou a desgastar o Exército. Credita-se a ele boa parte das mais de 428 mil mortes de brasileiros.

Daí o pavor do especialista em estratégia e logística (!!) de comparecer à CPI. Testou positivo para o cagaço, como registrou o site humorístico Sensacionalista. Aliás, o mérito da frase – segundo o jornalista, escritor e linguista Sérgio Rodrigues – está exatamente na palavra cagaço, “uma escolha vocabular feliz”. Explica: “Cagão, cagarolas e caguincha são alguns dos mais expressivos sinônimos de medroso entre as dúzias que o Houaiss lista, de maricas favorecido pelo presidente ao timorato dos eruditos, passando pelos populares frouxo e banana e pelos clássicos poltrão e mofino”.

Por tudo isso, acredito nem ser mais tão importante o depoimento de Pazuello na CPI. A conduta de Bolsonaro já está bem definida. E Pazuello está a requerer uma CPI própria. Aliás, ele já é alvo de investigações no STF (Supremo Tribunal Federal).

 (*) Se o leitor não conhece a célebre expressão “o gato subiu no telhado”, informo-lhe, com a ajuda do site da Gazeta do Povo: “Um casal tinha um gato ao qual devotava muito cuidado. Um dia tiveram de viajar e deixaram o bichano aos cuidados de uma empregada. Passados alguns dias, a funcionária ligou para o casal e avisou: o gato morreu. A mulher entrou em choque. O marido explicou que a empregada deveria ter ‘preparado o terreno’ antes de contar a triste verdade. Podia dizer que o gato subiu no telhado, depois que ele perdeu o equilíbrio, caiu. Ao fim, contaria o que ocorreu. Ela aprendeu. Tempos mais tarde, o casal voltou a viajar. Em meio ao passeio, o homem ligou para a empregada e perguntou se estava tudo bem na casa. ‘Aqui está tudo bem’, disse ela. ‘Mas a sua mãe subiu no telhado…’ ”.

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Negacionismo e falta de medidas no Brasil foram letais, diz investigação

A maior avaliação já feita sobre a resposta global à pandemia, conduzida por algumas das lideranças mais respeitadas do mundo político internacional, cita o Brasil como um dos países que gerou mortes e um número elevado de contaminados por causa da falta de medidas adequadas e por ignorar os alertas e a ciência. O exame também concluiu que líderes que adotaram um comportamento negacionista geraram “consequências mortais”.

A referência faz parte dos documentos que embasaram as conclusões do Painel Independente criado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para examinar a resposta global à pandemia do coronavírus e sugerir uma reforma ampla da estrutura internacional com o objetivo de que uma nova crise sanitária assole o mundo.

O resultado da investigação é um golpe duro contra a OMS e líderes políticos: a pior pandemia em cem anos poderia ter sido evitada, o alerta da agência poderia ter sido dado antes, governos poderiam ter agido para salvar vidas e houve uma ausência de liderança global. “Esse desastre poderia ter sido evitado”, lamentou Helen Clark, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia e que presidiu o esforço internacional. “Isso nunca mais pode ocorrer”, completou Ellen Sirleaf, ex-presidente da Libéria e que também liderou o processo de investigação.

Trata-se do pacote de informações, investigações e apurações mais completo sobre o que ocorreu e como o mundo deve superar a crise. O grupo pede que países apliquem medidas comprovadas de saúde pública na escala necessária para refrear a pandemia. “A liderança dos chefes de estado e de governo para conseguir isso é crucial”, diz. “O mundo também deve se preparar urgentemente para evitar que um futuro surto se torne uma realidade”, alertou.

Jamil Schade

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Achacinar, achacinato

A língua é viva: todo dia, em todos os lugares, surgem palavras novas. Não foi diferente dia 6 de maio, na favela do Jacarezinho, Rio.

Embora o surgimento de uma nova palavra leve às vezes anos, até ela ser disseminada e consolidada no vocabulário de um povo ou uma região, naquela data, naquele local, levou apenas algumas horas.

Era o dia da Operação Linguisticida, onde a brutalidade ia ser professora e ensinaria para aquela cambada de pobres e pretos favelados como aprender rápido um novo verbo, um novo substantivo.

O grupo de gramaticianos, armados de argumentos de grosso calibre, invadiram o Jacarezinho em busca de uns falantes que traficam palavras ilícitas. Nem todos falam o mesmo palavreado ilícito no Jacarezinho, mas o poder paralelo verbal existe, é um fato, e nenhuma força gramaticial conseguiu até hoje acabar com o comércio ilegal de verbetes.

Dessa vez, sem conhecimento das autoridades verbalizadoras, os gramaticianos, sempre positivos e operantes, chegaram atirando vocábulos poucas vezes visto pela população da favela. As rajadas de violento vocabulário atingiram, além dos contraventores orais, mulheres e crianças.

Do mortal exercício verbal surgiu, barbaramente, o verbo achacinar. E todos lá logo assimilaram o doloroso ensinamento dos gramaticianos. 28 vidas foram usadas para estabelecer a conjugação desse inédito verbo, conjugado no pretérito perfeito simples, na terceira pessoa do plural fardado: eles achacinaram.

Achacinar, segundo o tiroteio coloquial gramaticiano, é a coletivização da chacina: ao ser pronunciada tantas e costumeiras vezes por tantos e tantas pessoas correndo com medo do vocabulário ameaçador, fugindo pra salvar o vocabulário vital de cada um, a chacina se impõe no meio falante e no vira e revira vira verbo. Achacinar é a chacina tornada comum, banalizada e a seguir dicionarizada.

Dela deriva a segunda palavra mortalmente aprendida: achacinato. O assassinato elevado ao neologismo gramaticiano. Esse substantivo, mais substancial que outros horríveis ditos nas favelas cariocas, é sonoro o bastante pra entrar de imediato no idioma assustador dos moradores. E pela força atemorizadora desse novo polissílabo, ganha repercussão e logo será assimilado pelo país inteiro.

Juntos, achacinar e achacinato, são uma aula de como alterar o léxico, submeter a linguagem e fixar duramente uma lição. Os gramaticianos foram os mestres, e as vítimas e suas famílias e os vizinhos a sua classe. E em vez dos alunos matarem a aula, a aula matou os alunos. 28 não vão passar de ano. Incontáveis feridos pelo tiroteio verbal nunca mais esquecerão os verbetes. O pavor diploma as pessoas.

Anote aí: achacinar e achacinato. Dia 6, no Jacarezinho, foram essas as novas palavras incorporadas à nossa machucada língua. Quais serão as próximas? Só o programa escolar dos gramaticianos dirá.

A língua é viva. E pros mais desfavorecidos, pode ser letal. Porque a expressão segurança pública nunca fez o menor sentido lá entre eles.

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Bolsolão faz presidente perder discurso que o elegeu

Especialista em contas públicas diz que somente “pressão da mídia e da sociedade” fará com que o esquema seja devidamente investigado

Leonardo Ribeiro, analista do Senado e especialista em contas públicas, disse a O Antagonista que a distribuição de recursos públicos para parlamentares específicos por meio das emendas do relator do orçamento — esquema que este site noticia desde o início de 2020 e que passou a ser chamado de Bolsolão — faz com que Jair Bolsonaro perca o discurso que o elegeu presidente.

O presidente foi eleito com um discurso de que não faria mais esse tipo de gestão. Mas o seu ‘time técnico’ é muito fraco, não consegue apresentar um projeto consistente para defender no Congresso. Além disso, o próprio presidente é um gerador de conflitos”, afirmou o especialista.

Nesse contexto, acrescentou Ribeiro, “o Congresso cresce”.

“Temos um Parlamento politicamente fragmentado, com um grande número de partidos, sem coesão ideológica. Vejo uma narrativa política que pode enfraquecer o presidente, que perde o discurso da eleição.”

Ribeiro lembrou que predomina no Brasil o chamado presidencialismo de coalizão, no qual cargos políticos e verbas orçamentárias são os instrumentos usados pelo Poder Executivo. Ele recordou também que mudanças recentes na Constituição tornaram obrigatória a execução das emendas individuais e as de bancada, observado um percentual da receita corrente líquida do governo federal, mas as emendas do relator do orçamento não entraram nessa regra.

“Acredito que as debilidades técnicas do atual governo em negociar e articular políticas no Congresso ocasionaram o aumento da parcela do orçamento direcionada para essa categoria de emendas, cuja execução é discricionária, o que abre margem para coalizões políticas via verbas orçamentárias.”

O Bolsolão precisa ser investigado, no entender do especialista, pois, “tecnicamente, há desperdício de recursos, comprometimento da transparência e da qualidade do gasto”. Para Ribeiro, “a pressão da mídia e da sociedade será fator fundamental no desenrolar dos fatos”.

“É preciso apurar de perto. Nesse caso, o Senado está focado na CPI da Covid e, na Câmara, as lideranças explicam que não ocorreu nada fora do lugar. O TCU é um órgão auxiliar do Legislativo e não sei se terá autonomia para vasculhar o que aconteceu. O MPF pode fazer barulho, mas o procurador-geral da República é bastante ligado ao presidente Bolsonaro. Em última análise, creio que a pressão da mídia e da sociedade será fator fundamental no desenrolar dos fatos.”

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Diário da Crise CDV

A CPI voltou com o depoimento do presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres. Um depoimento sincero nos pontos essenciais. Ele se declarou contra a aglomeração, defendeu máscara e limpeza das mãos. Ele defendeu essas medidas, sempre que confrontado com o comportamento do Presidente da República.

Bolsonaro não gostou da sinceridade, dizem as notícias. O problema é que se um órgão técnico científico brasileiro seguisse seu caminho seria desmoralizado aqui e fora do Brasil. Barra Torres foi muito questionado sobre a vacina Sputnik V. Alguns senadores a chamam de Sputnik Cinco, supondo que o V é o algarismo romano. Mas é de vacina.

Os russos reagiram de forma muito negativa ao relatório da Anvisa. Ao que parece sua vacina é efetiva e segura. Por que não apresentar todos os dados pedidos pelo órgão regulador brasileiro? Seria ideal romper esse impasse porque o problema das vacinas está meio difícil. Já mencionei a crise na Índia e acho que de lá não se exporta insumo de vacinas tão cedo. A China ficou um pouco mais lenta depois dos ataques de Bolsonaro. E Pfizer fechou um negócio de 1,5 bilhão de doses com a Europa.

O mercado está um pouco difícil embora nos Estados Unidos cada vez mais o país se aproxime da satisfação e talvez possa liberar forças produtivas para que exportem. Andei lendo os jornais do mundo hoje mas nada me atraiu especialmente, talvez por causa da leitura rápida. A manchete do Houston Chronicle talvez sintetize uma das mais importantes notícias do dia: a vacina da Pfizer foi aprovada nos EUA para crianças entre 12 e 15 anos.

Isso certamente vai abrir uma nova frente de vacinação nos EUA, mas não creio que anule a esperança de que possam exportar no futuro próximo.

Hoje discuti o Rio no podcast com Lauro Jardim. Defendi duas teses: a da reconstrução do Rio com ajuda nacional e também o deslocamento do debate sobre a mortandade em Jacarezinho.

No momento, discute-se civilização ou barbárie, direitos humanos etc. Nessa discussão, a maioria está pendendo para aprovar a ação policial. Isso só vai ser modificado se questionarmos também pelo ângulo da eficiência. As mortes mudaram o panorama do Jacarezinho? Acabaram com a ocupação armada? Garantiram o direito de ir e vir dos moradores?

Caso reconheçam que não houve uma avanço real, talvez possam se abrir para uma nova abordagem de recuperação econômica e de ações policiais que ganhem a simpatia dos moradores.
Até que no Haiti, apesar de alguns deslizes, uma visão muito mais  adequada foi posta em prática pelas forças brasileiras nas favelas de Belair e Cité Soleil. Comparada com o que se fazia antes, foi um sucesso.

Terminei de ler a biografia de Humboldt. Vou tirar uma noite de folga e assistir o jogo do Flamengo, depois que terminar o trabalho no jornal das seis. Amanhã recomeço pegando mais pesado. Área de anexos.

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