Presidente da CPI das Fake News recebeu R$ 40 milhões de verba extra do governo

Angelo Coronel, senador do PSD da Bahia e presidente da CPI que investiga as fake news bolsonaristas, recebeu sinal verde do Planalto para direcionar R$ 40 milhões de recursos extras do orçamento a obras em seu reduto eleitoral, informam Breno Pires e Patrik Camporez no Estadão.

A verba consta da planilha informal do governo, obtida pelo jornal paulistano, que registra um repasse de R$ 3 bilhões a 285 parlamentares às vésperas das eleições da nova cúpula do Legislativo.

No Congresso, Coronel se define como independente, mas tanto ele quanto seu partido, o PSD, estão fechados com os dois candidatos defendidos por Jair Bolsonaro: Arthur Lira na Câmara e Rodrigo Pacheco no Senado.

O PSD, chefiado por Gilberto Kassab, recebeu a maior fatia do bolo disponibilizado pelo governo às vésperas das eleições no Congresso: R$ 600 milhões, ou 20% dos R$ 3 bilhões.

E, na lista dos parlamentares do partido que puderam indicar recursos, o presidente da CPI das Fake News aparece entre os quatro mais contemplados.

Ouvido pelo Estadão, o senador baiano alegou que não há nnehuma relação entre o direcionamento de recursos e as eleições do Legislativo.

“É minha obrigação, como parlamentar, correr atrás de obras para o meu estado. É normal, mas em nenhum momento foi em troca de votação.”

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O nariz é nosso!

clube-do-nariz-bárbara-maringasBárbara Kirchner. © Maringas Maciel

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Burrice: passado glorioso, futuro promissor

O também ex-seminarista Roberto Campos disse certa vez, numa de suas famosas boutades, que no Brasil a burrice tem um passado glorioso e um futuro promissor. O jornal 0 Estado do Paraná demitiu o cartunista Luiz Solda. Motivo: ele fez uma charge mostrando um macaco dando banana ao presidente dos EUA, Barack Obama. O desenho mostra um macaco fazendo o simbólico gesto de “banana” com os braços e traz a inscrição: “Almoço para Obama terá baião de dois, picanha, sorvete de graviola…e banana, muita banana”. Seus acusadores dizem que ele chamou de macaco o presidente norte-americano. Solda disse: “Jamais faria isso. Nas eleições, eu usei camiseta do Obama”.

Foi um terrível erro de seus editores. O tema é pertinente, a brincadeira é muito apropriada, vez que o Brasil durante muitas décadas foi chamado pelos EUA de Banana Republic. Sem contar que expressões “politicamente corretas” impedem o humor. Já escrevi sobre o tema no Observatório da Imprensa. Volto a ele nestas linhas.

Em minha infância sofrium tipo de preconceito étnico muito singular. Como era moreno, da cor do meu pai,de ascendência portuguesa, era chamado preconceituosamente de “caboclinho”. E, por outros, de “gringuinho”, “filho daquela italiana”: a minha mãe era filha de italianos. A escola representou redenção étnica e social. Passei a ser respeitado por uns e outros pelo meu desempenho escolar. Os boletins acabaram com esses preconceitos.

Em recente reunião de intelectuais, um dos es critores que mais combatem o racismo referiu-se a Barack Obama como “fabuloso negão”. E quando o escritor Václav Havel era presidente da Tchecoslováquia, e depois da República Tcheca, dizíamos tratar-se de um “ polaco maravilhoso”. E ele era tcheco!

Se escrevêssemos isso, seríamos demitidos também? Que horror esse “politicamente correto”! Vai matar o humor, a graça, a brincadeira! Vocês já notaram que Barack Obama jamais se vangloria de ser o primeiro presidente negro dos EUA? Inteligentíssimo e bem formado, ele sabe que apelar para a cor o diminuiria muito! Ele não foi eleito por ser negro, foi eleito por ser bem preparado, culto! Representou um avanço na sociedade americana, que aos poucos deixa de ser excludente e passa a inclusiva, res peitando a pessoa como ela é, independentemente de sua cor, sua opção sexual, sua religião etc.

Pelo mesmo motivo, mulheres e gueis estão sendo eleitos mundo afora para cargos importantes, não por serem o que são, mas porque a sociedade está diluindo preconceitos milenares. Porque só se lembram de punir? Cá para nós, esse “politicamente correto” vai deixar o mundo muito sem graça. Sem contar que, na bela síntese de Otávio Ianni, “o polaco é o negro do Paraná”, e os mesmos que criticam racismo onde não existe jamais se incomodam quando as etnias atingidas são outras!

Jornal do Brasil (30|3|2011)

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Os filmes estão sendo abalados pelas séries ante nossos olhos atônitos

De ‘Twin Peaks’ a ‘Dix pour Cent’, passando por ‘Downton Abbey’, é possível ver a estrada que o gênero percorreu

No tempo em que a arte escrita tinha importância, discutia-se forma e conteúdo. Ficou assente que uma não existe sem a outra. Já a avaliação da relação entre eles continua problemática porque não existem conteúdos e formas fixas: a história os altera.

A forma permanece ao longo do tempo, apesar do seu conteúdo ter origem datada. “Guerra e Paz” remete a almas e destinos do passado e do presente. Dizia uma coisa em 1865 e diz outras tantas a leitores de hoje, à luz da história que se passou e se passa agora.

Na forma, “Guerra e Paz” é um romance, o gênero literário capital no século 19, o herdeiro da épica grega na era burguesa. Hoje, o romance não é tudo isso. Foi trocado por outras formas e gêneros.

A literatura perdeu espaço para o cinema no século 20. E, na migração interna entre os gêneros, o lugar do romance foi ocupado, lenta e contraditoriamente, pelo filme de ficção.

Esse processo não se plasmou numa configuração estável, como antigamente. Ele se acelerou. Tanto que no presente, no tempo de uma vida, são os filmes que soçobram. Estão sendo abalados, ante nossos olhos atônitos, pelas séries de televisão.

É uma vertigem que embaralha formas e gêneros. O filme retém algo do romance porque mostra o destino de personagens que, suscetíveis à história, acumulam experiências enquanto dura a sua trama.

Já as séries estão mais próximas de outro gênero, a novela. Nelas não há acumulação: os personagens não mudam. Tampouco há um clímax ou uma dissolução final. Há um miniclímax no desenlace de cada capítulo —que propagandeia o seguinte.

Nas séries, a sequência não gera um todo que demanda interpretação e crítica, como nos filmes. A relação entre os personagens tende a ser dialética no filme-romance, e mecânico-causal nas séries-novelas.

Postas em ordem cronológica, três séries talvez possam mostrar algo da estrada que o gênero percorreu desde o ponto de partida, os filmes de cinema —que, por sua vez, tiveram origem no romance.

“Twin Peaks”, que estreou em 1990, foi dirigida por um artista vindo do cinema e marcado pela literatura surrealista, David Lynch. A série foi uma combinação —e uma luta— entre cinema e TV, romance e novela, entre arte e comércio.

A concentração da trama no tempo e no espaço, no vilarejo fictício de Twin Peaks, não lhe reduziu o escopo. Ela ia para frente e para trás; duplicava os personagens em diferentes personalidades; recorria a figuras sobrenaturais. A pergunta que lhe serviu de lema propagandístico —quem matou Laura Palmer?—revelou-se sem importância.

A série virou filme, “Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer”, do próprio Lynch, que lhe ficou bem aquém. Ele tinha suspense, humor, mistério, mas eram arremedos. Como a série era melhor que o filme, a televisão venceu o cinema ao manter muito da sua forma e pouco do conteúdo: ambos são a-históricos. Continue lendo

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O jurista Teixeira de Freitas em Curitiba

A permanência do jurista Teixeira de Freitas em Curitiba foi de 1872 a 1875 (estimada), ele possuía imensa biblioteca e a mesa na qual escreveu a Consolidação das Leis Civis e o Esboço de Código Civil foi doada para a UFPR.

A fase curitibana foi de recuperação de problemas de saúde.  Freitas quando foi chamado de romanista, em episódio no qual renunciou ao Instituto dos Advogados Brasileiros, afirmou que esta era a maior honra que poderia receber, pois nas leis e doutrinas do direito romano está depositada toda a filosofia do direito.

Da sua enorme biblioteca que também veio com ele à Curitiba, não se tem notícia. Já vi livros assinados por Teixeira de Freitas, eles se espalharam pelo Brasil, em bibliotecas particulares, sebos ou ao relento.

A estatura desse jurista, com o passar dos anos, fica cada vez maior. Certa feita analisamos a boa-fé contratual nos Códigos Civis de 1917 e no então projeto agora atual Código Civil em contraponto ao Esboço do Código Civil elaborado por Freitas. Resultado: o Esboço é muito melhor acabado que os dois códigos.

Quando Teixeira passou por Curitiba, para recuperar a sua saúde, a cidade contava com cerca de trinta mil habitantes, hoje equivale à população de um bairro ou de um conjunto de prédios. Ouvi personagens de algumas academias falarem que a obra de Teixeira de Freitas é prolixa; – não a conhecem, nunca a leram. Outros, nem sabem de quem se trata.

A memória jurídica não se faz apenas de pensadores estrangeiros que são traduzidos e dados como alimento aos estudantes nas fábricas de diplomas.

Conhecer a história e as obras dos juristas brasileiros é algo que, no geral, não acontece no Brasil. Muitos juristas de escol estão ao lado de Teixeira de Freitas, no panteão do Direito, mas são apagados, na desmemória.

Os que importam são os autores europeus e, mais recentemente, alguns norte-americanos. Não que alguns não tenham valor, mas o Brasil está inserido na colonial América do Sul diferente do eurocentrismo jurídico.

Nosso irmão mais velho é Portugal, essa sim é fonte de águas cristalinas. Aos juristas brasileiros e latino-americanos: o desconhecimento. Há uma doutrina e um direito verdadeiramente nacional? Ou somos um amontoado de colagens e recortes de autores estrangeiros importados para o nosso sistema jurídico?

O bicentenário do nascimento de Freitas foi em 2016. Continue lendo

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Novas definições para Bolsonaro

Outros 146 substantivos e adjetivos que têm sido aplicados a ele

Na quarta-feira (27), arrolei 24 epítetos para definir Jair Bolsonaro, recolhidos por mim nos mais diversos veículos. Alguns leitores acharam a lista insuficiente. Um deles, meu amigo João Augusto, grande produtor musical, me mandou sua própria lista, que ele começou a compilar já no dia da posse de Bolsonaro. Eis:

Abjeto, abominável, abutre, achacador, acintoso, alimária, amoral, animal, asno, asqueroso, assassino, atroz. Babaca, baderneiro, belicista, beócio, besta-fera, biltre, boçal, boca-suja, bosta, brega, bronco, bufão. Cabotino, cafajeste, cafona, canalha, canastrão, cancro, capadócio, carbonário, cascavel, catastrófico, cavalgadura, charlatão, chulo, cínico, complexado, contagioso, crasso, cruel. Daninho, dantesco, debochado, degenerado, degradante, delinquente, demagogo, depravado, desbocado, desequilibrado, desleal, déspota, desprezível, desqualificado, destrutivo, desumano, doente.

Ególatra, embusteiro, energúmeno, estafermo, esterco, estúpido, execrável. Falso, fanfarrão, farsante, frio, funesto. Grotesco. Hediondo, hiena, hipócrita, histérico, horroroso. Ignóbil, imbecil, imoral, ímpio, indecente, indecoroso, indefensável, indigno, inescrupuloso, infame, iníquo, insano. Jerico, Judas, jumento. Lesivo, lixo, lunático. Malévolo, malfeitor, mesquinho, mitomaníaco, monstruoso, mula sem cabeça. Narcisista, nauseabundo, necrófilo, nefasto, néscio, nojento.

Obsceno, obscurantista, odioso, oportunista. Paranoico, parasita, pária, parvo, patife, peçonhento, pernicioso, perverso, pilantra, pornográfico, primário, pulha, pústula. Rastaquera, recalcado, reles, repelente, réprobo, repulsivo. Safado, selvagem, sociopata, sórdido. Tétrico, tirano, torpe, tosco, traíra, trambiqueiro. Ultrajante. Vândalo, vigarista, vulgar. Xarope. Zoilo.

Com o perdão dos assassinos, necrófilos, bestas-feras e quaisquer categorias que se sintam ofendidas.

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Mural da História

21 de agosto|2008

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Mad Professor

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Denise Assunção. © Maurício Shirakawa

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Esquerdofêmea

Eu quero gritar ‘FORA, BOLSONARO’ e emendar num ‘EU AMO PINK’

Minha filha ama cor-de-rosa, e eu não sei mais o que fazer a respeito dessa tremenda falta de noção de sua parte. Comprei uma camiseta azul estampada com skatistas irados, e ela falou: “É feia demais”. Na loja, foi direto na saia plissada pink com bolotas salmão: “Olha que linda, mamãe”.

Eu então sentei no chão e expliquei: “Sim, muito bonita, mas todas as cores são legais, e você pode ter bermudas e shorts se quiser, não se sinta obrigada a ter saia porque alguma amiga sua ou mãe de amiga ou tia ou avó ou alguém no desenho ou no filme falou que é o que você deve usar. Você pode usar o que quiser”. Rita tem três anos. Não entendeu nada do meu discurso. Me achou tão chata e louca quanto eu me acho. Agarrou a saia (que de fato era belíssima, e eu só conseguia pensar em como EU MESMA queria pra mim aquela porra de saia divina) e mostrou para o pai: “Quero essa!”. E pronto.

Comprei uma ponte de madeira grande pra ela brincar com carrinhos: “Olha, filha, o carrinho sobe aqui, pega velocidade e lá embaixo sai batendo em tudo”. Onde eu quero chegar com isso, pelo amor de Deus? Ensinar pra Ritinha que é legal acelerar veículos e sair atropelando uma fileira de bonecas Baby Alive de todas as etnias? Socorro! Eu comprei, tal qual a consumista compulsiva que sou, tal qual a filha suprema do capitalismo que sou, o papinho mais superficial da obsessão progressista da bolha em que me encontro e na qual preciso ser aceita todos os dias. Eu paguei à vista minha visão “escola construtivista” e ainda ostentei nas redes sociais. Eu não preciso passar menstruação na cara para ensinar à minha filha que sangrar todo mês é normal, limpo e saudável. E também um saco.

Minha filha quer tudo da temática doméstica. Fogão, ferro, geladeira, pia, aspirador, vassoura. Eu vetei por um tempo, a enchi de bolas e monstros, agora liberei geral. Na caixa vem sempre a foto de uma MENINA brincando, mas que culpa Ritinha tem se a embalagem está errada? Que metam ali um menino também. Quem olha pra esses brinquedos e sente toda a biblioteca feminista cair em cima da cabeça sou eu. Rita está feliz, brincando com utensílios que ela vê a gente usando aqui em casa —tanto eu, quanto o Pedro… mas MUITO mais a Maria e a Lucia, que trabalham aqui. Pra ela é simples, e eu só estou complicando porque sou a típica chata humanista elite, a clássica progressista queridona com empregadas. Eu me tornei a mulher que, na juventude, eu apontava e dizia: “Um dia ainda vou ter uma coluna no jornal pra rir dessa galera”. Pobres dos filhos das pessoas pouco analisadas e que não leem. Pobres dos filhos das pessoas muito analisadas e que leem demais.

Rita tem todo o direito de pirar e dar gritinhos ao ver uma loja inteira cagada de pink. E eu tenho todo o direito de pirar e dar gritinhos junto, porque, mano, de fato dá vontade de morar lá dentro e de ter todas aquelas coisas. Sim, meu nome é Tatiane, estou tentando entrar no mestrado da USP, estou lendo Angela Davis e… comprei uma pochete pink.

Eu quero gritar “FORA, BOLSONARO” e emendar num “EU AMO PINK”. Rita está me devolvendo gostos que sempre foram meus, mas eu aprendi a rejeitar. Não posso ser perua. Não posso ser fútil. Não posso ser mulherzinha. PAREM TUDO, é só uma loja inteira cagada na cor rosa, e se minha filha e eu estamos felizes ali dentro QUE FIQUEMOS EM PAZ.

Rita ama maquiagem e esmalte, e hoje estamos, enquanto termino esta coluna, tão maquiadas, mas tão maquiadas, que periga o universo nos cancelar. Dane-se!

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O Brasil é o pior país do mundo no combate à pandemia

Nesta quinta-feira foi divulgado um ranking que coloca o Brasil como o pior país do mundo no combate à epidemia de Covid-19. O estudo é do Lowy Institute, da Austrália, que tem credibilidade internacional. O governo de Jair Bolsonaro fez o Brasil chegar em último lugar entre 98 países. Em penúltimo está o México, que tem sofrido também com um presidente negacionista, o esquerdista López Obrador.

Este é um retrato atual feito pelo Lowy Institute, no entanto pode-se projetar a partir dele muito mais dificuldades adiante, com consequências lógicas que terão de ser enfrentadas por um país que tem errado demais nesta pandemia. Avisos da imprensa internacional sobre os descaminhos do Brasil vêm sendo comuns, desde que Jair Bolsonaro começou a aparecer como um provável ganhador da eleição para presidente. Acumulam-se os alertas, bem fundamentados, amparados em estudos e na opinião de especialistas.

Na economia e na política, em poucos meses os maus presságios viraram realidade. Agora são os avisos sobre a má condução na pandemia que se configuram numa realidade trágica.

A revista britânica The Economist foi uma das pioneiras em alertas sobre esta mania nacional de brincar à beira do abismo, expondo com bons fundamentos os riscos trazidos por Jair Bolsonaro, quando ele era ainda apenas uma ameaça. Uma matéria de capa de setembro de 2018 trazia um retrato dramático da situação brasileira, no cenário trágico que vinha dos mais de dez anos do PT no poder. O país necessitava de uma transição para reverter a grave crise, que envolvia má-gestão e muita corrupção.

No entanto, eram previstos dias difíceis pela frente, se fosse feita a opção por um populista de direita. “O risco é que tudo fique ainda pior”, escrevia a The Economist, afirmando também que Bolsonaro colocaria em risco a sobrevivência da democracia no “maior país da América Latina”. Bem, acertaram completamente, além de que, nesta mesma matéria, alertavam ainda sobre efeitos desastrosos no futuro do Brasil com o alinhamento incondicional de Bolsonaro ao presidente Donald Trump.

Depois foi a vez do jornal americano Washington Post tratar Bolsonaro como “o pior presidente mundial da pandemia”. Isso foi em abril do ano passado. O novo coronavírus era um recém-chegado, tendo matado ainda menos de dois mil brasileiros.

O jornal americano chegou a esta conclusão acertada, a partir de uma avaliação do governo do sem noção que virou presidente brasileiro — que já soltava bobagens sobre a doença, como afirmar que tudo não passava de uma “gripezinha”, fazendo o papel de sabotador entre os brasileiros que se esforçavam em encontrar meios para o combate a um vírus mortal.

Ora, acabamos no meio da mais grave crise sanitária de todos os tempos, embora não tenham faltado avisos sobre os erros que nos encaminhavam para esta condição horrorosa. Este último lugar na pandemia dado pelo Lowy Institute projeta horizontes ainda piores e poderia servir para amenizar o estrago que está por vir. Mas nada indica que o Brasil mudará sua tendência de utilizar avaliações e estudos apenas para ficar à espera de que o pior aconteça.

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Flagrantes da vida real

Rogério Dias na área. © Maringas Maciel

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Diário da crise CCCXIV

Não escrevi ontem sobre a história do leite condensado e do chicletes porque a notícia me alcançou já no principio da noite e o texto do diário estava pronto. Naturalmente, é espantoso gastar R$15 milhões com leite condensado e R$2 milhões com chicletes.

Depois desta notícia aparecer, o portal da Transparência saiu do ar. O governo tem informado que tanto o leite condensado como o chicletes foram comprados para as Forças Armadas. Há uma grande discussão ainda em torno do preço das latas. Tudo isso precisa ser esclarecido com gente especializada do Tribunal de Contas.

Ouvi pela tevê que o chicletes é para soldados que entram na mata onde não há água para escovar os dentes. E para os pilotos por causa da pressão nos ouvidos, quando decolam ou pousam. Tenho algumas dúvidas sobre tudo isso. Nas companhias aéreas os pilotos compram seu chicletes.

E não acho que existam tantos soldados no meio do mato no momento, embora de vez em quando o treinamento assim o exige ou mesmo as patrulhas de fronteira.

Existe algo que posso falar sobre isso, independente da investigação do TCU. Acho, por uma visão de saúde, um absurdo consumir tanto lei condensado. É muito açúcar e isto significa um potencial de doenças muito grande. Se o Brasil tivesse um Ministro da Saúde, creio que ele aconselharia um uso mais discreto do açúcar.

Que o presidente use leite condensado isso faz parte do seu estilo de vida e seu gosto pessoal. Mas como política de alimentação, o item é altamente discutível. Leio que São Paulo está falando em vender a Coronavac para países da América do Sul, caso o governo não queira comprá-la.

Preciso entender bem essa operacão. O Brasil não tem vacinas suficientes. Se o governo federal não quiser comprá-las porque não vendê-las para os estados, uma vez que já foram aprovadas pela Anvisa. A Bahia está brigando para importar a Sputinik V, que ainda não tem a aprovação para uso emergencial.

Essa relação entre São Paulo e o governo federal está muito politizada. Vou me informar melhor, mas em princípio, sem menosprezar a importância dos países vizinhos, acho que deveríamos tentar chegar à meta das 150 milhões de pessoas vacinadas.

Prefiro acreditar que essa história de exportação é apenas uma forma de pressionar o governo para que compre as 54 milhões de doses extras. Espero até que a pressão seja bem sucedida. Mas quando há luta política intensa, os interesses da sociedade acabam ficando em segundo plano.

E realmente deixar de vacinar 22 milhões de pessoas, contando duas doses, seria uma perda inexplicável. Leio que por falta de dinheiro pode ser suspenso o abastecimento de água no Nordeste e em parte de Minas. O serviço de carros pipas é administrado pelo Exército e cheguei a fazer um programa sobre o tema, percorrendo as regiões atendidas no Nordeste.

Será um desastre se o abastecimento for cortado. E parece que o preço do serviço que deve atender umas cinco milhões de pessoas está em torno de R$650 milhões. De novo, entra a reflexão sobre prioridades: chicletes, leite condensado não são tão essenciais como a água. Isso acho que é tão cristalino que talvez nem divida direita e esquerda, como tantos outros temas.

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