As ONGs da Michelle

Planilhas obtidas pela CPI das ONGs mostram os valores destinados a instituições missionárias evangélicas durante a vigência do Pátria Voluntária, programa do governo Bolsonaro.

Coordenado pela Casa Civil, o programa era liderado pela ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, com o apoio da então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Foi extinto em janeiro deste ano.

Uma auditoria do Tribunal de Contas da União feita no Pátria Voluntária apontou a ausência de critérios objetivos e isonômicos para a seleção de instituições beneficiárias dos recursos. Na prática: faltava uma regra clara para escolher quem seria beneficiado, o que abre espaço para irregularidades.

O instituto Bem Pescado, localizado em Canineia, litoral de São Paulo, atuou em 62 cidades da Bahia. Recebeu do programa valores que vão de 4 mil reais a mais de 94 mil, a depender do município. A ONG, ligada à Igreja Batista do Guarujá (SP), é presidida pelo pastor Jayme Perezin.

Já o Instituto Missional, com sede em Maringá (PR), superou os 391 mil reais para uma atuação em oito cidades do Amazonas. Os dados disponibilizados pela Casa Civil mostram que a ONG atendeu 2.200 pessoas por cidade, totalizando 17.600 pessoas.

Não é possível checar se isso é verdade. Em sua página no Facebook, o Instituto Missional publicou em julho de 2020 um vídeo sobre o que chamou de Operação Amazonas, com imagens de entrega de cestas básicas.

Um outro caso é o da Associação de Missões Transculturais Brasileiras, que fica em Brasília (DF), e é comandada por Paulo Henrique Ferreira Pinto Feniman e recebeu mais de 239 mil reais. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a instituição funciona no mesmo endereço da Atini, ONG fundada em 2006 por Damares.

O programa foi encerrado neste ano com a promessa do governo de que passaria por uma espécie de pente-fino.

O requerimento que solicitou as informações do programa foi apresentado pelo senador petista Beto Faro (PA). Em julho, o Bastidor noticiou que a base aliada do governo, minoria na CPI das ONGs, buscaria indícios de irregularidades que atingissem Michelle e Damares, que hoje é senadora.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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