The Sims

Às vezes, a vida da gente parece uma edição da série de jogos de computador “The Sims”, aquele simulador de realidades. Lá em cima, alguém arquiteta ou brinca de colocar a gente em tal lugar, naquele exato momento, no interior de um desenho, paisagem, construção ou decoração inventada, sempre com um propósito criativo e nunca o faz aleatoriamente.

Boa parte dos conflitos que se dão nesse tabuleiro, aqui embaixo, frutificam dos nossos medos e anseios em querer controlar as regras do jogo, perdendo a confiança ou simplesmente se esquecendo de que aqueles planos, metas, potenciais e estímulos já foram traçados, escritos e que até as suas reformulações não obedecem a critérios espontâneos, mas milimetricamente calculados e previsíveis. Assim dizendo, parece algo desestimulante, apático e triste, mas não.

A serenidade de confiar, se soltar e de compreender esse desenho arquitetônico aponta caminhos e nos desafia a todo momento a descobertas incríveis, que não eram acessadas enquanto tentávamos forçar e torcer tudo a nosso desfavor. Temos missões e potenciais revoluções, sim, nos ditames desses propósitos. É do aprendizado.

No pacto maior, cada um tem um papel particular e humano, amoroso e solidário, de se posicionar e de se movimentar por esse caminho apontado. E quando estamos a ponto de perder as forças, o socorro vem ao se jogar, encarar e admitir as próprias fragilidades. As inquietações, cada passo, sinal e inspiração são luzes que guiam e iluminam a estrada. As reviravoltas mais criativas, corajosas, que parecem subverter tradições, convenções e acomodações também são frutos de tais contratos.

Tudo o que a alma grita e direciona é parte de um grande traçado maior de aprendizados e de crescimento. De brincadeira em brincadeira, transitamos cegos e desorientados entre apegos e futilidades, amarras e crenças limitantes, até o despertar da consciência para o milagre da vida, cujo entendimento sempre esteve ao alcance de nossa aceitação e medido em distâncias e desvios de ignorâncias.

Quem dera a gente mantivesse a mente e a vibração cotidianamente sintonizados na frequência da felicidade dos nascimentos bem-vindos, no prazer dos encontros desejados, na satisfação proveniente das tarefas concluídas e na grata inspiração que brota das palavras quando elas injetam generosamente significados e lampejos de sabedoria no nosso espírito. E na responsabilidade afetiva do cuidado.

Essa energia nos move em tráfego livre e silencioso, que reflete toda a beleza da simplicidade e do desprendimento. Mas chega um momento em que é preciso alardear. Eis um segredo que deve ser compartilhado, fofocado à vontade para inspirar verdadeiras e tresloucadas jornadas que naturalizem o bem querer, o encanto, o respeito e as amizades.

O legado de tudo isso é virar para trás e poder dizer: fui assim! Como sinônimo direto de ter sabido viver e de ter transcendido as barreiras, limitações e privações físicas para explorar a plenitude daquele esboço planejado em detalhes amorosos e descrito de forma esmiuçada, segura e confiável da nossa existência. Quando se enxerga dessa forma, brincar de viver passa a ser uma deliciosa experiência em complemento aos sonhos. Acordar fica menos penoso e mais consciente. Assumido.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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