Zagueiras sinceronas

Sophia Kleiherne, zagueira da seleção alemã, criticou Neymar pelo cai-cai, de todos conhecido, a manha que desabona o atleta. Cobraram dela, disseram que os brasileiros não gostaram. Sophia nem aí, disse que não se arrepende nem tem que desdizer a verdade. Quem critica não conhece os alemães. Como tenho um pedaço de família alemã, não me aventuro a defender Sophia, porque alemão nenhum precisa de defesa. Limito-me a justificar, um fato simples: alemão é sincero, diz tudo na lata, na língua dura que fala.

Aprendi com a nora alemã, mulher belíssima, poderosa, mas sem sutilezas e meias palavras. Quando a conheci, ela me levou à KDW, loja de Berlim, onde comprei um par de sapatos. Ofereci presentear-lhe um par, tanto pela gentileza, quanto pela obsessão por sapatos e pés femininos (ela calça 40, número sensual e tem pés deslumbrantes). Ela recusou, não ofendida, mas surpresa: “Por que é que você tem que me pagar sapatos?” Aprendi a lição, quase vinte anos atrás e hoje não pago nem cafezinho para a amantíssima nora, mãe dos três netos.

Annika nunca jogou futebol, mas daria uma excelente zagueira. 

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Duas pauladas e uma pedrada

No começo dos anos 1970, eu trabalhava como redator e produtor na TV Iguaçu Canal 4 e escrevia, entre outros, um programa chamado “Os Bons de Música”. Cada semana, eu convidava alguém que fazia música na cidade. Cantores, compositores, instrumentistas, grupos vocais e instrumentais. O âncora era Ivan Cury, o locutor que fazia aquele jornal da meia-noite na Rádio Iguaçu sempre começando com o bordão “É calmo o início da madrugada em Curitiba”. Entre “Os Bons de Música”, apresentaram-se figuras como Marinho Gallera, Gebran Sabbag, Reinaldo Godinho, Waltel Branco, Lápis, Bitten 4, Regional do Janguito do Rosário, Opus 4, Fernando Montanari, etc.

Sabendo disso, Paulo Leminski, seu irmão Pedro Leminski e um amigo deles, conhecido como Paulo “Psico”, que então formavam o trio “Duas Pauladas e Uma Pedrada”, me procuraram para cantar nesse programa. Depois de fazer algumas perguntas sobre o tipo de música que eles cantavam, imaginei tratar-se de algo meio folk, no estilo Bob Dylan, principalmente porque na curva superior do violão do Pedro havia uma arataca de metal feita para prender sua gaita de boca.

Li algumas letras, achei muito boas e fiquei ainda mais interessado em gravar o trio quando o Paulo Leminski propôs que também participasse do programa a dupla Nhô Belarmino & Nhá Gabriela. Feitos os arranjos de produção, a gravação ficou marcada para a quinta-feira seguinte às 8h00 da manhã.

Milagrosamente, no dia da gravação, ninguém perdeu a hora. Belarmino e Gabriela estavam, como sempre, lépidos e paramentados com seu traje caipira. Já o “Duas Pauladas e Uma Pedrada”, embora pontual e presente, não demonstrava grande disposição. Os três sentiram-se obrigados a passar a noite anterior inteira ensaiando para não fazer feio diante da maior dupla sertaneja do rádio paranaense. Portanto, naquela manhã, deles, eu só conseguia ver diante de mim seis fundas olheiras denunciando a ingestão de uma quantidade industrial de coisas que prefiro nem imaginar.

Antes de iniciar a gravação, o diretor de TV, ninguém menos do que Osni Bermudes, pediu para o trio dar uma passada nas músicas. Pedro dedilhou o primeiro acorde e todos entraram juntos, só que cada um em um tom diferente ou em uma música diferente, até hoje não sei. O Osni me olhou e perguntou se era daquele jeito mesmo. Respirei fundo e respondi que devia ser. Se três gralhas de bandos diferentes, sem querer, grasnassem ao mesmo tempo, não sairia um acorde tão desafinado. Mas àquela altura não havia mais o que fazer e, a duras penas, o programa foi gravado.

Belarmino e Gabriela, impecáveis. O “Duas Pauladas e Uma Pedrada”, um sofrimento, só aliviado quando, entre uma e outra música, o Paulo Leminski conversava com o Belarmino. O Paulo, com aquele seu modo enfático de falar, estabelecia pontos de contato entre a dupla e o trio, apresentando uma argumentação sofisticada. Em seguida, mobilizava uma caudalosa torrente verbal para demonstrar sua insatisfação em ver a música sertaneja tratada como “o primo pobre da Música Popular Brasileira”. O Belarmino ouvia e dizia “Pois é… é ou não é, Gabriela?” e a Gabriela respondia “Pois é…”. No fim, todos se abraçaram, se despediram e eu avisei que iriam ao ar quinta-feira às 11 da noite.

Para fechar aquele programa, passei umas 10 horas na ilha de edição, que ainda funcionava com um sistema de corte mecânico (a fita magnética, larga como a lombada do Aurélio, era literalmente cortada a gilete, retiravam-se e descartavam-se as cenas sem qualidade e depois reuniam-se as pontas colando-as com um tipo de fita adesiva). Feito isso, fui dormir tentando, como se fosse possível, esquecer os acontecimentos do dia. Não consegui. Os acontecimentos estavam gravados e só faltava uma semana para irem ao ar com todos os seus detalhes e prováveis consequências.

Foi exatamente o que aconteceu na semana seguinte. “Os Bons de Música” foi exibido com Belarmino, Gabriela e o “Duas Pauladas e uma Pedrada”. E, ao menos para mim, chegou a obter uma repercussão inesquecível, pois assim que recebeu os 10 primeiros telefonemas de reclamação, o Diretor Artístico da emissora, Hiram de Hollanda, entrou na minha sala e perguntou: foi você que fez aquela merda? Respondi que era uma experiência, entende?, juntar uma dupla caipira com um trio ultra tropicalista, meio country e coisa e tal, e que eu já estava até esperando pelas reclamações. Pela cara que ele fez, não devo ter sido nada convincente.

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O privilégio de escolher uma cadeira

Uma vocação não chega a dar sentido para a vida, mas ajuda a aprumar o sujeito em meio ao vendaval constante de existir

“Cada um tem um lugar sobre a Terra”, disse Carlos Castañeda. Escrevo para você do meu lugar: uma cadeira ergonômica atrás de uma mesa onde há um computador e uma xícara de café. Demorei quase 30 anos para conseguir me sentar nessa cadeira. Antes fui garçonete, redatora publicitária e roteirista. Coisas que fazia para ganhar a vida enquanto não conseguia me firmar como escritora.

Meu pai nunca almejou uma cadeira. Ou melhor, até almejou: uma que estivesse atrás de um prato cheio de comida. Filho de imigrantes italianos pobres, trabalhava desde adolescente, ora colhendo uvas, ora carregando pedras. Aos 17 anos, foi colocado por meu avô para tocar um pequeno restaurante. Nunca mais saiu de lá e fez das cadeiras dos seus clientes, a sua.

Minha avó também não pôde escolher a cadeira dela —se pudesse, me pergunto qual seria: atrás de uma mesa de professora? Atrás de um microscópio? Do manche de um avião? Dentro de seu pequeno círculo doméstico, o único que podia frequentar, deu um jeito de escolher a banqueta mais confortável. Ficava na cozinha, atrás de uma máquina de fazer massa, onde se sentia resguardada, salgando o espaguete com as lágrimas que não podia verter na frente do marido.

No seu ensaio “As Pequenas Virtudes”, a escritora Natalia Ginzburg sugere que, mais importante do que deixar para o filho uma poupança, é ajudá-lo a encontrar a sua vocação. Quando olho para os meus amigos que encontraram as suas, percebo que ela está certa. Uma vocação não chega a dar sentido para a vida porque não existe sentido para a vida, mas ajuda a aprumar o sujeito em meio ao vendaval constante que é existir. Ou ao menos ajuda a preencher a rotina com algum prazer, o que não é pouca coisa. Segundo Ginzburg: “o que é a vocação de um ser humano senão a mais alta expressão de seu amor à vida?”

Quando perguntei para o meu pai o que ele teria se tornado se não tivesse ingressado no restaurante tão cedo, me olhou surpreso. Percebi que, em tantos anos, essa questão nunca havia passado pela sua cabeça.

Escolher o que se quer fazer é um privilégio. Saber que existem tantas cadeiras possíveis é um privilégio. Poder se preparar para sentar na almejada é um grande privilégio. E se sentir impelido a ocupar uma é uma sorte, porque alguém pode ter toda a condição financeira e física para ocupar o lugar que quiser e não ter vontade para isso.

Às vezes tenho a impressão que dançamos a dança das cadeiras, aquela clássica, que acontecia nas festas. A música começa, todos vão circundando os assentos, cobiçando esse ou aquele, apertando o passo, sincronizando o passo, os mais sortudos se sentando antes, os menos sortudos disputando os cantos restantes e, no fim, todo mundo se acomoda como dá. E se dá.

Ainda bem que a cadeira que ocupamos não nos faz quem somos. “Cada um tem seu lugar sobre a Terra”, disse Castañeda no começo do texto. E eu mostrei apenas uma parte do meu. Ao lado dessa cadeira que levei décadas para conquistar —e como foi bom conquistá-la—, há uma lixeira cheia de papéis amassados, uma cachorra e um tapete de ioga. No sofá atrás de mim, uma filha. Ao meu lado, o homem que eu amo. E para lá da nossa varanda, o mundo, as coisas que eu faço pelo mundo, e a possibilidade de sempre recomeçar de uma nova banqueta.

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Já foi na Academia hoje?

letraset-rollmops

Todos os membros da Academia Paranaense de Letraset fazem parte da Confraria do Rollmops e do Clube do Ovo Roxo da Mateus Leme.

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Mural da História – 2009

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O ídolo de Bolsonaro

Um filme original Bozoflix. A burrice é diferente da ignorância. A ignorância é o desconhecimento dos fatos e das possibilidades. A burrice é uma força da natureza. (Nelson Rodrigues)

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© Jan Saudek

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A família Aras e o PT

Investindo pesado em sua recondução a partir de outubro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, andou relembrando a interlocutores petistas com acesso a Lula seu histórico familiar com o PT.

Seu pai, Roque Aras, disputou uma vaga no Senado pelo partido em 1986. Perdeu, mas esteve na legenda até os anos 2000. De lá, Aras pai foi para o Partido Verde e manteve boa relação com o PT da Bahia.

A despeito de ter arquivado 104 pedidos de investigação contra Jair Bolsonaro, como informou o UOL, ele diz só ter feito o seu trabalho, garantindo “estabilidade institucional” ao país.

O mandato do procurador-geral da República termina em setembro. Lula já indicou que poderá não escolher da lista tríplice do Ministério Público, como fez em seus primeiros mandatos.

Aras se movimenta não exatamente para ser escolhido, mas para influenciar na escolha de um aliado, alguém que não levante problemas de sua gestão na PGR.

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Como ajardinar um jardim sem jardineiro nem jardinagem

Vocês aí – e nunca eu aqui – sabem bem como fazer florescer coisas defronte às suas casas, em suas avarandadas varandas, nos seus alpendres alpendredados ou em suas sacadíssimas sacadas. Minha única contribuição é informar vocês, que não conhecem a flora que eu conheço, quais plantas não plantar: as que têm o desplante de desmanchar prazeres botânicos, de enfear canteiros, de deflorar as expectativas primaveris. Selecionei alguns tipos típicos:

Escapulidas – Notáveis pela ausência. A qualquer momento, se retraem, encolhem, somem do canteiro, caule e tudo, como se jamais tivessem existido ali.

Delongas – Quem tiver paciência que me ignore. Essa cacheada espécie é um teste de devoção ao cultivo. Dificilmente se assiste ao desabrochar das delongas. Se quiser tê-las, plante os bulbos e aguarde 3 ou 4 primaveras, quem sabe.

Antagônias – Se flores têm algum temperamento, são essas. Urtigas crescem longe delas. Pela petulante conformaçăo da corola, causam uma instantânea antipatia em quem as olha.

Impropícias – Famílias educadas, com crianças ou pessoas idosas, devem evitar o plantio dessas mimosas florzinhas. Além dos estames e pistilos semelhantes a partes humanas que nem posso sugerir aqui, se esfregam umas às outras até atingir aquilo que muitos casais nem sempre conseguem.

Promísculas – Lembram, no efeito escandaloso em gente moralista, as impropícias. Porém são mais ativas: se insinuam para qualquer outra flor por perto, chegando a despetalar as mais frágeis. Uma vergonha em cor púrpura.

Desabonas – Devido à má aparência das pétalas, às cores desinteressantes, às folhas murchas e aos galhinhos pendentes, as desabonas prejudicam a reputação de qualquer jardineiro. As pessoas farão tsk, tsk, tsk para os seus canteiros.

Lassidônias – Você acorda radiante, corre para admirar seu jardinzinho, e o quê vê? Não vê. Na seiva dessa planta há um hormônio, ócionila, que faz inverter seu crescimento: elas imbrotam.

Condolências – A não ser que alguém tenha uma floricultura próxima de um cemitério, essa flor é um drama para o cultivo. O simples manuseio faz a pessoa cair em prantos.

Pústulas – Sensível ou insensível, seu olfato não vai apreciar o olor dessa flor.

Deplorávias – Floridas ou não, se mostram sempre em péssimo estado de conservação, por mais bem conservadas que estejam. Nem pense em oferecer um ramalhete à namorada.

Negaceias – Embora singelamente atraentes, são impossíveis de colher. Com hastes ágeis, enganam mãos, escapam dos dedos. E pra quê servem flores que não podem se abuquesar para a mesa da sala?

Paródias – Dotadas de extraordinária capacidade mimética, imitam muito bem verbenas, açucenas, dracenas e outras flores que rimem com essas. Mas, basta um segundo olhar para confirmar a falsidade. Como por desencanto, a admiração desaparece na hora.

Usurpas e deturpas – Parasitas do mesmo ramo, têm hábito predador: se enfiam sob a terra, brotam junto de outra flor e assumem seu lugar, além de modificar as características florais das demais, desde rosas até antúrios.

Arcaicas – Flores antigas, nem se usam mais. Com cálices e sépalas demodês, provocam enfado em quem as vê. A variedade mais comum é a prosaica, que viceja até entre mosaicos.

Firulas – Espécie exibicionista. Carente e dependente da atenção do dono do jardim, tem movimentos chamativos. Um permanent incômodo, sobretudo para aqueles que têm ótima visão periférica.

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Bons tempos!

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Eles não se calam

Hoje é sábado, amanhã é domingo. Nos tempos turbulentos, o Mito começava a ofender o gênero humano a partir do cercadinho e depois embarcava na motociata, enlouquecido pelo barulho e excitado pelo cortejo masculino, sempre um puxassaco na garupa, orelha encostada para sentir-lhe a palpitação do coração empedernido. Lula procura diferenciar-se do genocida; não mata magotes de brasileiros pela omissão, mas como não segura a língua, ofende-lhes o bom senso ao abrir a boca.

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Mural da História – 2020

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Elas

Julia Aleksandrovna Vysotskaya( Юлия Александровна Высоцкая) “Yulia” ou “Yuliya”, nascida em 16 de agosto, 1973, Novocherkassk, é uma atriz e apresentadora de televisão russa, do filme Casa de Loucos, Oscar 2003, melhor filme estrangeiro.

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O irritante guru do Méier

O futuro chega com tal rapidez que chego a desconfiar que, agora, já está atrás de mim.

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