Jair Monstronaro

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O Baxo

Stely e César Marchesini. Pai e filha, talento sem tamanho. Devo muito ao Marchesini. Quando eu estava com depressão, ele vinha duas vezes por semana até minha casa (às 8 da manhã) e me levava ao Johrei, que é um método de canalização de energia espiritual (luz divina), para purificação do espírito, capaz de transformar a desarmonia espiritual e material em harmonia. Bah! E, além de tudo, ainda me dava pares de sapatos.

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Zbwsk

Filho do abandono e do medo, sou algo, aquilo que restou sozinho no mundo. Por isso, meu nome é Zbwsk e choro à noite, todas as noites, no quarto desta pequena cidade gótica em cuja casa térrea, apertada em poucos cômodos, de propriedade de tia Ludmila e seus filhos autoritários, vivo e me assisto a viver.

Da janela diviso a rua calma – um que outro cão, o patear de algum cavalo a conduzir seu cavaleiro e o ruído estrepitoso dos carroções que às tardes passam rumo ao Monte H. – onde, dizem, todas as coisas acontecem.

Zbwsk – antes meu nome fosse outro e outro o meu destino. Arrasto as cadeiras das casas; limpo, obsessivo, tarde da noite, o chão debaixo das mesas – sem que ninguém da casa saiba, ouça ou veja. Salto e brinco – às vezes – sobretudo depois de abrir e devorar a terceira lata de sardinhas, que roubo à despensa – com uma luxúria quase assassina. Acentua o sabor das sardinhas o ímpeto secreto com que as devoro com gula, pelo simples fato de que é noite, faz silêncio, e penetrar clandestino na despensa me parece sempre uma excitante aventura.

Zbwsk – dessem-me outro nome talvez não fosse tão devotado às coisas esdrúxulas e, o mais das vezes, pagãs. Possivelmente dormisse à noite e despertasse pela manhã como todos os seres do mundo – o bocejo, o espreguiçar-se, a pasta-de-dente, o café, o pão, o jornal.

Não, como me chamo Zbwsk – e este é o meu maior anátema – vejo-me forçado a levantar pelas madrugadas frias e, dirigindo-me, pé ante pé, ao porão, dali retirar o pano-de-chão e o balde. Apetrechos indispensáveis e sem os quais eu não poderia cumprir o rito a que me obrigo e me imponho – este que já me caleja as mãos, de esfregar e esfregar debaixo das mesas – como se ali morasse o azinhavre, a sujidade mais suja, os bacilos mais improváveis. Esfrego e esfrego – sempre temeroso de que alguém acorde no meio da noite e me flagre na faina repetitiva e abominável.

Pela manhã, tia Ludmila e seus filhos autoritários sequer olham debaixo das mesas. Já nem mais se espantam que debaixo delas o chão esteja, de novo, impecavelmente limpo e higienizado.

Wilson Bueno. “A Copista De Kafka” – Editora Planeta – Entre Os 5 Finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura/Prêmio Apca de Literatura 2008.

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Perdidos em Paris

Fiona (Fiona Gordon) é uma bibliotecária canadense que recebe uma carta misteriosa de Martha (Emmanuelle Riva), uma tia distante. Na carta, ela pede que a sobrinha viaje imediatamente a Paris, para evitar que seja internada em um asilo. Sem ter a menor ideia do que está acontecendo e nem mesmo onde a sua tia se encontra, Fiona viaja até a cidade e começa a buscar sua parente distante. França, Bélgica|2017| Direção de Fiona Gordon e Dominique Abel|1h 23min|

Perdidos em Paris: Farsa lúdica

É sempre interessante ver trabalhos de cineastas que, cada um à sua maneira, encontraram uma linguagem narrativa tão particular que pode ser classificada como sua assinatura cinematográfica. Assim é Quentin Tarantino com o uso da violência em meio a diálogos espertos relacionados à cultura pop, Wes Anderson com sua estética rebuscada envolta a personagens desconexos, Woody Allen com suas questões de fundo filosófico e por aí vai. Por mais que não possuam a mesma notoriedade, a dupla Dominique Abel e Fiona Gordon seguem o mesmo caminho. Juntos há 40 anos, nos palcos e em casa, eles estão de volta ao cinema através do delicioso Perdidos em Paris.

Autores também de Rumba e O Iceberg, Fiona e Dominique integram o restrito grupo de cineastas que precisam mergulhar por completo a cada novo trabalho, de forma a criar algo absolutamente pessoal. Desta forma, assumem não só a direção como também o roteiro e estrelam a história por eles desenvolvida. Assim também é em seu novo longa-metragem, onde mais uma vez é possível notar seus estreitos laços com o teatro e o farsesco, muitas vezes explorando o lúdico a partir do humor corporal. Continue lendo

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Hoje!

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Vai lá!

Creative advisor, redatora, criadora e curadora de conteúdos para social media, cartunista. Escreve sobre coisas que gosta desde os 11 anos de idade.

Lígia Kempfer

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Sacanagem

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Tatiana Penskaya. ©Zishy

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O irmão do Maracanã

Nada mais invisível que o óbvio ululante.

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Pleonasmo

Monty Phyton

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Mural da História

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Território impreciso

Este território, ao qual não pertenço, é tudo o que existe agora. Vago. E indefinido. É só o que há.

Nem mais um outro. O solo repleto de luz. A paisagem crestante. Demônios que tentam habitá-la. [habitar-me]. O caboclo velho e sua viola ríspida. O rosto marcado por veios feito vermes ao redor de olhos antigos. Com mais histórias que a História. As certezas e seus farelos ficaram para trás e não demarcam o caminho de volta. As certezas em um tempo esquecidiço. Em perspectiva, só o chão calcinante. E agora os passos em frente. Pelo território sem demarcações. Território de sal. Branco e lunar. Ao mesmo tempo, capilares verdes nascem de minúsculas fendas no piso ressequido. Um canto xamânico nas frestas da surdez de todo este silêncio. Um canto que se espalha e espelha o tempo que desconheço e a memória que não é minha. Nada mais é meu. E nada pode ser. Aqui, neste chão de luz intensa, o definitivo se dissolve. Nada é definitivo. Nem propriedade. Tudo flutua: nada pertence. E a permanência se liquefaz nas ondulações e mormaço do piso férvido. Os pés desmancham a cada passo. E a cada espaço de tempo, curto, um longo espaço de brilho. O sol a torrar minha lucidez estúpida. Nem lagos, nem sombras. O horizonte se esfumaça numa aquarela entre o branco e o cinza claro. Uma tintura aguada. Aplicada na paisagem por mãos febris de um deus de nuvens — nuvens ávidas por ligar temporalidades e planos infindos entre céu e chão. Céu e chão. O azul e a terra espessa, quase pedra. O azul e as minúsculas cavidades rochosas. O piso imperfeito para caminhadas incertas. Este é o terreno. E este sou eu. Que sigo mesclando-me às veias deste território tão impreciso quanto minhas lembranças. Ao mesmo tempo que filigranas de pó enchem minhas retinas de imagens úmidas.

Pó e lágrimas. O que não chora se esvazia.

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Flagrantes da vida real

Curitiba, chovendo no molhado. © Maringas Maciel

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Big techs como aliadas da pandemia

De um modo geral, não temos tempo para comemorar nem para lamentar erros: há sempre uma tarefa à frente. Em maio, tiro férias. Não paro de escrever. Na verdade, dedico-me a escrever bobagens, ler livros inúteis e trabalhar imagens sem nenhum valor comercial.

Continuo com olho no mundo.

OMS suspendeu a emergência internacional, embora a pandemia não tenha acabado. Bill Gates é um bilionário, sou apenas um remediado, como se diz em Minas. No entanto concordo plenamente com ele que é necessário trabalhar para evitar a próxima pandemia.

Gates propõe uma estrutura mundial de vigilância que custaria US$ 1 bilhão por ano, um décimo dos gastos em defesa, uma gota no oceano de trilhões de dólares perdidos com uma pandemia.

No livro “Como evitar a próxima pandemia”, ele fala na necessidade de haver um bom número de pessoas que acordam todas as manhãs pensando no tema. Não é meu caso. Às vezes acordo de pá virada; às vezes, melancólico. Nem todas as manhãs dedico à humanidade.

Mas isso não significa que não possa ajudar. Nos meus 65 anos de profissão, nunca vi uma etapa tão produtiva do jornalismo como durante a pandemia. De modo geral, não temos tempo para comemorar nem para lamentar erros: há sempre uma tarefa à frente.

Escrevi um diário com mais de 250 entradas. Tornei-me mais aberto ao que C.P. Snow chama de terceira cultura: cientistas e divulgadores que aos poucos vão substituindo os intelectuais tradicionais, revelando alguns sentidos mais profundos de nossa vida, redefinindo quem somos nós.

Nossa batalha central foi combater o negacionismo e as fake news sobre vacinas. No caso brasileiro, elas nasciam do próprio governo. Essa luta, de alguma forma, continua nos dias de hoje. As big techs concentradas no lucro resistem a algum tipo de controle sobre as redes sociais. Algumas, como Google e Telegram, já levaram grandes pancadas financeiras na Europa.

Mas não desistem.

O Google no Canadá quer limitar as notícias de jornal apenas porque foi votada uma lei exigindo que pague direitos autorais a quem gastou dinheiro e suor para produzi-las. O Telegram costuma abrigar supremacistas brancos, neonazistas, bolsonaristas e tutti quanti. Resiste a colaborar com a democracia e, na verdade, a ataca de frente, ao mentir sobre o Projeto das Fake News.

Existe um ranço colonial nesse desprezo pela soberania brasileira. O Telegram pertence a russos que resolveram deslocar a empresa para os Emirados Árabes, em “busca de mais liberdade”. Com esse vínculo afetivo com a extrema direita mundial, custa acreditar que o Telegram não seja uma invenção dos magos que giram em torno de Putin.

A verdade para mim é que, sem combater as fake news, por meio das leis e da educação, não estaremos preparados para enfrentar a próxima pandemia, o próximo ataque às escolas, a avalanche de discursos de ódio que as redes despejam no país.

O Brasil precisa resistir em duas frentes. Aqui dentro, é necessário afirmar a soberania diante das big techs que decidiram se transformar num ator político. Lá fora, já que o presidente viaja com frequência, é preciso falar da necessidade de articulação dos diferentes esforços nacionais para controlar esse processo destrutivo.

Se as big techs já desprezam governos e democracias agora, o que não farão no futuro próximo quando desenvolverem seu mais poderoso instrumento: a inteligência artificial? Por isso, caro Bill Gates, temos de marchar juntos para deter a próxima pandemia, mas com um olhar bem mais além da saúde pública, um olhar para o processo mesmo que criou a sua e outras grandes fortunas.

A próxima pandemia pode nascer de um vírus respiratório. Existem algumas dezenas deles pedindo passagem. No entanto o vírus do lucro a todo vapor, sem pensar nas consequências humanas, pode acabar suplantando todos os outros. Na trincheira da comunicação, nossa tarefa é defender a vacina, que pode ser de RNA mensageiro, mas às vezes precisa ser também uma dose de democracia.

Publicado em Fernando Gabeira - O Globo | Com a tag , | Deixar um comentário
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